A guerra conjuga,
essencialmente, os verbos matar, destruir, tomar, invadir, atacar, trucidar,
conquistar e vencer. Então, quais os soldados mais indicados para os combates?
Os pacatos cidadãos comuns, transformados em máquinas de aniquilação por força
de exaustivos treinamentos e doutrinações? Convertidos, muitas vezes, em
desajustados sociais em tempos de paz? Ou os mais recomendados seriam
indivíduos já tarimbados em assassinatos ou em qualquer tipo de conduta
antissocial? Se estes morrerem no front,
será, para a visão cínica de Robert Aldrich, o menor dos males. Se
sobreviverem, que sejam condecorados, transformados em heróis, adaptados aos
rigores da vida militar! É de homens assim que as forças armadas necessitam,
parece dizer o diretor de Os
doze condenados (The dirty dozen, 1967), considerado leitura profana dos Evangelhos.
A apreciação a
seguir é dedicada às memórias do Cine Odeon (Viçosa/MG) e de seus funcionários,
Francisco Cunha Amorim (Chico Borró) e Custódio de Souza Parreira. Eles
adoravam Os doze condenados.
Os doze condenados
The dirty dozen
Direção:
Robert Aldrich
Produção:
Kenneth Hyman
Metro-Goldwyn-Mayer, MKH, Seven Arts Productions
EUA, Inglaterra - 1967
Elenco:
Lee Marvin, John Cassavetes, Robert Ryan, Ernest
Borgnine, Charles Bronson, Jim Brown, Telly Savalas, Trini Lopez, Donald
Sutherland, Clint Walker, George Kennedy, Ralph Meeker, Al Mancini, Richard
Jaeckel, Robert Webber, Tom Busby, Ben Carruthers, Stuart Cooper, Robert
Phillips, Colin Maitland, George Roubicek, Thick Wilson, Dora Reisser, os não
creditados Harry Brooks Jr., Gerard Heinz, John G. Heller, John Hollis,
Hildegard Knef, Richard Marner, Dick Miller, Lionel Murton, Suzanne
Owens-Duval, Frederick Schiller, Richard Shaw e Vicki Woolf.
Robert Aldrich |
Filmado nos estúdios
britânicos da Metro-Goldwyn-Mayer, Os doze condenados é
o décimo-oitavo título dirigido por Robert Aldrich e seu maior sucesso
comercial. O generoso retorno nas bilheterias lhe permitiu incrementar companhia produtora própria, a Aldrich and Associates. Infelizmente, o sonho de
independência financeira e criativa, comum aos melhores realizadores do cinema
americano, durou curtos cinco anos, de 1968 a 1973. Nesse período, a carreira
de Aldrich entrou em
declínio. A mão segura e o talento o abandonaram.
Excetuando-se os bons A vingança de Ulzana (The
Ulzana’s raid, 1972) e O imperador do norte (The
emperor of the North, 1973), suas demais realizações no referido
quinquênio são, na maioria, frustrantes: A lenda de Lylah Clare (The
legend of Lylah Clare, 1968), Triângulo feminino (The
killing of Sister George, 1969), Assim nascem os heróis (Too
late the hero, 1970) e Resgate de uma vida (The
Grissom gang, 1971) decepcionaram crítica e público.
Apesar das
controvérsias, Os doze condenados é o último grande
título de uma carreira que atinge o ápice de meados dos anos 50 ao começo do
decênio seguinte. Nessa época, Aldrich inscreve seu nome no rol dos melhores
cineastas americanos. O último Bravo (Apache,
1954), Vera Cruz (Vera Cruz, 1954)
e O último pôr-do-sol (The last sunset,
1961) injetam sangue novo no western; Morte sem glória (Attack!,
1956) critica duramente o militarismo, denuncia as atrocidades da guerra e cria
uma série de problemas com o Exército Americano; A morte num beijo (Kiss
me deadly, 1955) radicaliza o pessimismo do film noir,
inserindo-o no clima de pesadelo da era atômica; A grande chantagem (The
big knife, 1955) desnuda a máquina de “moer carne” hollywoodiana.
Somam-se a essas realizações vigorosas A dez segundos do inferno (Ten
seconds to hell, 1959) e o perturbador e sinistro O que terá
acontecido a Baby Jane? (What ever happened to Baby Jane?,
1963).
