domingo, 22 de outubro de 2017

O 'RODA GRANDE' MICKEY ROONEY ACELERA NAS PISTAS

Flertando com a morte (The Big Wheel, 1949) é filme menor na carreira pouco expressiva do diretor Edward Ludwig. Recebeu nas recentes exibições na TV brasileira o nome de Roda de fogo. É a primeira produção protagonizada por Mickey Rooney após a despedida da Metro-Goldwyn-Mayer face ao relativo fracasso de Minha vida é uma canção (Words and music, 1948), de Norman Taurog, para o qual interpretou o compositor Lorenz Hart. Na companhia do leão o ator ganhou notoriedade como o herói juvenil Andy Hardy em cerca de 15 títulos, de 1937 a 1946. Em Flertando com a morte, faz o destemido e arrogante ás do volante Billy Coy. Vive à sombra da imagem do pai, automobilista aguerrido e irresponsável tragicamente falecido em acidente. Trata-se de modesta e esquecida produção independente para a United Artists. Apresenta narrativa compacta, conduzida com rapidez, que pouco se aprofunda na psicologia dos personagens. Tem a vantagem de revelar com alguma complexidade a atmosfera ultracompetiviva das escuderias, oficinas e pistas. A trama aborda momento relevante da história do automobilismo: um período ainda marcado pelo amadorismo e no qual os mecânicos, também projetistas de veículos e motores, começaram a perder a primazia para os pilotos. Hattie MacDaniel encerra a carreira no cinema em rápida aparição como a governanta Minnie. O texto a seguir é de 1996.







Flertando com a morte
The Big Wheel

Direção:
Edward Ludwig
Produção:
Samuel H. Stiefel, Mort Briskin
United Artists, Popkin-Stiefel-Dempsey Productions, Samuel H. Stiefel Productions
EUA ― 1949
Elenco:
Mickey Rooney, Thomas Mitchell, Mary Hatcher, Michael O’Shea, Spring Byington, Hattie McDaniel, Steve Brodie, Lina Romai, Allen Jenkins, Richard "Dick" Lane, Monte Blue, Eddie Kane, Charles Irwin, Kippee Valez, Denver Pyle, George Fisher, Jackson "Jack Colin" King e os não creditados Mike Donovan, Franklyn Farnum, Joe Gray, Kenner G. Kemp, Donald Kerr, George Lynch, Harold Miller, Jack Perry, Jeffrey Sayre, Brick Sullivan.



O diretor Edward Ludwig e a atriz Deanna Durbin -  intérprete de Alice Fullerton - nos bastidores de Idade perigosa (The certain age, 1938)



Realização menor na carreira de baixa visibilidade de Edward Ludwig, especializado no cinema de aventuras como o interessante O rastro da Bruxa Vermelha (Wake of the Red Witch, 1948), com John Wayne no papel do Capitão Ralls em busca ao tesouro oculto em galeão naufragado.


Flertando com a morte aborda período relevante da história do automobilismo: o fim dos tempos heroicos e amadores das competições, quando os pilotos passaram a ganhar proeminência sobre os mecânicos ― também projetistas de veículos e motores.


O protagonista é o estridente Billy Coy (Rooney), filho de um campeão. Por precaução materna, cresceu afastado das pistas desde a trágica morte do pai. Mesmo assim, conseguiu trabalho de mecânico no centro automotivo de Arthur “Red” Stanley (Mitchell), amigo da família e futuro marido de Mary Coy (Byington), mãe de Billy. Em meio às ferramentas e aos macacões manchados de graxa e óleo, o jovem convive com a garota Lou Riley (Hatcher ― imagem pálida de Judy Garland, notabilizada como parceira de Rooney em várias produções voltadas ao público juvenil rodadas de meados da década de 30 ao primeiro terço dos anos 40). Apaixonam-se, apesar das dificuldades iniciais. Travestida de mecânico, por muito pouco Lou não passa por rapaz. Tanto que seu primeiro encontro com Billy resulta em mal-entendido: ela, bem trajada como moça refinada, procura-o interessada em namoro. Ele, por sua vez, prefere tratar de motores, velas, cilindros e carburadores.


Spring Byington como Mary Coe

Mary Coy (Spring Byington) e o filho Billy Coy (Mickey Rooney)

 Mary Coy (Spring Byington) e Arthur "Red" Stanley (Thomas Mitchell)

Arthur "Red" Stanley (Thomas Mitchell), Mary Coy (Spring Byington), Billy Coy (Mickey Rooney) e Lou Riley (Mary Hatcher)


Apesar da relutância da mãe, Billy não demora a trocar a oficina pelo volante nas competições. Arrojado e arrogante, logo recebe o apropriado apelido de "The Big Wheel" (Roda Grande). Adota o pai por modelo, sem saber que mira um espelho quebrado. Inexperiente e perigosamente envolvido por excessiva autoconfiança, arrisca-se em bebedeiras e arruaças. O comportamento irresponsável provoca a morte acidental do companheiro de equipe Happy Lee (Brodie). Após a tragédia, passa à condição de pária. Diante da rejeição geral, só resta a alternativa de buscar outras praças para tentar a retomada profissional. Regenerado, é logo notado após fulminante reinício de carreira. Conforme o esperado, é levado pelas circunstâncias a reatar convívio com a equipe que o rejeitou. Ao fim, destaca-se nas 500 Milhas de Indianápolis.


