Juramento de vingança (Major Dundee) é o
terceiro filme de Sam Peckinpah. Foi realizado dois anos após Pistoleiros
do entardecer (Ride the high country, 1962), olhar
nostálgico, melancólico e compassado sobre o ocaso do cowboy e o fechamento da
fronteira. Agora, o ponto de vista é outro, marcadamente brutal e
desesperançado. Juramento de vingança serve de prelúdio a Meu ódio será sua herança
(The
wild bunch, 1969), western-testamento do diretor. Infelizmente, por
imposição dos produtores, terminou criminosamente desfigurado na montagem.
Mesmo assim, é uma realização vigorosa, fascinante e hipnótica. Esta apreciação de 1975 foi revista e ampliada em 2010.
Juramento de
vingança
Major Dundee
Direção:
Sam Peckinpah
Produção:
Jerry Bressler
Columbia Pictures Corporation,
Jerry Bresler Productions
EUA — 1964
Elenco:
Charlton Heston, Richard Harris,
James Coburn, Jim Hutton, Senta Berger, Slim Pickens, Michael Anderson Jr.,
James Colwin, Mario Adorf, Brock Peters, L. Q. Jones, Emilio Fernandez, Begonia
Palacios, Michael Pate, Ben Johnson, Warren Oates, R. G. Armstrong, Karl
Swenson, John Davis Chandler, Dub Taylor, Albert Carrier, José Carlos Ruiz,
Aurora Clavell, Begonia Palacios, Enrique Lucero, Francisco Reyguera, os não
creditados Whitey Hughes, Cliff Lyon, Jody McCrea, Marvin Miller, Dennis
Patrick e Rockne Tarkington.
Em 1962 Sam
Peckinpah realizou Pistoleiros do entardecer (Ride the high country). É uma das
mais belas e nostálgicas evocações cinematográficas sobre o fim de uma era
conformada aos feitos históricos e míticos dos cowboys que abriram a fronteira
Oeste dos Estados Unidos às suas iniciativas expansionistas e colonizadoras. O
filme testemunha o ostracismo a que foram relegados os exploradores pioneiros, após
desbravar e conquistar, de modo nada pacífico, o território povoado por índios
e bisões, integrando-o à marcha ocidental de civilização e progresso. Steve
Judd (Joel McCrea) e Gil Westrum (Randolph Scott), sobreviventes dessas épocas
heróicas, estão velhos e esquecidos. Assistem, entre a perplexidade e a
resignação, ao encerramento de seu mundo. Resistem como incômodos anacronismos a
perturbar o nascimento de um tempo novo, que desponta trocando o cavalo pelo
automóvel; aposentando cinturões, revólveres, alforjes e chapéus,
substituindo-os por livros, pastas, leis, ternos e cartolas.
Judd e Westrum
são surpreendidos num ponto de inflexão da história, momento em que o velho e o
novo, em nítida diferenciação, estranham-se mutuamente. Conscientes da nova
situação, mas incapazes de readaptação, gostariam somente de uma honrosa saída
de cena. Peckinpah os observa com o carinho revestido de reverência, lirismo e
contemplação. Pistoleiros do entardecer nem parece um filme do diretor,
principalmente se comparado aos brados desesperados, carregados de niilismo e desesperança
dos westerns que lhe seguiram, pavorosamente intitulados, no Brasil, como Juramento
de vingança e Meu ódio será sua herança (The
wild bunch, 1969).
