Telefilme exibido no Brasil em 1973 — ano da produção —
pelo programa da TV Globo Premiere
Mundial — World Premiere,
conforme o original estadunidense. Trata-se de melodrama ordenado em episódios,
com direção dos burocráticos Gene Nelson e Paul Krasny. Uma bucólica cidade dos
Estados Unidos serve de centro nervoso às tramas. A simpática figura de um
carteiro, interpretado por Henry Jones, faz a ligação entre os segmentos. Sua
prosaica atividade, tão pouco movimentada por novidades, ganha, em um único
dia, aspectos extraordinários. Entregará, em regime de urgência, três cartas a
diferentes destinatários. Estavam desaparecidas há um ano, devido ao acidente
que derrubou o avião postal em local ermo e de difícil acesso. Depois de tanto
tempo, quais desdobramentos provocarão nas vidas de remetentes e destinatários?
As
cartas (The letters, 1973) é realização rotineira com andamento pedestre e marcada pela
previsibilidade. Os nomes do elenco são a principal atração. Porém, nenhum
deles apresenta desempenho particularmente relevante. Inexplicável é o fato
desta produção, francamente olvidável, aderir com tanta força às minhas
lembranças. Havia percebido isto quando escrevi esta apreciação em 1974, um ano
após vê-la. Hoje, passados 44 anos, ainda tenho vivas as imagens deste
comezinho melodrama.
As cartas
The letters
Direção:
Gene Nelson, Paul Krasny
Produção:
Paul
Junger Witt
ABC Circle Films
EUA — 1973
Elenco:
Barbara
Stanwyck, Ida Lupino, Pamela Franklin, Leslie Nielsen, John Forsythe, Dina
Merrill, Jane Powell, Lesley Ann Warren, Henry Jones, Ben Murphy, Trish
Mahoney, Gary Dubin, Mia Bendixsen, Gilchrist Stuart, Orville Sherman, Shelly
Novack, Frederick Herrick, Ann Noland, Brick Huston, Charlie Picerni.
Gene Nelson, um dos diretores de As cartas |
Algumas relações
são inexplicáveis. Não se sabe como ou por que acontecem, a ponto de exercer
tão forte vínculo. Às vezes, o motivo da junção é francamente banal e poderia
ser facilmente, até involuntariamente, entregue ao olvido. Porém, não é o que
sempre ocorre. Como explicar, por exemplo, que uma produção tão corriqueira e
pedestre, direcionada à TV — equivalente aos episódios brasileiros de
teleteatro ou "casos especiais" das emissoras estadunidenses — tenha
tão forte aderência às minhas lembranças? O telefilme As cartas nada possui de
extraordinário, à exceção do elenco. Despontam os nomes notáveis de Barbara
Stanwyck, Ida Lupino, Dina Merrill etc., entregues, porém, a representações
burocráticas. Reúne, episodicamente, três pequenos melodramas domésticos de
consequências tardias, graças às três cartas enviadas a destinatários
específicos de mesma cidade, em idêntico dia. Estiveram perdidas por um ano em
decorrência da queda do avião que as transportava em local ermo e de difícil
acesso.
Vi a realização
de Gene Neslon e Paul Krasny há mais de um ano[1].
As ambientações, os trejeitos dos atores e as cenas são elementos marcados pela
previsibilidade, inclusive a emblemática figura do carteiro (Jones). Este é
constante presença da abertura ao final. Também faz a ligação entre os episódios.
Expõe didaticamente para o espectador os aspectos corriqueiros da profissão, tão
raramente movimentada por missivas perdidas recentemente descobertas e
finalmente entregues para desconfiança, alívio, surpresa e até indiferença de remetentes
e destinatários.
