A Paramount convenceu o autor Mario Puzzo a transformar
uma sinopse com cerca de 20 páginas em livro. O resultado, um alentado best-seller, entrou na linha de adaptações
a produzir. De início, nada teria de extraordinário: apenas mais um filme sobre
a Máfia, como tantos outros. Os diretores cogitados recusaram a proposta. A condução
sobrou para Francis Ford Coppola, roteirista abalizado mas pouco experimentado
como realizador. Sequer gozava do respaldo da equipe de filmagem. Porém, teve a
coragem de ousar: enfrentou a desconfiança e as sabotagens armadas pelo própria
Paramount; impôs o ponto de vista do criador pessoal e determinado. O
poderoso chefão (The godfather, 1972) se converteu, desde
o lançamento, em realização emblemática. Ajudou a redefinir a estatura adulta
do cinema estadunidense contemporâneo. Hoje, é comum encontrá-lo no topo das
listas de enquetes acerca dos melhores filmes de todos os tempos. Mais que
apresentar um conjunto de rituais sobre a visão de mundo e a conduta da mafiosa
família Corleone, é um épico com ares de tragédia e ópera sussurrada. Os
personagens são vítimas de variáveis incontroláveis. Também é um tratado sobre
os paradoxos do sonho americano. Expõe as contradições de um país ordenado
segundo os princípios do liberalismo, mas desafiado por uma organização fundada
nas estranhas pouco permeáveis das comunidades tradicionais, avessa ao
individualismo e irrigada pela fidelidade canina aos laços de sangue. Marlon
Brando, à época relegado ao corner dos decadentes, reergue a carreira com um
desempenho magistral no papel do patriarca e capo Don Vito Corleone. A
apreciação em tela, escrita em 1975, passou por ajustes em 1988.
O poderoso chefão
The godfather
Direção:
Francis Ford Coppola
Produção:
Albert S.
Ruddy
EUA — 1972
Elenco:
Marlon
Brando, Al Pacino, Robert Duvall, James Caan, Richard S. Castellano, Sterling
Hayden, John Marley, Richard Conte, Diane Keaton, Al Lettieri, Abe Vigoda,
Talia Shire, Gianni Russo, John Cazale, Rudy Bond, Al Martino, Morgana King,
Lenny Montana, John Martino, Salvatore Corsitto, Richard Bright, Alex Rocco,
Tony Giorgio, Vito Scotti, Tere Livrano, Victor Rendina, Jeannie Linero, Julie
Gregg, Ardell Sheridan, Simonetta Stefanelli, Angelo Infanti, Corrado Gaipa,
Franco Citti, Saro Urzi e os não creditados Sofia Coppola, Anthony Gounaris,
Joe Spinell, Chris Anastasio, Norm Bacchiocchi, Max Brandt, Tybee Brascia,
Carmine Coppola, Gian-Carlo Coppola, Italia Coppola, Roman Coppola, Don
Costello, Robert Dahdah, Richard Fass, Gray Frederickson, Ron Gilbert, Anthony
Gounaris, Joe Lo Grippo, Sonny Grosso, Louis Guss, Merril E. Joels, Randy Jurgensen,
Tony King, Peter Lemongello, Tony Lip, Frank Macetta, Lou Martini Jr., Raymond
Martino, Joseph Medaglia, Carol Morley, Rick Petrucelli, Joe Petrullo, Burt
Richards, Sal Richards, Tom Rosqui, Nino Ruggeri, Frank Sivero, Filomena
Spagnuolo, Gabriele Torrei, Nick Vallelonga, Ed Vantura, Ron Veto, Matthew
Vlahakis, Conrad Yama.
Marlon Brando, entronizado no personagem de Don Coleone, e o diretor Francis Ford Coppola |
Filme, diretor e
ator estavam desacreditados. Para a Paramount, Marlon Brando se encontrava, há
muito, liquidado para o cinema. Tido como indisciplinado e — àquela altura —
desprovido de talento, o intérprete que creditaria Don Corleone entre os
emblemáticos personagens da tela não desfrutava de prestígio algum junto à
indústria cinematográfica. Enquanto procurava desqualificá-lo, a companhia anunciava
Laurence Olivier e Anthony Quinn como os mais cotados para encarnar a emblemática
figura do patriarca e capo mafioso moldada pela pena de Mario Puzzo.