Após o sucesso de
Pistoleiros
do entardecer, Peckinpah permanece inexplicáveis dois anos afastado do
cinema. Juramento de vingança deveria marcar, em grande estilo, seu
retorno à realização. Sua ação se desenrola nos momentos finais da Guerra de
Secessão (1861-1865), acontecimento que altera radicalmente os rumos da epopeia
colonizadora da fronteira ocidental dos Estados Unidos. Findo o conflito, o
Oeste deixa de ser, paulatinamente, território de celebração do culto ao
individualismo pleno. O cowboy, qual cavaleiro livre e errante dos montes,
vales e planícies, senhor inconteste de seu destino, torna-se resquício de um
passado convertido em lembrança remota e romântica por força do rápido avanço
do progresso. Instalam-se a lei e ordem para assegurar as necessárias e
rotineiras tranquilidades às trilhas de interiorização do capital em busca de
oportunidades e lucratividade. Apesar de tudo, o oficial nortista Major Amos
Charles Dundee (Heston), individualista impulsivo e desgarrado, resistirá o
quanto puder. Não se curvará pacificamente aos imperativos de um tempo que lhe
exigirão conformação à estabilidade de uma existência medíocre.
Charlton Heston como o Major nortista Amos Charles Dundee |
Peckinpah, em Juramento
de vingança, percorre o mesmo tema de Pistoleiros do entardecer.
Mas a percepção lírica e nostálgica de um Oeste “fim de linha” cede lugar a um
ponto de vista marcado pela desesperança aguda. O filme assemelha-se a um brado
rouco de protesto, ecoando dolorido em meio às tonalidades acinzentadas e crescentemente
áridas de uma paisagem melancolicamente destroçada. Dundee, ao contrário dos
personagens de Randolph Scott e Joel MacCrea no filme de 1962, agirá reativamente,
à beira da irracionalidade, ao advento dos novos tempos. Tentará, louca e
desesperadamente, opor-se às imposições que ameaçam varrê-lo de cena. Travará uma guerra muito particular. Contrariando ordens, lança-se pelo
cenário fantasmagórico de um Oeste em decomposição, numa jornada revestida e
guiada pela obsessão, à semelhança do Capitão Ahab do romance Moby
Dick, de Herman Melville. Amos Charles Dundee se faz comandante de uma
tropa sem meias medidas, marcadamente heterogênea, organizada de acordo com as
conveniências das improvisações momentâneas. Sua pièce
de résistence é um exército parecido à “Armata
Brancaleone”. É composto de nortistas das forças regulares, soldados sulistas
aprisionados, negros emancipados cumprindo serviço militar, ladrões de cavalo,
pregadores religiosos e índios rastreadores.
O Major nortista Amos Charles Dundee (Charlton Heston) à frente de seu exército improvisado |
Amos Charles Dundee (Charlton Heston) |
O cineasta Samuel
Fuller comparou o cinema a “um campo de batalha”. É nisso que Juramento
de vingança se tornou para Sam Peckinpah. Por muito pouco não lhe
desgraçou irremediavelmente a carreira. Teimoso, ingênuo e irascível, agindo
como se houvesse incorporado traços de Dundee, Peckinpah tentou, de todas as
formas, imprimir cunho marcadamente pessoal à realização. Pretendeu um épico de
grandes proporções, à revelia dos interesses do produtor Jerry Bressler e da
Columbia Pictures. As portas do inferno se abriram para ele.
A produção,
tumultuada, estourou prazos e orçamentos. O gênio difícil do diretor entrou em
atrito com atores[1].
Desavenças e insubordinações alijaram-no da montagem. Terminou como persona non grata à Columbia Pictures, a
ponto de lhe ser negado acesso às dependências da empresa. Quanto a Juramento
de vingança, passou a integrar a história dos filmes vilipendiados,
arrancados das mãos dos seus diretores e massacrados na montagem. Mesmo assim,
é fascinante. As imagens e o andamento são hipnóticos, à semelhança de outras
obras mestras que ficaram à beira do caminho em suas intenções devido à
insensibilidade tacanha dos produtores. A frustrada realização de Peckinpah
goza da companhia dos injustiçados Ouro e maldição (Greed,
1923), de Eric Von Stroheim, e Soberba (The magnificent Ambersons,
1942), de Orson Welles.
Em 1970 vi Juramento
de vingança pela primeira vez. Atualmente, já perdi a conta das muitas
vezes que me dispus a revê-lo. Sempre que posso, retorno às suas imagens, como
que tentando recompor as peças de um quebra-cabeça irremediavelmente danificado.
