Ângela (1951), de Abílio Pereira de Almeida e Tom
Payne, é o terceiro longa metragem da Companhia Cinematográfica Vera Cruz.
Ainda na fase de pré-produção a crise se abateu sobre a empresa e provocou o
rompimento de Alberto Cavalcanti com o proprietário e fundador Franco
Zampari. O roteiro de Anibal Machado, Nery Dutra e Calvalcanti é
baseado em conto de T. A. Hoffmann. Encena um drama sobre o vício do jogo a
partir das reminiscências de Dinarte (Alberto Ruschel), casado com a infeliz
personagem-título (Eliane Lage). A narrativa, ordenada segundo o continuum apogeu-queda-redenção, é
vítima do moralismo exacerbado e dos diálogos altissonantes - francamente
artificiais. A apreciação a seguir é de 1993.
Ângela
Direção:
Abílio Pereira de Almeida, Tom
Payne
Produção:
Abílio Pereira de Almeida, Tom
Payne, Pico Piccinini
Companhia Cinematográfica Vera
Cruz
Brasil — 1951
Elenco:
Eliane Lage, Alberto Ruschel,
Mário Sérgio, Ruth de Souza, Abílio Pereira de Almeida, Inezita Barroso,
Luciano Salce, Maria Clara Machado, Milton Ribeiro, Margot Pollice, Renato
Consorte, Nair Lopes, Ester Penteado, Luiz Calderaro, Xandó Batista, Nelson
Camargo, A. C. Carvalho, Albino Cordeiro, Margot Bittencourt, Roberto Assumpção,
Adolfo Barroso, Edson Borges, Lúcio Braun, Sérgio Cardoso, André Chaim, Angelo
Dreos, Kleber Menezes Dória, Maria Sá Earp, Antunes Filho, Jerry Fletcher,
Noris Gastal, Sérgio Hingst, Milton Luiz, Nydia Lícia, Jordano Martinelli,
Agostinho Martins Pereira, Pio Piccinini, Tony Rabatoni, José Renato, Carlos
Thiré, Oswaldo Vidigal, Gerda Edith Ziemens.
Os diretores Abílio Pereira de Almeida e Tom Payne |
Ângela é melodrama carregado.
Teve produção iniciada por Alberto Cavalcanti. A direção seria de Martins
Gonçalves. Porém, a precoce crise que atingiu em cheio o modelo de cinema da
Vera Cruz provocou mudanças radicais. Cavalcanti abandonou o cargo de Produtor
Geral da companhia após desentendimentos com o fundador e proprietário Franco
Zampari. Também deixou o filme. Sua saída, em consequência, levou ao afastamento
do diretor. Foram substituídos pela dupla Abílio Pereira de Almeida e Tom
Payne.
Quase totalmente filmado
em Pelotas, no Rio Grande do Sul, mas também com locações no Rio de Janeiro e
nos estúdios da Vera Cruz em São Bernardo do Campo, São Paulo, Ângela
conta a triste sina de Dinarte (Ruschel), jogador compulsivo. A vida ganha em cassinos
e casas de apostas também repercute negativamente naqueles que convivem ao seu
lado. Ângela (Lage) logo tomará ciência do drama. Apesar de tudo, casam-se. Da
união nasce uma filha.
Dinarte (Alberto Ruschel), o jogador |
Ângela (Eliane Lage) e Dinarte (Alberto Ruschel) |
Ângela (Eliane Lage), Dinarte (Alberto Ruschel) e a filha do casal |
É tarde da noite quando
o filme começa. O Coronel Gervásio (Pereira de Almeida) — membro da decadente
aristocracia rural sulista, também prisioneiro da jogatina — perdeu a casa para
Dinarte. O impulsivo vitorioso deseja tomar posse do imóvel o quanto antes.
Juntos chegam ao local. A hora se revela imprópria, pois a esposa do Coronel
acabara de falecer. Nesse clima de pesar, o novo proprietário conhece Ângela,
filha adotiva do derrotado. Apaixona-se de imediato. Por isso permite que a
família continue a residir no lugar.
Acima e abaixo: a infeliz Ângela, interpretada por Eliane Lage |
A história é desenvolvida
em flashback por Dinarte. No centro
de tudo está Ângela. Ela troca o amor estável com o militar Jango (Mário
Sérgio) pela vida inconstante com o jogador. O filme conta a sua luta para livrar
o marido do vício, tendo em vista a ruína que se abateu sobre o Coronel. Apogeu,
queda e redenção ordenam a narrativa. O moralismo sem peias domina do início ao
fim. Mas se fosse apenas isso tudo ainda estaria bem para Abílio Pereira de
Almeida e Tom Payne. O problema básico de Ângela são os diálogos,
excessivamente empolados. Soam falsos. A altissonância carregada e artificial
dos atores põe tudo a perder. É um filme velho, não devido à idade, mas à
estética de sua composição — francamente calcada na linguagem das radionovelas.
