O maior cineasta da Índia é praticamente uma cria de
Jean Renoir e do mais genuíno autodidatismo. Mas é no Neorrealismo Italiano que
Satyajit Ray se inspira em seus primeiros filmes: A canção da estrada (Pather
panchali, 1955) e O invencível (Aparajito, 1957). A ambos
se soma O mundo de Apu (Apu sansar, 1959). Os títulos dessa
trilogia estão entre os mais sinceros e bem concebidos produtos do cinema
mundial. O invencível registra as idas e vindas, encontros e
desencontros dos personagens Apu (Pinaki Sengupta/Smaran Ghosal) e sua mãe
Sarbojaya (Karuna Bannerjee). A família, inicialmente localizada na cidade
sagrada de Benares, retorna ao campo após a trágica morte do pai e esposo
Harihar (Kanu Bannerjee). A realização, em grandes linhas, acompanha o
crescimento do garoto Apu, principalmente após ter a curiosidade e sede do conhecimento
disciplinadas pela escola e atração pela leitura. O processo o leva a Calcutá
para conclusão dos estudos, mas custa a separação da mãe. Prisioneira da
solidão, reduzida a uma vida destituída de sentido, Sarbojaya falece enquanto
alimentava ilusões pela chegada do filho. Contemplativo, descritivo, contido, narrado
com elegância, valorizado pelo sincero despojamento de um elenco não
profissional, O invencível está entre os mais poderosos manifestos
cinematográficos sobre a família em especificidade e universalidade. É uma
encenação conduzida por um cineasta inspirado, dominado pelo mais absoluto
estado de graça!
O Invencível
Aparajito
Direção:
Satyajit Ray
Produção:
Satyajit Ray
Epic Productions
Índia — 1956
Elenco:
Kamala Adhikari, Lalchand Bannerjee, Kali Bannerjee,
Kanu Bannerjee, Karuna Bannerjee, Panchanan Bhattacharya, Debabrata
Chakraborty, Harendrakumar Chakravarti, Hemanta Chatterjee, Meenakshi Devi,
Subodh Ganguli, Smaran Ghosal, Charuprakash Ghosh, Santi Gupta, Ajay Mitra,
Anil Mukherjee, Shibnarayan Nag, Bhaganu Palwan, K. S. Pandey, Saraswati
Pandey, Ranibala, Kalicharan Roy, Sudipta Roy, Keya Sengupta, Pinaki Sengupta,
Ramani Sengupta, Mani Srimani, Udayshankar Tiwari.
O hindu Satyajit Ray está entre os expoentes
do cinema. Influenciado por Jean Renoir — do qual foi auxiliar quando este, na
Índia, realizou O rio sagrado (The river, 1951) —, tornou-se diretor
à base do mais completo autodidatismo. Concretamente, seus interesses mais
imediatos na sétima arte datam de 1947, quando fundou em seu país a Film
Society[1]
ou Sociedade de Filmes de Calcutá. Durante as filmagens de O rio sagrado foi
convencido a passar à direção pelo mestre francês. Antes de se lançar nesse
propósito, experimentou temporada de aproximados quatro meses na Inglaterra. Nesse
período, imergiu em cinema; em filmes do neorrealismo italiano — inspiração decisiva,
com nítida marca em seus primeiros trabalhos — e mostras dos principais
cineastas da época, notadamente John Ford, do qual, certamente, absorveu lições
sobre economia nas tomadas ao olhar acurado acerca das relações dos personagens
com o contexto de vida.
