Atualmente, no Brasil, Mrs. Parker and the Vicious
Circle (1994) é conhecido como O Círculo do Vício. Mas recebeu,
quando do lançamento, o nome de O Círculo Vicioso: a vida de Dorothy Parker.
A intelectual do título, virulenta contestadora do American way of life, foi vibrantemente interpretada por Jennifer
Jason-Leigh com o apoio de poderoso grupo de atores. Infelizmente, a direção de
Alan Rudolph — um protegido de Robert Altman — não faz justiça à escritora,
jornalista, poeta e roteirista de cinema. A narrativa, fragmentada e arrastada,
concentra o foco principalmente na conturbada vida privada de Mrs. Parker.
Concede especial atenção aos anos 20, quando ela e seu séquito se reuniam à
hora do almoço — para destilar críticas e deitar falação sobre assuntos
diversos — em torno do Vicious Circle,
espécie de Távola Redonda instalada no restaurante do Hotel Algonquin em New York.
O Círculo Vicioso: a
vida de Dorothy Parker
Mrs.
Parker and the Vicious Circle
Direção:
Alan Rudolph
Produção:
Robert Altman
Odissey
Enterntainment Ltd., Fine Line Features, Miramax Films
EUA — 1994
Elenco:
Jennifer
Jason-Leigh, Matthew Broderick, Campbell Scott, Peter Gallagher, Jennifer
Beals, Andrew McCarthy, Wallace Shawn, Martha Plimpton, Sam Robards, Lili
Taylor, James de Gros, Gwyneth Pattrow, David Thornton, Heather Graham, Tom
McGowan, James Adams, Stephen Baldwyn, Gary Basaraba, Chip Zen, Rebecca Miller,
Jake Johannssen, Amelia Campbell, David Gow, Leni Parker, J. M. Henry, Stanley
Tucci, Randy Lowell, Mina Badie, Keith Carradine, Gabriel Gascon, Bruce
Dinsmore, Matt Holland, Joe De Paul, Arthur Holden, Howard Rosenstein, Eleonor
Noble, John Fayreau, Jesse Evans, Peter Benchley, Malcolm Gets, Barbara Jones,
Walter Massey, Gisele Rousseau, Ellen Cohen, Philip Patton, Mark Camacho, Gary
Lawrence, Harry Hill, Jim Bradford, Roch Lafortune, Vanya Rose, Nick
Cassavetes, Matt Malloy.
O diretor Alan Rudolph |
Dentre as
intelectuais que assombraram a mentalidade puritana dos Estados Unidos no século 20, destaca-se Dorothy Parker
(1893-1967), escritora, jornalista, roteirista de produções hollywoodianas e,
principalmente, contestadora da mediocridade do American way of life. A vida desta mulher deve ter sido das mais
agitadas. Mas não é nisso que aposta O Círculo Vicioso: a vida de Dorothy Parker.
A produção acompanha a trajetória da personagem dos anos 20 (concentrando-se
nesta década) aos 60, quando ainda estava em atividade, lúcida e crítica,
destilando veneno contra a linha de frente da “geração beat”.
Ao roteiro de Alan Rudolph e Randy Sue Coburn não interessa a personalidade pública de Dorothy Parker. A dupla optou pelo enfoque privado. Descreve o lado pessoal da escritora. O que se vê, ao longo de arrastados 158 minutos, é uma rotina das mais enervantes, um cotidiano regado a álcool, cigarros, barbitúricos, depressões, desilusões amorosas e tentativas de suicídio. Como bebia e fumava essa mulher! Praticamente é só isso que faz durante todo o filme. Exagerando um pouco, copos e líquidos ingeridos podem ser classificados como verdadeiros atores coadjuvantes.
Acima e abaixo: Jennifer Jason-Leigh no papel de Dorothy Parker |
Ao roteiro de Alan Rudolph e Randy Sue Coburn não interessa a personalidade pública de Dorothy Parker. A dupla optou pelo enfoque privado. Descreve o lado pessoal da escritora. O que se vê, ao longo de arrastados 158 minutos, é uma rotina das mais enervantes, um cotidiano regado a álcool, cigarros, barbitúricos, depressões, desilusões amorosas e tentativas de suicídio. Como bebia e fumava essa mulher! Praticamente é só isso que faz durante todo o filme. Exagerando um pouco, copos e líquidos ingeridos podem ser classificados como verdadeiros atores coadjuvantes.
