No imediato pós Segunda Guerra Mundial foram publicados os
livros Operation Cicero (Der fall Cicero, 1950), de L. C.
Moyzisch, e I was Cicero (1962), de Elyesa Bazna. Revelam como a Alemanha
teve acesso a estratégicos segredos militares aliados, dentre os quais os
planos da Operação Overlord, que resultaria no Dia D. Os autores são
peças-chave da história. Moyzisch, adido comercial da Embaixada Alemã em
Ancara, recebia de Bazna — camareiro do embaixador inglês —, ao preço de
milhares de libras esterlinas, informações com potencial para alterar
radicalmente o rumo do conflito em favor da barbárie hitlerista. Baseado em Operation
Cicero, o roteiro de Michael Wilson para 5 dedos (5
fingers, 1952) — burilado pelo diretor Joseph L. Mankiewicz —, resultou
num dos mais discretos, divertidos, inteligentes, elegantes, ágeis e
surpreendentes dramas de espionagem, enriquecido por falas de duplo sentido,
frases lapidares e jogos de retórica. Tais ingredientes conferem aspecto
deliciosamente inverossímil a uma história repleta de lances mirabolantes.
Porém, apesar das liberdades tomadas pelo roteiro, boa parte do que se vê é
surpreendentemente real. No elenco brilham James Mason como Ulysses Diello,
máscara para Elyesa Bazna, e Danielle Darrieux no papel da arrivista e falida Condessa
Anna Staviska, personagem criada para inserir doses de romance, intriga e
veneno à história. A apreciação a seguir foi escrita em 2000.
5 dedos
5 fingers
Direção:
Joseph L.
Mankiewicz
Produção:
Otto Lang
20th.
Century-Fox
EUA — 1952
Elenco:
James
Mason, Danielle Darrieux, Michael Rennie, Walter Hampden, Oscar Karlweis,
Herbert Berghof, John Wengraf, A. Ben Astar, Roger Plowden, Hannelore Axman,
Salvador Baguez, Lawrence Dobkin, Antonio Filauri, Martin Garralaga, Stuart
Hall, Aram Katcher, Faith Kruger, Richard Loo, Lester Matthews, Keith
McConnell, Alberto Morin, Jeroma Moshan, Nestor Paiva, Michael Pate, Konstantin
Shayne, Marc Snow, John Sutton, Ivan Triesault, Otto Waldis, David Wolfe,
Alfred Zeisler, Diane Adrian, Maurice Brierre, Alexis Davidoff, Lumsden Hare,
Yeghishe Harout, Frank Hemingway, Paul H. Jackson, Stanley Logan, Frank
McClure, Neyle Morrow, Leo Mostovoy, John Candan Rahmi, Suzanne Ridgeway, Gene
Roth, Sadik Tarlan, Walter Theil, Joan Van Dyke, Patrick White.
O diretor Joseph L. Mankiewicz |
Os serviços de
espionagem estiveram ativos durante a Segunda Guerra Mundial, principalmente
nos países neutros. Nestes, as representações diplomáticas da nações beligerantes
funcionaram normalmente. Seus titulares se conheciam e mantinham relações ao
menos de cortesia, como na Turquia. Graças aos esforços dos presidentes Mustafá
Kemal Atatürk (1923-1938) e seu sucessor Ismet Inonu (1938-1950) o país ficou à
margem do conflito. Na capital, Ancara, o fluxo de informações secretas
recebidas e transmitidas pelas embaixadas das grandes potências despertava o
interesse da inteligência de Aliados e do Eixo.
A história de 5
dedos, baseada em fatos, é ambientada em Ancara, onde os exteriores
foram filmados em nome da maior veracidade. O roteiro eficaz e levemente bem
humorado de Michael Wilson, lapidado pelo diretor, tem por ponto de partida o
livro Operation Cicero (Der fall Cicero), de L. C. Moyzisch.
