domingo, 17 de maio de 2015

JOHN WAYNE EM IWO JIMA COM O LENDÁRIO DIRETOR ALLAN DWAN

A Segunda Grande Guerra estava há quatro anos terminada. Mesmo assim, da parte dos estadunidenses em relação ao inimigo oriental, o espírito belicoso continuava firme. Os japoneses eram apenas aqueles a quem se deveria odiar, os "malditos japs" ou "sujeitos de cara amarela". De todo modo, parece não haver exagero na perpetuação dessa imagem em 1949. Afinal, em menos de um ano os norte-coreanos preencheriam a vaga deixada pelos nipônicos no imaginário do Tio Sam. John Wayne preferiu cuidar da carreira a se alistar para a Segunda Guerra Mundial, como fizeram muitos de seus colegas e o diretor que o alçou ao estrelato. Por causa disso, e da animosidade de John Ford diante da decisão do pupilo, estiveram à beira do rompimento quando da realização de Fomos os sacrificados (They were expendable, 1945). Mas se não lutou na guerra real, Wayne marcou presença em muitas frentes marciais do cinema. Um dos mais representativos filmes protagonizados por ele é o francamente belicista e militarista Iwo Jima — O portal da glória (Sands of Iwo Jima, 1949), do talentoso e produtivo pioneiro Allan Dwan. Apesar de relativamente envelhecido nos aspectos técnicos e formais — continua a se sustentar nos planos dramáticos e físicos —, prossegue como exemplar peça de propaganda e exaltação das ações do marines na frente do Pacífico. Os japoneses que se cuidem! Além do mais, o sargento John M. Stryke é dos melhores da vasta galeria de tipos vividos por Wayne. Tanto que o candidatou ao Oscar de Melhor Ator. A apreciação a seguir, de 1974, passou por ligeira revisão em 2008.






Iwo Jima — O portal da glória
Sands of Iwo Jima

Direção:
Allan Dwan
Produção:
Herbert J. Yates
Republic Pictures
EUA — 1949
Elenco:
John Wayne, John Agar, Adele Mara, Forrest Tucker, Arthur Franz, Richard Jaeckel, Julie Bishop, Wally Cassel, James Brown, Richard Webb, James Holden, Peter Coe, William "Bill" Murphy, George Tyne, Hal "Baylor" Fieberling, John McGuire, Martin Milner, Leonard Gumley, William Self; em seus próprios papéis Coronel David M. Shoup, Tenente-Coronel H. P. Crowe, Capitão Harold G. Schrier, Rene A. Gagnon, Ira H. Hayes, John H. Bradley; os não creditados Conrad Binyon, David Clarke, Fred Datig Jr., Bruce Edwards, Dorothy Ford, Carole Gallagher, Fred Graham, Don Haggerty, Gil Herman, William Hudson, I. Stanford Jolley, Dickie Jones, Billy Lechner, Mickey McCardle, Roger McGee, Al Murphy, Frank O'Connor, Judy Sochor, Glen Vernon, Steve Wayne, Dick Wessel, Ted White, John Whitney, Joy Windsor; e cerca de 1200 fuzileiros navais da Marinha dos Estados Unidos da América.



O lendário diretor Allan Dwan, à esquerda, com o figurinista René Hubert a e atriz Gloria Swanson quando das filmagens de Papai vai casar (Father takes a wife, 1941), de Jack Hively



Segunda Guerra Mundial: tendo por pano de fundo a campanha estadunidense contra o Japão, Iwo Jima — O portal da glória encena pequenos dramas privados em torno das carências afetivas dos soldados, acirradas pelo calor das batalhas. Já foi considerado um dos mais vigorosos filmes bélicos. Atualmente não passa de excitante curiosidade. As tomadas, realistas para a época da filmagem, perderam impacto. A realização envelheceu na estética e na linguagem, atropelada pela própria rapidez da evolução do cinema. A junção de sequências filmadas com imagens autênticas, antes garantia de sucesso e veracidade, mostra-se, agora, solução canhestra a revelar a pobreza da produção — ainda assim uma das mais dispendiosas da minúscula Republic Pictures. Os efeitos especiais que recriam explosões e chamas da mesma forma ficaram indigentes. Mas, apesar de tudo, Iwo Jima — O portal da glória ainda conserva parte do charme que lhe atribuiu fama. Essa qualidade, paradoxalmente, é extraída exatamente da precariedade exposta pela contemporaneidade.


