domingo, 27 de abril de 2014

TÚNICAS ROMANAS EM ESTREITA SINTONIA COM O CONTEXTO POLÍTICO DA REALIZAÇÃO

Dirigida por Mervyn LeRoy, esta é a terceira adaptação cinematográfica do romance Quo vadis?, de Henryk Sienkiewicz. A primeira, de 1913, creditada a Enrico Guazzoni, é sucesso de bilheteria e marco na história do cinema. A segunda, fracassada, surgiu em 1925 e tem entre seus diretores o célebre poeta e dramaturgo Gabriele D’Annunzio. A presente refilmagem dispensou a interrogação do título em latim (a tradução é "Aonde vais?") e tem como principais trunfos a música de Miklós Rózsa, a reconstituição do incêndio de Roma, mais as interpretações de Peter Ustinov e Leo Genn, entronizados respectivamente nos papeis de Nero e Petronius. Seus pontos frágeis são o tom marcadamente brega da encenação, o desempenho de Robert Taylor e o aspecto pouco convincente de algumas falas. Por outro lado, dentre todas as produções épicas que originou, Quo vadis é a que tem intenções explicitamente políticas. Guarda estreita sintonia com o contexto da realização, em particular com fatos e personagens do momento ou até há pouco evidenciados. A apreciação é de 1975.






Quo vadis
Quo vadis

Direção:
Mervyn LeRoy, Anthony Mann (não creditado)
Produção:
Sam Zimbalist
Metro-Goldwyn-Mayer
EUA — 1951
Elenco:
Robert Taylor, Deborah Kerr, Peter Ustinov, Leon Genn, Patricia Laffan, Finlay Currie, Abraham Sofaer, Marina Berti, Buddy Baer, Felix Aylmer, Nora Swinburne, Norman Wooland, Rosalie Crutchley, Ralph Truman, Peter Miles, Geoffrey Dunn, Nicholas Hannen, D. A. Clarke-Smith, John Ruddock, Arthur Walge, Elspeth March, Strelsa Brown, Alfredo Varelli, Roberto Ottaviano, William Tubbs, Pietro Tordi e os não creditados Adam Jennette, Adriano Ambrogi, Adrienne Corri, Al Fergunson, Alberto Plebani, Aldo Pini, Alessandro Serbaroli, Alfred Baillou, Alfred Brown, Alfredo Rizzo, Alice Bishop, Anna Arena, Anna Mancini, Anna Maria Padoan, Armando Apaccarelli, Attillio Olivo, Benjamin Wilkes, Bud Spencer, Carlo Borelli, Carlo Ghisini, Carlo Tricoli, Cesare Fasulo, Clelia Matania, Daniel De Jonghe, Dante Ciriaci, Dario Michaelis, David Craig, Dianora Veiga, Dino Galvani, Rino Raffaelli, Eduardo Di Persis, Elizabeth Taylor, Enrico Formichi, Enzo Fiermonti, Ernesto Molinari, Evelyn Guignardi, Francesca Biondi, Franco Fantasia, Frank Colson, Gabriella Fabrizio, George Restive, Giacomo Barnas, Gianni Gazzoti, Giovanni Lovatelli, Gipsy Kiss, Giuseppe Rodi, Giuseppe Tosi, Giuseppe Varni, Harriet Medin, Harry J. Vejar, Helena Makovska, Jack del Rio, Jack George, Jane Sprague, Joan Griffiths, John Binns, John Fostini, John Myhers, John Sleeter, Joseph Sebaroli, Jurek Shabelewski, Kenneth Richards, Lee Kresel, Leonardo Scavino, Leslie Bradley, Lia Di Leo, Liana Del Balzo, Louis Payne, Luca Cortese, Lujo Sostarich, Lydia Fostini, Maria Zanoli, Marika Aba, Maurice De Bosardi, Michael De Kransy, Michael Mark, Michael Proben, Michael Tor, Mildred Dudzik, Philip Kieffer, Phyllis Brown, Raffale Tana, Renato Valente, Riccardo Pantellini, Richard Garrick, Richard Lark, Richard McNamara, Riette Osborn, Robin Hughes, Romilda Villani, Rosemary Burt, Scilla Vannucci,  Scott R. Beal, Sophia Loren, Truddy Glassford, Valentino Bruchi, Vicent Neptune, Walter Pidgeon, William Taylor.