O autor, funcionário da embaixada alemã, intermediou o chanceler germânico
Franz von Papen com o albanês Elyesa Bazna, camareiro do diplomata britânico Sir
Hughe Montgomery Knatchbull-Hugessen. Bazna entregou ao inimigo informações confidenciais
e estratégicas, principalmente os resultados das conversações firmadas por Josef
Stalin, Franklin Delano Roosevelt e Winston Churchill na Conferência de Teerã, realizada
entre 28 de novembro a primeiro de dezembro de 1943. Na ocasião, os três chefes
de Estado apararam relativamente as arestas, discutiram os contornos do mapa
geopolítico europeu ao término da guerra e resolveram desencadear a Operação
Overlord — codinome do desembarque de tropas aliadas ocidentais na Normandia,
ocorrido em 6 de junho de 1944, Dia D.
Além de L. C.
Moyzisch, Elyesa Bazna também publicou livro sobre o assunto, em 1962: I was
Cicero. O mais curioso: os alemães sabiam de decisivas movimentações
aliadas e não agiram. Por quê? A situação já não lhes era favorável. Perdiam
espaço para a reação soviética ao leste, os bombardeios aliados fustigavam
consideravelmente as suas cidades e eram obrigados a fazer frente, desde julho
de 1943, às consequências da Operação Husky — a invasão da Itália pela Sicília,
principalmente por forças naval e aérea dos Estados Unidos. Pode-se concluir
que foram simplesmente incompetentes, onipotentes ou ingênuos quando decidiram
não dar crédito a tão valiosos informes. Porém, é mais correto pensar que
dissensões internas corroíam, nesta altura da guerra — quando a derrota se
fazia evidente —, as estruturas do alto comando militar alemão e as bases do
Partido Nazista. A tudo isto se junta o provável descrédito a Elyesa Bazna. Aos
olhos ariscos do inimigo, o espião passou por agente fiel à Inglaterra, atuando
com o firme propósito de confundir. Nessa direção avança o filme de Mankiewicz.
James Mason é Ullysses Diello |
Tomaram-se liberdades
na transposição do caso ao cinema. Elyeza Bazna foi renomeado para Ulysses
Diello (Mason). Sir Hughe Montgomery Knatchbull-Hugessen, o embaixador britânico,
converteu-se em Sir Frederick
Taylor (Hampden). Para imprimir algumas doses de romance,
intriga e veneno à história, inventou-se uma parceira de mal feito para Diello,
a arrivista e falida Condessa Anna Staviska (Darrieux), francesa e viúva de
nobre polonês, com posses materiais expropriadas pelos alemães. Por sua
recomendação, Diello se tornou camareiro da embaixada inglesa. Na realidade, o
verdadeiro Bazna teve os auxílios da própria sobrinha e de criada do diplomata
inglês. A trama manteve os nomes de L. C. Moyzisch (Karlweis) — responsável
pela atribuição do codinome Cícero ao espião —, e do Conde Franz Von Papen
(Wengraf) — homem da velha estirpe aristocrática, formulador de juízos
lapidares sobre os nazistas e seus gostos artísticos. Acredita piamente que seu
país caiu nas mãos de baderneiros e não suporta a música de Wagner.
A princípio, o
sempre confiável e eficaz Henry Hathaway estava nas considerações do big boss da 20th Century-Fox, Daryl F.
Zanuck, para dirigir 5 dedos. O projeto parecia ajustado
ao talento do diretor. Vinha de sucessos na realização de policiais segundo o
figurino semidocumental — como seria 5 fingers — qual A
casa da rua 92 (The house on 92nd Street, 1945), Rua
Madeleine 13 (13 Rue Madeleine, 1947), Sublime
devoção (Call Northside 777, 1948) e Horas intermináveis (Fourteen
hours, 1951). Neste momento, Micheline Presle e Alida Valli estavam
cogitadas para interpretar a Condessa Staviska.
Ullysses Diello é vivido por James Mason |
Porém, o contrato
de Joseph L. Mankiewicz com a companhia chegava ao fim, sem chances de
renovação. Como estava sem o que fazer, Zanuck o escalou tão logo percebeu seu interesse
pela história. O roteiro de Michael Wilson e boa parte da pré-produção estavam
concluídos. Mesmo assim, Mankiewicz deixou influência no script, principalmente
nos diálogos espirituosos que sempre o tiveram como expert. O compromisso com a
20th Century-Fox expirou no momento da edição. Legalmente impedido de
participar desta etapa, lamentou a exclusão, na montagem supervisionada por Zanuck,
de várias passagens consideradas as melhores.