A carreira de Aldrich é
abalada por inúmeros atritos com produtores. Estes, geralmente, estranham a
audácia e o caráter marcadamente pessoal do cineasta. Tentam lhe conter o
ímpeto de todas as maneiras: vetam a ousadia da imagem de duas mulheres se
beijando na abertura de Pânico em Singapura (World
for ransom, 1954); alteram acintosamente o final de O último
bravo; expurgam 30 minutos de Colinas da ira (The
angry hills, 1959), 24 de A dez segundos do inferno e
42 de O vôo do Fênix (Flight of the Phoenix,
1965); sabotam a montagem de O último pôr-do-sol; descartam
as cenas de lesbianismo de Sodoma e Gomorra (Sodom
and Gomorrah, 1962)[1], biblicamente tão
apropriadas ao tema.
Victor Franco
(Cassavetes), Robert Jefferson (Brown), Samson Posey (Walker), Joseph Wladislaw
(Bronson), Archer Maggott (Savalas) — condenados à morte por
enforcamento —, M. Vladek (Busby), Vernon Pinkley (Sutherland), S. Gilpin
(Carruthers), Sawyer (Maitland), R. Lever (Cooper), Bravos (Mancini) e Pedro
Jimenez (López) - sentenciados a penas que variam de 20 a 30 anos de
prisão - são os personagens que dão sentido ao título Os doze
condenados. Formam, na opinião abalizada do psicólogo Capitão Kinder
(Meeker), “o pior bando de psicopatas e antissociais” que já viu. Entre eles há
de tudo: assassinos, estupradores, fanáticos religiosos e ladrões. De repente,
a “dúzia suja” torna-se interessante ao mesmo Exército Americano que a banira.
A partir daí, Aldrich constrói um filme de guerra pouco habitual,
imprudentemente classificado como fascista pelos críticos mais apressados.
A "dúzia suja" em formação, pronta para ser apresentada ao Major Reisman (Lee Marvin) |
Na verdade, numa
análise mais fria, Os doze condenados permite a Aldrich
desenvolver mais uma vez — agora de forma gostosamente cínica,
debochada e na escala apropriada a um filme de aventuras soberbo e
dinâmico — os temas do antibelicismo e do antimilitarismo que lhe são
tão caros.
Corre o ano de 1944.
Faltam poucos meses para o Dia D. Os generais Denton (Webber) e Worden (Borgnine)
passam ao insubordinado Major Reisman (Marvin) ordens recentes do Estado Maior
das forças estadunidenses baseadas na Inglaterra. Deverá levar adiante missão
tão secreta quanto insólita, consubstanciada no estranho Projeto Anistia:
assumir a responsabilidade pela “dúzia suja” e treiná-la para realizar ação tão
perigosa quanto estapafúrdia na Bretanha, em Rennes, França
ocupada. A força-tarefa será lançada de paraquedas nas proximidades
do alvo a ser tomado, um castelo ao qual convergem altas patentes nazistas a eliminar. Esse duro golpe enfraquecerá o comando das tropas alemãs,
facilitará o desembarque dos aliados na Normandia e sua progressão pelo
continente europeu.
O General Worden (Ernest Borgnine) |
A missão na França envolve pequena parte do filme. Quase todo o tempo é dedicado ao treinamento da "dúzia" e ao convívio intragrupal, destacando-se os relacionamentos com Reisman. O Major trata o
grupo duramente. Por isso, o papel do líder da operação só
poderia ser de Lee Marvin. O fenótipo do ator é dos mais adequados à máscara do
militar durão, insubordinado, cínico e de métodos próprios. Ele sabe: a
promessa de remissão das penas não basta como incentivo. Por isso, concentra todos os esforços do treinamento à superação do
individualismo imperante no seio do grupo. Os doze devem aprender a pensar e
agir como equipe. Essa é a condição sine qua non ao sucesso da
complicada e perigosa tarefa, coroada com o retorno de poucos sobreviventes — como é do
conhecimento geral.
Lee Marvin como o Major Reisman |
Os doze condenados possui precisão
narrativa e dinamismo raras vezes vistos num filme de ação. Aldrich imprime
ritmo rápido e eletrizante a essa história protagonizada por homens perigosos,
violentos e truculentos. A música de Frank De Vol — colaborador habitual do diretor — e a montagem de Michael Luciano fornecem contribuições precisas à sólida
construção desse bem orquestrado empreendimento fílmico. Além das excelentes
atuações de Lee Marvin, Donald Shuterland e John Cassavetes, Os doze
condenados conta com pequenas e eficazes participações de Robert
Ryan — o empolado, arrogante e puxa-saco Coronel Everett Dasher-Breed —, Ernest
Borgnine — provavelmente, o sorriso cínico mais gostoso do cinema — e George
Kennedy — o atrapalhado Major Armbruster. Mas a melhor surpresa do elenco é ver
os limitados e ainda coadjuvantes Charles Bronson, Telly Savallas, Jim Brown e
Clint Walker rendendo bem em seus personagens. Infelizmente, desperdiçaram as
potencialidades num sem-número de estereótipos, interpretando “brucutus” de
todas as espécies.