Teve estreia consagradora na direção
em 1955. A canção da estrada (Pater panchali), primeiro opus da Trilogia de Apu, recebeu prêmios em
diversos festivais internacionais. Em parte adaptado do romance de formação de igual
nome de Bibhutibhushan Bandopadhyay, publicado em 1929, transformou-se, quase
que instantaneamente, num dos grandes feitos do cinema mundial. O feliz título A
canção da estrada é também irônico. Estrada remete a movimento. Mas a
narrativa está mais apoiada na realidade tomada pela fixidez, feita de
cotidianos inalterados. Basicamente, aborda uma estrutura de vida ao acompanhar
o repetitivo dia-a-dia preenchido por privações e falta de perspectiva da
família Ray em pequena e erma vila rural de Bengala. Enquanto a esposa e mãe
Sarbojaya (Karuna Bannerjee) ocupa o front doméstico, submetida às questões
básicas da sobrevivência, o marido Harihar (Kanu Bannerjee) passa longos
períodos fora, como errante e pouco eficaz pregador brâmane. Sarbojaya é
prática e enérgica na atenção dispensada à sobrevivência da família. Para
dispor de mais alimentos para os filhos, não titubeia em sacrificar a sogra Indir
Thakrun (Chunibala Devi) encurvada pela idade e incapaz de se valer por conta
própria. Harihar é sonhador. Vive de planos, mas é incapaz de concretizá-los. Durga
(Uma Das Gupta), filha criança do casal, vagueia pela vizinhança colhendo
alimentos para a avó e enfrentando existência de pouca perspectiva. O irmão Apu
(Subir Bannerjee), cerca de seis anos mais novo, nasce no decorrer da história.
Apesar da diferença de idade é companhia preferencial de Durga até a morte
desta, tragédia consumada logo após o esperado falecimento de Indir.
A perda da filha seguida de outros tristes
eventos leva os Ray a viver na cidade. A mudança encerra a narrativa. Sarbojaya,
Harihar e Apu se movimentam pela estrada, em carro de bois, rumo a Benares, às
margens sagradas do Ganges.
Dois anos após A canção da estrada, a
saga é retomada em O invencível. Terá ponto final em 1959, com O
mundo de Apu (Apur sansar). Os títulos, em linhas
gerais, tratam da sucessão de raras alegrias e muitas tristezas sempre
presentes no ciclo vital de nascimentos, mortes e poucas alterações que conferem
sentido à existência. Trata da vida que segue, para todos — dado estrutural de
ordem geral, mas experimentado especificamente pelas individualidades.
O invencível recebeu o Leão de Ouro de São Marcos
no Festival de Veneza de 1957, quando fez jus a outras láureas: prêmio da
FIPRESCI (The International Federation of Film Critics) e o Novo Prêmio Cinema,
ambos para Satyajit Ray. Nesse ano também foi agraciado pela FIPRESCI em
Londres. Em 1958 venceu nas categorias de Melhor Filme e Melhor Direção o San
Francisco International Film Festival, ocasião na qual mereceu outra honraria da
FIPRESCI. A seguir, vieram indicações aos prêmios do British Academy of Film
and Television Arts (BAFTA) para Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz
Estrangeira (Karuna Bannerjee), em 1959. Nesse ano levantou, na categoria de
Melhor Filme Estrangeiro, o National Board of Review Award, nos EUA. Em Berlim,
1960, levou o Selznik de Ouro. Dez anos após realizado, prosseguia na vitoriosa
carreira: ganhou em 1967, na Dinamarca, o Bodil de Melhor Filme Não Europeu.
O invencível começa em 1920. A família Ray reside
em Benares. O lugar pulsa em função dos peregrinos centralizados pelo Rio
Ganges. Entre eles, Harihar continua na lida de pregações. Também ministra
cuidados em medicina popular aos mais carentes. Apu (Pinaki Sengupta), com
aproximados 10 anos, brinca por ruas e becos. Seus olhos curiosos e vivazes
praticamente desvendam a geografia física e humana da cidade. A câmera, fixa ou
em lentos movimentos, revela Benares em tomadas banhadas por iluminação de
forte nitidez. Planos gerais, médios, de conjunto e fechados captam o lento
fluir do rio, as escadarias que levam às suas margens, as rotinas de mendigos,
peregrinos, lavadeiras e vendedores, além das de Harihar, Apu e Sarbojaya.
Esta, na casa instalada em edifício de múltiplas habitações, continua na labuta
doméstica, quase sempre envolvida na preparação dos alimentos.
O garoto Apu, vivido por Pinaki Sengupta, nas brincadeiras pela cidade de Benares |
Os atores se movem com naturalidade
espantosa, como se houvessem nascido para o cinema. São espontâneos em tudo. A mise-en-scène vai pelo mesmo diapasão.