Coppola sequer
constava entre os nomes cogitados para a direção. Tinha o status de estepe ou
regra três. A oportunidade surgiu quando cerca de vinte realizadores, inclusive
os renomados Peter Yates, Richard Brooks, Costa-Gavras e Elia Kazan recusaram a
tarefa pelos mais diversos motivos.
Com respeito ao filme, a Paramount
pretendia apenas uma produção standard,
como tantas outras, sobre a ação e os bastidores da Máfia: orçamento pequeno e
locações em Saint Louis, no Missouri, para uma trama passada nos contemporâneos
anos 70.
Filme pronto e
resultado: The godfather cai no gosto do público e de parte da crítica. Os
cronistas o elegem como o equivalente de ...E o vento levou (Gone
with the wind, 1939), de Victor Fleming, dos filmes de gângster; uma
saga de estatura épica que faltava às investidas cinematográficas no submundo
da Máfia.
Na França,
entretanto, recebeu os mais duros e injustificados ataques: "Tão chato
quanto conselho administrativo" (Telerama); "Uma decepção... uma
diversão fraca transforma-nos em cúmplices de uma empresa de gangsterismo...
nocivo" (L'Express); "Hemoglobina demais" (Le
Figaro); "Inexiste crítica social. Ainda nos devem um filme sobre
a Máfia" (Le Monde); "O recorde da prostituição" (Le
Figaro); "Três horas de ketchup. Está muito longe de Yves
Boisset" (Le Noveau Observateur). Os detratores, em geral, acusam Coppola
de romancear a organização criminosa. Coitados! Não entenderam nada. Foram
passados para trás pela quase sempre conservadora Academia de Artes e Ciências
Cinematográficas de Hollywood. Em 1972, The godfather recebeu quatro dos
principais oscars: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado e
Melhor Ator (Brando recusou o prêmio em protesto contra o tratamento concedido
aos índios pelo Governo dos Estados Unidos. Fez-se representar na cerimônia por
uma falsa índia ‑ segundo a imprensa ‑ que expôs as razões do gesto).
O diretor Francis Ford Coppola entre os Corleone. A partir da esquerda: Sonny (James Caan), Don Vito (Marlon Brando), Michael (Al Pacino) e Fredo (John Cazale) |
A produção de
seis milhões de dólares desbanca A noviça rebelde (The
sound of music, 1965), de Robert Wise, do posto de maior bilheteria do
cinema e desloca para terceiro lugar o lendário ...E o vento levou, por
mais de 30 anos o incólume recordista.
Coppola, roteirista
de reputação consolidada, consagrou-se definitivamente como diretor dos
melhores. Graças ao esforço pessoal e à capacidade de suportar pressões, converteu
O
poderoso chefão em vigoroso e personalíssimo épico. A realização mira as
contradições do espírito formador estadunidense, dentre as quais a onipresença,
no seio do país — berço do moderno individualismo — de uma instituição familiar
moldada nas entranhas das comunidades tradicionais, que submete os interesses particulares
— segundo o credo liberal — às exigências do grupo de sangue e do
apadrinhamento. O indivíduo é anulado, com suas prerrogativas, pela força dos
laços de lealdade e deferência. Ou como bem definiu Marlon Brando, The
godfather é um tratado sobre a mentalidade corporativa; revela um câncer
que emana no tecido da cultura liberal.
Descendente de
italianos, Coppola certamente sabia, com propriedade, como abordar a Máfia a
partir do romance de Mario Puzzo. O filme é uma etnografia dos rituais caros à
organização. Mirando as práticas da família Corleone, o diretor promove um
ajuste de contas entre o valores arraigados de seus ancestrais e os códigos em
vigor na terra que os acolheu na imigração. Apesar de formado na nova geração
de cineastas, egressa das universidades, Coppola — em seu arrojo e vontade de
experimentação — guarda um pouco do espírito pioneiro dos mestres do cinema estadunidense.
