domingo, 26 de julho de 2015

EASTWOOD E BURTON PROTAGONIZAM MIRABOLANTE AVENTURA BÉLICA

Até parece que foi ontem. Mas aconteceu em 1971. Estava com 15 anos, cursando o terceiro ano ginasial e, como sempre, desesperado com ameaça de reprovação em Matemática. O professor, Dr. Januário, e o autor do inexpugnável livro-texto, Ary Quintella, assaltavam-me nas noites mal dormidas. Na tentativa de me aliviar do stress, amigos bem intencionados me convenceram a ir ao cinema. A realização não me atraía. Mesmo assim fui ver O desafio das águias (Where eagles dare, 1968), aventura bélica de Brian G. Hutton. Na época, era tão apreciador de Clint Eastwood como de Matemática e westerns europeus: odiava a todos, com igual intensidade. É um dos primeiros filmes protagonizados pelo intérprete do 'Estranho Sem Nome' da 'Trilogia dos Dólares' de Sergio Leone — que também não contava com meu apreço — ao retornar aos Estados Unidos. O trabalho de Hutton tem muitos admiradores. Na época, conforme o previsto, não me agradou inteiramente. É uma aventura mirabolante, repleta de identidades trocadas, encenada nos bastidores das frentes de combate da Segunda Guerra Mundial, embalada por vibrante acompanhamento musical de Ron Goodwin, mas conduzida de modo burocrático pelo realizador. Richard Burton é a outra estrela do empreendimento. Hoje, passados 44 anos, ainda me pergunto se devo dar segunda chance a O desafio das águias. Afinal, fui aprovado em Matemática, aprendi a gostar de Clint Eastwood, de Sergio Leone e até de alguns westerns amacarronados. A apreciação a seguir data de 1974.







O desafio das águias
Where eagles dare

Direção:
Brian G. Hutton
Produção:
Elliott Kastner
Winkast Film Productions Ltd., Metro-Goldwyn-Mayer, Jerry Gershwin Productions, Elliott Kastner Productions
EUA, Inglaterra — 1968
Elenco:
Richard Burton, Clint Eastwood, Mary Ure, Patrick Wymark, Michael Hordern, Donald Houston, Ingrid Pitt, Peter Barkworth, William Squire, Robert Beatty, Brook Williams, Neil McCarthy, Vincent Ball, Anton Diffring, Ferdy Mayne, Derren Nesbitt, Victor Beaumont e os não creditados John G. Heller, Guy Deghy, Olga Lowe, Philip Stone, Richard Beale, Ivor Dean, Nigel Lambert, Ernst Walder, Jim Dowdall, Max Faulkner, Harry Fielder, Lyn Kennington, Ian McCulloch, Terence Mountain, Derek Newark, Anton Rodgers, Bill Sawyer, Jack Silk, Jim Tyson.



Brian G. Hutton, diretor de O desafio das águias


Os acordes vigorosos da música-tema de Ron Goodwin, conjugando sopro e metais, armam o clima necessário à garantia do interesse nessa aventura de guerra baseada em livro de Alistair MacLean, também autor do roteiro. É filme burocrático mas bem conduzido. A trama, absolutamente inverossímil, tem bons momentos de suspense. Não há cenas de batalha. O desafio das águias conta história situada nos bastidores do conflito. Opõe os serviços de inteligência britânico e alemão.


O Major inglês John Smith (Burton) lidera grupo de cinco militares britânicos ao qual se junta o estadunidense Tenente Morris Schaeffer (Eastwood). São lançados de paraquedas, no auge do inverno, em pleno território alemão. Devem cumprir a missão de libertar o General Carnaby  conhecedor de planos sobre possível ação aliada de libertação da Europa , aprisionado em fortaleza alpina na Bavária. A ação precisa acontecer antes que os nazistas lhe arranquem a confissão por métodos pouco sutis. A prisão, encravada sobre rocha elevada, aparentemente inexpugnável, somente é alcançada por teleférico. Em seu entorno há a proteção extra de um acampamento militar.




