Marcou época no cinema de terror a "Coleção Maldita
de Terence Fisher". O diretor inglês, amparado pela britânica Hammer Film,
é responsável pela sobrevida cinematográfica de diversos personagens do mal
como monstros, múmias, almas do outro mundo, assassinos dementes, vampiros e
criaturas de Frankenstein, principalmente depois que a estadunidense Universal
foi abandonando a primazia que ocupava no campo do cinema fantástico. Terence
Fisher lançou à fama os atores Peter Cushing e Christopher Lee e, de certo
modo, reabilitou as assustadoras peripécias fílmicas do Conde Drácula desde que
realizou O vampiro da noite (Dracula, 1958) — internacionalmente conhecido como Horror of Dracula graças à distribuição estadunidense —, do qual Drácula,
o príncipe das trevas (Dracula, prince of darkness, 1965) é
espécie de continuação melhorada. Ver este filme no
cinema, no início dos anos 70, era experiência de fato apavorante, ainda mais
para garotos facilmente impressionáveis. A sequência do renascimento do
vampiro, momentos após o início da história, dificultava a chegada do sono para
qualquer incauto. Hoje, certamente, diante da ascensão do horror à base da
exposição explícita de sangue e tripas, perdeu totalmente o efeito. A apreciação é de 1976.
Drácula, o príncipe
das trevas
Dracula:
prince of darkness
Direção:
Terence
Fisher
Produção:
Anthony
Nelson Keys
Seven
Arts, Hammer Film, Associeted British Production Limited
Inglaterra
— 1965
Elenco:
Christopher
Lee, Barbara Shelley, Andrew Keir, Suzanne Farmer, Francis Matthews, Charles
"Bud" Tingwell, Thorley Walters, Philip Latham, Walter Brown, George
Wooderidge, Jack Lambert, Philip Ray, Joyce Henson, John Maxim.
O diretor Terence Fisher |
Dois casais
tipicamente britânicos excursionam pela Transilvânia, região da Romênia
encravada nos Cárpatos: Charles (Mattews) e Diana (Farmer), Alan (Tingwell) e
Helen (Shelley). Os homens, como convém ao bom inglês, destilam autoconfiança
das mais arrogantes. Acreditam única e exclusivamente no que pode ser empiricamente
comprovado. As mulheres, apesar de mais reticentes, seguem os maridos em tudo. A Transilvânia
é uma terra assolada pelo vampirismo. O Conde Drácula reinou absoluto no lugar
até cerca de 10 anos, quando foi encurralado e exterminado. Mesmo assim, depois
de tanto tempo vivendo sob o manto do medo, todos que ali habitam revelam
constante intranquilidade. Recolhem-se cedo, tão logo o sol se põe. Protegem-se
com réstias de alho, crucifixos, água benta e estacas de madeira. Temem acima
de tudo o sinistro castelo onde residiu o vampiro, instalado no alto dos montes
da localidade de Carlsbad.
Encontramos os ingleses numa taverna repleta de moradores assustados. Logo chega o
Padre Sandor (Keir). Acaba de impedir o empalamento do cadáver de uma jovem
suspeita de contaminação por vampiro. O clérigo, apesar de acreditar no fim de
Drácula, recomenda aos turistas que evitem o castelo de Carlsbad quando
retomarem a viagem. Para eles soa muito estranho tanto temor e precaução. Fazem
ouvidos moucos aos conselhos recebidos. Como reza o ditado, serão atraídos,
quais moscas curiosas, à armadilha preparada pela solícita aranha.
Não demora para
Charles cair nas garras do sinistro e ser ofertado no altar do sacrifício. Seu
sangue servirá para reconstituir a horrenda figura de Drácula, cujas cinzas
foram cuidadosamente preservadas pelo fiel criado Klove (Latham). O Conde
renasce, com anel no dedo e tudo o mais nos devidos lugares. Helen, a próxima
vítima, se tornará uma morta-viva. No dia seguinte o mundo de inabaláveis
certezas de Alan se desmorona da pior forma possível. Ele e Diana, perseguidos
pelos vampiros Helen e Drácula, conseguem fugir mas se acidentam na mata. São
salvos pelo Padre Sandor e abrigados no mosteiro. Mas mesmo nesse local
santificado Drácula tem um aliado. Trata-se de Ludwig (Walters), encadernador
em estado semicatatônico cujo prazer é se alimentar de insetos. Foi encontrado
pelos religiosos quando perambulava sem rumo, anos atrás, pelas proximidades do
castelo. Ele facilita o rapto de Diana pelo Conde. Sandor e Alan partem para
libertá-la, auxiliados pela luz do sol. Chegam ao destino com o cair da tarde.
Quando parecia que não teriam tempo para mais nada, conseguem dar cabo do
vampiro fazendo-o cair na fatal água corrente.
