O promotor Lloyd Hallett (Edward G. Robinson) tenta tirar
de circulação o gângster Benjamin Costain (Greene). Seu último trunfo é o
testemunho da presidiária Sherry Conley (Ginger Rogers). Em torno dela se desenrolam os
acontecimentos de Ratos humanos (Tight spot, 1955). É realização de pegada
noir, intensamente dialogada e
praticamente ambientada nos reduzidos espaços de um quarto de hotel. O tom
claustrofóbico obriga os atores a intensa interação. Este é o ponto alto deste
filme de baixo orçamento que nada fica a dever em vigor e dinamismo aos
congêneres desenvolvidos com aportes financeiros mais generosos. O diretor Phil
Karlson sempre transitou nas produções 'B', geralmente westerns, criminais e
suspense. Preferia as temáticas cruas, levadas a termo com a rapidez e fluência
do melhor jornalismo policial, como Ratos humanos. Pena que filmes assim
— econômicos, dinâmicos e sem firulas — não sejam mais realizados. Duro é
acreditar que a personagem interpretada por Ginger Rogers seja uma jovem com a
metade da idade que tinha a atriz no momento da realização. Mas Billy Wilder já
a deixou em situação parecida com A incrível Suzana (The
major and the minor), realizado 13 anos antes.
Ratos humanos
Tight
spot
Direção:
Phil Karlson
Produção:
Lewis J. Rachmil
Columbia Pictures
EUA — 1955
Elenco:
Ginger Rogers, Edward G. Robinson, Brian Keith, Lucy
Marlow, Lorne Greene, Katherine Anderson, Allen Nourse, Peter Leeds, Doye
O'Dell, Eve McVeagh e os não creditados Dean Cromer, Tom De Graffenreid, Kevin
Enright, Frank Gerstle, Kathryn Grant, Tom Greenway, Joseph Hamilton, Ed
Hinton, Bob Hopkins, Norman Keats, John Larch, Alfred Linder, John Marshall,
Ken Mayer, Edward McNally, Patrick Miller, Robert Nichols, Erik Page, Bill
Raisch, Alan Reynolds, Robert Shield, Gloria Ann Simpson, Helen Wallace, Will
J. White, John Zaremba.
O diretor Phil Karlson (à esquerda) - com os atores Dean Martin e Sharon Tate - nos bastidores de seu Arma secreta contra Matt Helm (The wrecking crew, 1968) |
Ratos humanos é filme ‘B’ de padrão ‘A’ dirigido
por um especialista. Alguns o consideram a melhor realização de Phil Karlson,
também lembrado pela categoria que imprimiu a outros trabalhos menores como Pista
cruenta (The Iroquois trail, 1950), O manto da morte (The
Texas Ranger, 1951), Os quatro desconhecidos (Kansas
City confidential, 1952), Traição heróica (They
rode West, 1954), Cidade do vício (The
Phoenix City story, 1955), Talhado para campeão (Kid
Galahad, 1962), Fibra de valente (Walking
tall, 1973) e Madrugada da vingança (Framed,
1975).
Karlson começou carreira
cinematográfica na Universal, nos anos 30, fazendo de tudo um pouco.
Envolveu-se tão seriamente com a atividade a ponto de esquecer o curso de
Direito. Antes de se tornar diretor foi montador, criador de piadas para Buster
Keaton, assistente de direção nas comédias de Abbott & Costello e nos
westerns em série estrelados por Tom Mix em fim de carreira. A estreia na
direção aconteceu em 1944, na diminuta Monogram, com a comédia A wave,
a WAC and a marine. Realizou outros 13 filmes para a companhia. Daí em
diante se consolidou nos B movies, de
preferência em westerns, policiais e filmes de suspense. Segundo afirmou,
preferia as temáticas cruas, que frequentavam as páginas de crime dos jornais. Conheceu
o auge nos anos 50. Na década seguinte dirigiu Dean Martin em O
agente secreto Matt Helm (The silencers, 1966) e Arma
secreta contra Matt Helm (The wrecking crew, 1968), tentativas
mal sucedidas de aproveitar o sucesso de James Bond.
O policial Vince Striker (Brian Keith) e o promotor Lloyd Hallett (Edward G. Robinson) |
Ginger Rogers, 44 anos, distante do período em que conheceu o sucesso nos musicais em parceira com Fred Astaire, interpreta Sherry Conley em Ratos humanos. Em torno dela se desenrolam os acontecimentos nesse filme de pegada noir, intensamente dialogado e praticamente ambientado em interiores, principalmente nos reduzidos espaços de um quarto de hotel. O tom claustrofóbico obriga os atores a uma intensa interação. Nesse jogo, Ratos humanos apresenta o que tem de melhor, mesmo sendo difícil fazer de conta que a personagem de Rogers tenha 20 anos menos que a idade declarada da atriz.
