No, no, Nanette (Tea for two, 1950), de David Butler,
não ocupa posição de destaque entre os grandes musicais do cinema. Quanto a isso,
nada a lamentar. Mesmo assim, é passatempo agradável e razoavelmente divertido,
principalmente aos ouvidos: entre os equívocos gerados pela personagem do
título, o espectador de boa vontade é brindado por variado naipe de canções que
se tornaram célebres. A peça que deu origem ao filme foi encenada na Broadway
em 1924 e adaptada às telas em produções pouco memoráveis, dirigidos por Clarence
G. Badger e Herbert Wilcox, respectivamente em 1930 e 1940. A refilmagem por
conta do pau-para-toda-obra David Butler é mais dinâmica e resistente à prova
do tempo. Também permitiu o primeiro papel de relevo a Doris Day. Ela
interpreta uma milionária perdulária, atriz e produtora musical prestes a
sofrer as consequências do crash de
1929. A apreciação a seguir foi escrita em 1991.
No, no, Nanette
Tea for two
Direção:
David
Butler
Produção:
William P.
Jacobs
Warner
Brothers
EUA — 1950
Elenco:
Doris Day,
Gordon MacRae, Gene Nelson, Eve Arden, Billy De Wolfe, S. Z. Sakall, Bill
Goodwin, Patricia Wymore, Virginia Gibson, Mary Elinor Donahue e os não
creditados George Baxter, Carol Coombs, Jack Daley, Herschel Daugherty, Abe
Dinovitch, Pat Flaherty, Elizabeth Flournoy, Bess Flowers, Art Gilmore, Carol
Haney, Harry Harvey, John Hedloe, Crauford Kent, Daria Massey, Johnny McGovern,
Michael Miller, Norman Ollestad, Robert 'Buddy' Shaw, Angela Stevens, Dee
Turnell.
O diretor David Butler, à esquerda, Doris Day e o ator-coreógrafo Gene Nelson ensaiam para o filme Rouxinol da Broadway (Lullaby of Broadway, 1951). |
Doris Day estava
com 26 anos quando interpretou Nanette, jovem e perdulária herdeira atacada de
incontinência verbal. No cinema, foi o primeiro papel de destaque da atriz. Daí
em diante não demoraria a se transformar no símbolo da moral puritana veiculada por Hollywood. Esse futuro, entretanto, não estava previsto no
filme de David Butler, sob cujas ordens a atriz voltaria a atuar em Rouxinol
da Broadway (Lullaby of Broadway, 1951), Paris
em abril (April in Paris, 1953), Lua prateada (By the light of the silvery moon,
1953) e Ardida como pimenta (Calamity Jane, 1953).
Nanette Carter (Doris Day) e Jimmy Smith (Gordon MacRae) |
No, no, Nanette, visto 40 anos
depois de realizado, revela-se ainda uma agradável e descompromissada comédia
musical. Evidentemente, em matéria de talento, não se aproxima em nada dos
grandes clássicos do gênero, todos realizados na usina de sonhos da
Metro-Goldwyn-Mayer.
O filme resulta
da adaptação livre da peça musical de mesmo nome de Frank Mandel e Otto
Harbach, encenada nos palcos da Broadway em 1924. Antes de Doris Day as atrizes
Bernice Claire, em 1930, e Anna Neagle, em 1940, viveram no cinema a personagem
do título em produções pouco memoráveis: Claire em No, no, Nanette, de
Clarence G. Badger; Neagle em Não, não, Nanette (No,
no, Nanette!), de Herbert Wilcox.
Nanette Carter (Doris Day), J. Maxwell Bloomhaus (S. Z. Sakall) e Pauline Hastings (Eve Arden) |
No filme de
Butler, o velho J. Maxwell Blomhaus (Sakall) conta aos sobrinhos netos como
seus pais — Nanette Carter (Day) e o compositor Jimmy Smith (McRae) — se
conheceram e se apaixonaram. Um flashback
transporta o espectador para o final dos anos 20, quando Blomhaus era tutor de
Nanette e curador da fortuna por ela herdada. Infelizmente, toda essa riqueza,
cuidadosamente aplicada em inúmeros investimentos, sumirá como água no ralo em
virtude do crack de 1929. Bloomhaus
não tem coragem de contar para a alegre, espevitada e desligada sobrinha que
ela está em situação falimentar. Para piorar, Nanette comprometeu a quantia
nada desprezível de 25 mil dólares na montagem de show estrelado por ela e
produzido pelo mau caráter Larry Blair (De Wolfe). Juntos no empreendimento
estão o músico Jimmy Smith e Tommy Trainor (Nelson), expert em canto e dança, de quem Nanette recebe lições. Enquanto os
acontecimentos se desenrolam a moça se afeiçoa a Jimmy e, de outro lado, tenta
se desvencilhar das investidas de Larry Blair.