Joseph Wladislaw (Charles Bronson) e Robert Jefferson (Jim Brown) |
Uma das mais estranhas
e interessantes análises de Os doze condenados foi
fornecida por um crítico inglês[2] que o comparou a
uma interpretação profana dos Evangelhos. Assim, Lee Marvin seria um Cristo
banhado em mundanidade; os integrantes da dúzia proscrita encontrariam equivalência nas variações truculentas de os
doze apóstolos, obrigados à imolação para ganhar a remissão de crimes e
pecados. Archer Maggott — o insano puritano que por pouco e
propositalmente não provocou o fracasso da missão —, encontraria, nessa
leitura, correspondência com o traidor Judas Iscariotes.
Posey (Walker), Franco (Cassavetes), Pinkley (Sutherland) e Jimenez (López) |
Com o filme Aldrich parece dizer: na guerra, onde as ordens se
resumem basicamente a aniquilar, destruir e matar, os melhores soldados são
como os pupilos do Major Reisman: gente habituada à morte e às mais diversificadas formas de violência; insensível a assassinatos; capaz de matar por qualquer motivo. Os doze eleitos nada têm a perder. Correm apenas o risco de trocar a certeza da forca ou
da prisão pelas possibilidades de sobrevivência e libertação após a experiência
no front. Ou morrerão de qualquer jeito, mas como heróis abnegados
e altruístas que perderam as vidas "no cumprimento do dever" — segundo a verdade oficial que será construída a respeito do grupo e da saga, ratificada na referência do epílogo aos nomes de Franco, Jefferson,
Posey, Maggott, Vladek, Pinkley, Gilpin, Sawyer, Lever, Bravos e Jimenez. E
pensar que, no início, esses homens, em seqüência memorável, foram
apresentados como criminosos irrecuperáveis, merecedores da forca ou de longos
anos de prisão.
Da ação em Rennes
sobrevivem apenas Reisman, o “condenado” Wladislaw e o correto Sargento PM
Bowers (Jaeckel) — responsável, durante toda a operação, pela guarda dos
condenados e disciplina do campo de treinamento. Entretanto, os elogios do alto
comando são transmitidos apenas ao insubordinado personagem interpretado por
Lee Marvin e ao “convicto assassino” vivido por Charles Bronson. Bowers — soldado por vocação, correto, atento aos regulamentos — termina o filme
encarando, atônito, o desprestígio. Na guerra, pergunta Aldrich: quem se
sobressai como herói? Ele mesmo responde: parece que não são os inocentes e
pacatos cidadãos comuns, transformados em soldados por força do treinamento,
muitos dos quais retornam mentalmente avariados ao término dos conflitos.
Sobressaem-se os dotados de vocação destruidora, geralmente
proscritos pelas sociedades nos tempos de paz.
O Coronel Everett Dasher Breed (Robert Ryan) e o "condenado" Joseph Wladislaw (Charles Bronson) |
A televisão garantiu
sobrevida à realização de Aldrich no seriado Dirty dozen: The series, de 1988, e em três continuações deprimentes e oportunistas: Os
doze condenados: A nova missão (The dirty dozen: The next
mission, 1985), de Andrew V. McLaglen; Os doze condenados:
Missão mortal (The dirty dozen: The deadly mission,
1987), de Lee H. Katzin; e, desse mesmo diretor, The dirty dozen:
The fatal mission (1988).
O condenado Vernon Pinkley (Donald Sutherland) e o Major Reisman (Lee Marvin) |
No cinema, Os
doze condenados teve diversas imitações, nenhuma digna de nota. A
melhor é A brigada do diabo (The devils’s brigade), de Andrew V. McLaglen, rodada em 1968 quando o filme de Aldrich ainda
estava fresco na memória do público. Mas não há como reclamar de continuações e
imitações ao se saber que Os doze condenados guarda
estreita semelhança com A invasão secreta (The
secret invasion, 1964), de Roger Corman. Neste, os aliados mobilizam
cinco criminosos civis para libertar um general italiano aprisionado pelos
nazistas na Iugoslávia. Mas o filme de Aldrich é incomparavelmente superior.