Ginger Rogers é a jovem presidiária e testemunha Sherry Conley |
Sherry (Ginger Rogers) escoltada por Willoughby (Katherine Anderson) e Vince (Brian Keith) |
Sherry Conley (Ginger Rogers) e Lloyd Hallett (Edward G. Robinson) |
Apesar de jovem, Sherry Conley
acumula experiência. Segundo conta, aprendeu cedo a conhecer a vida: aos 16
anos, como modelo. Não tardou a dar o mau passo e se perder, envolvendo-se com
a gang do mafioso Benjamin
Costain (Greene), alvo da investigação do promotor Lloyd Hallett (Robinson), que
pretende deportá-lo. Difícil é reunir testemunhos. O último, Pete Tonelli
(Alfred Linder – não creditado), sob proteção policial, foi assassinado ao
entrar no tribunal. Com essa morte, precedida de rápidas explicações, o filme
começa de maneira eficaz e vibrante. É exemplo do que se pode fazer com poucas
tomadas à base de planos condensados encadeados com rapidez.
Sem Tonelli, Hallett apela para a
presidiária Sherry Conley. Sob escolta policial, é retirada da prisão e levada
a um quarto de hotel no qual terá a companhia de Willoughby (Anderson) —
agente penitenciária boa praça e mãe dedicada, que goza da estima de Sherry — e
Vince Striker (Keith) —
detetive de traços duros, poucas palavras e dúbio segundo a boa cartilha do noir. Rolará, evidentemente, uma atração
entre a irrequieta e “faminta” personagem de Rogers e Striker.
Vince Striker (Brian Keith) e Sherry Conley (Ginger Rogers) |
Inutilmente, Hallett tenta
convencê-la a depor contra o gângster. Apelos ao civismo e à boa consciência da
jovem não funcionam, nem benefícios como a redução da pena. Sherry se mantém
fiel ao próprio lema: “Não seja voluntária, para nada!”. Ainda mais com o risco
de ser assassinada.
Edward G. Robinson (à direita) como o promotor Lloyd Hallett |
Mas
Costain conta com ampla rede de informações, inclusive na polícia. Sabe que
seguro morreu de velho. Prefere não se arriscar com Sherry. Tenta eliminá-la
quando estava a caminho do hotel. A segunda tentativa também falha, graças
à intervenção de Striker. Na troca de tiros Sherry sai ferida superficialmente.
Mas a generosa Willoughby é mortalmente atingida.
Sherry (Ginger Rogers), Willoughby (Katherine Anderson) e Vince (Brian Keith) |
A morte de
Willoughby abala as convicções de Sherry. Mas será um “golpe” de Hallett que a
convencerá terminantemente a depor: a visita da irmã Laura (McVeagh). Procura-a por motivos inteiramente egoístas. Em nome deles, tenta convencê-la a
não testemunhar. É a gota que faltava! A sequência do diálogo áspero entre as
irmãs é um dos trunfos de Ratos humanos. Outro bom momento é a
dança da carente Sherry com Striker. Mais adiante, a dubiedade do detetive fica
clara. Está na folha de pagamento de Costain. Se não pode colaborar de
pronto na eliminação da testemunha, foi por falta de condições que não o
incriminassem. Nos momentos finais, aturdido pela crise de consciência, morre
ao salvar Sherry de mais um atentado. Striker cumpre, dessa forma, a trajetória
moral que o conduz do pecado à redenção, mesmo pagando preço alto.
Brian Keith é o policial Vince Striker |
Ratos
humanos permite boa fruição. É bem conduzido. A direção soube
aproveitar, inclusive com humor, a tensão que emana do embate de personagens
confinados em espaços reduzidos. As interpretações são afinadas, mesmo com
Ginger Rogers não conseguindo disfarçar que é muito mais velha que sua
personagem. Mas a narrativa poderia conter menos previsibilidade. O espectador
atento, habituado aos clichês, reconhece o andamento no qual uma sequência ou
uma fala permitem antecipar os movimentos seguintes. Apesar disso, cabe
lamentar que filmes assim — econômicos, dinâmicos e sem enfeites — não sejam
mais produzidos.