A narrativa
começa em Londres, no parlamento, poucos anos após o fim da Segunda Guerra
Mundial. Um representante, de posse do livro de L. C. Moyzisch, pede
esclarecimentos sobre "O caso Cícero". Disso se encarregará o filme.
Com a ação deslocada para Ancara, tem início um dos mais discretos, divertidos,
inteligentes, elegantes, ágeis e surpreendentes filmes de espionagem,
enriquecido por falas de duplo sentido, frases lapidares e jogos de retórica. Tais
ingredientes conferem aspecto deliciosamente inverossímil a uma história
repleta de lances mirabolantes. Porém, apesar das liberdades tomadas pelo
roteiro, boa parte do que se vê é surpreendentemente real.
Na capital turca,
a falida e empertigada Condessa Staviska (Darrieux) tenta manter o antigo
padrão de vida. Apesar da frágil situação econômica, goza de livre trânsito nas
altas esferas. Pensando na retomada dos bens confiscados, oferece-se como espiã
ao embaixador germânico, inutilmente. A salvação chega por Diello, já em
contato com os alemães via adido comercial L. C. Moyzisch, ao qual entregará,
periodicamente, segredos militares. Para não levantar suspeitas, Diello
necessita de fachada apresentável. Assim, repassa à Condessa parte do dinheiro
amealhado nas primeiras transações. A quantia é empregada na aquisição de
imóvel digno a alguém da nobreza. O local será usado para recepcionar membros
da alta sociedade e abrigará os contatos do espião com o inimigo. As 130 mil libras
esterlinas recebidas com a venda de informações são confiadas à guarda da
Staviska e depositadas em conta bancária.
Ullysses Diello (James Mason) e a Condessa Anna Staviska (Danielle Darrieux) |
A traição de
Diello não decorre de sua afinidade com os alemães. Sequer simpatiza com eles. Obedece
a motivos puramente pessoais, de duas ordens de interesse. Primeiro, almeja a
independência financeira para se estabelecer no Rio de Janeiro em elevada
posição social. Segundo, ressente-se com suas origens de classe. Reside aí um
desejo de vingança contra Staviska, que sempre o tratou com a indiferença
reservada ao subalterno. Agora, julgando-se em posição superior como agente a
soldo dos alemães, acredita que controlará a antiga patroa, moral e financeiramente,
num futuro a dois na então capital brasileira.
De pé, o traidor Ullysses Diello (James Mason) em negociações com os alemães |
Um dos pontos
altos da narrativa elegante é o jogo de gato e rato entre Staviska e Diello.
Uma vez condessa, sempre condessa, apesar das vacas magras. Dissimulada, ela
faz questão, a todo instante, de mostrar ao serviçal o seu verdadeiro lugar.
Ser a fonte do dinheiro em nada melhora as coisas para o camareiro. Lances desse
jogo, com outras conotações, também se passam entre o personagem de Mason e o
serviço secreto inglês, representado por George Travers (Rennie) — enviado a
Ancara tão logo a inteligência britânica desconfiou do vazamento de
informações. O agente chega ao mesmo tempo que o similar alemão, o muito duro e
arisco Coronel Von Richter (Berghof), encarregado de aferir a confiabilidade de
Cícero, por mais que as informações passadas tenham veracidade confirmada.
Com a situação
cada vez mais perigosa, Diello encerra as atividades. Comunica à condessa que
ambos deixarão a Turquia. Ela se adianta e comete a traição: saca todo o
dinheiro e embarca para a neutra Suíça, tomando o cuidado de comprometer Diello
junto às representações alemãs e inglesas. Desesperado, mas mantendo as
aparências, ele tenta se antecipar aos fatos. Lança-se à arriscada operação de
abrir o cofre com documentos secretos da embaixada, agora equipado com alarme. Consegue
desativá-lo. Venderá ao alemães, por 100 mil libras esterlinas, as últimas
informações. Mas a inesperada intervenção de uma faxineira por muito pouco não
põe tudo a perder, obrigando-o a uma fuga apressada. Está na mira de assassinos
alemães e agentes ingleses. Apesar do cerco, consegue escapar com os
rendimentos da última transação. Logo o cenário muda para a paisagem carioca.