Victor Franko, interpretado por John Cassavetes |
Em 1968 Os
doze condenados foi agraciado com o Oscar de Melhores Efeitos
Sonoros para John Poyner. À estatueta dourada também concorreram Michael
Luciano pela Melhor Montagem; a MGM-SSD pelo Melhor Som; e John Cassavetes a
Melhor Ator Coadjuvante — na mesma categoria foi indicado ao Globo de Ouro. Robert Aldrich recebeu indicação ao prêmio do Directors Guild of America
como Outstanding
Directorial Achievement in Motion Pictures. Do Laurel Awards, Lee Marvin venceu pela
Melhor Performance em Filmes de Ação. O mesmo instituto conferiu a Jim Brown o
segundo lugar em Melhor Interpretação Masculina e indicou
John Cassavetes à quarta posição dessa categoria, reservando ao título a terceira colocação no recebimento da Golden Laurel para realizações de ação dramática. Os
doze condenados recebeu da revista Photoplay,
em 1967, a Medalha Dourada.
Música: Frank
De Vol. Canções: The bramble (música de
Frank De Vol, letra de Mack David), Eisam (música de
Franke De Vol, letra de Sibylle Siegfried). Direção de fotografia
(Metrocolor): Edward Scaife. Direção de arte: William
E. Hutchinson. Supervisão de efeitos especiais: Cliff
Richardson. Roteiro: Nunnally Johnson, Lukas Heller, com base
em novela de E. H. Nathanson. Efeitos sonoros: John
Poyner. Créditos: Walter Blake. Produtor associado: Raymond
Anzarut. Assistente de direção: Bert Batt. Operadores
de câmeras: Alan McCabe, Tony Spratilind, Paul Wilson (não
creditado). Montagem: Michael Luciano. Gerente de
unidade de produção: Jullian Mackintosh. Continuidade: Angela
Allen. Maquiagem: Walter Schneiderman, Ernest Glasser. Gravação
de som: Franklin Milton, Claude Hitchcock. Assistente de
direção de arte: Colin Grimes (não creditado). Planejamento do
set: Tim Hutchinson (não creditado). Assistente de
contra-regra: Mickey Lennon (não creditado). Edição de som: John
Poyner, Van Allen James (não creditado). Efeitos especiais: Alan
Barnard (não creditado), Jimmy Harris (não creditado), Peter Hutchinson (não
creditado), Garth Inns (não creditado), Roy Whybrow (não creditado), Jack
Woodbridge (não creditado). Coordenação de dublês: Gerry
Crampton. Dublês (não creditados): Ken Buckle, Gerry Crampton,
Jim Dowdall, Joe Dunne, Romo Gorrara, Loren Janes, William Offer, Terence
Plummer, Nosher Powell, Mike Reid, Terry Richards, Rocky Taylor, Paul
Weston. Grip: Jim Dawes (não creditado), Dennis Fraser (não
creditado). Claquete: David Wynn-Jones (não creditado). Músico: Bob
Bain (violão, não creditado). Direção musical: Frank De Vol
(não creditado). Motorista: Walter Lesley Tiley. Armamentos: Jim
Dowdall (não creditado). Focus puller (segunda unidade): Chris
Ashbrook. Tempo de exibição: 149 minutos.
(José Eugenio Guimarães, 1974; revisto e ampliado em
1989)
[1] Sobre as “intervenções cirúrgicas” que os filmes de
Aldrich receberam dos produtores ver: AUGUSTO, Sérgio. Virilidade e niilismo no
cinema de Aldrich. Folha
de São Paulo, São
Paulo, 8 dez.1983. Ilustrada. p. 3.
[2] Não foi possível a identificação.
José Eugenio! Que saudades! De você, do Cine Odeon e de tudo o mais...
ResponderExcluirPuxa vida! Quantos filmes assisti no Cine Odeon, sem pagar ingresso, pois você encontrava uma forma de me por para dentro. Foi no Odeon que assisti a "Os doze condenados". Na época, considerei-o um filmaço.
Lembro vivamente do Chico Borró, de você e ele operando, juntos, os projetores. Ele, de fato, gostava muito do filme e de imitar o personagem do Lee Marvin, principalmente quando estava de pileque e se punha, entre outras esquisitices, a fumar pelo nariz. Soube que morreu...
Cine Odeon, Cine Brasil, Cine Prisma, que também já foi Santa Rita, Maraja e Palace... Todos fechados. Uma pena. Há, agora, um Cine Calçadão, funcionando no shopping de mesmo nome, no lugar onde funcionavam os botecos do Ildeu e do Paulinho. Mas não é a mesma coisa daquele tempo nosso.
Abraço saudoso.
Maria Alice
Olá, Maria Alice!
ExcluirO Chico Borró faleceu no começo dos anos 90, acredito.
Nada mais em Viçosa é como na época "daquele tempo nosso", ao menos na aparência.
Um abraço.