Quando lançada, com 122 minutos de exibição, a produção parecia retalhada pelas
mãos de um açougueiro inábil. Perdia totalmente o sentido em muitos momentos. Diálogos
e ações não se completavam. Personagens sumiam e apareciam do nada. O imberbe
Major Dundee mostra-se incrivelmente barbudo de uma hora para outra. Foram
eliminadas, no todo ou em parte, sequências essenciais à compreensão da
história e ao delineamento do caráter dos personagens: a abertura, com o
massacre perpetrado pelos apaches de Sierra Charriba (Pate) à família Rostes;
Dundee, totalmente bêbado, silenciosamente ridicularizado pela tropa ao tentar
movimentar uma mula empacada; diálogos esclarecedores entre o Major e seu
oponente, o capitão sulista Benjamim Tyreen (Harris); a participação do personagem do desertor O. W. Haddley (Oates) — praticamente eliminado da história; a admoestação que Dundee recebe de Samuel Potts (Coburn) após a descoberta do
corpo torturado de Riago (Ruiz); a perplexidade do corneteiro Tim Ryan
(Anderson Jr.) ao perceber o excessivo volume de sangue na água retirada do
rio; as mortes, ao fim do filme, no leito do Rio Bravo, durante a batalha das forças
de Dundee com os soldados franceses que ocupavam o México por ordem de Napoleão
III etc.[2]
Entretanto, apesar das incoerências e lapsos narrativos, o poder de atração das
imagens é imenso, não importando se o filme é visto na versão retalhada de 1965
ou na parcial restauração de 135 minutos, de 2005, comemorativa dos 40 anos da
produção, erroneamente classificada como director’s
cut. Denominação mais imprópria não poderia haver, pois muito pouco lhe foi
acrescentado para corrigir as falhas estruturais. Sabe-se que Peckinpah rodou
um filme com mais de quatro horas e pretendia uma exibição de 165 minutos antes
de concordar com a edição final de 152, jamais distribuída. Provavelmente, a
maior parte do material não aproveitado nas metragens consentidas de Juramento
de vingança está irremediavelmente perdida.
Benjamin Tyreen (Richard Harris) |
Se Juramento
de vingança resultou frustrante para Sam Peckinpah, com Charlton Heston
não foi diferente. O ator se entregou com gosto ao personagem de Dundee, dada a
sua reconhecida vontade de atuar numa história relacionada à Guerra de Secessão
e pela admiração devotada a Pistoleiros do entardecer. Inclusive
calou sua contrariedade quando se viu diante de um roteiro ainda por terminar,
a todo momento alterado pelos caprichos de Peckinpah. O certo é que lutou para
o filme ser concluído segundo o ponto de vista do diretor. Ameaçou jamais
voltar a trabalhar para a Columbia Pictures caso isso não acontecesse. Num
gesto de altruísmo sem precedentes, abriu mão do salário de 300 mil dólares para
custear tomadas complementares, que diminuíssem o impacto dos cortes impostos
por Bressler[3]. Mas
nada convencia o desmoralizado Peckinpah a retornar ao set. Diante disso, as
lendas em torno da realização de Juramento de vingança contam que o
próprio Heston se encarregou das filmagens adicionais. Infelizmente, nada poderia
reparar o estrago. Os interesses em pugna se revelaram inconciliáveis. O épico
momumental pretendido por Peckinpah correspondia às expectativas de Heston, mas
se chocava frontalmente com as ambições em escala reduzida de Bressler e da
Columbia. Estes almejavam um western semelhante aos filmes da “trilogia da
cavalaria”[4],
de John Ford.
