Antes de a Segunda Guerra Mundial começar oficialmente
para os Estados Unidos, alguns de seus cidadãos já estavam envolvidos nos
combates, ao lado dos aliados, na Europa e Ásia. Pilotos do Tio Sam uniram
forças à britânica RAF (Royal Air Force) contra os intermináveis bombardeios
alemães à Inglaterra. Ganhou fama, na China, o grupo de aviadores formados por
voluntários e mercenários que contribuiu para a proteção do país contra as
investidas japonesas. Batizado como Flying Tigers (Tigres Voadores), guarneciam
principalmente as rotas comerciais com a Birmânia. A presente realização de
David Miller, lançada em 1942, é envelhecida e deslavada peça de propaganda a
exaltar as missões da esquadrilha. Trata-se de produção pobre, condizente com a
capacidade de encenação da diminuta Republic Pictures. John Wayne, em atuação
displicente, faz o Capitão Jim Gordon, diligente comandante de um grupo de
pilotos ao qual se junta o bonachão e irresponsável aviador Woody Jason (John
Carroll). A fordiana Anna Lee interpreta a abnegada enfermeira Brooke Elliott.
Os chineses sorriem agradecidos. Quanto aos "traiçoeiros"
japoneses... Que se cuidem. A apreciação a seguir é de 1975.
Os Tigres Voadores
Flying Tigers
Direção:
David Miller
Produção:
Republic Pictures
EUA
1942
Elenco:
John
Wayne, Anna Lee, John Carroll, Paul Kelly, Mae Clarke, Gordon Jones, Tom Neal,
Addison Richards, Edmund MacDonald, Bill Shirley, Malcolm "Budd"
McTaggart, David Bruce, Chester Gam, James Dodd, Gregg Barton, John James, os
não creditados Richard Crane, Elvira Curci, Rico De Montez, Eddie Dew, Dan
Dowling, Walter Fenner, Willie Fung, Bill Hunter, Anne Jeffreys, Allen Jung, Dorothy
Kelly, Charles La Torre, Charles Lane, Lotus Long, Richard Loo, Dick Morris, Nestor
Paiva, José Pérez, Tom Seidel, Bhogwan Singh, Eleanor Soohoo, Dave Willock, Victor
Wong e em cenas de arquivo Franklin Delano Roosevelt.
Os Tigres
Voadores é contribuição ao esforço de guerra realizada no calor da
hora, principalmente para os estadunidenses — mal refeitos do fulminante ataque
desferido pelos japoneses à base havaiana de Pearl Harbor.
Antes de os
Estados Unidos entrarem para valer na Segunda Guerra Mundial, alguns de seus
cidadãos já lutavam contra o Império do Sol no espaço aéreo da China. Não compunham
as forças regulares. Formavam um grupo de voluntários e mercenários intitulado Flying Tigers (Tigres Voadores). Logo
no começo o filme estampa o agradecimento que lhes dirigiu o Generalíssimo
Chiang Kai-Shek (Chefe de Estado chinês na ocasião), enaltecendo-lhes a ação,
coragem, espírito de luta e apoio dado à força aérea do país na defesa do povo
e território acossados pelo Japão. Os "Tigres" tinham por objetivo
principal a proteção de estratégica rota comercial entre China e Birmânia. Cada
piloto recebia o equivalente a 600 dólares mensais mais o significativo
acréscimo de 500 dólares por avião abatido.
Acima e abaixo: John Wayne como o Capitão Jim Gordon |
No filme, o grupo
é comandado pelo Capitão Jim Gordon — interpretado por um John Wayne
impassível, em atuação tão displicente quanto burocrática. É piloto experiente
e oficial aplicado, sempre preocupado com a integridade dos comandados e o bom
estado dos equipamentos. No tempo livre corteja Brooke Elliott (Lee) —
enfermeira do campo. Ela, além de cuidar da saúde dos aviadores, auxilia um hospital
de crianças vitimadas por bombardeios.
Acima e abaixo: Jim Gordon (John Wayne) e a enfermeira Brooke Elliott (Anna Lee). |
O cotidiano da
companhia fica mais agitado com a chegada do piloto Woody Jason (Carroll),
antigo companheiro de Jim. É um tipo alegre, galanteador, sentimental, bom de
briga, mas excessivamente individualista e irresponsável. Falta-lhe o
necessário espírito de equipe. Logo provoca a destruição de um avião,
inutilmente, e a morte de um colega. Mais tarde, mesmo ciente de possível
missão, abandona a prontidão para jantar com Brooke. Em decorrência, outro
piloto morre após decolar no lugar de Jason, mesmo estando fisicamente impossibilitado
de voar. Diante disso, o novato é desligado da esquadrilha e confinado ao alojamento
até conseguir transporte para fora do campo.