  


O diretor Mervyn LeRoy nas filmagens de Quo vadis



Embalado pela música de Miklós Rózsa, este Quo vadis — sem ponto de interrogação no título — é a terceira versão cinematográfica do massudo romance homônimo de Henryk Sienkiewicz. A primeira provocou furor nas bilheterias; é um dos marcos da história do cinema: Quo vadis? (1913), produção italiana dirigida por Enrico Guazzoni, recebeu de Rodin a classificação de “obra-prima”. A segunda, Quo vadis? (Quo vadis?, 1925), coprodução ítalo-alemã, resultou num estrondoso fracasso: tem direção do poeta e dramaturgo "decadentista" Gabriele D’Annunzio em parceria com Georg Jacoby.


A Metro-Goldwyn-Mayer planejava a refilmagem desde 1948. O projeto contava com o empenho pessoal do todo poderoso chefe da companhia, Louis B. Mayer. Seria produção de Arthur Hornblow com direção de John Huston e protagonizada por Gregory Peck e Elizabeth Taylor. Mas o realizador de O tesouro de Sierra Madre (Treasure of Sierra Madre, 1948) não demonstrava entusiasmo pelo material. Além do mais, era personalidade difícil, reconhecidamente rebelde. Recebeu imediata desaprovação do excessivamente controlador Louis B. Mayer. Diante disso, a produção foi temporariamente suspensa e Huston deslocado para a realização de O segredo das joias (The asphalt jungle, 1950) e A glória de um covarde (The red badge of courage, 1951).


Em 1949 Quo vadis passou às mãos do produtor Sam Zimbalist e a realização foi confiada a Mervyn LeRoy. Orçado em 8,5 milhões de dólares e anunciado como “O filme mais colossal já realizado”, ocupou integralmente as atividades do diretor nos dois anos seguintes, dos quais seis meses foram gastos apenas nas filmagens. Para fugir às obrigações que teria nos Estados Unidos, com o fisco e os sindicatos de técnicos e atores, a Metro buscou o exterior. O material foi integralmente rodado nos estúdios de Cinecittà, Itália. O elenco e a equipe de realização contaram com vários profissionais italianos cujas entidades representativas, à época, não possuíam força ou sequer existiam. Por isso, a maioria dos envolvidos não foi creditada. Isso explica o estranhamento diante do reduzido tempo ocupado pelos letreiros de apresentação.


Quo Vadis fez escola. Depois, dos anos 50 até meados dos 60, surgiram as mais variadas superproduções épicas — principalmente os “espetáculos de túnicas” baseados em relatos bíblicos, fatos alusivos ao Império Romano e aos primórdios do Cristianismo.



O tribuno Marcus Vinícius (Robert Taylor)


O filme conta história de amor e conversão. O tribuno Marcus Vinícius (Taylor) retorna a Roma depois de bem sucedida campanha contra a Bretanha. Como era habitual em casos assim, ele e seus legionários são recebidos em triunfo pelo imperador Nero (Ustinov) e ovacionados pela população. Cerca de 5500 figurantes foram reunidos nessa sequência, diante de gigantescos cenários reproduzindo o centro nervoso da Cidade Eterna. “Roma une e civiliza o mundo”. Vinícius acredita firmemente nisso. É romano e pagão até a medula; arrogante e autossuficiente ao extremo. Mas é tão superficial como convém a uma mente capaz de raciocinar apenas sobre poder, prazeres carnais e manobras militares. É sobrinho do poeta Petronius (Genn)  autor de Satiricon , que lhe consegue acomodações provisórias na casa de Plautius (Aylmer), general aposentado das legiões romanas.



Marcus Vinícius (Robert Taylor) com o tio e poeta Petronius (Leo Genn)


Plautius, casado com Pomponia (Swinburn), tem uma filha adotiva: Lygia (Kerr) — refém do Império, tirada ainda criança da guarda do pai, o rei da Frigia. Vinícius é imediatamente atraído por ela. Mas é repudiado. O tribuno não sabe que ela e todos da casa de Plautius seguem o considerado perigoso e subversivo Cristianismo.