É um rebelde ao estilo de Ford, Huston, Hawks e Walsh. Não teme desafiar o
sistema para impor modelos narrativos e convicções numa estrutura de ideias
cristalizadas, dominada por marasmos e clichês. Consegue permanecer imune aos
contrários, sejam chefões da indústria e críticos de plantão —prisioneiros de
verdades e paradigmas consolidados, limitados, portanto, por fórmulas viciadas
de apreciação, falso-moralismo e suspeito bom-gosto.
Apesar de várias
vezes contrariado, Coppola impôs projeto mais ambicioso aos produtores. Conseguiu,
com muita manha, guardar fidelidade ao original de Puzzo ao transferir os
locais da ação para Nova York, Las Vegas, Hollywood e Sicília enquanto recuava
o contexto histórico para os anos 40 e 50. A Paramount dificultou ao máximo a
liberdade criativa do realizador. Interferiu no roteiro, tentou impor finais e,
contra a própria atividade gerencial, forçou o estouro de cronogramas e
orçamentos que delimitou. A equipe técnica também duvidava da tarimba do
diretor e implantou clima pouco ameno nos sets.
O adotivo dos Corleone: Tom Hagen (Robert Duvall), advogado e consiglieri |
Francis Ford
Coppola nasceu em 1939. Formou-se em artes dramáticas pela Universidade de
Hofstra, Nova York. Na Universidade de Cinema de Los Angeles conquistou o grau
de Mestre em Belas
Artes. Seus primeiros exercícios extra-acadêmicos são filmes
eróticos curtos, realizados em 1960: Aymon, the terrible; The
Pepper; Os amantes do nudismo (Tonight's sure); e The
belt girl and the playboy. Mas foi como homem de confiança ou
pau-para-toda-obra do lendário Roger Corman que aprendeu as artes do ofício. Na
primeira missão para o "diretor mais rápido do mundo" traduziu para o
inglês um filme soviético de ficção científica, mesmo desconhecendo por
completo a língua russa. Ainda acrescentou tempero "cormaniano" à
película de apelos humanista e fraterno, além de inserir monstros de borracha e
cenas de sexo para elevar a temperatura da trama, mostrando-se bastante
familiarizado com o estilo do patrão. Em 1963, quando Corman realiza Desafiando
a morte (The young racers) e necessita de um engenheiro de som, Coppola
se apresenta de pronto para o trabalho, mesmo nada sabendo do assunto. Buscou
nos livros informações para manusear corretamente a aparelhagem. No mesmo ano
atua como produtor associado de Corman em O terror (The terror). Também se
responsabiliza pelos diálogos de alguns exemplares da célebre série de horror
protagonizada por Vincent Price e baseada em histórias de Edgar Allan Poe.
Roger Corman
patrocina a ‑ pode-se dizer ‑ primeira experiência séria de Coppola na direção:
Demência
13 (Dementia 13, 1963), rodada na Irlanda ao custo de 20 mil
dólares e concluída em três dias. Hoje, é um cult, curiosidade pouco vista e mal lançada, conhecida no Brasil
graças à televisão e ao home video.
Na penumbra do poder: Don Vito Corleone (Marlon Brando) |
De 1966 em diante,
Coppola ganha notoriedade como roteirista, atividade que alterna com voos mais
altos na direção. É premiado pelo script
do jamais rodado Pilma pilma e escreve os guiões de Essa mulher é proibida (This
property is condemned, 1966), de Sidney Pollack, Paris está em chamas? (Paris
brule-t-il?, 1966), de René Clément, e Os pecados de todos nós (Reflections
in a golden eye, 1967), de John Huston, pelo qual não foi creditado. Em
1967 recebe da Warner financiamento para realizar Agora você é um homem (You're
a big boy now), roteiro seu baseado em ideia própria de 1961. Caminhos
mal traçados (The rain people, 1969), resultado de
outro roteiro pessoal, é concretização tardia de um projeto de 9 anos. Com essa
produção de baixo orçamento conquista o Grande Prêmio do Festival de San
Sebastian. Entre esses dois títulos conheceu o primeiro fracasso, o musical O
caminho do arco-íris (Finian's rainbow, 1968), quase
unanimemente considerado como seu pior trabalho. Em 1971 é agraciado com o
Oscar de Melhor Roteiro por Patton, rebelde ou herói? (Patton,
1970), de Franklin J. Schaffner. Três anos depois tem o roteiro de O
grande Gatsby (The great Gatsby, 1974) totalmente
alterado pelo diretor Jack Clayton, a quem Coppola diretamente responsabiliza
pelo fracasso da realização.