Jim Gordon (John Wayne) ladeado pelos pilotos dos Flying Tigers |
Enquanto isso,
Jim se oferece como voluntário em missão suicida: explodir ponte e comboio
japonês. Decolará carregado de nitroglicerina. É a chance aguardada por Jason
para se redimir com o amigo e comandante. Levanta voo quando Jim embarca,
surpreendendo-o e mantendo-se no controle do aparelho. Nas proximidades do objetivo
são atacados pela bateria antiaérea japonesa. O avião entra em chamas e Jason
oculta um grave ferimento. Sugere o abandono da aeronave. Jim, o primeiro a
saltar, é praticamente empurrado para fora pelo apressado amigo. Entretanto, não
é seguido. O personagem de Carroll, em atitude heroica, reassume os controles. No salto Jim percebe manchas de sangue no blusão e antecipa o que
está por vir. Ainda no paraquedas, vê a destruição da ponte pela nitroglicerina;
depois, o comboio japonês apanhado em cheio pelo choque do avião.
Jim Gordon (John Wayne) e Woody Jason (John Carroll). |
Os Tigres
Voadores é propaganda belicosa e deslavada. O diretor David Miller
manipula roteiro convencional de Kenneth Gamet e Barry Trivers da forma a mais
desinibida possível. Procura passar ao espectador um retrato simpático e
generoso dos combatentes estadunidenses: os chineses respiram e sorriem
aliviados sempre que a esquadrilha volta ao ponto de partida; Brooke oferece
toda atenção às crianças feridas, algumas mutiladas pelo fogo inimigo. Até
Jason comparece ao hospital para distraí-las com truques mágicos. O personagem
de John Wayne, em momento de descontração, chama de "pernilongos" os
tiros que perfuraram a fuselagem de seu aparelho.
À esquerda, John Wayne no papel do Capitão Jim Gordon |
Já os japoneses recebem
o tratamento esperado. São os traiçoeiros. Praticamente não são vistos. Poucas
vezes têm o rosto mostrado. Costumam ser substituídos pelas sombras móveis e
assustadoras que seus aviões projetam no solo. Sobram-lhes designações em tudo pejorativas:
“ratos”, “homenzinhos”, “malditos japs” etc.
Jim Gordon (John Wayne) fornece instruções aos pilotos dos Flying Tigers |
A produção não
consegue esconder a pobreza característica dos filmes da Republic. Mas há uma
razoável junção de cenas autênticas — provenientes de arquivos
militares — para a encenação dos combates aéreos, convincentes para a época.
Roteiro: Kenneth Gamet, Barry Trivers, com base em história
de Kenneth Gamet. Direção de fotografia
(preto e branco): Jack A. Marta. Montagem:
Ernest J. Nims. Direção de arte:
Russell Kimball. Decoração: Otto
Siegel. Trilha musical: Victor
Young. Direção musical: Walter
Scharf. Guarda-roupa: Adele Palmer. Efeitos especiais: Howard Lydecker,
Theodore Lydecker (não creditado). Produção
associada: Edmund Grainger. Penteados:
Peggy Gray (não creditado). Maquiagem:
Bob Mark (não creditado). Gerente de
unidade de produção: Arthur Siteman (não creditado). Gerente de produção: Al Wilson (não creditado). Assistente de direção: Philip Ford (não
creditado). Direção da segunda unidade:
George Sherman (não creditado). Som:
Daniel J. Bloomberg (não creditado). Edição
de som: T.A. Carman (não creditado). Coordenação
de dublês: Yakima Canutt (não creditado). Dublê: Paul Mantz (não creditado). Operador de câmera em locações: William Bradford (não creditado). Assistentes de câmera (não creditados):
Nels Mathias, Cliff Shirpser. Orquestração
(não creditada): Herman Hand, George Parrish, Leo Shuken. Gerente de locações: John T. Bourke
(não creditado). Marcação para John Wayne:
Sid Davis (não creditado). Consultores
técnicos (não creditados): Lawrence Moore, Kenneth Sanger. Agradecimentos a: William D. Pawley,
fundador do The American Volunteer Group, pela cooperação e assistência técnica
prestadas à produção. Cooperação e assistência
técnica: Curtiss-Wright Corporation. Reconhecimento
à produção: International Alliance of Theatrical Stage Employees (IATSE). Serviços de mixagem de som: RCA Sound
System. Tempo de exibição: 102
minutos.
