Um viking fora do compasso não vê sentido no círculo
vicioso de uma vida constantemente largada aos atos de destruir, estuprar e
pilhar. Deve haver algo mais além disso. Resolve assumir, contra a
incredulidade geral, a missão de reformar o mundo. De quebra, pretende
reencontrar e recuperar o mal experimentado amor que perdeu. O jeito é sair em
expedição, acompanhado dos mais valentes guerreiros, rumo à inatingível morada
dos deuses e tentar convencê-los dos seus bons propósitos. Tim Robbins é o patético
protagonista de As aventuras de Erik, o viking (Erik the viking, 1989),
do Monty Python Terry Jones. O filme é uma alucinada e irregular aventura
revestida de arrojada concepção pictórica, pontuada por boas interpretações e
embalada por insanos e divertidos diálogos. A apreciação é de 1993.
As aventuras de
Erik, o viking
Erik the viking
Direção:
Terry Jones
Produção:
John Goldstone
KB Erik the Viking, Prominent
Features, Svensk Filmindustri
Inglaterra, Suécia — 1989
Elenco:
Tim Robbins, Mickey Rooney, Eartha
Kitt, Terry Jones, Imogen Stubbs, John Cleese, Tsutomu Sekine, Anthony Sher,
Gary Cady, Charles McKeown, Tim McInnerny, John Gordon Sinclair, Richard
Ridings, Freddie Jones, Samantha Bond, Danny Schiller, Jim Broadbent, Jim
Carter, Matyelok Gibbis, Tilly Vosburgh, Jay Simpson, John Scott Martin, Sian
Thomas, Sarah Crowden, Bernard Padden, Bernard Latham, Peter Geeves, Paddy
Joyce, Julia McCarthy, Alan Surtees, Sandra Voe, Angela Connolly, Sally Jones,
Andrew MacLachlan, Tim Killich, Graham McTavish, Cyril Shaps, Colin Harper,
Harry Jones, Barry McCarthy, Gary Roost, Neil Innes, Simon Evans, Mathew Baker,
Dave Duffy, Frank Bednash e os não creditados Charles Simon, Max Votolato.
O diretor Terry Jones, também autor do livro infantil que deu origem ao filme |
Erik (Robbins) e
seus companheiros habitam Ravensford, lugarejo gelado e entregue às trevas, perdido
num canto qualquer do litoral da Noruega. Transcorre a brutal Era de Ragnarok.
Há muito o Sol deixou de brilhar. Foi aprisionado por entidade maligna, Fenrir,
o lobo. Os deuses, adormecidos, esqueceram-se do mundo dos homens. Os vikings levam
a vidinha de sempre: vez ou outra se lançam ao mar em aventuras que resultam em
destruição, estupros e pilhagens. Com os frutos dos saques financiam a próxima
expedição que resultará em mais destruição, mais estupros e mais pilhagens. E
assim alimentam o círculo vicioso da existência. Porém, Erik está cansado. Não
vê sentido algum nisso. Questionador, reprova a violência e o espírito
guerreiro dos companheiros.
Erik (Tim Robbins), viking inconformado com o círculo vicioso de sua gente |
Fica ainda mais
inquieto depois de invadir uma aldeia e conhecer Helga (Bond). Tentou se portar
como viking normal e estuprá-la. Terminou se revelando tão desajeitado! Sequer
conseguiu iniciar o ato. A moça afirma que nunca viu alguém tão incapaz. Além
de duvidar das habilidades do jovem, questiona-o acerca da vida besta que leva.
Erik se apaixona por ela. Porém, mata-a acidentalmente ao tentar livrá-la da
sanha de outros estupradores.
A bruxa Freya (Eartha Kitt) e Erik (Tim Robbins) |
Depois disso, cada
vez mais infeliz, Erik toma para si a responsabilidade de reformar o mundo no
qual vive. Após consultas à bruxa Freya (Kitt), reúne os homens mais corajosos
da aldeia e parte em brancaleônica expedição aos confins da Terra. Pretende
chegar onde mortal algum pisou: Asgaard, a morada dos deuses, onde se ergue o
Valhala — paraíso dos guerreiros mortos em combate. O objetivo da
missão é despertar as divindades adormecidas, dar fim à Era de Ragnarok e
libertar o Sol. Mas Erik também quer trazer Helga de volta ao mundo dos homens.