Algum tempo se passou. Diello é um privilegiado bon vivant no Rio de Janeiro. Mas o jogo entre gatos e ratos
alternando posições não terminou. Investigadores se apresentam, informando-lhe que
são falsas as libras esterlinas investidas no Brasil. Recebe voz de prisão, às
gargalhadas, ao saber que na Suíça outro caso envolvendo dinheiro inglês
falsificado foi também descoberto.
No Rio de Janeiro, Ullysses Dielo (James Mason) recebe de autoridades brasileiras as piores notícias |
Com direção,
roteiro e atuações inspiradas, 5 dedos resultou em muitos frutos e
prêmios. Em 1952 foi adaptado ao rádio em programa de 60 minutos do Lux Rádio
Theater, com James Mason retomando o papel de Diello. Sete anos depois originou
uma série da rede de televisão NBC, com 16 episódios, produzida com a 20th
Century-Fox. A trama, atualizada para o contexto da guerra fria, foi estrelada
por David Hedison e Luciana Paluzzi[1].
Em 1953 foi
indicado aos prêmios Oscar de Melhor Direção e Melhor Roteiro. Neste ano,
saiu-se vitorioso com o Globo de Ouro de Melhor Roteiro, recebeu do Directors
Guild of America a láurea por Direção Proeminente em Cinema, conquistou os
prêmios Edgar Allan Poe para Melhor Filme e Melhor Roteiro e foi indicado na
categoria de Melhor Drama Escrito ao Writers Guild of America Award. Em
1952, listado entre os Dez Melhores Filmes, fez jus ao NBR Award da National
Board of Review[2].
Já perdi a conta
das vezes em que vi 5 dedos. No entanto, é desses filmes misteriosos, ao menos para
mim, por um simples motivo: não fica retido na lembrança por muito tempo. Tal
acontece com algumas obras mestras, paradoxalmente. Porém, é até bom isso
acontecer — por mais estranho que seja —, pois a realização é sempre
reapropriada com sabor de novidade nas revisões sempre oportunas. O roteiro —
do expert e blacklisted Michael
Wilson, também responsável pelos guiões dos intrigantes e magníficos Um
lugar ao sol (A place in the sun, 1951), de George
Stevens; A ponte do Rio Kwai (The bridge on the River Kwai, 1957),
de David Lean; Lawrence da Arabia (Lawrence of Arabia, 1962), de David
Lean; e O planeta dos macacos (Planet of the apes, 1968), de
Franklin J. Schaffner — é primor de concisão, sutileza e personagens desenhados
poliedricamente. Os atores não representam caricaturas estereotipadas. Mankiewicz,
com sua intromissão, só melhorou o texto de Wilson: tornou os diálogos mais certeiros,
ferinos e espirituosos, principalmente as falas trocadas por Diello e Anna,
plenas de ironia.
O espião Ullysses Diello (James Mason) |
A direção não
descuidou do ritmo, ainda que 5 dedos seja compassadamente discreto.
Porém, parece que Mankiewicz conferiu ao espectador a tarefa de acentuar a
pulsação narrativa, pois os diálogos e personagens geram tantas sensações a
ponto de aumentar a curiosidade acerca dos próximos movimentos da partida. Apesar
de pouco referenciada, a trilha musical de Bernard Herrmann é, seguramente, um
dos elementos responsáveis pelo poder de sedução do filme. O mesmo vale para a
fotografia em preto e branco de Norman Brodine.
A perfeição de 5
dedos também decorre do fato de ser firmemente valorizado pelas
interpretações. Os atores estão com tudo. Por mais que desempenhem personagens
moralmente pouco atraentes — principalmente James Mason e Danielle Darrieux —, fazem
isso com tanta convicção e charme a ponto de atrair toda a simpatia do espectador.