Acima, ao centro e abaixo: Clint Eastwood como o Tenente Morris Schaeffer e Richard Burton no papel do Major John Smith


Porém, os objetivos da missão são outros. Não existe nenhum General Carnaby. O prisioneiro, um impostor, é o cabo inglês Cartwright Jones (Beatty) com vocação de ator. Smith é o único a saber da verdade. Agente duplo com trânsito fácil entre os alemães, conta com o auxílio de duas mulheres: Mary (Ure) — que acompanha o grupo à distância — e Heidi (Pitt) — infiltrada no campo alemão e trabalhando como garçonete. A operação, arriscadíssima e absurda, pretende desbaratar rede britânica de colaboração com aos nazistas, liderada por um dos idealizadores da operação, o Coronel Turner (Wymark). Smith sabe que três traidores fazem parte da unidade sob seu comando.


O Major John Smith (Richard Burton) e a auxiliar Heidi (Ingrid Pitt)

O Major John Smith (Richard Burton) e as auxiliares da missão: Heidi (Ingrid Pitt) e Mary (Mary Ure)

  
Às vezes a confusão domina a narrativa, deixando o espectador perdido. Do mesmo jeito fica o Tenente Schaeffer: entrou de gaiato na história e só se inteira da situação lá pelo final do filme. Ele, momentos antes, não resiste: confessa-se perplexo com tudo o que acontece, para alívio da plateia embaraçada. Aliás, esse é um dos poucos momentos em que o personagem de Eastwood pronuncia alguma coisa. O desafio das águias é dos primeiros filmes estrelados pelo intérprete do lacônico “Estranho Sem Nome” — notabilizado na célebre trinca de spaghetti westerns de Sergio Leone: Por um punhado de dólares (Per um pugno di dollari, 1964), Por uns dólares mais (Per qualche dollaro in più, 1965) e Três homens em conflito (Il buono, il brutto, il cativo, 1966) — após regressar aos Estados Unidos.


À direita, o suposto General Carnaby (Robert Beatty) fita o Major John Smith (Richard Burton)


Eastwood continua lacônico na pele do Tenente Schaeffer, durão de eficiência invejável. Essa característica, um dos senões do filme, também está presente no Major Smith. O estadunidense e o inglês são excessivamente mecânicos e frios. Parecem robôs teleguiados.



Acima e abaixo: o lacônico e perplexo Tenente Morris Schaeffer (Clint Eastwood)


Eastwood voltaria a trabalhar com Hutton em Os guerreiros pilantras (Kelly’s heroes, 1970), outra aventura de guerra, desta vez em registro cômico.





Roteiro: Alistair MacLean, baseado em novela de sua autoria. Direção de fotografia (Panavision, Metrocolor): Arthur Ibbetson. Montagem: John Jympson. Direção de arte: Peter Mullins. Produtor associado: Denis Holt. Música e direção musical: Ron Goodwin. Produção executiva: Jerry Gershwin (não creditado), Elliott Kastner. Dubles (não creditados): Gillian Aldam (para Mary Ure), Peter Brace, Jacke Cooper, Alf Joint (para Richard Burton), Eddie Powell, Joe Powell, Doug Robinson, Jimmy Thong, Terry Yorke, Tim Condren, George Lane Cooper, Tom L. Dittman (para Robert Beatty), Jim Dowdall, Roy Everson, Max Faulkner, Harry Fielder, Tex Fuller, Romo Gorrara, Richard Graydon, Rick Lester, Jimmy Lodge, Dave Newman, Terence Plummer, Eddie Powell (para Clint Eastwood), Joe Powell, Nosher Powell, Terry Richards, Bill Sawyer (para Clint Eastwood), Bill Sawyer, Jack Silk, Paul Stader, Les White, David Wilding. Coordenação de dublês: Paul Stader (não creditado). Direção de segunda unidade: Yakima Canutt. Operador de câmera e direção de fotografia da segunda unidade: H. A. R. Thomson. Eletricista-chefe: Bob Bremmer (não creditado). Figurinos: Arthur Newman (não creditado). Maquiagem: Tony Sforzini (não creditado). Supervisão da produção: Ted Lloyd. Gerente de unidade da segunda unidade de produção: Tom Sachs. Assistente de direção: Colin M. Brewer. Assistente de direção da segunda unidade: Anthony Waye. Segundo assistente de direção: Patrick Clayton (não creditado). Segundo assistente de direção da segunda unidade: Chris Kenny (não creditado). Camareiro: Arthur Taksen. Assistente de contrarregra: Mickey Lennon (não creditado). Edição de som: Jonathan Bates. Gravação de som: John Bramall. Mixagem da combinação de sons: J. B. Smith. Ruídos de sala: Richard Best Jr. (não creditado). Assistente de ruídos de sala: Peter Dobson (não creditado). Som: Michael Hickey (não creditado). Efeitos especiais: Fred Hellenburgh, Richard Parker. Efeitos fotográficos: Tom Howard. Operador de câmera: Paul Wilson. Fotografia aérea da segunda unidade: Douglas Adamsson (não creditado). Assistente de câmera: Dennis Fraser (não creditado). Operadores de câmera da segunda unidade (não creditados): Kelvin Pike, Ginger Gemmel. Fotografia de cena: John Jay (não creditado). Controle de foco: Allan Jones (não creditado). Eletricista: Edward Michael Perry (não creditado). Operadores de claquete (não creditados): Graham Scaife, David Wynn-Jones. Assistente de montagem: Alan Strachan. Orquestração: Brian Couzens (não creditado). Continuidade: Penny Daniels. Instrutor de diálogos: Al Lettieri. Assistente para o produtor: Marion Rosenberg. Assistente de produção: Raymond Becket (não creditado). Consultoria militar: Brian L. Davis (não creditado). Estagiário de projeções: Steve Pickard (não creditado). Equipamentos de iluminação: Lee Lighting (não creditada). Sistema de mixagem de som: Stereo em 6 pistas para cópias em 70mm; mono para cópias em 35mm. Tempo de exibição: 158 minutos.