John Wayne como o sargento John M. Stryke - na companhia de Adele Mara no papel de Allison Bromley - em raro momento de alívio das tensões

De qualquer modo, é um dos melhores filmes de cunho francamente belicista e militarista. Mesmo realizado quatro anos após o término da Segunda Guerra Mundial, não esconde o pertencimento à categoria do cinema de propaganda, feito para estimular o patriotismo, difundir o espírito guerreiro e destilar ódio ao inimigo, os japoneses, tratados como "malditos japs" e “sujeitos de cara amarela”. São o inimigo traiçoeiro e cruel, sempre à espreita. Pouco aparecem, mas estão ocultos em cada ponto do terreno. Não possuem rosto definido. Não são individualidades, mas uma massa compacta que precisa ser vencida de qualquer maneira. Se bem que, da parte dos estadunidenses, não há exagero na perpetuação dessa imagem em 1949. Afinal, outros "amarelos" estavam para entrar em cena, em menos de um ano: os norte-coreanos.


Por mais evidentes que sejam as limitações e o tratamento superficial, a realização de Allan Dwan possui bom suporte dramático. Privilegia a observação acurada, atenta e bem intencionada das reações dos homens na adversidade das frentes de combate. Deixa transparecer alguma centelha de humanidade, oculta no fosso das barricadas e trincheiras ou sob o peso dos apetrechos, capacetes e fardamentos. 


John Wayne faz o sargento John M. Stryke. Abaixo, com John Agar, à esquerda, intérprete do fuzileiro naval Peter Conway


Wayne é o duro e amargurado sargento John M. Stryke. Remói silenciosamente a falta de notícias do filho de dez anos, com quem perdeu contato desde o divórcio. Já ocupou posição mais alta na hierarquia militar. Foi rebaixado por problemas de comportamento. Vez ou outra alivia a dor no apelo à bebedeira. Expia as culpas tratando de forma áspera, quase brutal, os marines de cujo treinamento está encarregado. Acredita que agindo assim prepara melhor o espírito de jovens ainda ingênuos para o conflito iminente — a sucessão de combates travados nas ilhas japonesas que resultaram em algumas das mais sangrentas batalhas da Segunda Grande Guerra. John M. Stryke é um dos melhores papéis de Wayne. Rendeu-lhe uma série de elogios, como este, estampado no The New York Times: "(...) Está especialmente honesto e convincente. Locomove-se com habilidade dentro de uma história cheia de excitamento e cenas de grandes batalhas". Candidato ao Oscar de Melhor Ator, perdeu para o amigo Broderick Crowford, o Willie Stark de A grande ilusão (All the king’s men, 1949), de Robert Rossen.



Acima e abaixo:  o sargento John M. Stryke (John Wayne)


Iwo Jima — O portal da glória reveza períodos de treinamento militar com outros de pura ação. A história começa na base militar de Wellington, Nova Zelândia, palco à apresentação dos personagens principais. Passa ao combate no Atol de Tarawa. Segue temporada em instalações militares do Havaí. Na sequência, justifica o título ao rumar para Iwo Jima. Stryke perde a vida na escalada do Monte Suribachi, em cujo cume aconteceu fato dos mais marcantes e que encerra o filme: o hasteamento da bandeira estadunidense na manhã de 23 de fevereiro de 1945. É um final antológico. As cenas que reconstituem o evento  alternadas por close-ups dos emocionados e sentidos soldados de Stryke  é fantasticamente semelhante à fotografia que correu o mundo, obtida pelo correspondente Joe Rosenthal da Associated Press e que se converteu num dos símbolos da vitória aliada contra o Eixo. Tomam parte da reconstituição três soldados que participaram da ação real: René A. Gagnon, John H. Bradley e Ira H. Hayes[1]. Também comparecem à história, vivendo seus próprios papéis, o Coronel D. M. Shoup, Tenente-Coronel H. P. Crowe e o Capitão Harold G. Shrier[2].