O desenvolvimento
é simplório. Os episódios são: The
Andersons segment, The Parkingtons segment
e The Forresters segment. Apresentam-se
nessa ordem, cada qual em dois blocos. Evoluem, inicialmente, até o ponto de
apresentação das fatídicas missivas. Muito tempo é perdido para mostrar como as
correspondências chegaram às agências dos correios, o processo da triagem, o embarque
no avião, o acidente, a localização dos destroços e recuperação da mala postal.
No epílogo, revitalizam-se os episódios com a entrega das cartas e seus esperados
desdobramentos.
John Forsythe interpreta Paul Anderson em The Andersons segment |
Barbara Stanwyck como Geraldine Parkington em The Parkingtons segment |
Ida Lupino como Mrs. Forrester em The Forresters segment |
Gene Nelson
dirigiu The Andersons segment a
partir do roteiro de James G. Hirsch. Tim Southcott fez a direção de fotografia
e David Berlatsky se encarregou da montagem. Atuam John Forsythe, Jane Powell, Lesley Ann Warren, Trish Mahoney, Gary
Dubin e Mia Bendixsen.
Paul Anderson
(Forsythe), infiel marido de Elaine (Powell), é pai amoroso das crianças Paul
(Dubin) e Lisa (Bendixsen). Os filhos são parte fundamental de sua vida. No
entanto, decide abandonar a família para viver com Laura Reynolds (Warren). Sob
o disfarce de uma viagem de negócios, passa, no México, longa temporada com
ela. Porém, a amante é avessa a filhos — fator que mina o relacionamento. Disposto
a seguir com a vida, Paul escreve a Elaine, justificando-se. Entretanto, perde
a carta. Descobrirá isso bem mais tarde, aliviado. Mas Laura a localiza no
apartamento e trata de enviá-la ao correio.
Lesley Ann Warren no papel de Laura Reynolds em The Andersons segment |
The Parkingtons segment, também de Gene
Nelson, tem roteiro de Ellis Marcus — autor da história — e Hal Sitowitz. A direção
de fotografia é de Tim Southcott. Carroll Sax se encarregou da montagem. No
elenco despontam Dina Merrill, Leslie Nielsen, Barbara Stanwyck, Gilchrist
Stuart e Orville Sherman. É — se assim pode ser dito — o mais tenso dos
episódios.
Derek Childs é
pianista ambicioso em ascensão. Namora Penelope Parkington (Merrill). É
sua principal incentivadora, porém desprovida de recursos para catapultá-lo na carreira.
A grande chance para o músico acontece quando a possessiva e endinheirada Geraldine
(Stanwyck) — irmã de Penelope e ávida "caçadora" — se intromete no affair e o reclama para si. Casam-se.
Mas não calculava que a atração por dinheiro do marido sobrepujasse tanto o amor,
a ponto de se sentir fisicamente ameaçada. Antes de ser atraída a uma fatal armadilha,
manifesta apreensões em carta enviada a Penelope.
Penelope Parkington é interpretada por Dina Merrill em The Parkingtons segment |
Os atores de fato
brilham nesse segmento. Stanwyck — com carreira consolidada na interpretação de
personagens fortes e dominadores — não tem dificuldades para se sobressair. O
principal trunfo do episódio decorre dos personagens, melhor elaborados e pouco
propensos a seguir coordenadas de qualquer código condizente com a boa moral. São
lobos se devorando, aproveitando todas as brechas permitidas pelas
circunstâncias.
Por fim há The Forresters segment, com Paul Krasny
na direção e roteiro de James G. Hirsch. Leonard J. South fez a direção de fotografia
e Robert L. Swanson se encarregou da montagem. É drama familiar com alguma
intensidade. No elenco estão Ida Lupino, Pamela Franklin, Ben Murphy, Shelly
Novack, Frederick Herrick, Ann Noland, Brick Huston e Charlie Picerni.