Resiste como curiosidade e assim deve ser visto, inclusive para se evitar a pior
forma de fazer cinema.
O casal Dinarte (Alberto Ruschel) e Ângela (Eliane Lage) |
Vanjú (Inezita Barroso) e Dinarte (Alberto Ruschel) |
Vanjú (Inezita Barroso) e Divina (Ruth de Souza) |
Apesar de suas
fragilidades Ângela rendeu premiações para Luciano Salce e Ruth de Souza. Foram
considerados, como coadjuvantes, Melhor Ator e Melhor Atriz. Receberam os
prêmios Governador do Estado de São Paulo — também conquistado por Pierino
Massenzi pela Melhor Cenografia — e da Associação Brasileira de Cronistas
Cinematográficos.
Direção de fotografia (preto e
branco): H. C. Fowle. Roteiro: Alberto Cavalcanti, Nery
Dutra, Anibal Machado, baseado em Sorte no jogo, conto de Ernst Theodor Amadeus Wilhelm Hoffmann. Administrador de produção:
Pio Piccinini. Assistente de produção:
Geraldo Faria Rodrigues. Cenografia:
Pierino Massenzi. Assistente de
cenografia: Luiz Sacilotto. Chefe
eletricista: Rubem Bandeira. Assistente
de direção: Agostinho Martins Pereira. Chefe
de edição: Oswaldo Hafenrichter. Montagem:
Edith Hafenrichter, Oswald Hafenrichter, Alvaro de Lima Novais, Ladislau
Babuska. Maquiagem: H. E. Jerry Fletcher.
Som: Erik Rasmussen. Assistentes
de som: Michael Stoll, Ove Schirm,
Boris Silitshau. Música e direção
musical: Francisco Mignone, regendo a Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal
de São Paulo. Continuidade:
Bernadete Ruch. Assistente de maquiagem:
Valerie Fletcher. Penteados: Gerda
Edith Ziemens. Assistentes de câmera:
Carlo Guglielmi, Jaime Pacini. Operador
de câmera: Robert Huke. Assistente
de fotografia: Carlos Guglielmi. Canções:
Quem
é, de Marcelo Tupinambá; Enquanto houver, de Evaldo Ruy,
interpretação de Marisa Sá Earp. Tempo
de exibição: 106 minutos.
(José Eugenio Guimarães, 1993)
Ah! amigo Eugenio!!!
ResponderExcluirNão imaginas o quanto amaria rever todos estes filmes, que assisti com mentalidade ainda adolescente.
E, pelo que leio, Angela me parece ser uma fita adulta, e adulta até demais para os padrões do nosso cinema. Claro que nenhum problema contra. Não para mim. Mas não era somente eu quem via os filmes da séria demais Vera Cruz.
Mas, de qualquer modo eu estou perdido! Não posso dizer nada da fita, pois somente me recordo do rosto angelical da Lage e rasteiramente da presença de Ruschel, que havia visto e revisto em O Cangaceiro, mesmo este feito após Angela.
O cinema nacional sob a régia da Vera Cruz tentou nos dar filmes que o povo brasileiro não estava habituado a receber.
Viamos muitas comédias com Oscarito, Ankito e Grande Otelo, com Cill Farney, John Herbert, a Renata Fronzi, Adelaide Chiozzo e a Eliana. Mas não tinhamos capacidade para absorver filmes como Cara de Fogo, A Garganta do Diabo, Apassionata e Angela.
Andávamos mal acostumados a estes tipos de fita e o que nos alegrava mesmo a alma eram as deliciosas comédias de Watson Macedo, Eurides Ramos, Vitor Lima e Carlos Manga. Nada mais que isso nos preparara para os dramas fortes que a Vera Cruz nos iniciava a dar.
Se deram bem com O Cangaceiro por ser uma fita de Aventura. Em sua perseguição surgiram logo depois aquela onda toda de fitas de Cangaço, mas todas sem o Elã do filme do Lima Barreto, embora até algumas produções se salvasse, como Quelé de Pajeú, Dioguinho, dentre mais umas poucas.
Mas eu adoraria ver, ou rever, Angela e reapreciar a lindeza angelical e quase colonial da Bela Eliane Lage, com aquele rosto anguloso, aquele corpão longilíneio e aquela face doce e acolhedora.
Infelizmente vamos ficar somente no desejo.
jurandir_lima@bol.com.br
Jurandir;
ExcluirCompreendo, Jurandir. Não nego que também gostaria de rever, mais uma vez, todos esses filmes. Além do interesse cinéfilo. Posso por os maiores reparos em todos eles, mas, afetivamente, os tenho em alta conta. Fazem parte de um período de busca e tateios, de experimentações. Mas, veja meu caro. Você pode rever quase todos esses filmes pelo Youtube. Muitos títulos da Vera Cruz e da Atlântida estão aí disponíveis. Disponibilizo aqui, para o amigo, o link para "Ângela": https://www.youtube.com/watch?v=DBlN6CXmzhY.
Grande abraço.