Quando filmava O
caminho do arco-íris fez amizade com George Lucas, recém-saído da
universidade. Convenceu a Warner a lhe produzir o primeiro filme — o
claustrofóbico e modesto exercício de ficção científica THX-1138 (THX-1138,
1970). Lucas é apenas o primeiro de um grupo de jovens que teve em Coppola uma
espécie de mecenas. Os demais: Carroll Ballard,
John Korty, Hal Barwood, Willard Huyck, Gloria Katz, John Milius, Matthew
Robbins e Martin Scorsese.
Michael Corleone (Al Pacino) e o pai Don Vito Corleone (Marlon Brando) |
A gestação de O
poderoso chefão começa em 1966. O roteirista Mario Puzzo recebe da
Paramount 7,5 mil dólares para transformar em livro a sinopse Mafia,
de vinte páginas, que apresentou ao estúdio. O resultado é um campeão de
vendas. O sucesso do avantajado volume convence a Paramount das possibilidades
comerciais da adaptação. Começam os preparativos, junto com problemas sobre a
direção e o protagonista. Um dos entraves a vencer era a própria Máfia. O
produtor Albert S. Rudy negociou com os “chefões” e Joseph Colombo, líder da
Liga Ítalo-Americana dos Direitos Civis. Acertou-se que os termos "Máfia"
e "Cosa Nostra" não seriam mencionados. Notícias duvidosas atestam
que mafiosos colaboraram financeiramente com o empreendimento. Pelo visto, não
foram negociações tranquilas. Coincidência ou não, na ocasião Joseph Colombo teve
os movimentos para sempre inutilizados ao ser baleado em atentado.
Fredo Corleone (John Cazale), inábil e fraco |
O filme tem ares
de tragédia grega. Forças incontroláveis, manipuladas pelo destino ou por circunstâncias
históricas se apoderam dos personagens. Os Corleone — grupo familiar ampliado
como os de Gilberto Freyre em Casa grande & senzala — formam instituição
de muitas ramificações, erguida à sombra de atividades criminosas. Cava espaço
em lutas contra o aparelho legal e famílias rivais com as quais se alia ou
compete. Lança mão do suborno, da chantagem, cooptação e simples eliminação
física de adversários. A história começa em 1945. O chefe Don Vito Corleone
está velho, mas em forma.
Após anos de sacrifício pretende conferir aura de legalidade
e respeitabilidade aos negócios. Planeja a segurança dos seus e a continuidade
pacífica da empresa que fundou. Mas esse desejo não depende somente da vontade.
Forças contrárias — da lei, do crime ou uma combinação de ambas — são variáveis
a controlar. Elementos da própria organização armam perfídias. Sofrerá o
desgosto supremo de ver o primogênito e sucessor Sonny (Caan) brutalmente
assassinado e a filha Connie (Shire) casada com o animalesco bookmaker Rizzi (Russo), agressor
contumaz. O próprio patriarca não consegue se separar dos velhos métodos de
luta e convencimento. O filho mais novo, Michael (Pacino) — herói de guerra que
deveria ser preservado dos negócios escusos — é, diante da inaptidão e fraqueza
de Fredo (Cazale) — o irmão do meio —, lançado no centro das contendas, atraído
pela chamado do sangue, em ato de vingança.
Sonny Corleone (James Caan), primogênito e sucessor natural... |
....é trucidado a tiros em embocada |
As primeiras sequências,
exemplares, revelam as contradições da família de Don Vito Corleone. Ao ar
livre se desenrola a festa do casamento de Connie — acontecimento de peso abrilhantado
por convidados de respeito. Para isso, a família se abre ao social mais amplo
em busca da tão almejada respeitabilidade. Mas dos amplos e iluminados jardins
do baile — elo dos Corleone com o espaço público das coisas lícitas e
permitidas —, a câmera salta para o fechado e pouco permeável recinto privado —
o centro de poder e controle. Aí o patriarca recebe cumprimentos pelas núpcias
de Connie, consolida pactos que ampliam o raio de ação da organização, combina limites
e formas de negociar/atuar com representantes de outras famílias. Tudo é
acertado em segredo, na penumbra abafada. Don Corleone fará tudo pelo bem-estar
dos seus protegidos e espera, em compensação, receber honras e favores.