Somente esse detalhe evidencia que não é comum o trabalho de Mankiewicz. Pois
não é fácil justificar a torcida por um final feliz para Diello, ainda mais
sabendo que suas ações puseram em risco a vitória das forças aliadas sobre a
barbárie hitlerista. Já a arruinada condessa Anna Staviska se faz merecedora de
piedade, em que pesem seu egoísmo e arrivismo. A expressão de Darrieux, quase
neutra não fossem os olhos suplicantes de manhosa gata faminta, é fonte de
muita empatia. É uma das grandes atrizes do cinema de todos os tempos. Merece,
urgentemente, ser retirada do ostracismo ao qual foi relegada.
Condessa Anna Staviska (Danielle Darrieux) |
Não é exagero
afirmar que Ulysses Diello é, com sua fala mansa e uniforme, movimentação suave
e constante, um dos melhores papéis — se não o melhor — de James Mason. É um
traidor que nada tem de execrável. O ator personifica o próprio magnetismo que
dá sentido ao carisma. O personagem passa a impressão de ter sido desenhado sob
medida para ele, tão habituado ficou na incorporação de seres repulsivos, mas
que se deixam convencer pelos atributos do charme e da inteligência. Está
sempre pronto para enganar os bobos metidos a espertos de qualquer esquina.
O espião Ullysses Dielo (James Mason) na coleta de informações |
Nos papéis de
apoio o destaque é de Herbert Berghof — um dos mais renomados mestres da
interpretação — como o irascível Coronel Von Richter. O Conde Von Papen — o muito polido e irônico embaixador alemão — aparece pouco, mas rende
maravilhosamente bem na pele de John Wengraf. O mesmo vale para seu classudo
similar britânico, Sir Frederic Taylor, vivido por Walter Hampden. Michael
Rennie não decepciona como agente da inteligência britânica. Oscar Karlweis
garante a diversão mais solta como L. C. Moyzisch, o desajeitado e perspicaz
adido comercial da representação diplomática alemã. Além do mais, partiu dele a
ideia de apelidar Ulysses Diello (ou seu correspondente real Elyeza Bazna) de
Cícero, nome do famoso senador e orador romano. O espião, em seu desejo de
ascender, ficou visivelmente envaidecido com tão nobre alcunha.
Roteiro: Michael Wilson, Joseph
L. Mankiewicz (não creditado) com base no livro Operation Cicero (Der
fall Cicero), de L. C. Moyzisch. Música:
Bernard Herrmann. Direção de fotografia
(preto e branco): Norbert Brodine. Montagem:
James B. Clark. Direção de arte:
George W. Davis, Lyle R. Wheeler. Decoração:
Thomas Little, Walter M. Scott. Voz do
narrador: John Sutton (não creditado). Figurinos:
Charles Le Maire. Maquiagem: Ben
Nye. Som: W. D. Flick, Roger Heman
Sr. Efeitos fotográficos especiais:
Ray Kellogg, Fred Sersen (não creditado). Produção
associada (não creditada): Gerd Oswald. Gerente de unidade (não creditado): Gaston Glass. Gerente de produção (não creditado):
Max Golden. Assistentes de direção (não
creditados): Bruce Fowler Jr., Gerd Oswald. Direção de sequências adicionais (não creditado): Otto Lang. Aprendiz de edição (não creditado):
Lyman Hallowell. Orquestração (não
creditada): Bernard Herrmann. Direção
de diálogos (não creditado): Florence O'Neill. Consultoria técnica (não creditada): Mehmet Adil Ozkaptan, Otto von
Strahl. Sistema de mixagem de som:
Western Electric Recording. Tempo de
exibição: 108 minutos.
(José Eugenio Guimarães, 2000)
Eugenio,
ResponderExcluirNão conheço o filme em citação, mas conheço algo de Mankiewicz e do Mason. Pouco, mas sei algo deles que posso por por aqui para não passar em branco.
Não podemos deixar de conotar Cleopatra, que apesar de ter dado um prejuizo terrivel, é inegável sua qualidade como cinema.
O diretor, o bom diretor, deu sempre provas de sua competencia. A Malvada/50, Julio Cesar/53, Ninho de Cobras/72 (acho que seu único faroeste) e muitos mais outros, é prova irrefutável de sua boa qualidade como criador.