Dorothy Parker (Jennifer Jason-Leigh) com o marido Eddie Parker (Andrew McCarthy) |
Campbell Scott no papel do humorista e editor Robert Benchley e Jennifer Jason-Leigh como Dorothy Parker |
Dorothy Parker (Jennifer Jason-Leigh) |
Quanto aos
envolvimentos amorosos de Mrs. Parker, o filme flagra-a casada com Eddie
(McCarthy), vivendo uma daquelas uniões que a passagem do tempo transforma em lamentável
equívoco. O marido nada tinha a ver com a esposa. Nem intelectual era. Estava
sempre à margem dos debates e encontros para o lustro da mente, tão vitais a
Dorothy. Separam-se após uma briga que culminou na agressão física da
escritora. Ela, a seguir, envolve-se desesperadamente com o jornalista e
escritor Charles MacArthur (Broderick) — roteirista dos melhores da Hollywood
dos anos de ouro, autor de guiões dirigidos por cineastas fundamentais como
Billy Wilder, Howard Hawks e Lewis Millestone. Dorothy tenta o suicídio quando
descobre as aventuras extraconjugais de MacArthur. É salva por Robert Benchley
(Scott), humorista, editor da Vanity Fair, seu grande amigo e
confidente, uma espécie de alma gêmea. Mantiveram a amizade por mais de 20 anos
sem desviar para nenhuma aventura amorosa. Preferiram alimentar uma paixão
platônica. Dorothy também foi casada com o diretor de cinema Alan Campbell
(Gallagher), no tempo em que tentou sobreviver como roteirista em Hollywood. Essa
época corresponde às passagens em preto-e-branco que vez ou outra interferem na
narrativa, contribuindo ainda mais para fragmentá-la.
Dorothy Parker (Jennifer Jason-Leigh) |
Dorothy Parker (Jennifer Jason-Leigh) e o roteirista Charles MacCarthur (Matthew Broderick) |
No balanço geral,
a Dorothy Parker do filme teve uma vida repleta de frustrações; nunca
chegou a lugar algum; sequer constituiu um movimento progressivo. O Círculo Vicioso
do título quer dizer principalmente isso. Não é somente a enorme mesa redonda
que a gerência do restaurante do Hotel Algonquin, de Nova York, reservou para
receber a escritora e seus numerosos amigos — intelectuais e artistas — que
sempre apareciam para almoçar à mesma hora, tumultuando o ambiente. Para acabar
com a confusão, o jeito foi concentrá-los num só lugar, numa Távola Redonda sem
Rei Arthur. Aí, cabeças e línguas igualmente brilhantes e ferinas se reuniam
para ironizar o que fosse, inclusive eles próprios, fazer poesia, lapidar
máximas de vida, ridicularizar a mediocridade estadunidense, beber e fumar, fumar e
beber.
Jennifer
Jason-Leigh arrasa na interpretação etérea da personagem, um desempenho que a
indicou ao Globo de Ouro de Melhor Atriz. Sem dúvida, é o que há de melhor no
filme. Mas é muito pouco para salvá-lo.
Direção de fotografia (cores): Jan Kiesser. Assistente
de direção e co-produção: Allan Nicholls. Música: Mark Isham. Costumes:
John Hay, Renée April. Desenho de
produção: François Seguin. Montagem:
Suzy Elminger. Produção executiva:
Scott Bushnell, Ira Deutchman. Roteiro:
Alan Rudolph, Randy Sue Coburn. Gerente
de unidade de produção: Irene Litinsky. Gerente de locações: Michele St. Arnold. Decoração: Francis Calder. Direção
de arte: James Fox. Supervisão de
som: John Alberts. Coordenador de
som: Michelle Wasserman. Arranjos e
orquestação: Ken Kugler. Gravação e
mixagem: Steven Krause. Tempo de
exibição: 158 minutos.
(José Eugenio Guimarães, 1997)
Gostei deste filme ,quando vi.
ResponderExcluirMas depois deste comentário vou ver novamente com mais atenção nestes detalhes.