Amor e redenção: Marcus Vinícius (Robert Taylor) e Lygia (Deborah Kerr)

  
Marcus Vinícius deseja Lygia a todo custo. Convence o imperador a retirá-la da tutela dos pais adotivos. O amor entre ambos não tarda a aflorar. Mas terá que superar as intrigas palacianas, a intransigência e o desprezo de Marcus pelos cristãos, a loucura de Nero, o incêndio de Roma, os ciúmes de Pompeia (Laffan) e as arenas romanas repletas de feras famintas e outros infames tormentos. Ao final Marcus Vinícius se rebela contra Nero. Aprisionado com Lygia e os cristãos — acusados de incendiar Roma —, conhece na masmorra a força dos novos ensinamentos e se converte. Casam-se aí mesmo, em cerimônia celebrada por ninguém menos que o apóstolo Pedro (Currie). Chegam vivos ao final da saga, graças à revolta de legionários fiéis ao tribuno. Deposto, Nero comete suicídio. É substituído por Galba (Tordi).



Os cristãos lançados às feras no circo romano 

No centro da arena, o forte Ursus (Buddy Baer) tenta proteger Lygia (Deborah Kerr) das investidas do touro diante dos olhares preocupados de Marcus Vinícius (Robert Taylor), à direita


Os melhores momentos de Quo vadis ficam por conta de Peter Ustinov. Ele compõe um Nero afetado, excessivamente caprichoso, vaidoso, demente e megalômano. Julga-se poeta e possuidor das melhores qualidades artísticas de todo o mundo. Ai de quem duvidar! Arrasta atrás de si um cortejo de intelectuais — como Sêneca (Hannen) e Petronius (Genn) — que o aturam a contragosto. Petronius sabe lidar com o gênio carente de elogios do imperador. Vez ou outra, sempre que solicitado, emite irônicos juízos de duplo sentido, não percebidos por Nero. O intérprete de Petronius é também um dos melhores em cena. O limitado e pouco convincente Robert Taylor é um dos pontos frágeis do filme. Deborah Kerr praticamente não é exigida.


Nero (Peter Ustinov) e Pompeia (Patricia Laffan)

  
Nero não suporta os odores de Roma no verão. Nessa época a cidade fede. Alega que o cheiro do povo — que tanto despreza — fica mais forte. Por isso, não consegue imprimir melhor forma ao poema épico que compõe, iniciado com o verso “Ó chamas bruxuleantes”. Como se sabe, Roma arderá — em nome da arte no caso de Quo vadis. As sequências do incêndio impressionam. Constituem um tento da equipe de efeitos especiais da Metro-Goldwyn-Mayer. Aliás, Hollywood vinha se especializando em espetáculos pirotécnicos de grande escala desde que Atlanta ardeu em ...E o vento levou (Gone with the wind, 1939), de Victor Fleming.


As críticas negativas endereçadas a Quo vadis são injustas. Em geral, abominam o visual kitsch, de cores berrantes, e ridicularizam a interpretação de Robert Taylor. Mas o filme é mais que um festival de estampas bregas e canastrice do protagonista. Provavelmente, é o épico de “túnicas romanas” mais afinado com o contexto político do momento da realização. Sinais disso estão presentes logo na narração do prólogo: numa ênfase liberal avant la lettre, o Império Romano é associado ao tempo da opressão do indivíduo pelo poder do Estado. O aparente anacronismo do comentário vai ao chão tão logo se percebe que a Roma de Nero equivale aos estados totalitários modernos. Os gestos romanos de saudação são em tudo semelhantes aos braços estendidos dos nazistas quando diziam “Heil Hitler”. Além do Führer, o imperador também lembra Stalin. Da boca desses insanos poderia sair esta fala do personagem de Ustinov: “O mundo é meu e posso destruí-lo”. Os cristãos — obrigados a se reunir no escuro das catacumbas quando não estão encarcerados ou aplacando a fome dos leões — correspondem aos judeus do holocausto hitlerista, aprisionados e exterminados em campos de concentração.


Quo vadis foi indicado ao Oscar de Melhor Filme. Perdeu para Sinfonia de Paris (An american in Paris, 1951), de Vincente Meinnelli, num ano em que as premiações justas da categoria deveriam ir para Um lugar ao sol (A place in the sun, 1951), de George Stevens, ou Um bonde chamado desejo (A streetcar named desire, 1951), de Elia Kazan. Justiça em Quo vadis seria premiar Leo Genn e Peter Ustinov. Ambos foram indicados a Melhor Ator Coadjuvante. Mas a estatueta da categoria foi para Karl Malden pelo filme de Kazan.