Nanette Carter (Doris Day) e Larry Blair (Billy De Wolfe) |
Jimmy Smith (Gordon MacRae) e Nanette (Doris Day) |
Enquanto isso, Blomhaus
tenta encontrar solução para a sinuca financeira da sobrinha e, ao mesmo tempo,
controlá-la na vocação de gastadora contumaz, que sempre diz “sim” a tudo. Para
ganhar tempo, faz a aposta que justifica o título do filme no Brasil. Nanette
deve passar 24 horas respondendo “não” a qualquer proposta e solicitação. A
moça aceita o desafio e, para surpresa do tio, vence, não sem provocar
embaraços aos parceiros do show. No final, como era esperado, tudo se ajeita da
melhor maneira. Entre as confusões, o espectador é brindado com a execução de
números musicais na forma de canções que ficaram célebres.
J. Maxwell Bloomhaus (S. Z. Sakall) e Nanette Carter (Doris Day) |
William "Moe" Earle (Bill Goodwin), Larry Blair (Billy De Wolfe), Nanette Carter (Doris Day) e Pauline Hastings (Eve Arden) |
O diretor Butler
não é exatamente um criador, mas o típico pau-para-toda-obra. Em termos mais
respeitosos, passa por artesão competente. Dono de filmografia extensa,
realizou filmes de todo tipo, principalmente musicais. Começou no cinema como
ator em produções de David Wark Griffith[1].
Contratado pela 20th Century-Fox de 1927 a 1938, dirigiu veículos para Will Rogers, Shirley Temple e os Ritz Brothers. Passou curto período na
Paramount. Entrou para a Warner Brothers em 1943, onde realizou seus melhores
trabalhos, ainda que nenhum deles mereça lugar de destaque na história do
cinema: Graças à minha boa estrela (Thank your lucky stars,
1943), Cidade sem lei (San Antonio, 1945), Rouxinol
da Broadway, Paris em abril, Lua prateada, Ardida
como pimenta, Sob o comando da morte (The
Command, 1954), Ricardo Coração de Leão (King
Richard
and the crusaders, 1954) e Um salto no inferno (Jump
into hell, 1955).
Direção de fotografia (Technicolor): Wilfred M. Cline. Direção musical: Ray Heindorf. Roteiro:
Harry Clork, com base na peça No, no, Nanette, de Frank Mandel,
Otto A. Harbach, Vincent Youmans, Emil Nyitray e dos não creditados Irving
Caesar e William Jacobs. Direção de
números musicais: LeRoy Prinz. Direção
de arte: Douglas Bacon. Montagem:
Irene Morra. Som: Dolph Thomas,
David Forrest. Decoração: Lyle B.