A recriação do hasteamento da bandeira dos EUA no alto do Monte Suribachi em Iwo Jima - O portal da glória, conforme a famosa fotografia obtida pelo correspondente Joe Rosenthal, da Associated Press

John Wayne como o Sargento John M. Stryke



Atualmente poucos sabem quem é Allan Dwan, um dos mais antigos pioneiros do cinema estadunidense e realizador dos mais produtivos. Impossível saber precisamente quantos filmes fez. Começou numa época em que o cinema gozava de baixa credibilidade, quando não havia preocupação com registros filmográficos. Acreditava, porém, que até 1913 havia rodado perto de 400 títulos, filmes de um a dois rolos abrangendo gêneros de todos os tipos. Teve um típico começo de carreira aos primeiros realizadores do cinema dos EUA. Antes de se dedicar à atividade foi ator de teatro, esportista, engenheiro e inventor de artefatos óticos. Em 1908 foi chamado aos Estúdios Essanay para aperfeiçoar lâmpadas de mercúrio. Logo passou a integrar o time de roteiristas da companhia. Estreou na realização em 1911, por acaso, quando o escalaram para substituir um diretor completamente embriagado da American Film Company[3]. Em meio século de cinema consolidou carreira repleta de altos e baixos, mas sempre reconhecido como profissional do primeiro time. Declarou: “Durante 50 anos não deixei de trabalhar. Muitos diretores fazem apenas um filme por ano. Várias vezes fiz dois ou três. Antes de mais nada, gosto de trabalhar, gosto de filmar”.


Ao lado de John Wayne, o verdadeiro John Bradley, à direita, um dos marines da imagem imortalizada por Joe Rosenthal, participa como ele mesmo em Iwo Jima - O portal da glória


Depois da American Film Company, Dwan passou para a Universal. A seguir, fez pouso na Famous Players, de Adolph Zuckor, embrião da Paramount. Também atuou na Triangle Film Corporation, fundada por David Wark Griffith, Mack Sennett e Thomas Harper Ince. Dirigiu Douglas Fairbanks na Artcraft, de propriedade do ator. Daí em diante, até o final dos anos vinte, conheceu o apogeu em realizações estreladas por Gloria Swanson e Marion Davies, além de outras para Fairbanks. Transitou sem traumas do silencioso ao sonoro. No começo dos anos 30, depois de breve estágio na Europa, retornou aos Estados Unidos. Assinou contrato com a Fox, onde ficou relegado às produções menores, dentre as quais filmes protagonizados pela iniciante Shirley Temple. As exceções são Suez (Suez, 1939), A lei da fronteira (Frontier marshall, 1939)  sobre o imbróglio de Wyatt Earp com os Clanton  e Justiça (Trail of the vigilantes, 1940). Entra para a Republic em 1945, permanecendo aí até 1953, fazendo o que pode com os parcos orçamentos da empresa. Em 1954 firma parceria com o produtor Benedict Bogeaus. Volta aos melhores dias com dois westerns considerados magníficos: Homens indomáveis (Silver Lode, 1954) e A audácia é minha lei (Tenessee’s partners, 1955). O primeiro é uma metáfora do macarthismo: o bandido da história se chama McCarthy, cruel acusador de um homem inocente. Dwan encerra a carreira em 1961, depois de dirigir O mais perigoso dos homens (Most dangerous man alive), considerado excelente telefilme de ficção científica.