Esse filme também me marcou. Ele nos prende do início ao fim. A personalidade dos condenados exerce um fascínio à parte. Borgnine, então... E há uma coisa lúdica, meio de brinca à vera, como quando se jogava bolinha de gude nas ruas. Alguém ainda sabe o que é bolinha de gude? O filme tem sarcasmo, tem ironia, tem verve, e tem direção. Um diretor com direção certa. Nem sempre isso acontece durante uma narrativa fílmica. Quando a gente se mexe muito na poltrona,quando começa a reclamar dela, ou dói alguma perna ou braço... então... algo não está acontecendo. Um filme tem a capacidade de nos tirar da dor... inclusive deixamos de existir enquanto o assistimos . O que é maravilhoso. Uma experiência do sublime nos arrebata por inteiro. Não faço essa experiência com os 12 condenados mas reconheço que passamos bons momentos com a gente mesmo quando estamos dentro da história. A inteligência deveria nos contaminar sempre. Aldrich sabia disso.
ResponderExcluirLuis Estrela de Matos
Olá, Luís!
ExcluirÉ também um filme realizado num tempo onde as coisas pareciam mais claras, melhor definidas, principalmente para a "nossa" visão maniqueísta de mundo. A tal da realidade sempre foi complicada, mas realizações como "Os doze condenados" deixavam de forma aparentemente clara (e confortável) onde estavam o "bem" e o "mal". Dos anos 90 para cá todas as estações se misturaram.
Abraço.
O cinema como celebração do instante. Faltava dizer isso no comentário anterior. A vida em sua modernidade plena : experimenta-se o fragmento, sua precariedade, sua finitude irrevogável. Quando nos damos conta o instante já ocorreu... Em parte o cinema é o elogio da melancolia pois uma parte de nós sonha com a totalidade, daí assistirmos filmes. O cinema é um sonho do impossível. É a parte romântica. Na outra parte o cinema é o locus do instantaneismo. Outra parte de nós, mais modernista, mais repentina e nervosa, aceita, conscientemente, a experiência do fragmento. Entendemos alguma coisa, alguma parte, e nos saciamos com essa estética da montagem. Cinema é montagem, já falavam os russos há 100 anos! O cinema está ontologicamente credenciado. Explico-me e termino em seguida: a natureza da percepção na modernidade é intrinsicamente fragmentária. Qualquer tentativa de totalidade será falsa e imprópria. O cinema prova-o há mais de um século... E agora José ?
ResponderExcluirLuis Estrela de Matos
Luís,
ExcluirPor falar em precariedade, celebração do instante, fragmento (fragmentação), instantaneismo... Luís, tudo isso pode ter outra compreensão, que nos remete ao próprio esvaziamento que a linguagem cinematográfica vem sofrendo. Assistir a um filme, hoje, está ficando deveras complicado. Estou generalizando, claro. Então, que me desculpem as exceções. Mas volta e meia somos submetidos a uma experiência de fragmentação que não é do meu agrado. Filmes excessivamente picotados, com planos se multiplicando, pipocando com uma rapidez estonteante, que sequer permitem ao espectador apreciar como a cena e a sequência foram elaboradas. São filmes que exaltam somente os aspectos nervosos da visceralidade, mas que pouco ou nada contribuem à celebração da racionalidade. O cinema de ação de hoje é vítima principal desse tipo montagem que nos submete a uma sensação estonteante de montanha russa. Mas, depois, o que resta? Nada! Somente o vazio.
Abraços.
Além da crítica mordaz aos valores típicos da sociedade americana - algo que se faz presente em outros filmes como "Vera Cruz", "O último bravo", "O Imperador do Norte" -, há neste filme uma sequência que particularmente me delicia: um Pinkley sujo, com a barba por fazer, personifica um general, recebido com todas as pompas pelo Coronel-aspirante-ao-generalato Dasher-Breed, para permitir a Reisman o acesso ao campo de treinamento, vai passando em revista e verificando a apresentação pessoal dos soldados ali formados.
ResponderExcluirOlá, Ricardo Antônio Lucas Camargo;
ExcluirTive a oportunidade de rever "Os doze condenados" não faz muito tempo. De fato, a passagem de Pinkley como general avacalha por completo os brios militaristas, tão apegados à honra e ao peso da patente. O filme permite um diálogo com outro filme excelente de Aldrich que preciso rever com urgência, pois é uma de suas denúncias mais poderosas: "Morte sem glória".
Abraços.
Ótimo filme, direção magistral de Aldrich, que para mim, é um dos maiores diretores de todos os tempos.
ResponderExcluirEstamos em pleno acordo com respeito a Robert Aldrich, Danskk!
ExcluirAbraços.