Charles ( Francis Matthews) é submetido à exsanguinação por Klove (Philip Latham) |
O Conde Drácula ressurge de suas próprias cinzas |
A vampirizada Helen (Barbara Shelley) prestes a deixar o mundo dos mortos-vivos |
Drácula, o príncipe
das trevas é, de certa forma, uma continuação de O
vampiro da noite (Dracula, 1958) do mesmo
Terence Fisher. Começa com um prólogo formado pelas cenas finais deste filme,
nas quais o Conde é reduzido a cinzas por exposição à cruz e aos raios
de sol depois de acuado em seu próprio castelo pelo Dr. Van Helsing (Peter Cushing). Uma
narração fornece as explicações necessárias aos desavisados. Também aproveita
elementos do original de Bram Stoker que não foram incluídos no filme de 1958.
Conta uma
história delirante, assustadora e bem humorada. É horror gótico carregado de
erotismo barato e recheado de um decor kitsh
exageradamente berrante no colorido. Dessa vez Terence Fisher tomou a sábia
decisão de deixar de lado a contenção excessivamente britânica que tanto
prejudicou O vampiro da noite. Drácula, o príncipe da trevas lhe é
superior em tudo.
Helen (Suzanne Farmer) devidamente protegida contra o mal |
Mas, no fundo, é
uma gostosa bobagem bem ao gosto da Hammer — produtora inglesa que reinventou o
terror cinematográfico desde meados dos anos 40, ocupando o campo que a
americana Universal deixara vago. Fisher, o principal artífice da companhia,
soube como ninguém reciclar o tema do sinistro, recuperando e renovando as
roupagens de variadas criaturas do mal como monstros, múmias, almas do outro
mundo, assassinos dementes, vampiros e criaturas de Frankenstein.
Acima e abaixo: Drácula (Christopher Lee) exibe suas armas |
Christopher Lee
volta à pele do personagem que interpretou em O vampiro da noite. Ao
todo, foram dez as vezes em que viveu o sanguessuga[1]
criado por Bram Stoker. Canastrão dos bons, fornece momentos impagáveis com sua
atuação, principalmente quando exibe os caninos (vampirinos não seria melhor?)
pontiagudos. Ou gritando do alto da sacada para a vampirizada Helen se afastar
de Diana e também demonstrando pavor diante da cruz que lhe ergue Alan.
Roteiro: John Sansom, a partir de uma idéia de Anthony
"John Elder" Hinds e com base no personagem de Bram Stoker. Música: James Bernard. Supervisão musical: Philip Martell. Operador de câmera: Cecil R. Cooney. Fotografia (Techniscope, Technicolor):
Michael Reed. Desenho de produção:
Bernard Robinson. Supervisão de
montagem: James Needs. Montagem:
Chris Barnes. Maquiagem: Rosy
Ashton. Edição de som: Roy Ward
Baker. Assistente de direção: Bert
Batt. Guarda-roupa: Rosemary
Burrows. Gerente de produção: Ross MacKenzie.
Direção de arte: Don Mingaye. Gravação de som: Ken Rawkins. Continuidade: Lorna Selwyn. Penteados: Frieda Steiger. Tempo de exibição: 100 minutos.
(José Eugenio Guimarães, 1976)
[1] Além de O vampiro da noite e Drácula,
o príncipe das trevas, Lee deu vida à criatura de Bram Stoker em Drácula,
o vampiro do sexo (La frusta e il corpo, 1963), de
Mario Bava; Drácula, o perfil do Diabo (Dracula has risen from the grave,
1968), de Freddie Francis; Conde Drácula (Nachts, wenn Dracula erwacht,
1970), de Jesús Franco; O sangue de Drácula (Taste
the blood of Dracula, 1970), de Peter Sasdy; O Conde Drácula (Scars
of Dracula, 1970), de Roy Ward Baker; Drácula do mundo da minissaia
(Dracula
A. D. 1972, 1972), de Alan Gibson; Os ritos satânicos de Drácula (The satanic
rites of Dracula, 1973); de Alan Gibson; e Dracula Père et fils
(1976), de Edouard Molinaro.
Olá, José!
ResponderExcluirAinda não vi este, mas os comentários já geram calafrios, rs... Sou fã dos filmes da Hammer, do diretor Terence Fisher e de Christopher Lee. Os cenários com cores vivas nesses filmes são perfeitos, assim como as atuações e as trilhas sonoras que envolvem o espectador. Até aqui meu terror favorito é "O Vampiro da Noite" (Drácula - 1958).
Um abraço!
Olá, Thomaz;
ExcluirMuitos estranham, mas considerei este filme muito mais eficaz que "O vampiro da noite". Se bem que as impressões da apreciação publicada são as do meu tempo de garoto, quando eu morria de pavor de filmes assim. Sinal dos tempos.
Abraços.