 John M. Stryke (John Wayne)

Frente a frente o ator John Wayne, caracterizado como o sargento John M. Stryke, e o General Graves B. Erskine nos bastidores de Iwo Jima - O portal da glória

  
Iwo Jima — O portal da glória foi exibido na televisão brasileira como Areias de Iwo Jima, tradução fiel do título original.





Produtor associado: Edmund Grainger. Roteiro: Harry Brown, James Edward Grant, baseado em história do primeiro. Direção de fotografia (preto e branco): Reggie Lanning. Efeitos especiais: Howard Lydecker, Theodore Lydecker, Jack Caffee (não creditado). Direção de arte: James W. Sullivan. Decoração: John McCarthy Jr., Otto Siegel. Supervisão de figurinos: Adele Palmer. Montagem: Richard L. Van Enger. Música: Victor Young. Som: T. A. Carman, Howard Wilson. Supervisão de maquiagem: Bob Mark. Penteados: Peggy Gray. Maquiagem: Vern Murdock (não creditada). Gerente de produção: Lee Lukather (não creditado). Assistente de direção: Nathan Barragar (não creditado). Efeitos de demolição: The United States Marine Corps (não creditado). Dublês (não creditados): Fred Graham, Don Nagel, Terry Wilson. Fotografia de cena: Donald Biddle Keyes (não creditado). Operador de câmera: Herbert Kirkpatrick (não creditado). Assistente de câmera: Nels Mathias (não creditado). Eletricista-chefe: Sid Swaney (não creditado). Orquestração (não creditada): Sidney Cutner, Ernest Gold, Leo Shuken. Direção musical (não creditada): Victor Young. Agradecimentos a: David O. Selznick (pela cessão de John Agar), United States Marine Corps. Consultoria histórica: Sargento Ernest I. Thomas Jr. Apresentação: Herbert J. Yates. Marcação de John Wayne: Sid Davis (não creditado). Consultoria técnica (não creditada): Leonard Friebourg, Jack Lewis, Holland M. Smith. Continuidade: Robert Walker (não creditado). Companhia de efeitos óticos: Consolidated Film Industries (CFI). Tempo de exibição: 109 minutos.


(José Eugenio Guimarães, 1974; revisado em 2008)



[1] Nota de revisão textual de 2008: Clint Eastwood, em 2006, expôs os prolongamentos da participação dos soldados René A. Gagnon, John H. Bradley e Ira H. Hayes no Monte Suribachi em seu A conquista da honra (Flags of our fathers).
[2] Mensagem inserida nos créditos informa que o Sargento Ernest L. Thomas Jr. foi o primeiro a chegar ao topo do Suribachi.
[3] John Ford teve início de carreira semelhante. Com o diretor - seu irmão Francis Ford - ausente durante tour de figurões aos estúdios da Universal, foi convocado a rodar algumas cenas para satisfazer a curiosidade dos visitantes. 

10 comentários:

  1. Saudações nobre Eugenio!

    Sempre quis saber mais sobre este filme, e digo de antemão que o Sargento Stryke é um dos meus personagens favoritos de John Wayne. O filme certamente perdeu o impacto técnico, mas se analisarmos por toda a situação do enredo, vê que é bastante realista o que os soldados americanos atravessaram durante a II Guerra.

    Wayne realmente não combateu na II Guerra como a grande maioria dos seus colegas de profissão, pois alegou que a família (esposa e na ocasião três filhos) eram seus dependentes, contudo, de uma forma ou de outra, ele deu sua contribuição em prol dos americanos, pois muitos soldados tinham Wayne como referência de herói, e se espelhavam em suas façanhas na tela. Isso os fez motivar ao combate e muitos vieram a agradecer até mesmo ao Duke, pois sem seu apoio, não teriam vencido o inimigo. Mas mesmo que adoremos muito John Wayne, ainda assim não deixamos de perceber certas contradições, pois como um homem que nunca esteve num front de verdade era capaz de defender a entrada de americanos no Vietnã e ainda prolongar mais o conflito? bom, isto é outra história.

