domingo, 8 de dezembro de 2013

DAS CINZAS DE "O VAMPIRO DA NOITE" DRÁCULA RENASCE COMO "O PRÍNCIPE DAS TREVAS"

Marcou época no cinema de terror a "Coleção Maldita de Terence Fisher". O diretor inglês, amparado pela britânica Hammer Film, é responsável pela sobrevida cinematográfica de diversos personagens do mal como monstros, múmias, almas do outro mundo, assassinos dementes, vampiros e criaturas de Frankenstein, principalmente depois que a estadunidense Universal foi abandonando a primazia que ocupava no campo do cinema fantástico. Terence Fisher lançou à fama os atores Peter Cushing e Christopher Lee e, de certo modo, reabilitou as assustadoras peripécias fílmicas do Conde Drácula desde que realizou O vampiro da noite (Dracula, 1958)  internacionalmente conhecido como Horror of Dracula graças à distribuição estadunidense , do qual Drácula, o príncipe das trevas (Dracula, prince of darkness, 1965) é espécie de continuação melhorada. Ver este filme no cinema, no início dos anos 70, era experiência de fato apavorante, ainda mais para garotos facilmente impressionáveis. A sequência do renascimento do vampiro, momentos após o início da história, dificultava a chegada do sono para qualquer incauto. Hoje, certamente, diante da ascensão do horror à base da exposição explícita de sangue e tripas, perdeu totalmente o efeito. A apreciação é de 1976.





Drácula, o príncipe das trevas
Dracula: prince of darkness

Direção:
Terence Fisher
Produção:
Anthony Nelson Keys
Seven Arts, Hammer Film, Associeted British Production Limited
Inglaterra — 1965
Elenco:
Christopher Lee, Barbara Shelley, Andrew Keir, Suzanne Farmer, Francis Matthews, Charles "Bud" Tingwell, Thorley Walters, Philip Latham, Walter Brown, George Wooderidge, Jack Lambert, Philip Ray, Joyce Henson, John Maxim.



O diretor Terence Fisher


Dois casais tipicamente britânicos excursionam pela Transilvânia, região da Romênia encravada nos Cárpatos: Charles (Mattews) e Diana (Farmer), Alan (Tingwell) e Helen (Shelley). Os homens, como convém ao bom inglês, destilam autoconfiança das mais arrogantes. Acreditam única e exclusivamente no que pode ser empiricamente comprovado. As mulheres, apesar de mais reticentes, seguem os maridos em tudo. A Transilvânia é uma terra assolada pelo vampirismo. O Conde Drácula reinou absoluto no lugar até cerca de 10 anos, quando foi encurralado e exterminado. Mesmo assim, depois de tanto tempo vivendo sob o manto do medo, todos que ali habitam revelam constante intranquilidade. Recolhem-se cedo, tão logo o sol se põe. Protegem-se com réstias de alho, crucifixos, água benta e estacas de madeira. Temem acima de tudo o sinistro castelo onde residiu o vampiro, instalado no alto dos montes da localidade de Carlsbad.


Dois casais tipicamente britânicos se aventuram por paragens do maligno
Charles, Diana, Alan e Helen, respectivamente interpretados por Francis Matthews, Suzanne Farmer, Charles Tingwell e Barbara Shelley


Encontramos os ingleses numa taverna repleta de moradores assustados. Logo chega o Padre Sandor (Keir). Acaba de impedir o empalamento do cadáver de uma jovem suspeita de contaminação por vampiro. O clérigo, apesar de acreditar no fim de Drácula, recomenda aos turistas que evitem o castelo de Carlsbad quando retomarem a viagem. Para eles soa muito estranho tanto temor e precaução. Fazem ouvidos moucos aos conselhos recebidos. Como reza o ditado, serão atraídos, quais moscas curiosas, à armadilha preparada pela solícita aranha.
  

Não demora para Charles cair nas garras do sinistro e ser ofertado no altar do sacrifício. Seu sangue servirá para reconstituir a horrenda figura de Drácula, cujas cinzas foram cuidadosamente preservadas pelo fiel criado Klove (Latham). O Conde renasce, com anel no dedo e tudo o mais nos devidos lugares. Helen, a próxima vítima, se tornará uma morta-viva. No dia seguinte o mundo de inabaláveis certezas de Alan se desmorona da pior forma possível. Ele e Diana, perseguidos pelos vampiros Helen e Drácula, conseguem fugir mas se acidentam na mata. São salvos pelo Padre Sandor e abrigados no mosteiro. Mas mesmo nesse local santificado Drácula tem um aliado. Trata-se de Ludwig (Walters), encadernador em estado semicatatônico cujo prazer é se alimentar de insetos. Foi encontrado pelos religiosos quando perambulava sem rumo, anos atrás, pelas proximidades do castelo. Ele facilita o rapto de Diana pelo Conde. Sandor e Alan partem para libertá-la, auxiliados pela luz do sol. Chegam ao destino com o cair da tarde. Quando parecia que não teriam tempo para mais nada, conseguem dar cabo do vampiro fazendo-o cair na fatal água corrente.