Ben Johnson interpreta o Sargento Chillum |
Aliás, Peckinpah
nunca escondeu sua admiração por Ford. Inclusive, convidou-o para dirigir Juramento
de vingança. Enferno, envolvido com a finalização de Crepúsculo
de uma raça (Cheyenne autumn, 1964), preparando-se
para iniciar O rebelde sonhador (Young Cassidy, 1965) — passado às
mãos de Jack Cardiff devido ao agravamento da doença do diretor — e antecipando
Sete
mulheres (Seven women, 1966), Ford recusou. Diante disso, Peckinpah se
viu livre para realizar Juramento de vingança da forma que
pretendia. Mas preencheu a história com referências aos filmes de Ford. O
massacre da família Rostes pelos apaches de Sierra Charriba, com a tomada de
três crianças como reféns, encontra correspondência em Rastros de ódio (The
searchers, 1956) e Rio Bravo (Rio Grande, 1950). O
orgulho militar ferido de Dundee, seu banimento do front, sua transformação em responsável por um campo de
prisioneiros e a vontade de fazer a guerra a qualquer preço lembram o arrogante
Tenente-Coronel Owen Thursday (Henry Fonda) de Sangue de heróis (Fort
Apache, 1948). A penetração não autorizada das forças de Dundee em
território mexicano remete à idêntica opção do Tenente-Coronel Kirby Yorke
(John Wayne) na busca às crianças raptadas por apaches em Rio Bravo (Rio
Grande).
O andamento de Juramento
de vingança, consideravelmente prejudicado, resultou no acréscimo de
uma narração com função de tapa-buracos, mas insuficiente para equilibrar e
atribuir coerência ao fluir da história. Essa improvisação permanece no suposto
director’s cut de 2005 e continua
pouco funcional. Desastrosa também foi a escolha do autor da trilha sonora.
Jerry Bressler optou pela inadequada composição de Daniele Amfitheatrof — com
letra de Ned Washington —, odiada por Peckinpah. O relançamento de 2005 ao
menos reintegra o comentário musical original de Christopher Caliendo.
Solidárias às
iniciativas de Jerry Bressler e da Columbia Pictures, as grandes companhias
produtoras do cinema americano praticamente lançaram o nome de Sam Peckinpah
numa espécie de lista negra. Ele correu o risco de jamais voltar à realização.
O cerco começou com sua substituição por Norman Jewison em A mesa do diabo (The
Cincinnati Kid, 1965). O alijamento, que parecia definitivo, durou
cinco anos. O retorno de Peckinpah à direção foi bancado pelo produtor Phil
Feldman e chancelado pela Warner Brothers. Seu próximo filme, o também mutilado
Meu
ódio será sua herança (The wild bunch, 1969)[5],
recicla temas sobre o crepúsculo do cowboy — tão caros ao diretor —, desta vez mais
agudamente explicitados. Como em Juramento de vingança, Peckinpah
mantém a adesão afetiva às regeneradoras paragens mexicanas. Nesse filme há uma
sequência com crianças brincando inocentemente, com pedrinhas, enquanto a tropa
cansada de Dundee passa ao largo. Elas retornam, crudelíssimas, na emblemática abertura
de Meu
ódio será sua herança. Na brincadeira, paralela à entrada da quadrilha
de Pike Bishop (William Holden) para o frustrado e sangrento assalto ao banco, as
pedrinhas foram substituídas por formigas trucidando escorpiões. Os laivos de
inocência que pareciam restar em Juramento de vingança deixam de
fazer sentido em Meu ódio será sua herança.
Segundo a
personagem Teresa Santiago (Berger) — praticamente irrelevante —, a guerra, para
Dundee, duraria para sempre. Ele desconhece a estabilidade. Devido a um erro
que cometeu na Batalha de Gettysburg, foi afastado das linhas de combate e
lançado na mais desonrosa das retaguardas, em Forte Benlin , e
convertido em carcereiro de prisioneiros de guerra. Sulista, aderiu ao Norte por
pragmatismo, almejando prestígio e glória. Seu principal oponente, o ex amigo e
prisioneiro Benjamin Tyreen, irlandês pobre, optou pela fidelidade aos valores
aristocráticos sulistas. A contragosto, somam forças na perseguição que Dundee
— em busca do prestígio perdido — mobiliza com seus próprios meios contra os
apaches de Sierra Charriba. Mas essa campanha, com objetivo de resgatar
crianças raptadas, não passa de pretexto para o Major exercitar o comando segundo
seus próprios critérios. Por outro lado, para Peckinpah, é a oportunidade para
montar um palco de movimentação constante, sobre o qual encena motivações
individuais e conflitos entre personalidades díspares, obrigadas a se unir por
força de circunstâncias sobre as quais exercem pouco ou nenhum controle.