Billy Coy (Mickey Rooney)

A partir da direita: Billy Coy (Mickey Rooney), Arthur "Red" Stanley (Thomas Mitchell) e Lou Riley (Mary Hatcher)


É o último filme com a participação da negra Hattie MacDaniel, premiada com o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel de Mammy em ...E o vento levou (Gone with the wind, 1939), de Victor Fleming. Ela aparece rapidamente como Minnie, governanta de Lou.


Billy Coy (Mickey Rooney) e Lou Riley (Mary Hatcher)

Minnie (Hattie McDaniel) e Lou Riley (Mary Hatcher)


Dentre os personagens rasos, há lugar para um mal explicado e desajeitado carbono de Carmem Miranda: Dolores Raymond, vivida por Lina Romay.





Roteiro: Robert Smith. Música: Gerard Carbonara, Nat W. Finston, John Leipold. Direção musical: Nat W. Finston. Canção: Que bueno (Kermit Goell ‑ música; Fred Spielman ‑ letra). Orquestração: Joseph Nussbaum, Paul Marquardt. Assistente de produção: Joseph H. Nadel. Direção de fotografia (preto e branco): Ernest Laszlo. Desenho de produção: Rudi Field. Montagem: Walter Thompson. Decoração: Edward Ray Robinson. Assistente de direção: Maurie M. Suess. Costumes: Maria P. Donovan. Maquiagem: Mel Berns. Gravação de som: Ben Winkler, Mac Dalgleish. Produção executiva: Harry M. Popkin. Produção associada: Joseph H. Nadel. Operador de câmera: George T. Clemens (não creditado). Assistente de câmera: Tex Hayes (não creditado). Eletricista-chefe: James Potevin (não creditado). Fotografia de cena:Frank Tanner (não creditado). Apresentação: Jack Dempsey, Harry M. Popkin, Samuel H. Stiefel. Coreografia: Maria P. Donovan (não creditado). Continuidade: Arnold Laven (não creditado). Consultoria técnica: Wilbur Shaw (não creditado), Don Sutton (não creditado). Agradecimentos a: Wilbur Shaw. Assistência à produção: American Automobile Association, Indianapolis Motor Speedway, Racing Drivers of America, United Racing Association. Sistema de mixagem de som: RCA Sound System. Tempo de exibição: 92 minutos.


(José Eugenio Guimarães, 1996)

6 comentários:

  1. Hola Eugenio, gracias por la presentación de tan buen análisis cinematográfico con el que no dejo de gozar y aprender con tu sabiduría cinematográfica.
    En esta ocasión, la película no me llama la atención pues cine y deporte nunca me han llamado la atención a excepción de la película titulada en España 'Evasión o Victoria' o todas las relacionadas con el boxeo que si resultan interesantes en el mundo del cine. Aunque calificar el boxeo como un deporte me genera mis dudas.
    Si me gustaría destacar el carisma del gran Mickey Rooney.
    Un gran abrazo profesor.

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    1. Muchas gracias por la generosidad con que se expresa en su comentario, Miguel. Por mi parte, creo que la apreciación que he escrito para esta película podría ser mucho mejor. Pero en la época en que la produje, estaba con poco tiempo pues la atención estaba volcada a un montón de otros quehaceres. Hoy, ciertamente, esta película debe sonar un tanto anacrónica y debe quedar sólo como documento o preciosidad histórica.

      Abrazos y saludos.

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  2. Grande ator o pequeno(de altura) ROONEY.
    Excelente publicação deste filme não conhecido pela mídia.
    Abraço

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    1. Hoje, acredito, tanto o pequeno grande Rooney e o filme estão completamente esquecidos, Marina. Infelizmente.

      Abraços e beijos.

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  3. I have seen many of Mickey Rooney's films in the "Andy Hardy" series. That has left me with a strong notion of who Mickey Rooney is in any film. I cannot imagine him as a driver in the Indianapolis 500. I cannot imagine the Indianapolis 500 race cars looking like they did in 1949. I checked on Google Images to be sure that Rooney was in an Indy car.

    The Andy Hardy series was fun. His acting seemed strained but genuine when he found himself in some sort of trouble.

    I have not let him grow any older than he was as Judge Hardy's son.

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    1. As it is, Paula Koval. The first film starred by Mickey Rooney after the period in the MGM was on career of cars, in 1949. have few memories of Mickey Rooney like Andy Hardy. Thanks by the comment.

      Kisses.

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