Parece operar o milagre da criação, pois o realizador é, ainda, praticamente um
iniciante. O invencível é seu segundo exercício na direção.
Os dias passam. As rotinas não se
alteram. Cada personagem percorre a existência em acordo aos condicionantes sociais
e históricos que os definem, mas como se obedecessem ao dado da mais plena
naturalidade. Apu brinca, Harihar prega, Sarbojaya limpa e cozinha. Mas ela é a
única que aparenta agir com propósitos mais concretos, plenos de real sentido.
Vive inteiramente para os seus, como se tivesse total certeza dos custos e significados
das razões de existir. À noite, junto ao marido e filho, passa a impressão de respirar
aliviada, após tanto tempo solitária. É quando a fria morada se enche de calor.
Apesar de tantas privações, a família é tudo. É o sentido da segurança. Dessa
certeza se faz O invencível — saga preenchida pela especificidade de um núcleo
familiar e com atenção aos elementos que o consolidam e fragmentam.
Apu (Pinaki Sengupta) |
Novamente — como em A
canção da estrada — o inevitável se instala. Harihar adoece após penosa
jornada de trabalho. Piora com a insistência de comparecer ao Ganges. Febril,
delira. Uma revoada de pássaros contra o céu do anoitecer anuncia a morte do
pai de Apu. A mãe experimenta as angústias do futuro incerto. Apesar de tudo, permanece
em Benares. Emprega-se como cozinheira, com pouco tempo para cuidar do filho.
Uma existência sem perspectivas se apresenta ao garoto. Ciente disso, Sarbojaya
cede aos apelos da família interiorana. Regressa ao campo, à aldeia bengali de
Manspata. O movimento reverso desagrada a Apu, habituado à pulsação urbana. Com
certa dificuldade é matriculado na escola local. A partir daí, pode-se afirmar,
a história de O invencível começa a ser de fato contada. O menino curioso,
aberto ao conhecimento, inicia corrida à vida adulta. Satyajit Ray também
impregna a narrativa com dados autobiográficos.
Harihar (Kanu Bannerjee) em seu leito de morte, acompanhado da esposa Sarbojaya (Karuna Bannerjee) e do filho Apu (Pinaki Sengupta) |
A imagem do trem cruzando a linha do
horizonte — inicialmente apresentada em momento dos mais significativos de A
canção da estrada — passa a se fazer constante, como leitmotiv prenunciador do porvir e das incertezas
que o acompanham. Morar em Manspata é praticamente retornar às origens,
necessário ajuste de contas para devolver aos trilhos o fluxo vital. Mãe e
filho prosseguem nos longos ritos fúnebres em honra de Harihar. Essa atividade parece
ser a única alteração significativa no cotidiano atravessado pela modorra, não
fosse a escola na qual Apu se destaca. É incentivado pelos mestres. Tem a curiosidade
disciplinada. Lê em profusão e intensidade. O mundo além dos limites da aldeia
se descortina. Aos 16 anos, agora interpretado por Smaran Ghosal, desconfia da
pretensão materna de vê-lo pregador, qual o pai.
Apu almeja mais. Insiste nos estudos.
Isso significa deixar a aldeia e a mãe. Calcutá se apresenta como destino
relativamente facilitado por uma bolsa de estudos. O jovem embarca. Além dos
parcos pertences, leva simbolicamente o mundo nas mãos — um pequeno globo
terrestre presenteado pela mãe. Mas tudo isso acontece pela dolorosa via da cisão
familiar. Sarbojaya tenta compreender a ambição do filho, mas pensa na própria
situação. Perdeu Durga, a seguir o marido do qual extraía o status. Agora, o
que resta de sua posição e segurança se esvai com a ida do rebento. É triste o
paradoxo de vê-la praticamente abandonada depois de toda a vida dedicada aos seus.
Porém, o processo é inevitável. A partida dos filhos faz parte do ciclo vital. Ela
e Apu se verão cada vez menos. Sarbojaya paga um preço alto. Em Calcutá, instalado
em precárias condições, o jovem se desdobra em estudo e trabalho. Sequer
consegue constância no fluxo de cartas para a mãe. Solitária e esquecida,
adoece.