Os métodos viscerais
de convencimento são revelados com requintes. Um executivo de Hollywood acorda
literalmente banhado no sangue da cabeça decepada do próprio cavalo de
estimação. É o meio encontrado para força-lo a incluir um protegido dos
Corleone — o cantor decadente Johnny Fontane (Martino) — no elenco de nova e
promissora produção. A passagem alude ao suposto e nada sutil modo empregado
pela Máfia no esforço de forçar a Columbia a reservar para o então decadente Frank
Sinatra o papel de Angelo Maggio — que seria de Eli Wallach — em A um
passo da eternidade (From here to eternity, 1953), de
Fred Zinnemann. O cantor e a companhia, claro, negam qualquer tipo de pressão
mais taxativa. Apesar disso, sobram fortes indícios de que a Máfia contribuiu
para catapultar a carreira de Sinatra quando esta se encontrava estagnada e no fundo
do poço.
A seguir, The
godfather se aprofunda no dia-a-dia da família, revelando um universo
dominado exclusivamente por ações masculinas, repleto de crimes e vendetas.
Key Adams (Diane Keaton) e Michael Corleone (Al Pacino) |
Firme no propósito de se manter afastado do tráfico de drogas, Don
Corleone atrai a ira de outros grupos. Entra em guerra com a família de Tataglia
(Rendino). Este ordena fracassado atentado contra o personagem vivido por
Marlon Brando. Diante do rumo dos eventos, Michael contraria os desejos do pai
— que pretendia preservá-lo para um futuro pacífico. Assassina Tataglia e o
corrupto chefe de polícia McCluskey (Hayden). Receoso, Don Corleone “exila” o
caçula na Sicília, sob forte proteção de aliados locais. Michael permanece na ilha
por mais de dois anos. Durante todo esse tempo a namorada americana Key Adams
(Keaton) não recebe notícias e sequer é informada de seu paradeiro.
Em compensação, Michael se apaixona por Apollonia (Stefanelli) na
tranquilidade de um cenário pastoral. Casam-se. Porém, é devolvido à realidade
pelo brutal assassinato de Sonny. Estava pronto para regressar quando um
atentado provoca a morte da inocente esposa.
No cenário pastoral do exílio siciliano, Michael Corleone (Al Pacino) contrai núpcias com Apollonia (Simonetta Stefanelli) |
Com o pai semiafastado
da chefia, atuando como conselheiro nos bastidores, Michael — auxiliado pelo
irmão adotivo e advogado do clã, Tom Hagem (Duvall) —, assume o controle das
organizações Corleone: empresas, família, relações e dependentes. Reencontra Key
Adams e consolidam matrimônio. O patriarca morre. Nasce o herdeiro de Michael. A
cerimônia de batizado alterna rituais religiosos e profanos. Enquanto o padre
abençoa o novo membro do clã, os Corleone eliminam os últimos rivais. O grupo
fundado por Don Vito restabelece a hegemonia; Michael é o novo Don. Nesse mundo
fechado não há espaço para Key. Ela não será, como esperava, a típica, modelar
e participativa esposa de acordo com o figurino do American way of life. Deverá, como outras mulheres da família, limitar
a própria atuação ao espaços menores e subalternos reservados às peculiaridades
de seu sexo e sangue. Pertence à organização até certo ponto. Prioritariamente,
deverá procriar e cuidar dos filhos do novo chefão.
Percebendo-se excluída: Key Adams (Dine Keaton) nos emblemáticos momentos finais O poderoso chefão |
A destacar o
trabalho do maquiador Dick Smith e a trilha musical de Nino Rota. O primeiro
transformou Marlon Brando, aos 47 anos, no quase septuagenário Don Vito
Corleone. Já havia metamorfoseado Dustin Hoffman no ancião de 120 anos em O Pequeno Grande
Homem (Litle Big Man, 1970), de Arthur Penn. Quanto a Rota, não cuidou
apenas da música. Suas notas e acordes vigorosos são comentários precisos, organicamente
ajustados às cenas e sequências. Traduzem um universo repleto de rituais. Mas,
além disso, possuem vida própria, independente das imagens.