Ben Murphy no papel de Joe Randolph em The Forresters segment |
Karen Forrester (Pamela Franklin) e Joe Randolph (Ben Murphy) em The Forresters segment |
O automobilista Joe
Randolph (Murphy) é injustamente acusado pela morte acidental de um colega. Foge
e se emprega como mecânico na cidade onde os dramas se desenrolam. Desenvolve
relação amorosa com a jovem Karen (Franklin). Porém, a perspicaz e possessiva
mãe da garota, Mrs. Forrester (Lupino), interrompe o idílio. Descobre o passado
de Joe e ameaça denunciá-lo se não desaparecer o quanto antes. Transcorrido
algum tempo, Karen se apresenta grávida. Desgostosa com o sumiço repentino do
namorado, manifesta pouco apreço ao filho. Não sabe que a mãe bloqueia tentativas
de comunicação telefônica do amado. Sequer o informa de que é pai. Joe falece
tragicamente após escrever para Karen. Esclarece os fatos e informa a pretensão
de voltar. Sally (Noland), proprietária da pensão na qual se hospedava,
encontra a carta e a encaminha para a agência postal.
Karen Forrester (Pamela Franklin) e a mãe Mrs. Forrester (Ida Lupino) em The Forrester saegment |
Com
desenvolvimento de telenovela curta, As cartas padece da falta de vigor
narrativo e exposição demasiado rápida dos episódios. Tudo flui
superficialmente. A ideia de três distintos dramas relacionados por um fio
comum soava interessante e poderia, mediante alguma ousadia, resultar em algo
menos rotineiro. No mesmo ano os produtores executivos Leonard Goldberg e Aaron
Spelling encomendaram telefilme similar ao diretor John Erman: Letters
from three lovers. Os dois títulos seriam pilotos de séries televisivas
que não vingaram.
Dina Merrill e Barbara Stanwyck vivem, respectivamente, as irmãs Penelope e Geraldine The Parkingtons segment |
Roteiro: James G. Hirsch, Ellis
Marcus, Hal Sitowitz. Produção
executiva: Leonard Goldberg, Aaron Spelling. Produção associada: Tony Thomas. Música: Pete Rugolo. Direção
de fotografia (cores): Leonard J. South, Tim Southcott. Montagem: David Berlatsky, Carroll Sax,
Robert L. Swanson. Direção de arte:
Tracy Bousman. Decoração: Frank Rafferty, Donald E. Webb. Maquiagem:
Bob Romero, Howard Smit. Gerência de produção: Richard Caffey, Norman
Henry, Al Kraus. Assistência de direção:
Bill Derwin, Fred Giles. Contrarregra:
Bob Henderson, Richard Valesko. Coordenação
de construções: Gordon Kirschbaum. Engenharia
de som: Jack F. Lilly, Don Rush. Efeitos
sonoros: Richard Sperber. Dublê:
Monty Laird (não creditado). Supervisão
de casting: Bert Remsen. Supervisão
de guarda-roupa: Wes Echert, Robert Fuca. Trajes de Barbara Stanwyck: Nolan Miller. Supervisão musical: Rocky Moriana. Continuidade: Doris DeHerdt, Joan Eremin. Tempo de exibição: 74 minutos.
(José Eugenio Guimarães, 1974)
Hola Eugenio, comprendo perfectamente lo que quieres expresar al referirte a los sentimientos que te produce esta película. Por la razón que sea, hay determinadas producciones que se nos quedan en la memoria y recordamos con cariño. Aunque conozco a los actores protagonistas, no tenía la menor idea de la existencia de este film. Me parece interesante en cualquier caso la segmentación de la historia. Un gran abrazo y gracias por tu estimable reseña.
ResponderExcluirPois é, Miguel... Às vezes nos olvidamos de tantas películas que são, em comparação a esta, muito melhores... É algo inexplicável. O problema deste filme, em se tratando de segmentação, é o reduzido tempo para desenvolver com alguma profundidade os episódios. É tudo muito superficial. Caso tenha interesse, acredito que a encontrará no Youtube.
ExcluirAbraços, Miguel. Saludos e bom dmingo.