Major Amos Charles Dundee (Charlton Heston) |
Benjamin Tyreen (Richard Harris) |
Juramento de
vingança é um western sobre o imponderável. Buscando o heroísmo
permitido pelas batalhas, Dundee conduz seu trôpego exército ao encontro da desesperança
e da frustração, individual ou coletiva. Apesar da interferência dos
produtores, o filme avança razoavelmente bem em sua primeira parte, até Dundee
ser gravemente ferido e internado no México para tratamento. É quando o
personagem confronta os próprios fantasmas e entra em depressão. A partir
daí, a coerência narrativa é perdida pela violência da montagem e em meio às
bebedeiras, alucinações e crises de autocomiseração do Major. Reduzido ao pouco heróico estado de fragilidade, ele é obrigado a se
recompor por provocação de Tyree, que o alerta para a missão a cumprir. Mas ela
é apenas um detalhe que o move ao longo da jornada. Afinal, as crianças foram
salvas muito antes, fator que não impede o Major de continuar guerreando,
contra si, seus homens ou o que mais lhe cruzar o caminho, inclusive os apaches
de Sierra Charriba, as forças francesas que ocupam o México e a paisagem em
mutação tingida pelo sangue explicitamente derramado de tantos mortos e
feridos.
O realismo da violência encenada por Peckinpah é um dado novo ao então
asséptico cinema americano. O improvisado hospital a céu aberto, atulhado de
mortos e feridos com chagas visceralmente expostas, certamente chocou os
produtores. Provavelmente, anteciparam-se a uma resposta negativa do público, o
que também pode explicar a severidade dos cortes. Com Juramento de vingança, Peckinpah,
certamente, desvirginou o cinema americano. Mas suas exposições violentas,
contrariando as impressões apressadas de muitos críticos, não se resumem a
meros e gratuitos exercícios de estilo. Traduzem a fúria das mudanças temporais
que obrigava os homens a reagir desesperadamente na tentativa de continuar
sobrevivendo. De outra maneira, ao tingir de vermelho as telas do cinema,
Peckinpah contribuiu na preparação dos espíritos americanos às cenas de violência
da guerra do Vietnã, transmitidas pela televisão com a exposição de soldados
mortos, levemente feridos e gravemente mutilados.
Heston, ator de recursos limitados, está soberbo como Dundee. Este seria
o papel de sua vida, não fossem os fatores que tanto prejudicaram o filme. Seu
personagem é um tipo talhado pela tragédia, moldado por elementos que combinam
irracionalidade, adesão incondicional às próprias convicções e um toque de
sinceridade em seus dizeres e ações. Está sempre pronto a reagir de forma a
mais instintiva, parecendo dominado pela mais pura propulsão à violência e
destruição.
De resto, todo o elenco rende maravilhosamente bem, inclusive os atores
que tiveram a participação enormemente abreviada pela imposição dos cortes.
Richard Harris confere elegância e racionalidade ao inimigo cordial de Dundee. James
Coburn está praticamente irreconhecível na caracterização do enérgico Samuel
Potts. Jim Hutton transmite sinceridade ao atrapalhado e solícito tenente
Graham. O mesmo é percebido em Michael
Anderson Jr. Seu personagem, o corneteiro
Tim Ryan, praticamente um garoto, torna-se adulto à medida que a jornada avança
e é registrada em seu diário. Além do mais, é o responsável pela morte
praticamente acidental e pouco apoteótica de Sierra Charriba.
Por fim, cabe destacar a direção de fotografia
de Sam Leavitt. Graças a ela as paragens do Oeste, em sua porção americana,
aparentam traços de terra sem esperança, ao passo que revelam um mundo de
possibilidades a descortinar na parte mexicana.