Charles ( Francis Matthews) é submetido à exsanguinação por Klove (Philip Latham)

O Conde Drácula ressurge de suas próprias cinzas

A vampirizada Helen (Barbara Shelley)

A vampirizada Helen (Barbara Shelley) prestes a deixar o mundo dos mortos-vivos


Drácula, o príncipe das trevas é, de certa forma, uma continuação de O vampiro da noite (Dracula, 1958) do mesmo Terence Fisher. Começa com um prólogo formado pelas cenas finais deste filme, nas quais o Conde é reduzido a cinzas por exposição à cruz e aos raios de sol depois de acuado em seu próprio castelo pelo Dr. Van Helsing (Peter Cushing). Uma narração fornece as explicações necessárias aos desavisados. Também aproveita elementos do original de Bram Stoker que não foram incluídos no filme de 1958.


Conta uma história delirante, assustadora e bem humorada. É horror gótico carregado de erotismo barato e recheado de um decor kitsh exageradamente berrante no colorido. Dessa vez Terence Fisher tomou a sábia decisão de deixar de lado a contenção excessivamente britânica que tanto prejudicou O vampiro da noite. Drácula, o príncipe da trevas lhe é superior em tudo.


Helen (Suzanne Farmer) devidamente protegida contra o mal


Mas, no fundo, é uma gostosa bobagem bem ao gosto da Hammer — produtora inglesa que reinventou o terror cinematográfico desde meados dos anos 40, ocupando o campo que a americana Universal deixara vago. Fisher, o principal artífice da companhia, soube como ninguém reciclar o tema do sinistro, recuperando e renovando as roupagens de variadas criaturas do mal como monstros, múmias, almas do outro mundo, assassinos dementes, vampiros e criaturas de Frankenstein.



Acima e abaixo: Drácula (Christopher Lee) exibe suas armas

  
Christopher Lee volta à pele do personagem que interpretou em O vampiro da noite. Ao todo, foram dez as vezes em que viveu o sanguessuga[1] criado por Bram Stoker. Canastrão dos bons, fornece momentos impagáveis com sua atuação, principalmente quando exibe os caninos (vampirinos não seria melhor?) pontiagudos. Ou gritando do alto da sacada para a vampirizada Helen se afastar de Diana e também demonstrando pavor diante da cruz que lhe ergue Alan.





Roteiro: John Sansom, a partir de uma idéia de Anthony "John Elder" Hinds e com base no personagem de Bram Stoker. Música: James Bernard. Supervisão musical: Philip Martell. Operador de câmera: Cecil R. Cooney. Fotografia (Techniscope, Technicolor): Michael Reed. Desenho de produção: Bernard Robinson. Supervisão de montagem: James Needs. Montagem: Chris Barnes. Maquiagem: Rosy Ashton. Edição de som: Roy Ward Baker. Assistente de direção: Bert Batt. Guarda-roupa: Rosemary Burrows. Gerente de produção: Ross MacKenzie. Direção de arte: Don Mingaye. Gravação de som: Ken Rawkins. Continuidade: Lorna Selwyn. Penteados: Frieda Steiger. Tempo de exibição: 100 minutos.


(José Eugenio Guimarães, 1976)



[1] Além de O vampiro da noite e Drácula, o príncipe das trevas, Lee deu vida à criatura de Bram Stoker em Drácula, o vampiro do sexo (La frusta e il corpo, 1963), de Mario Bava; Drácula, o perfil do Diabo (Dracula has risen from the grave, 1968), de Freddie Francis; Conde Drácula (Nachts, wenn Dracula erwacht, 1970), de Jesús Franco; O sangue de Drácula (Taste the blood of Dracula, 1970), de Peter Sasdy; O Conde Drácula (Scars of Dracula, 1970), de Roy Ward Baker; Drácula do mundo da minissaia (Dracula A. D. 1972, 1972), de Alan Gibson; Os ritos satânicos de Drácula (The satanic rites of Dracula, 1973); de Alan Gibson; e Dracula Père et fils (1976), de Edouard Molinaro.

2 comentários:

  1. Olá, José!

    Ainda não vi este, mas os comentários já geram calafrios, rs... Sou fã dos filmes da Hammer, do diretor Terence Fisher e de Christopher Lee. Os cenários com cores vivas nesses filmes são perfeitos, assim como as atuações e as trilhas sonoras que envolvem o espectador. Até aqui meu terror favorito é "O Vampiro da Noite" (Drácula - 1958).

    Um abraço!

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    1. Olá, Thomaz;

      Muitos estranham, mas considerei este filme muito mais eficaz que "O vampiro da noite". Se bem que as impressões da apreciação publicada são as do meu tempo de garoto, quando eu morria de pavor de filmes assim. Sinal dos tempos.

      Abraços.

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