Roteiro: Mario Puzzo, Francis Ford Coppola, baseado em
novela homônima do primeiro. Ajustes no
roteiro: Robert Towne. Direção de
fotografia (Technicolor): Gordon Willis. Desenho de produção: Dean Tavoularis. Direção de arte: Warren Clymer. Decoração: Philip Smith. Figurinos: Anna Hill Johnstone. Efeitos especiais: A. D. Flowers, Joe
Lombardi, Sass Bedig. Montagem:
William Reynolds, Peter Zinner, Marc Laub, Murray Solomon. Música: Nino Rota (The godfather waltz, I
have but one heart, The pickup, Connie's wedding, The
halls of fear, Sicilian pastorale, Love
theme from the godfather, Apollonia, The new godfather, The
baptism, The godfather finale). Música adicional: Carmine Coppola. Direção musical: Carmine Coppola, Carlo Savina. Maquiagem: Dick Smith, Philip Rhodes. Produtor associado: Gray Frederickson. Produção de elenco: Fred Roos, Andrea Eastman,
Louis DiGiaimo. Consultor de produção:
Walter Murch. Penteados: Philip
Leto. Supervisão de guarda-roupa:
George Newman. Guarda-roupa feminino:
Marilyn Putnam. Operador de câmera:
Michael Chapman. Produtor de gravação:
Christopher Newman. Regravação: Bud
Grezbach, Richard Portman. Assistente
para o produtor: Gray Chazan. Executivo
assistente: Robert S. Mendelsohn. Coordenador
de locações: Michael Briggs, Tony Bowers. Pós-produção no estrangeiro: Peter Zinner. Gerente de unidade de produção: Fred Caruso. Assistentes de direção: Fred T. Gallo, Tony Brandt, Stephen F.
Kesten (não creditado). Coordenador de
unidade de produção: Robert Barth. Serviços
de locação: Cinemobile Systems. Gerente
de produção na Sicília: Valerio de Paolis. Assistente de direção na Sicília: Tony Brandt. Assistente de direção de arte na Sicília: Samuel Verts. Continuidade: Nancy Hopton. Produção executiva: Robert Evans (não
creditado). Gerente de produção da
segunda unidade: Ned Kopp (não creditado). Assistente de direção pela Oaktree Productions: Fred T. Gallo. Segundo assistente de direção: Steven
P. Skloot (não creditado). Assistente de
direção de arte na Sicília: Samuel Verts. Camareiro: William Canfield (não creditado). Carpintaria: Robert Hart (não creditado). Coordenação de construções: Robert Scaife (não creditado). Edição de efeitos de som: Howard Beals
(não creditado). Mixagem da Regravação
de diálogos: Steve Cook (não creditado). Assistente da edição de som: Pierre Jalbert (não creditado). Operador de microfone: Les Lazarowitz
(não creditado). Efeitos especiais pela
Oaktree Productions: Sass Bedig, A.D. Flowers, Joe Lombardi. Supervisão de efeitos especiais: Paul
J. Lombardi (não creditado). Dublês (não
creditados): Joe Bucaro III, Steven Burnett, Harry Daley. Coordenação de dublês: Paul Baxley (não
creditado). Operador de câmera
adicional: Howard Block (não creditado). Direção de fotografia da segunda unidade: Bill Butler (não
creditado). Eletricistas (não
creditados): Russell Engels, Ed Kammerer, Robert Royal, Joe Rutledge, Ray Williams. Assistentes de câmera (não creditados):
Edward Knott, Anthony R. Palmieri, Ed Quinn, Peter Salim, Tibor Sands, Edward
Tonkin, Robert M. Volpe. Robert Ward. Operador geral: Jim Meyerhoff (não
creditado). Fotografia de cena: Jack
Stager (não creditado). Eletricista-chefe:
Dusty Wallace (não creditado). Produção
de elenco extra: Riccardo Bertoni (não creditado). Joalheria: Joan Joseff (não creditado). Assistente de montagem: Jack Wheeler (não creditado). Músicos (não creditados): Carl Fortina
(acordeon), Tommy Johnson (tuba), Jimmy Maxwell (trompete), Paul Salamunovich
(coro), Stephen Salamunovich (soprano), Albert T. Viola (mandolin). Edição musical: John C. Hammell (não
creditado). Motoristas (não creditados):
Raymond Hartwick, Charles Lazzarro, Edward Venn, Louis Volpe, John Whelan, Ed
Wilson, Rocco Derasmo, James Giblin, George Lynch Jr. Consultoria técnica (não creditada): Sonny Grosso, Randy Jurgensen.