    IWO JIMA, O PORTAL DA GLÓRIA (também chamado aqui de AREIAS DO IWO JIMA, título este televiso no Brasil) foi um produto de uma época, que ao longo dos anos veio até a alavancar o preconceito contra os nipônicos, contudo ao lado dos alemães e dos italianos eles eram, de fato, inimigos declarados. Hoje, IWO JIMA é pra se assistir como curiosidade e para se ter uma ideia de como os americanos, mesmo no pós-guerra, ainda mantinham o espírito de luta e orgulho a pátria. Hoje, IWO JIMA soa defasado e datado, mas ainda assim, no quesito ação e no teor psicológico dos personagens, a fita vale a pena ser vista.

    O que dizer de Allan Dwan?

    Li na revista CINEMIN que Dwan, de fato, dirigiu muitos filmes, e morreu com 100 anos em 1981, solteiro e sem filhos. Um diretor que merecia ser melhor lembrado tendo em vista seu valoroso acervo.

    Grande abraço!

    Paulo Telles
    Blog Filmes Antigos Club
    http://articlesfilmesantigosclub.blogspot.com.br/

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    1. Olá, Paulo Telles;

      Receba minhas saudações atrasadas. Sempre é bom saber um pouco mais sobre Wayne e a época da Segunda Guerra, tão significativa para ele, ainda que não tenha entrado em combate real. Porém, lutou no front cinematográfico mais que qualquer soldado de verdade.

      Quanto ao filme, propriamente, sempre que o vejo - faz muito tempo que o vi pela última vez - procuro me transportar, por meio de um esforço mental, à época em que foi realizado. Faço isso com todas as realizações de antanho. Não dá para ver filmes assim e apreciá-los honestamente pelo que nos mostra o presente. Se fizermos isso, obra alguma será convenientemente degustada. É o meu ponto de vista. Por isso, apesar de tudo, aprecio um filme como SANDS OF IWO JIMA, principalmente pela entrega sincera de Wayne ao papel.

      Quanto ao Allan Dwan, só posso dizer que preciso conhecer mais, MUITO MAIS, desse importante e esquecido cineasta que se iniciou nos tempos heroicos e pioneiros. Há muitas lendas a respeito dele. Muitas envolvem o tamanho real da filmografia. Já li que pode ultrapassar a quantidade de mil títulos. Mas deve haver, certamente, exagero nessa contabilidade. O Joseph Aloysius Dwan - nome real do cineasta - faleceu aos 96 anos, em 1981. Segundo o IMDb é responsável pela realização de 406 filmes, de 1911 a 1961. Meio século de cinema, portanto, no parecer oficial. Evidentemente, muita coisa que ele filmou deve ter se perdido sem deixar vestígios. Uma pena. É uma filmografia que só é derrotada, no quesito quantidade, pela do Griffith, responsável oficialmente por 518 títulos de 1908 a 1931. Claro que alguma coisa do PAI DO CINEMA também deve ter se perdido sem deixar pistas. De Griffith, tenho o orgulho de dizer que é o diretor de quem mais vi filmes. Nunca contei, mas estão todos anotados nos meus fichários. Pelo que sei, vi perto de 200 filmes dele, entre curtas e longas, graças a uma gigantesca mostra dos filmes dele que percorreu as capitais brasileiras em 1984-1985. Foi de arrepiar ver quantidade tão expressiva de filmes exibida em ordem cronológica.

      Abraços.

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  2. Eugenio,

    Conheci muito pouco da carreira do Dwan, pois seu tempo foi bastante anterior ao meu, apenas acompanhando umas poucas criações suas ao final de sua trajetória, como nos regulares Homens Indomáveis/54 e Matar Para Viver/57, com Ray Milland.

    Com toda certeza que Iwo Jima andou perdendo as pernas nos anos que se seguiram ao seu lançamento ou criação.

    O vi há menos de 8 meses e não apanhei na fita nada que pudesse me surpreender, muito menos algo para que possamos enumera-lo como o melhor filme bélico já criado.