(José Eugenio Guimarães, 1975)
Eugenio,
ResponderExcluirUm dos poucos filmes do Duke que não consta dos meus Alfarrábios. Sim, isto mesmo; não vi esta sua fita, além de não ser muito fanático por fitas deste gênero.
Vi Iwo Jima, O Portal da Gloria, que muitos enaltecem até como sendo o mais perfeito filme de guerra, e não lhe dei o valor que os outros dão.. Até prefiro Terrível Como O Inferno/55, do Hibbs, fita baseada nas proezas do grande Heroi da 2a. Grande Guerra, o Audye Murphy. Ele é mais classico, tem mais veracidade nas cenas mostradas, é muito bem fotografado e até classifico como a segunda melhor atuação do Murphy em sua carreira (a primeira e melhor foi O Passado Não Perdoa), além de seu próprio heroi refazer as cenas pelas quais foi o protagonista na realidade. Um bom filme.
No demais A Ponte do Rio Kway/57, não por tanto que acham dele, mas por ser uma fita classe A do Lean e feita com todo o esmero próprio do Grande Artesão.
Mais O Resgate do Soldado Ryan, do Spielberg e mais uns poucos deste gênero assisti e escapam. Até mesmo aquele do Walsh, com o Errol Flinn, Um Punhado de Bravos/45, foi muito mais filme que Iwo Jima.
Com todas as desculpas e respeito aos demais companheiros que amam o gênero e a ti que lutou para criar mais esta bela postagem.
jurandir_lima@bol.com.br
Jurandir, tanto OS TIGRES VOADORES como IWO JIMA são exemplos de cinema envelhecido. OS TIGRES envelheceu em tudo. Mas IWO JIMA - se está datado com respeito à questão técnica e aos efeitos especiais - continua sendo um clássico de respeito, principalmente no tocante ao retrato que faz da dimensão humana dos soldados - caro raro, em se tratando de um filme francamente belicista. É peça de propaganda, do mesmo jeito que OS TRIGRES. Poucas lembranças tenho do filme protagonizado pelo Audie Murphy, se bem que o tenho resenhado em meus arquivos. Os filmes de guerra que me atraem são aqueles que fazem a crítica da estupidez da guerra, os chamados antibelicistas. Meus filmes de guerra preferidos são:
Excluir1) "Vá e veja" (1985), de Elen Klimov.
2) "Um passeio ao sol" (1945), de Lewis Milestone.
3) "Também somos seres humanos" (1945), de William Wellman.
4) "Mortos que caminham" (1962), de Samuel Fuller.
5) "Nada de novo no front" (1930), de Lewis Milestone.
6) "Fomos os sacrificados" (1945), de John Ford.
7) "Agonia e glória" (1980), de Samuel Fuller.
8) "Glória feita de sangue" (1957), de Stanley Kubrick.
9) "Os que sabem morrer" (1957), de Anthony Mann.
10) "Gloriosa retirada" (1964), de Henri Verneuil.
11) "Johnny vai à guerra" (1971), de Dalton Trumbo.
12) "Corações e mentes" (1974), de Peter Davis.
13) "Apocalipse now" (1979), de Francis Ford Coppola.
14) "Cartas de Iwo Jima (2006), de Clint Eastwood.
15) "Nanjing! Nanjing!" (2009), de Chuan Lu.
16) "Morte sem glória" (1956), de Robert Aldrich.
17) "O grande desfile" (1925), de King Vidor.
18) "O preço da glória" (1949), de William Wellman.
Há mais, mas a lembrança, neste momento, não ajuda.
Abraços.
Eugenio,
ResponderExcluirNão se trata especialmente do cunho que eles transmitem, do ponto veridico que eles abordam ou mesmo da propaganda negativa que a guerra traz. Não é nada disso pois, existem sim filmes bem feitos, filmes bem acabados, filmes com dimensões profundas e tudo o mais.
O que quero citar é o gênero. Da mesma forma que não dispenso um WESTERN, dispenso sempre de assistir a um filme bélico. Claro que sem tirar os valores estéticos e/ou criticos de muitos deles.
Desta sua lista vi muitos. E fica dificil negar a qualidade de diversos ali transcritos.
Abração
jurandir_lima@bol.com.br
Daquela lista, Jurandir, estou louco para rever TAMBÉM SOMOS SERES HUMANOS. Só o vi na infância das calças curtas. Nunca mais apareceu no meu caminho.
ExcluirRecomendo-lhe o VÁ E VEJA, contundente exemplar do cinema russo.
Abraços.