Roteiro: Harry Julian Fink, Oscar Saul, Sam Pekinpah, com
base em história de Harry Julian Fink. Direção
de Fotografia (Panavision,
Eastmancolor pela Pathé): Sam Leavitt. Música:
Daniele Amfitheatrof. Canções: Major
Dundee March, música de Daniele Amfitheatrof, letra de Ned Washington,
interpretada por Mitch Miller’s Sing Along Gang; Laura Lee, interpretada
por Liam Sullivan e Forrest Wood. Música
da restauração de 2005: Christopher Caliendo. Direção de arte: Alfred Ybarra. Montagem: William A. Lyon, Howard Kunin, Donald W. Starling. Figurinos: Tom Dawson. Efeitos especiais: August Lohman. Contra-regra: Joe La Bella. Gerente de
produção: Francisco Day. Assistentes
de direção: John Veitch, Floyd Jover. Maquiagem:
Ben Jane, Larry Butterworth. Supervisão
de som: Charles J. Rice. Som:
James Z. Flaster, Rafael Ruiz Esparza (não creditado). Direção de segunda unidade:
Cliff Lyons. Assistente para o produtor:
Rick Rosemberg. Coordenação de dublês: Archie Butler (não
creditado). Dubles: Jerry Brown (não
creditado), Joe Canutt (não creditado), Bill Catching (não creditado), Philip
Crawford (não creditado), Richard Farnsworth (não creditado), Jerry Gatlin (não
creditado), Chuck Hayward (não creditado), Robert 'Buzz' Henry (não creditado),
Bob Herron (não creditado), Whitey Hughes (não creditado), Leroy Johnson (não
creditado), Roy N. Sickner (não creditado), Buddy Van Horn (não creditado), Jack
Williams (não creditado), Henry Wills (não creditado). Confecção de costumes no set: Gordon T. Dawson (não creditado). Orquestração: Leonid Raab (não
creditado). Instrutor de lutas no
México: 'Chema' Hernandez (não creditado). Tempo de exibição: 123 minutos (lançamento em 1965), 135 minutos
(restauração de 2005), 152 minutos (corte do diretor, não distribuído), 165
minutos (primeiro corte).
(José Eugenio
Guimarães, 1975; revisto e ampliado em 2010)
[1] Jim Hutton, com dificuldades para dominar a
montaria, deixou-a se aproximar de Peckinpah, diretor de westerns que temia
cavalos. Ele quase foi pisoteado pelo animal. Reagiu gritando imprecações e com
disparos de festim. O cavalo, assustado, provocou a queda e ferimentos nas
costas do ator. Charlton Heston, famoso por sua calma e educação, perdeu a
paciência após ser destratado pelo diretor. Comandou, sabre em punho e aos
gritos de “Isto é para você, Sam!”, uma carga de cavalaria sobre ele. Peckinpah
recuou assustado, sem esquecer de pedir ao câmera que filmasse toda a ação. Cf.
REVIEWS & ratings for Major Dundee. Disponível em http://www.imdb.com/title/tt0059418/reviews.
Acessado em 16 ago. 2010.
[2]
Cf. CAPRARA, Valerio. Sam Peckinpah. Il
castoro cinema, Florença: La Nuova
Itália , n. 22, p. 52-53, set.1998.
[3] Testemunho de Sam Peckinpah sobre o Charlton
Heston: “É de um grande caráter. Tem coragem, dignidade e uma extraordinária
firmeza”. In: CAPRARA, Valerio. Op. cit. p. 14-15.
[4] Sangue de heróis (Fort
Apache, 1948), Legião invencível (She
wore a yellow ribbon, 1949) e Rio Bravo (Rio Grande, 1950).
[5] Por conta de Phil Feldman, o filme perdeu 12 minutos
do tempo original de 144 quando estreou nos cinemas. Em 1995, por pressão de
diretores como George Lucas, John Milius e Martin Scorsese, Meu
ódio será sua herança renasceu em sua metragem original, como um autêntico
director’s cut.