Roteiro: William Bowers, com base na peça Dead pigeon, de Leonard
Kantor. Música: George Duning. Direção de fotografia (preto-e-branco):
Burnett Guffey. Montagem: Viola
Lawrence. Direção de arte: Carl
Anderson. Decoração: Louis Diage. Figurinos: Jean Louis. Maquiagem: Clay Campbell. Penteados: Helen Hunt. Assistente de direção: Milton Feldman. Som: Lambert E. Day. Supervisão de regravação de som: John
P. Livadary. Orquestração: Arthur
Morton. Direção musical: Morris
Stoloff. Sistema de mixagem de som:
RCA Sound Recording. Tempo de exibição:
97 minutos.
(José Eugenio
Guimarães, 2012)
Eugenio,
ResponderExcluirAssisti a muitas fitas sob o comando do Karlson.
Que me recorde a primeira delas foi Sangue de Pistoleiro/58, com o Van Heflin e o Tab Hunter como seu filho desajustado e que termina morto pelo próprio pai.
Um bom western, como foram satisfatórios dois outros trabalhos do mesmo; Fibra de Valente/73, acredito que este uma fita policial, com um xerife durão e, se não me engano, era o jovem Joe Don Baker no papel principal, e Talhado para Campeão/62, com o Presley.
Foi um criador de um nivel bem médio. Mas, como dizes na postagem, sempre trabalhando com parcos recursos e, ainda assim, criando sempre peliculas que quase nunca desapontavam.
Não vi ao filme do Phil com o Robinson e o Keith. Porém, como citas, ele criou uma fita B com qualidade profissional de uma A.
Normalmente diretores como o Karlson são daqueles que conseguem ou ajeitar um roteiro sem qualidade ou uma falta de verbas necessária para criar um bom cinema, mas que, com seu status de bom realizador, sempre conseguia superar estas dificuldades.
E fitas feitas quase que somente dentro de um ambiente são, regra geral, de dificil condução e que precisa se ter muito jogo de cintura para não deixa-la monotear.
E assim como o Karlson conseguiu esta proeza, o William Willer também a conseguiu, e com louvor máximo, realizar a Chaga de Fogo quase que apenas no ambiente mórbido de uma delegacia.
Não sei se outro diretor conseguiria a façanha do Wyler, que foi construir uma fita como aquela quase que 100% num único ambiente. Ato que repetiria em 1955, mesmo ano que o Karlson no seu Ratos Humanos, fazer mais uma vez uma fita alocada quase que somente com um set, que foi Horas de Desespero.
Acredito muito que quando um diretor cria algo perfeito assim dentro de tantas dificuldade, que o elenco aportado para a criação do filme é de alta qualidade e que lhe deu muito suporte, como todos os filmes citados.
Um tanto quanto diferente da alta potencialidade do Wyler, o Karlson, na sua moderada competencia sempre conseguiu nos entregar filmes que sempre nos enchiam de alegria pelo vigor de sua composição.
jurandir_lima@bol.com.br
Caro Jurandir,
ExcluirRegistrou muito bem o que há a dizer sobre o modesto mas competente Phil Karlson. Creio que cineastas assim, que conheciam bem os limites de suas capacidades, fazem falta ao cinema de hoje. Era um bom contador de histórias. Encenava bem as narrativas. Dirigiu 61 filmes desde que se lançou na carreira, em 1944, até concluí-la, em 1975. De certa forma, sabia dar conta de tudo que lhe caía em mãos. Dele, vi apenas os títulos aos quais faço referência na postagem. É pouco para dar conta da carreira de um cineasta. Está praticamente esquecido, o Karlson, infelizmente. Antes, tínhamos a televisão para ver os seus filmes. Agora, nem isso, diante da ruína geral, mediocridade mesmo, que tomou conta das programações de nossas emissoras, ainda mais da rede Net/Sky, reduzida ao nível de lixo. Nem os filmes de um cineasta de maior porte, como o Willyam Wyller que bem lembrou, são mais exibidos. Algo a lamentar.
Abraços.
Eugenio,
ResponderExcluirSomente a lamentar mesmo, nada mais
jurandir_lima@bol.com.br
E como lamentamos, Jurandir.
ExcluirAbraços.
Thanks for sharing, nice post!
ResponderExcluirPhục vụ cho nhu cầu vận chuyển hàng hóa bắc nam bằng đường sắt ngày càng lớn, dịch vụ vận chuyển ô tô bằng đường sắt và vận tải, gửi hàng hóa gửi xe máy bắc nam bằng tàu hỏa bằng đường sắt cũng đã xây dựng nên những qui trình, dịch vụ vận chuyển container lạnh bắc nam chuyên nghiệp và có hệ thống. Đảm bảo mang đến chất lượng tốt nhất cho khách hàng sử dụng dịch vụ.