Mãe e filho de volta ao campo: Sarbojaya (Karuna Bannerjee) e Apu (Pinaki Sengupta) |
O invencível é um dos mais vigorosos tratados
cinematográficos sobre a família. O drama de Sarbojaya, carregado de silêncios
e olhares, é dos mais dolorosos. O falecimento noturno da personagem, no desespero
da solidão, ardendo de desejo pela visita do filho, é dos momentos que honram o
poder específico de criação do cinema. Sentada diante de casa, delira. Ouve o chamado
filial. Força o olhar na escuridão. Mas só percebe o vazio iluminado
intermitentemente pelos vagalumes. O trem acabou de passar[2].
O desenlace contém toda a
inevitabilidade da tragédia. Apesar de aparentar resignação, uma pontada de
mágoa transparece em Sarbojaya. Compreensível. Porém, sabiamente, Satyajit Ray
não se aproveita do drama e da tristeza para emitir juízos de valor. A situação
é complexa, sabe-se. Qualquer tentativa de maiores explicações e julgamentos
seria insuficiente. A encenação se limita a comunicar, cinematograficamente, a
existência de um laço entre filho e mãe, apesar da distância a separá-los. Em
montagem paralela, Apu e Sarbojaya são mostrados como se estivessem
inconscientemente unidos pelas árvores sob cujas sombras tomam assento, ele em
Calcutá, imerso nos estudos; ela em Manspata, na inútil espera.
É surpreendente. Mas em seus dois
primeiros filmes, principalmente em O invencível, Satyajit Ray já se apresenta
como cineasta que cruza as sendas do melodrama sabendo evitar as armadilhas dos
largos apelos emotivos. A realização é tocante. Mexe com os sentidos. Mas não
encaminha a atenção do espectador para motivos secundários, em momento algum. A
sobriedade da direção e a contenção dos atores impedem quedas no
sentimentalismo barato e na afetação. Apu, desdobrado por Pinaki Sengupta e
Smaran Ghosal, passa de garoto despreocupado ao adolescente cioso de si e do
futuro que almeja, mesmo que transmita a sensação de que é presa da alienação decorrente
do mais nefasto dos egoísmos. É alguém em permanente estado de mudança, contra
o pano de fundo físico e humano no qual predominam elementos estáticos,
constantes, estruturadores. A mãe faz parte dessa fixidez. Tanto que,
fisicamente, sua constituição permanece praticamente inalterada desde A
canção da estrada. Sarbojaya representa segurança e estabilidade. Por
sua natureza ou condição não compreende bem a existência como devir a exigir rupturas.
Já Apu é o movimento desafiador da realidade à qual a genitora está ajustada.
Sarbojaya (Karuna Bannerjee) |
Por outro lado, em que pese a
contradição entre mãe e filho, é o mundo de Sarbojaya que fornece linha e
compasso ao desenvolvimento da narrativa. Ela é como uma árvore solidamente
fincada ao solo. Sob a copa se movimenta Apu com suas escolhas, sem
sobressaltos. O tempo flui manso, mas com leveza, carregado por uma sensação de
monotonia pela qual se contemplam os momentos significativos da vida, sublimes
e dolorosos. Poucos cineastas são tão meticulosamente descritivos como Satyajit
Ray. O
invencível é cinema da contemplação feito de pequenos gestos ao ritmo
do lento fluir do Ganges ou do trem. O momento de maior pulsação emocional é dado
por Apu ao recitar um poema em sala de aula. É quando o cineasta reconhece
vigorosamente o valor da educação como meio de superação das condições mais
adversas da existência.