    Não, isto não tem sentido, pois O Resgate do Soldado Ryan, do Spielberg, está aí vivo e esbelto para quem deseje fazer qualquer comparação com outro filme bélico. Nem existe o que se discutir.

    No entanto, para a época em que foi feito ele pode sim ter sido uma nova sensação. Alguns bons efeitos, o papel, ainda que muito repetido pelo ator Duke em sua carreira, o de durão, só que aqui ele está exagerado, mas que dá para ser absorvido lá pelos idos da feitura da fita do Dwan.

    Porém, este tipo de comportamento de um superior no exército tornou-se muito repetitivo neste modo de atuação, o que fragilizou seu personagem, utulizando métodos semelhantes ao que Clint Eastwood desempenha em O Destemido Senhor da Guerra, o mesmo que Lee Marvin faz em Os Doze Condenados, o que fez o Fuzileiro Hartman em Nascido para Matar, e coisas mais deste angulo, embora alguns com poucas alteraçõpes para outros.

    Não tenho em meu conceito informações pessoais negativas aos trabalhos do Allan Dwan, pois sempre li sobre o muito falado diretor informações bastante positivas de seu trabalho.
    Entretanto, não me resta qualquer condição de lhe dar crédito superior por este seu trabalho ao lado do Wayne embora, repita, é até uma fita aceitável, mas sem tantas grandiosidades quanto as que condecoram a muito normal fita como algo muito acima do que ela realmente é: um filme muito comum.

    jurandir_lima@bol.com.br

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    1. Caro Jurandir;

      Não há dúvidas de que aos olhos de hoje o filme de Dwan nos pareça datado. Infelizmente, esse é um processo que ameça cada vez mais o cinema anterior ao anos 70, realizado num período em que ainda não estava tão dependente de avanços tecnológicos. Por isso, como eu afirmei ao Paulo Telles em comentário mais acima, para esses filmes permaneceram vivos, ao menos para mim, tanto apreciá-los pela ótica de um espectador do tempo em vieram a público. Discordo quanto a sua apreciação do papel de Wayne. É um dos mais fortes e críveis do ator. Não é Wayne que utiliza, segundo você disse, "métodos semelhantes ao que Clint Eastwood desempenha em O Destemido Senhor da Guerra". Isso seria impossível, pois o filme de Allan Dwan é muito anterior ao de Clint. É o Clint que utiliza, portanto, métodos semelhantes ao de Wayne. Wayne é o modelo, o paradigma, para o bem e para o mal.

      Quanto ao mais estou de pleno acordo. Também gostaria de conhecer muito mais do cinema de Allan Dwan.

      Grande abraço.

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  3. Telles, amigo,

    Não acho inválida, de forma alguma, suas comparações com o Duke real e o Duke ficticio, ou mesmo porque ele, que não combateu na 2a. guerra, tinha tantos conhecimentos do tema, a ponto de suas interferencia na guerra do Vietnã e até fazendo filme sobre tal ação, e mais, dirigindo uma fita pela primeira vez, como foi Os Boinas Verdes.
    Portanto, ingerencia severa num tema que ele se privou de participar em defesa de seu país.

    Eu te digo uma coisa que muitos que lerem isto não irão gostar ou me dar apoio.
    E vou, como você frisou, fugir um pouco da pauta do Eugenio e invadir uma outra seara, mas ainda com relação ao John Wayne.

    OBS; talvez esta minha pauta devesse ser motivo de um email particular expressando meus pontos de vista. Porém, como tocaste, embora de leve no assunto Duke x guerraa, achei que deveria me expor.

    Veja e atente; acabei de ver um semi documentário de titulo EU SOU ALI - A HISTORIA DE MUHAMMEDE ALI.
    Na fita ele não aceita ir à Guerra do Vietnã para matar pessoas que nunca lhe fizeram mal ou que nem sequer conhecia, afim defender direitos de outros senão os do EUA.