Reifsnider. Figurinos e guarda-roupa:
Leah Rhodes. Maquiagem: Al Greenway
(não creditado). Penteados: Tillie
Starriett (não creditada). Segundo
assistente de direção: John Prettyman (não creditado). Assistente de direção: Philip Quinn (não creditado). Contrarregra: G. W. Berntsen (não
creditado). Assistente de contrarregra:
Gil Kissel (não creditado). Fotografia
de cena: Jack Albin (não creditado). Assistente
de câmera: Robert Burkett (não creditado). Eletricista-chefe: Frank Flanagan (não creditado). Assistentes de câmera: Gibby Germaine
(não creditado), Charles Harris (não creditado). Segundo operador de câmera: George Gordon Nogle (não creditado). Assistente de guarda-roupa masculino:
Jack Delaney (não creditado). Joias:
Joan Joseff (não creditada). Guarda-roupa
masculino: Frank Ricci (não creditado). Guarda-roupa feminino: Marguerite Royce (não creditado). Orquestração: Ray Heindorf (não
creditado). Anotação musical: Howard
Jackson (não creditado). Consultoria de
Technicolor: Mitchell Kovaleski. Coreografia:
Eddie Prinz, Al White Jr. e dos não creditados Gene Nelson, Miriam Nelson,
LeRoy Prinz. Assistente de coreografia:
Eddie Graham (não creditado). Técnico da
Technicolor: Paul Hill (não creditado). Assistente
de Technicolor: Harry Marsh (não creditado). Continuidade: Alma Young (não creditada). Canções: Charleston (Cecil Moch, Jimmy
Johnson); I know that you know (K. Caldwell, Vincent Younians); Crazy
rhythm (Irving Caesar, Joseph Mayer, Roger W. Kahn); Tea
for two e I want to be happy (Irving Caesar, Vincent Youmans); Do,
do, do (Ira Gershwin, George Gershwin); Here in my arms (Lorenz
Hart, Richard Rodgers); Oh me, oh my; I only have eyes for you.
Sistema
de mixagem de som: RCA Sound
System. Tempo de exibição: 98 minutos.
(José Eugenio Guimarães, 1991)
A fine page
ResponderExcluirHi, Else Cederborg;
ExcluirThanks, very much.
Nossa é tão bom rever as coisas antigas gostei muito da resenha muito mesmo
ResponderExcluirmagrafelizpensa.blogspot.com
Muitíssimo obrigado, Marcelia.
ExcluirAbraços.
Eugenio,
ResponderExcluirUm diretor dos meus aureos tempos de cinema à toda, mas que teve carreira curta a partir da década de 1950, me promovendo apenas ver, a partir deste período, o filme em Pauta e Ardida como Pimenta, dois filmes típicos da época e que agrada em cheio a quem era amante da arte.
De sua fase anterior à década de 1950, consegui apenas ver Cidade Sem Lei, com Errol Flinn.
No entanto, o que brilha mesmo na pelicula é a beleza da face de Alexis Smith, uma ruiva de traços finos e com fala de criança pedindo mamadeira, mas que na hora que tem de ser mulher não deixa sua beleza enganar a quem quer que seja, agindo e tomando decisões precisas.
Um faroeste com algum movimento, mas de qualidade apenas média.
Nada mais que a maioria feitos nas décadas de 1940/1950 e 60.
Claro que com muitas exceções para tais décadas, já que se criou nestes períodos fitas como Consciencias Mortas, Duelo ao Sol, Ceu Amarelo, Rio Vermelho e, mais para a frente O Matador, Shane, que não nos deixa lhe esquecer, The Big Country, que segue vivissimo até hoje, o grande A Árvore dos Enforcados, dentre muitos mais alguns.
David Butler deve ter sido mesmo, como falas, um diretor que não chegou a entrar na linha de um Hawks, um Wyler ou um Zinnemann. Porém, fazia, sim, fitas agradáveis e bastante degustáveis e que, na minha visão, se compara a um Richard Thorpe, este um pau para toda obras, mas que nunca dava um pulo da linha B na qualidade de seus filmes.
jurandir_lima@bol.com.br
Jurandir,
ExcluirDavid Butler tem creditados, como diretor, 89 títulos, inclusive muita coisa realizada para a TV onde ele praticamente se exilou após a realização de "Um salto no inferno", de 1955. Dele conheço "Ricardo, Coração de Leão" (1954), "Ardida como Pimenta" (1953), "Paris em Abril" (1952), "A tia de Carlitos" (1952), e este "No, no, Nanette".Começou a carreira na direção em 1927. Foi também ator, roteirista e produtor.
Dos filmes que cita, da lavra de Butler, não conheço, infelizmente, "Cidade sem lei", de 1945. Tento localizá-lo, mas...
Abraços.
Excelente reseña Eugenio ¡Bellísima fotografía...!!! Gracias por compartir... ¡Te mando abracitos con cariño...!!! 👍😙😘
ResponderExcluirGracias, Maria Del Socorro! Fico muito feliz em vê-la por aqui. É uma película simples, mas agradável. Abraços e beijos carinhosos para ti.
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