Quase adulto, Apu (Smaran Ghosal) chega em Calcutá para se aprofundar nos estudos |
A mirada poético-realista de Satyajit
Ray está muito próxima da abordagem naturalista. Evidentemente, tal não quer
dizer que O invencível seja prisioneiro de algum tipo de atavismo no
desenho dos personagens e na moldura que os enquadra. Mas pelo fato de Apu,
originalmente concebido pela criação literária de Bibhutibhushan Bandopadhyay,
estar, em boa medida, influenciado por aspectos da vida do diretor, algo que
ele tão bem conhece. O rapaz — estudante em Calcutá e morador nas dependências
da gráfica na qual trabalha — refaz a juventude de Satyajit Ray: quando moço,
residia na oficina de impressão do avô, de quem era funcionário. Além disso,
toda a narrativa se define por características de autenticidade, sinceridade,
beleza — apesar da constante conspiração da adversidade — e do humanismo mais
sincero— graças à encenação que destaca os indivíduos como gente digna,
possuidora de aspirações e capacidades que aludem às peculiaridades dos seres racionais
em seu processo pelo mundo. Essas sensações e emoções são passadas por Apu
desde que era o pequeno explorador das redondezas que habitava; estão bem
evidenciadas nas comoventes aspirações por melhorias de Harihar; na adequação
aos aspectos mais concretos da existência que perpassa o cotidiano de Sarbojaya
— a estupenda recriação de Karuna Bannerjee. Para a atriz todos os melhores e
mais substantivados adjetivos sempre significarão muito pouco.
Apesar de toda a sua especificidade,
a família capitaneada pela mãe de Apu pode ser vista como representativa de
suas congêneres naquilo que possuem de mais vital e essencial. Todas são feitas
de rupturas e cotidianos abalados pelas escolhas de seus membros; são invadidas
pela morte; atravessam-se por questões graves e comezinhas que aludem à
sobrevivência. Os Ray fornecem um retrato da universalidade familiar, o que
mais uma vez aproxima o filme de sua identidade naturalista.
Apu criança, interpretado por Pinaki Sengupta |
A exemplo de Satyajit Ray, seus dois
principais suportes artísticos — o diretor de fotografia Subrata Mitra e o
compositor Ravi Shankar — pouca experiência tinham em seus domínios.
Praticamente tiveram iniciação com A canção da estrada. No entanto, o
vigor expressivo já é companheiro de ambos no segundo opus da Trilogia de Apu.
As lentes de Mitra conseguem a proeza
de ampliar o espaço, mesmo quando posicionadas no interior de cômodos
minúsculos. Graças a isso, os personagens também se expandem, inclusive quando flagrados
na vastidão dos exteriores, lançando miradas ao longe para o movimento de um
trem ou rio. Ou a destacar objetos aparentemente banais, preenchidos de
significados quando percebidos e tocados. A cozinha de Sarbojaya está repleta
de momentos assim, igualmente os estreitos aposentos de Apu em Calcutá.
Os acordes de Shankar soam naturais e
evocativos. São como ampliações sonoras dos próprios ambientes, a partir de
cítaras, percussão e, ocasionalmente, da flauta de bambu. Fornecem a pulsação
necessária, mais que adequada, à ilustração da marcha existencial.
Apu adulto, interpretado por Smaran Ghosal; ao fundo, Sarbojaya, vivida por Karuna Bannerjee |
Por fim há a cenografia de Bansi Chandragupta,
tão reveladora da frieza e pobreza dos recintos ocupados por seres limitados ao
básico. É paradoxal. Enquanto Chandragupta comprime, a direção de fotografia de
Mitra amplia. Tudo em nome do poder de recriação da realidade a partir do
melhor cinema, que não deixa de ser, também, um produto da ilusão.