O Mason, que conheci somente em 1959 ao ver Intriga Internacional, me despertou tanto seu talento que dei um esfrega em sua carreira, não perdendo qualquer filme seu que visse passar.
Mas o da postagem eu não vi. Porém, vi Lolita, dignifiquei sua notabilissima atuação em Julio Cesar/53, (perfeito, perfeito), seu Raposa do Deserto, seu agradável e salutar desempenho em 20.000 Leguas Submarinas, sua performance pragmática em A Queda do Imperio Romano e mais umas dezenas de outros perfeitos desempenhos.
Agora, amigo, aqui para nós: isto de montagem de um filme ser feita sem a supervisão e/ou aprovação do seu diretor, é algo que não consigo conceber.
Como pode alguém criar um trabalho e outro o administrar?
Absurdo isso, como foi absurdo o Selzenick, que sempre foi metido a senhor de tudo tal qual o Zanuck, (lembra de Duelo ao Sol?) manda o diretor embora e assume a montagem, pondo e tirando o que em deseja.
Nem quero mais falar disso, que sempre foi um assunto que estremecia as bases de John Ford, e com toda razão.
Tenho quase certeza ter sido isto mais um truque ou, como se diz, uma carta na manga do Produtor Zanhck. O Mankiewicz estava para sair, faria o filme e ele não o montaria por falta de contrato. Assim ele tomaria a frente e faria ali o que desejasse.
Acredito que por isso o trabalho não caiu nas mãos do Hathaway, mesmo com desculpas de que o Joseph nada fazia e estava para perder o contrato.
Conversa fiada de quem quer por suas mãos em mais um trabalho de alguém. Em Duelo ao Sol, o Selzenick, que estava segurando no rabo da saia da J Jones, fez e desfez no filme, não respeitando seu real criador,
Como dizem que dinheiro é quem manda...
jurandir_lima@bol.com.br
Olá, Jurandir;
ExcluirJoseph L. Makiewicz é, dos diretores hollywoodianos do pós Segunda Guerra Mundial, um dos mais refinados e inteligentes. Uma personalidade, acima de tudo, crítica. Apesar de Hollywood ser o que sempre foi, conseguiu cavar um lugar ao sol e se impor com uma marca e um estilo. Notadamente, o filme que não gosto dele - inclusive porque não é dele, mas do produtor que fez e desfez ao longo das filmagens - é CLEÓPATRA. Costumo dizer que esse filme é um mamute sofrendo de osteoporose. CLEÓPATRA, por pouco, não arruinou a carreira do diretor. Apavorado com a experiência e praticamente enfermo psicologicamente com as imposições de Zanuck e com os chiliques de Elizabeth Taylor - não estou falando da doença que a acometeu, que foi séria e atrasou as filmagens -, Mankiewicz passou quatro anos longe do cinema. Voltaria a filmar com a classe que lhe era peculiar em CHARADA EM VENEZA. A seguir, brindou-nos com o inteligente western crítico NINHO DE COBRAS e em 1972 se despediu com o esperto e vigoroso JOGO MORTAL. Gosto muito do cineasta. Mas CLEÓPATRA é, para mim, uma experiência malfadada, na qual ele jamais deveria ter se metido. Não podemos esquecer que antes de Mankiewicz a direção do empreendimento estava nas mãos do talentoso Rouben Mamoulian. Afastado pelo produtor, nunca mais quis saber de cinema, tão desgastante foi a experiência.
Mas são coisas de Hollywood. Os produtores sempre fizeram de tudo para sequestrar a independência, o talento e a criatividade de seus cineastas mais promissores. John Ford, bem lembrado por você, teve que rebolar muito, inventando subterfúgios, filmando apenas o estritamente necessário para não dar oportunidade às malversações que poderiam ser cometidas à sua revelia. Mesmo assim, amargou derrotas como o "assassinato" de seu HORAS AMARGAS, totalmente desfigurado na montagem.
Outro que comprou brigas homéricas com os produtores com William A. Wellman. Este alugou uma carroça e foi até uma fazenda, onde encheu o veículo de estrume. Despejou todo o fétido conteúdo no escritório de Zanuck.
Abraços.