Um dos melhores momentos de Quo vadis é quando alguém do séquito de Nero observa a multidão apavorada fugindo do incêndio e tentando invadir o Palatino — área reservada ao imperador e protegida das chamas. “Querem sobreviver” — afirma. Ato contínuo Nero responde: “Quem pediu que sobrevivessem?”. Memorável também é o instante em que o personagem de Ustinov desaba em chiliques ao ler as últimas e sinceras palavras que Petronius lhe dirigiu antes de cometer suicídio. O intelectual percebeu que o vento não levaria tão facilmente a fumaça do incêndio e preparou a própria saída do conturbado e ensandecido mundo romano. "Virão tempos nada bons para as artes" — afirmou ao deixar a cena. Mais conveniente é deixar o caminho livre para Nero e sua harpa.


Petronius (Leon Genn) e Marcus Vinícius (Robert Taylor)

  
Entretanto, algumas passagens poderiam ser evitadas. Soaram excessivamente constrangedoras, a ponto de provocar riso involuntário ou mal estar na plateia. Nesse particular, merece destaque o momento em que o imobilizado Marcus Vinícius é obrigado a presenciar, no circo, a cena de Lygia atada ao poste e sob ataque de um touro. Ursus (Baer) — o forte e gigantesco guardião da moça — tem apenas as mãos para defendê-la. Tudo bem ao que se passa no centro da arena. Mas Marcus Vinícius pronunciando “Ó, Cristo, dai-lhe forças” é tão forçosamente falso a ponto de deixar incomodado o mais beato dos espectadores.



Tigelinus (Ralph Truman),  comandante da guarda pretoriana, e Nero (Peter Ustinov)


Algumas cenas mais espetaculares de Quo vadis não foram dirigidas por Mervyn LeRoy. Ficaram a cargo do não creditado Anthony Mann — também no cargo de segundo assistente de direção —, realizador de alguns dos melhores westerns dos anos 50 — Winchester'73 (Winchester'73, 1950), Almas em fúria (The Furies, 1950), E o sangue semeou a terra (Bend of the river, 1952), O preço de um homem (The naked spur, 1953), Região do ódio (The far country, 1954), Um certo capitão Lockhart (The man from Laramie, 1955), O homem dos olhos frios (The tin star, 1957) e O homem do Oeste (Man of the West, 1958) — e, na década seguinte, de dois épicos de respeito: El Cid (El Cid, 1960) e A queda do Império Romano (The fall of Roman Empire, 1963).


A ainda desconhecida Sophia Loren faz figuração não creditada como escrava de Lygia. Na mesma situação Elizabeth Taylor aparece entre os cristãos lançados na arena. Igualmente não creditados estão Walter Pidgeon fazendo a narração, o "Bambino" Bud Spencer como membro da guarda pretoriana e Sérgio Leone na direção de segunda unidade.






Roteiro: John Lee Mahin, S. N. Behrman, Sonya Levien, com base na novela homônima de Henryk Sienkiewicz. Contribuição ao roteiro (não creditada): Hugh Grey. Música: Miklós Rózsa. Letra das canções: Hugh Gray. Direção de fotografia (Technicolor): Robert Surtees, William V. Skall. Consultor de Technicolor: Henri Jaffa. Direção de arte: William A. Horning, Cedric Gibbons, Edward Carfagno. Montagem: Ralph E. Winters. Coreografia: Marta Obolensky, Auriel Millos. Supervisão de gravação de som: Douglas Shearer. Decoração: Helen Hunt, Elso Valentini (não creditado). Efeitos especiais: Thomas Howard, A. Arnold Gillespie, Donald Jahraus. Costumes: Herschel McCoy. Penteados: Joan Johnstone, Sydney Guilaroff. Maquiagem: Charles E. Parker. Produção de elenco (não creditada): Mel Ballerino, Irene Howard. Assistente de produção de elenco (não creditada): Rino Guidi. Assistente de gerente de produção (não creditado): Mack D'Agostino. Gerente de produção (não creditado): Henry Henigson. Assistente de direção (não creditado): Peter Bolton. Direção de segunda unidade (não creditado): Sergio Leone. Segundo assistente de direção (não creditado): Anthony Mann. Construção do set (não creditada): Donald P. Desmond. Storyboard (não creditado): Mentor Huebner. Planejamento do set (não creditado): Italo Tomassi. Assistente de som (não creditado): Piero Cavazzuti. Som (não creditado): Robert B. Lee. Arte matte (não creditada): Peter Ellenshaw. Foco da terceira unidade (não creditado): Dennis Bartlett. Eletricidade (não creditada): Fenton Hamilton. Assistente de câmera (não creditada): Arthur Lemming. Apoio à câmera (não creditado): Leo Monlon. Operadores de câmeras (não creditados): George Pink, John Schmitz. Joalheria (não creditada): Joan Joseff. Orquestração (não creditada): Eugene Zador. Transportes (não creditado): Eddie Frewin. Consultoria histórica (não creditada): Hugh Gray. Publicidade (não creditada): Howard Dietz, Morgan Hudgins. Interação da produção com a MGM britânica (não creditada): Ben Goetz. Execução musical (não creditada): The Philharmonia Orchestra of London. Sistema de mixagem de som: Western Electric Sound System. Tempo de exibição: 171 minutos.