Técnico da Cinemobile: Johnny E.
Jensen (não creditado). Coordenação da
produção: Shari Leibowitz (não creditado). Coordenação de veículos: Richard Nelson (não creditado). Publicidade: Howard Newman (não
creditado). Amestrador de cavalos:
Jasmine Sabu (não creditado). Grupo de
adr: Maurice Schell (não creditado). Serviços
de locações pela Oaktree Productions: Cinemobile Systems Inc. Seguradora: Fireman's Fund Insurance
Co. Tempo de exibição: 171 minutos
(175 minutos no original).
(José Eugenio Guimarães,1975; revisto em 1988)
Eugenio,
ResponderExcluirMuito bom conhecer todos estes tópicos de bastidores desta película.
Estranho um pouco a situação do Brando porque, ainda em 1972 ele fizera O Ultimo Tango em Paris, do Bertolucci, que foi um enorme sucesso. Não deveria portanto, estar em tanta baixa assim.
Concordo plenamente com o paralelo apresentando-o como o E O Vento Levou para filmes de gangster's, já que o Copolla, mesmo sem crédito algum atirou nesta criação toda sua alma de um futuro grande diretor que, positivamente viria a ser.
Tudo isso sem por todo o elenco neste bojo, já que ninguém ali escapou de performances surpreendente, ressalvando-se o Duvall e o Pacino, sem esquecer a Keaton e todo seu talento e beleza jovial, e até o pequeno papel do Sterlyng Hayden, que há tempos não o via nas telas.
Sem duvida um filme que faz jus ao seu grande sucesso, que segue insistente por quase 45 anos e que terminou por gerar uma trilogia com cada uma das peliculas mais interessante que as outras.
Por certo que a critica francesa desaba muitos elogios no que fazem eles próprio e atiram ao lixo o demais. Não tem sentido nada do que qualquer destes críticos falaram sobre o filme. Chega a soar falso.
Este filme é perfeito em todos os sentidos. Musica, atuações, direção criativa, cenas sensacionais e tudo o mais.
Segue há quase 45 anos ainda fornecendo emoções fortes mesmo a quem já o viu mais de 10 ou 20 vezes, como eu e uma filha minha, e vai continuar desta forma por ainda muitas décadas. Dividilmente será uma fita esquecida.
É a obra Magistral de Gangster's que faltava no cinema.
jurandir_lima@bol.com.br
Na ocasião, Brando estava desacreditado mesmo, Jurandir - nos Estados Unidos, bem entendido. Mas gozava de excelente prestígio na Europa. Quanto aos críticos franceses da época, acredito que já tenham se redimido da "rata" que cometeram. Os franceses são os primeiros a exaltar o grande cinema americano e o equívoco cometido com relação a O PODEROSO CHEFÃO, quando de seu lançamento, pode se dever mais ao caráter um tanto inédito da realização. Eles esperavam por uma coisa segundo o modelo clássico do cinema ao qual estavam habituados e viram outra. Acontece. Às vezes o pessoal não tem muito o que dizer. Eu mesmo já escrevi - e publiquei - muita bobagem. Depois, nas revisões a que sempre me obrigo, percebi a gafe que havia cometido e voltei atrás, com a cara mais deslavada do mundo. Hehehehe! Não se trata do filme do Coppola, claro. O PODEROSO CHEFÃO se tornou fundamental para mim desde que o vi pela primeira vez. É o melhor da trilogia.
ExcluirAbraços.