Saudações Eugenio!
ResponderExcluirGosto muito de JURAMENTO DE VINGANÇA, ou se preferir, o título original: MAJOR DUNDEE. Realmente, nossos títulos fogem dos originais, e nada muito a ver com o que desenrola na trama, mas ficam captados na mente do cinéfilo daqui. Mas vamos lá!
Peckinpah era um homem cheio de vícios, bebia e cheirava, e brigou com muita gente do elenco de seus filmes. Quando filmava MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA, puxou briga com o pacífico Robert Ryan, que já nesta época estava doente, mas alertaram ao cineasta que ele era pugilista, e assim parou de provoca-lo. Com Charlton Heston, em JURAMENTO DE VINGANÇA, não foi diferente. Peckinpah agia irracionalmente e provocava confusões, mas quando se via perdido, molhava as calças, pode apostar.
Mas indiscutivelmente, foi um grande cineasta. , tinha seu estilo, e era atraído pela violência, e não foi a toa que recebeu o honorífico título dos críticos, como o “seu poeta”.
Peckinpah, possivelmente graças a sua rebeldia, teve filmes cuja montagem final foram cortadas, e isto aconteceu tanto com JURAMENTO DE VINGANÇA quanto com MEU ÓDIO SÉRÁ SUA HERANÇA – aliás este o público só veio a conhecer a versão integral quando lançado nos EUA em VHS, em 1986.
Foi durante a filmagem de MAJOR DUNDEE que houve uma greve de roteiristas, e técnicos. Quando se fala muito nesta produção e no ator Charlton Heston, lendo esta passagem reconhece o quanto ele era homem nobre, ao contrário das baboseiras grosseiras e imbecis que alguns falam dele a respeito de suas convicções quanto ao apoio e defesa das armas. Bastante profissional, ele entregou seu espírito para a conclusão desta obra e ajudou Peckinpah, que de acordo com o ator, não merecia. Foi humanamente altruísta ao abrir mão de seu salário milionário para levar adiante este projeto.
O filme ainda marca pelas presenças de Richard Harris, um ótimo ator, e James Coburn, que já estava em ascensão em Hollywood. Aqui no Brasil, acho que já foi lançado a versão integral do filme em DVD, com sua metragem original.
Abraços
Paulo Telles
Blog Filmes Antigos Club
http://www.articlesfilmesantigosclub.blogspot.com.br/
Olá, Paulo Telles,
ExcluirConcordo em tudo com o seu arrazoado. Aliás, os aspectos que destaca estão presentes na matéria. Peckinpah devia ser mesmo, intratável. Uma pena! Ou, talvez, ele tivesse seus motivos - vá saber -, trabalhando num sistema e sob um regime que nunca deu muita liberdade aos seus criadores, ainda mais àqueles que se destacavam pela visceralidade e rebeldia. Ainda bem que Peckinpah não foi domado.
Ainda não sei do lançamento da "Versão Integral" em DVD de "Juramento de vingança". O que sempre li e ouvi dizer é que esse é um daqueles filmes que jamais terão possibilidade de um lançamento do tipo, pois, pelo visto, muito do material se perdeu, ou foi perdido por obra e graça do produtor.
Quanto ao Charlton Heston, sabe-se que era uma personalidade ímpar, além da conta. Ele também foi peça fundamental à recuperação de "A marca da maldade", de Orson Welles.
Abraços.
Estupenda y muy completa reseña...Las fotos es algo que disfruto mucho... Gracias por compartirnos ésa visión tan detallista sobre una temática fílmica que han es añorada... Yo te mando abrazos y dulce... un dulce beso... :)
ResponderExcluirEs una película poderosa, a pesar de la sabotaje que sufrió de la parte del productor, Maria del Socorro. Como usted, también siento mucho la falta de más películas como esta. Particularmente, soy enamorado por westerns. Más una vez, muchas gracias por su visita y comentario. Discúlpeme pela tarda para responder, pero no es siempre que consigo hacer eso de inmediato.
ExcluirBesos, abrazos y saludos.