(José Eugenio Guimarães, 1975)

2 comentários:

  1. Caro Eugenio,

    É seguir lendo e aprendendo, como nunca me nego a dizer.

    Não conhecia as participações do Mann, do Leone, da Liz e de muitos outros que agiram em prol da criação desta boa pelicula.
    Também desconhecia que os estudios de Roma/Cinecitá, fora o palco de sua criação, como o foi de Ben Hur e de outros épicos norte americanos.

    Verdade pura que a Kerr não tem chances alguma na pelicula do Le Roy. Mas, convenhamos: o Taylor, que não é um ator tão desqualificado assim, deixa sim, e muito, a desejar.

    Quase que com certeza a coisa não se deva exclusivamente a ele, pois os roteiristas tinham muito a criar, a desenrolar, a por em cena muitos e muitos outros personagens.
    O papel e as falas perfeitas de Genn foram retiradas do fundo de algum minadouro. O que fizeram Nero citar com sua loucura paralela, trata-se de belos achados.
    E o Taylor, por ser o principal nome da fita, tinha que se virar e até permanecer muitos e muitos momentos sem falas ou com falas sem poder. Dificil não fazer esta afirmação.

    Porém, salvo alguns exageros, como o retorno de Pedro a Roma depois daquela muito mal feita aparição do Superior, o filme é um verdadeiro espetáculo de beleza, cores e emoções.

    Quando Marcus Vinícius segura aquele pequenino durante a fuga dos romanos do incendio, percebia-se ali já a quebra de sua transformação para o lado cristão. E o restante das cenas que se seguem àqueles momentos iniciais, são algo de não se poder esquecer, pois o incendio de Roma é tão perfeito para a época, que mais se assemelha a uma realidade.

    Não há duvidas também que o Genn e o Ustinov mericiam, com toda justiça, o premio de coadjuvante.
    Porém, a injustiça com Um Lugar ao Sol foi além dos limites. Ninguém naquele ano tinha cartas na manga ou frutos no pomar suficientes para vencer o filme de Stevens. Possivelmente a maior das injustiças ocorridas naquela premiação.

    Quanto aos efeitos também me surpreendi. O incendio de Roma é de estarrecer, além de ser uma cena longa e sempre no mesmo pique de qualidade.

    Gosto do Le Roy e até acho que mesmo sem a mão dada por Mann ele terminaria por fazer uma boa pelicula. Porém, quatro mãos funcionam sempre melhor que duas, daí sair a beleza que saiu Quo Vadis.

    jurandir_lima@bol.com.br

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    1. Olá, Jurandir!

      Bom dia!

      Sempre fiquei incomodado com algumas coisas em QUO VADIS, apesar de apreciar muito este filme. O excesso de estampas em cores muito berrantes, a interpretação de Robert Taylor e o papel um tanto quanto subalterno a que Deborah Kerr foi relegado. Quando ao mais, só posso louvar. Adoro aqueles intrigas palacianas e as interpretações de Genn e Ustinov. O primeiro com suas tiradas, agindo como consciência daquela época conturbada, o outro se perdendo mais e mais na insanidade e carregando nas tintas com os caprichos que dão sentido a qualquer déspota. Grande desempenho do Ustinov.

      O incêndio ainda impressiona. Não é um simples fogo, apreciado ao longe, que o espectador experimenta de forma impessoal. Não! É quente mesmo, queima, é visceral. A segunda unidade do Anthony Mann, os coordenadores de multidões e os técnicos de efeitos especiais estavam afinados em sintonia. Quando garoto, era facilmente impressionável e acho que ainda sou. Sempre que eu via QUO VADIS, tinha dificuldades para pegar no sono por causa do temor que sentia com o incêndio de Roma. É um filme que sempre me agrada rever.

      Abraços.

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