Erik (Tim Robbins), à direita, e seus companheiros de missão reformadora do mundo |
As aventuras de
Erik, o viking reúne integrantes do grupo de humor inglês Monty Python.
O roteiro, do diretor Terry Jones, foi baseado em livro infantil de sua autoria
— The
saga of Erik the viking. O filme tem arrojada concepção pictórica e
boas interpretações, algumas no limite da insanidade como a de Tim McInnerny no
papel de Seven, pressionado pelo pai (McKeown) a seguir a tradição familiar dos
vikings alucinados, aqueles que espumam furiosos no momento do ataque. Tim
Robbins está muito bom como o sensível personagem do título. Impecáveis e
divertidos também estão Mickey Rooney, James Cleese e Freddie Jones. O outrora
ator juvenil e partner de Judy
Garland interpreta o avô de Eric. Cleese dá vida ao cruel e fleumático Halfdan,
o Negro, líder de uma tribo rival, cujo maior prazer é ordenar algum tipo de
mutilação. Já Freddie Jones personifica Harald, um improvável missionário
cristão perdido naquela imensidão gelada. Sempre de Bíblia em punho, tenta
converter a gente de Ravensford e estabelecer um pouco de racionalidade num
mundo tão conturbado. Mas é difícil. Há 16 anos no ofício, não conquistou alma
alguma para o Cristianismo. É o único do lugar que não consegue ver as
fantásticas criaturas e aparições que povoam o imaginário viking.
O traidor Loki (Anthony Sher), acima, e Halfdan (John Cleese), o mutilador |
As filmagens
foram realizadas em estúdios situados em Malta e na Inglaterra, além de
locações em Tronso, Noruega. De tanta movimentação resultou um filme irregular que
se aguenta bem até a primeira escala da jornada, Hy-Brazil — pacífico reino localizado
no centro do Oceano Ocidental. É um paraíso governado pelo Rei Arnulf (Terry
Jones), onde todos vivem em harmonia, ouvindo e interpretando músicas
horríveis. E assim será enquanto uma gota de sangue não for aí derramada. Nem
precisa dizer o que acontece! Hy-Brazil cumpre o destino de Atlântida. Dos
nativos, apenas Aud (Stubbs), filha do Rei, sobrevive. Apaixonada por Erik,
junta-se a ele. Antes o grupo localiza a trompa retumbante que, soprada,
permitirá, o coroamento da missão. Também desbarata um ataque de Halfdan, que
se lançou contra a expedição instigado pelo traidor Loki (Sher). Ambos preveem
o fim de suas atividades se a jornada de Erik chegar a bom termo com a
implantação de um regime de paz.
Erik (Tim Robbins) coroa a jornada ao soprar a trompa retumbante |
No cômputo geral
Terry Jones realizou um espetáculo fulgurante com ponto alto nas interpretações
e em alguns bons e divertidos diálogos. Sobra depois o brilho isolado de certas
cenas e sequências: a partida da expedição, regada a choros, conselhos e
discursos; a distribuição do peso dos remadores na embarcação; as mulheres consternadas
diante da decisão do ferreiro Keitel (Cady) — o homem mais bonito da aldeia — de
se juntar ao grupo. Ele sempre ficou em Ravensford, fabricando espadas,
enquanto os outros guerreiros se aventuravam mundo afora. Também devem ser
registradas as passagens com o japonês Tsutomu Sekine como o mestre dos
remadores de Halfdan; Erik vencendo um horrível monstro marítimo, fazendo-o
espirrar com penas de travesseiro; e, por fim, os habitantes de Hy-Brazil não
acreditando que o oceano está tragando a sua terra. Haverá alguma razão para
nós, brasileiros, ficarmos preocupados, principalmente os moradores de regiões
costeiras?