Apu, representado por Pinaki Sengupta, e o diretor Satyajit Ray durante filmagem em Benares, nas escadarias do Ganges |
Roteiro: Satyajit Ray, com base na novela Aparajito, de
Bibhutibhushan Bandyopadhyay. Assistente
de roteiro: Kanailal Basu. Música:
Ravi Shankar. Direção de fotografia
(preto e branco): Subrata Mitra. Montagem:
Dulal Dutta. Desenho de produção:
Bansi Chandragupta. Gerente de produção:
Anil Choudhury. Assistente de
gerente de produção: Nityananda Datta. Assistentes
de direção: Suren Chakraborty, Shailen Dutta, Arup Guhathakurta, Subir
Hajra. Assistente da direção de arte: Suresh
Chandra Chandra. Decoração: Ramchandra
"R. R." Sindhe. Gravação de
som: Durgadas Mitra. Assistentes de
gravação de som: Bishnu Paridha, Ranajit Singha Roy. Assistentes de câmera: Dinen Gupta, Nimai Roy, Soumendu Roy. Assistentes de montagem: Harinarayan
Mukhopadhyay, Tapeshwar Prasad. Músicos:
Nirmal Biswas, Basudeb Chakraborty, Dinesh Chandra Chandra, Sarat Das, Sitaram
Das, Alok Dey, Robin Majumdar, Kamalesh Mitra, Pratap Narayan Mitra
Pratapnarayan Mitra, Radhakanto Nandy, Dakshinamohan Tagore. Assistente de publicidade: Somen Gupta.
Supervisão de processamentos
fotográficos: R. B. Mehta. Agradecimentos
a: Kanailal Bandyopadhyay, Harihar Bhandari, Balaichandra Goswami,
Laxminarayan Mohanta. Tempo de exibição:
113 minutos.
(José Eugenio
Guimarães, 2014)
[1] Cf.
TULARD, Jean. Dicionário de cinema: os diretores. Porto Alegre: L&PM,
1996. p. 521
[2] As mortes, mesmo as mais dramáticas, são
encenadas por Satyajit Ray com contenção e elegância. O falecimento de Harihar
é primeiramente antecipado pela elaborada distorção da imagem. Uma lente
grande-ângular provoca efeito de desorientação à medida que a câmera avança
para o personagem galgando cambaleante as escadarias. Segue-se o desmaio.
Quando falece, um gemido conduz a imagem do leito de morte para aves em revoada
contra o céu do anoitecer. Já a encenação da morte de Sarbojaya exigiu a
recriação do errático esvoaçar dos vagalumes. Membros da equipe completamente
trajados de negro balançavam ao léu pequenas e cintilantes fontes de luz
enquanto eram filmados contra o fundo escuro.
Eugenio,
ResponderExcluirConheço, da atualidade, quase nada do cinema Indiano, que andei lendo ser um dos maiores polos cinematográficos do planeta, superando até o Americano.
Não sei até onde isto é verdade. Mas, posso deduzir, pelo que acabo de ler deste cinema, que realmente eles primam por uma qualidade dona de um misticismo natural e uma ótima tecnologia.
Vi de lá, há muitos anos atrás, Fantasia Oriental. Crieo da década de 1950.
E vi um outro dia uma bela filmagem de uma pelicula muito bem urdida, com poucas falhas ou nenhuma no mostrado, com uma continuidade perfeita e com uma primorosa direção de arte e geral.
Me foge o titulo da pelicula, mas gira em torno de poderes medievais, coisa assim.
Mas, lendo com atenção esta matéria, este filme me parece uma beleza de cinema. Uma fita diferente, mas apregoada de belas passagens e momentos delirantes no seio de uma familia.
Gosto de fitas que tem um bom conteúdo a mostrar e que a filmam com primorosidade o que me parece ser o caso do filme em fala.
Parabens pela incursão geral de diversos centos cinematográficos em suas postagens, pondo em tópico tais centros e mostrando com dignidade sua cinematográfia, fato que muitos esquecem de fazer.
jurandir_lima@bol.com,.br
Jurandir, meu caro;
ExcluirProcure conhecer a obra de Satyajit Ray. Há muitos filmes dele disponíveis para download, com legendas. É um valor único e singular, mesmo na Índia. De fato, a produção cinematográfica de lá é altíssima. É o maior centro de produção cinematográfica do globo, ouso dizer, também com base em muito que li. Em geral, o grosso dessa produção é de musicais e melodramas intensos. Quase tudo é direcionado ao consumo interno. Por oferecer um cinema diferente, Satyajit Ray ganhou os mercados internacionais.
Quanto ao mais, sempre que a oportunidade surgir, irei me aventurar por cinematografias pouco conhecidas. Obrigado pelo incentivo e pela apreciação.
Abraços.