    O caso rendeu. Rendeu tanto que subtrairam-lhe o titulo de Campeão que ostentava no momento, pois o Ali era de fato um Sensacional lutador, muito mais amado que o Duke por sinal, que falava muito, mas não dizia asneiras, e ainda o privaram de exercer sua profissão por anos.

    Aí vai a minha pergunta: será que o Wayne era algum Deus dos EUA? Será que ele desfrutava de mais brilhantismo ou prestigio, ou até cartaz que o Ali? Ou será que fizeram isso com o Ali porque ele era negro?

    Sim, porque o Wayne não deveria ser o único homem dos EUA com familia e filhos para criar à época do conflito. Outros que foram ao combate, e até pereceram, tinham também familias e os deixou orfãos;

    E, no entanto, o Duke, alega uma asneira desta para não ir ao combate, nada lhe é cobrado, não sofre qualquer penalização (muito menos a dor de consciencia do próprio) e seguiu sua vida como um grande americano, um heroi, até certo ponto e virtualmente, e um, como citaste com louvor, um profundo conhecedor de guerras.

    Porcaria!
    Qual a direferença do Duke para o Ali? A cor da pele? Porque pena para um e liberdade premiada para outros?

    Ele deveria sim ser obrigado a ir para combate como muitos dos seus colegas. Esta seria a mais correta decisão que a "rígida" lei do seus país deveria ter seguido.

    jurandir_lima@bol.com.br

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    1. Objetivamente não temos como saber do modo como essas coisas se processaram, Jurandir. Evidentemente que o fator racial pesou, ainda mais para Ali, um sujeito sem papas na língua, um valor em permanente afirmação de seus pontos de vista e dos de sua raça. Ele é o simbolo de um orgulho que contribuiu ao aumento da autoestima dos negros em um país cindido racialmente. Quanto ao mais, só podemos fazer suposições, terreno no qual não me arriscarei por me faltarem informações mais precisas do ponto de vista histórico.

      Abraços.

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  4. Gostei do desempenho do Duke neste filme, compondo um tipo totalmente amargurado, ao invés de ser um modelo de virtudes morais, embora sempre durão. O filme, em si mesmo, muito propagandístico para o meu gosto, o que tem de melhor é precisamente a exploração do lado humano dos personagens. A grande diferença entre Muhammad Ali e o Duke foram principalmente as convicções políticas de um e do outro: não esqueçamos que o Duke era defensor dos valores mais conservadores da sociedade branca, anglo-saxã e protestante, diferentemente do boxeador, que, além de negro, era muçulmano e, pecado dos pecados, lançou mão de uma objeção de consciência que reconhecia humanidade no inimigo! Traço diferencial que, mesmo perante a Suprema Corte norte-americana, não seria válido, mas que, naquele contexto de paranóia, pesou barbaramente.

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    1. Aí estão, Jurandir, as contribuições bem fundamentadas de Ricardo Antônio Lucas Camargo para o debate a respeito das reações adversas acerca da não participação de John Wayne na Segunda Guerra Mundial e da recusa consciente de Muhammad Ali em combater no Vietnã.

      Abraços.

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  5. Grande revisão e uma grande obra se considerarmos que todos os avanços tecnológicos com que conta cinema de hoje, está apostando em grandes performances neste caso John Wayne não teve nesse período ... !!! Não tenho grandes noções sobre filmes desta época mas certamente foi muito bom e deixou um grande legado para os nossos tiempos..Gracias de partilha, o seu excelente trabalho, como sempre eu vou tirar as fotos ... !!!
    ... beijos beijos beijos .... .... .... beijos ... beijos !!!

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    1. Gracias por seu aporte, Maria Del Socorro. Este filme estrelado por John Wayne e dirigido pelo lendário Allan Dwan esta estre os melhores exemplos do cinema belicista. Vendeu a guerra e a idealização da pátria como poucos.

      Beijos, abraços e saludos.

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