Erik (Tim Robbins) e seus intrépidos companheiros de jornada reformadora Acima, à direita, o fracassado missionário cristão Harald (Freddie Jones), com a Bíblia |
Roteiro: Terry Jones, baseado em The saga of Erik the Viking,
livro de sua autoria. Casting: Irene
Lamb, John Lyons, Donna Isaacson. Figurinos:
Pam Tait. Concepção: Alan Lee. Planejamento de efeitos especiais:
Richard Conway. Diretor de segunda
unidade: Julian Doyle. Música:
Neil Innes. Montagem: George Akers. Desenho de produção: John Beard. Direção de fotografia (Technicolor):
Ian Wilson. Produtor associado:
Neville C. Thompson. Produtor executivo:
Terry Glinwood. Gerentes de produção:
Chris Thompson, Inge Tenvik. Assistentes
de direção: David Brown, Gerry Toomey, Neil Calder. Gerente de locações: Mike Higgins. Coordenadores de produção: Joyce Turner, Rita Galec. Assistente para o produtor: Lisa
Bonnichon. Supervisão de script:
Libbie Barr. Operador de câmera: Ian
Wilson. Operador de câmera de segunda
unidade: Luke Cardiff. Edição de
efeitos especiais: Dennis McTaggart. Edição
de som: Alan Bell. Edição de
diálogos: Michael Hopkins, Brian Tilling. Direção de arte: Gavin Bacquet, Roger Cain. Decoração: Joan Woollard. Supervisão
de guarda-roupa: Patrick Wheathley. Penteados:
Demelza Rogers, Jenny Shircore. Maquiagem:
Sarah Grundy, Aillen Seaton, Annie McEwan, Linda Crozier, Demelza Rogers, Jenny
Shircore. Microfone: Paul Filby. Direção musical e orquestração: John
Altman. Supervisão musical: Ray
Williams. Supervisão de efeitos
especiais: Peter Hutchinson. Contrarregra:
Barry Wilkinson, Simon Wilkinson. Coordenador
de dublês: Martin Grace. Gerente de
construções: Peter Verard. Créditos:
Trevor Bond. Terceiro assistente de
direção: Neil Calder. Segundo
assistente de direção da segunda unidade: Margarita Doyle. Planejamento do set: Sarah Horton. Carpintaria: Robert Jackson. Construções: Mark White. Modelagens: Dennis Murray (não creditado). Gravação de som: Bob Doyle. Combinação de diálogos: Lionel Strutt. Mixagem de som: Noel Wallace (não
creditado). Capataz de efeitos especiais
em Malta: Mario Cassar. Técnicos de
efeitos especiais: Dave Eltham, Stephen Hutchinson, Dave Chagouri (não
creditado). Supervisão de efeitos
especiais no set: Steve Hamilton. Rotoscópio:
Janice Body. Coordenação de efeitos
visuais: Martin Body. Pintura matte:
Bob Cuff, Joy Cuff. Edição de efeitos
visuais: Dennis McTaggart. Assistente
de câmera óptica: Andrew Coates (não creditado). Dublê: Eddie Powell (não creditado). Fotografia de cena: David Appleby. Assistente de câmera: Kevin Brookner. Primeiro assistente de câmera: Kenny Byrne. Maquinista: Alfie Emmins. Eletricistas:
Dean Kennedy, Dave Ridout. Segundo
assistente de câmera: Simon Richards. Eletricista-chefe:
Norman Smith. Assistente de câmera da
segunda unidade: Mark Strasburg. Assistente
de guarda-roupa: Yvonne Zarb Cousin. Confecções
no set: Marion Weise. Segundo
assistente de montagem: Charles Ireland. Assistente para Mickey Rooney: Christopher Aber. Publicidade: Susan d'Arcy. Assistente de contabilidade: Yvonne
Eastmond. Agradecimentos especiais a:
Bill Jones. Companhia de efeitos
especiais: The Computer Film Company. Laboratórios
para stills: Blowup. Máquinas e
equipamentos de iluminação: Lee Lighting. Serviços de pós-produção: Sapex Scripts. Sistema de mixagem de som: Dolby. Tempo de exibição: 107 minutos.
(José Eugenio Guimarães, 1993)
Gosto muito deste filme. A cena em que os deuses são crianças brincando com o nosso destino é fantástica. O diretor reafirma a postura atéia do Monty Python que e bem forte em A vida de Brian.
ResponderExcluirAté que enfim deu as caras por aqui, não é seu Bellinassi? Já era tempo!! Passa, dessa maneira, a impressão de que não viu nenhum dos filmes comentados até o momento. Apareça mais, VAMOS!!!!
ExcluirGrade abraço.