(José Eugenio Guimarães, 1974)

6 comentários:

  1. Eugenio,

    De verdade eu vim a conhecer mesmo o Clint alguns anos depois de ver pela primeira vez os filmes do Leone. Ou seja: somente após reprises e mais reprises, principalmente de Três Homens em Conflito foi que atentei para o bom ator. E acredito também que, como eu, muitos cinéfilos.

    Neste ínterin eu já havia assistido a Desafio das Águas/68, fita que até havia gostado, principalmente pela cena da luta no teto do elevador e pelo filme de guerra um tanto quanto diferente dos triviais.

    Conheço pouco da filmografia do Hutton, tendo visto mais dele apenas Guerreiros Pilantras/70, este já com o Clint por demais conhecido,

    jurandir_lima@bol.com.br

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    1. Olá, Jurandir;

      Pelo visto, nós dois nos tornamos fãs tardios do Clint. Hehehe! Pois é, meu caro! Preciso rever "O desafio das águia", pelo menos como esforço de apagar a má vontade que tive com o filme de Brian G. Hutton no tempo dos meus 15 anos. Como faz tempo isso. Nem gosto de pensar no assunto. Uma época em que ainda conseguia sair da cama sem sentir dores nas costas. Hehehe!

      Grande abraço.

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  2. Eugenio,

    É o mesmo que se dá comigo. Fizeste esta apreciação apenas 3 anos depois de ver o filme, o que chega a ser um tempo suficiente recente para ele ainda estar flutuando na mente.

    E eu, que sou mais velho que tu e que surgem postagens de filmes que vi há mais de 50 anos!!!
    Como lembrar de algo para poder comentar?

    Daí sentirmos tais dificuldades. E tu, se fosse comentar no momento presente esta fita, que viste em 1971, teria grandes dificuldades. A não ser que o revisse. O que nem sempre é possível.

    Abraço

    jurandir_lima@bol.com.br

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    1. Jurandir,

      Faço um esforço para rever O DESAFIO DAS ÁGUIA ainda este ano. Por ora, não tive sucesso. Nem encontro um link ativo para baixá-lo. Creio que o jeito será adquiri-lo nas lojas, mas essa opção é algo que não me apetece. Mas, VAMOS VER!

      Abraços.

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  3. Wuau...Esta reseña es una verdadera joya...¡Que joven está Clint Eastwood...!!!Que bien poder apreciar los primeros trabajos de este gran actor...Gracias por compartir querido Eugenio...Te mando besitos y un gran abrazo...!!!

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    1. Gracias por la apreciación llena de entusiasmo, Maria del Socorro. Pelo visto, você gosta mesmo do Clint Eastwood. Eu, por outro lado, demorei muito para gostar dele. Hoje, considero-o como excelente diretor, um dos melhores dos EUA.

      Aliás, este filme é um dos que preciso rever urgentemente.

      Abraços, beijos e saludos.

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