domingo, 10 de junho de 2018

O MUNDO EXCESSIVO, DESIGUAL E ENFADONHO DE MEL BROOKS

O ator, diretor, compositor, roteirista, produtor e criador de piadas Mel Brooks está com 92 anos. Realizou o último filme em 1995, o mal apreciado Drácula — morto mas feliz (Dracula: dead and loving it). Encerrou a carreira de cineasta em boa hora. À exceção de S.O.S.: tem um louco solto no espaço (Spaceballs, 1987), os últimos trabalhos se revelam pesados, apelativos, excessivos, desiguais e, lógico, fatais para o humor que pretendiam explorar: A louca! Louca história de Robin Hood (Robin Hood: men in tights, 1993), Que droga de vida! (Life stinks, 1991) e, principalmente, o pretensioso e empacado História do mundo — parte I (History of the world: part I, 1981). Este se revelou um fracasso tão estrondoso a ponto de resultar no cancelamento já iniciado da continuação. Pode-se dizer: a partir desse título o mundo começou a terminar para o Mel Brooks cineasta. É um dos piores filmes que vi. Com a pretensão de encenar comicamente aspectos relevantes da história da humanidade, da pré-história à Revolução Francesa, o máximo que conseguiu foram alguns bons e isolados momentos de humor dos mais compartimentalizados: esgotam-se neles mesmos. Sobrou um mosaico épico da comédia estadunidense desprovido de dinamismo. Sequer permite o riso nervoso. Brooks é considerado um dos renovadores da comédia em seu país, não apenas a cinematográfica. Atuou em outras áreas e enriqueceu o talento de cômicos os mais variados. Ao todo, dirigiu 12 filmes. Destacam-se Primavera para Hitler (The producers, 1967), Banzé no Oeste (Blazing saddles, 1974) — com muitas ressalvas —, O jovem Frankenstein (Young Frankenstein, 1974) e — vá lá — S.O.S.: tem um louco solto no espaço. A rápida apreciação para História do mundo — parte I, a seguir, é de 1995.






História do mundo — parte I

History of the world: part I

Direção:
Mel Brooks
Produção:
Mel Brooks
Brooksfilms Limited, 20th. Century Fox
EUA — 1981
Elenco:
Mel Brooks, Dom DeLuise, Madeline Kahn, Cloris Leachman, Harvey Korman, Ron Carey, Gregory Hines, Pamela Stephenson, Spike Milligan, Shecky Greene, Sid Caesar, Mary-Margaret Humes, Rudy DeLuca, Leigh French, Richard Karron, Susette Carrol, Sammy Shore, J. J. Barry, Earl Finn, Suzanne Kent, Michael Champion, Howard Morris, Charlie Callas, Dena Dietrich, Paul Mazursky, Ron Clark, Jack Riley, Art Metrano, Diane Day, Henny Youngman, Hunter von Leer, Fritz Feld, Hugh Hefner, Pat McCormick, Barry Levinson, Sid Gould, Ronny Graham, Jim Steck, John Myhers, Lee Delano, Robert Goldberg, Jay Burton, Robert Zappy, Ira Miller, Milt Freedman, Johnny Silver, Charles Thomas Murphy, Rod Haase, Eileen Saki, John Hurt, Henry Kaiser, Zale Kessler, Anthony J. Messina, Howard Mann, Sandy Helberg, Mitchell Bock, Gilbert Lee, Molly Basler, Debora Dawes, Christine Dickinson, Lisa Sohm, Michele Drake, Jeana Tomasino, Lisa Welch, Janis Schmitt, Heidi Sorenson, Karen Morton, Kathy Collins, Lori Sutton, Lon Mulford, Jackie Mason, Ronny Graham, Phil Leeds, Jack Carter, Jan Murray, Andréas Voutsinas, John Hillerman, Sidney Lassick, Jonathan Cecil, Andrew Sachs, Fiona Richmond, Nigel Hawthorne, Bella Emberg, Geoffrey Larder, George Lane Cooper, Stephanie Marrian, Royce Mills, Mike Cottrell, Gerald Stadden, John Gavin, Rusty Goff, Scott Henderson, Michael Miller, Royce D. Applegate, Alan U. Schwartz, voz de Orson Welles e os não creditados Bea Arthur, Sean Barry-Weske, Ava Cadell, Harry Fielder, Rod Haask, Walter Henry, Linda Hoxit, Denise McKenna, Cleo Roços, Peter Ross-Murray, Dom Salinaro, Ted White, Albert Whitlock, Fred Wood.



O diretor Mel Brooks


Após parodiar o western — Banzé no Oeste (Blazing saddles, 1974), o terror — O jovem Frankenstein (Young Frankenstein, 1974), o cinema silencioso — A última loucura de Mel Brooks (Silent movie, 1976) e o suspense de Hitchcock — Alta Ansiedade (High anxiety, 1977), Mel Brooks resolveu zombar da trajetória de parte humanidade. Saiu do começo dos tempos e chegou à Revolução Francesa. Admiremos o pretensioso cineasta. Nem o megalômano Cecil B. De Mille ousaria tanto.


O imperador Nero na estampa de Dom DeLuise

Ron Carey como o romano Swiftus

Mel Brooks no papel do filósofo desempregado Comicus


Em tela são destacados momentos supostamente relevantes da História com plena liberdade de especulação. Acima de tudo, havia o nobre objetivo de produzir humor. Na pré-história é revelado o processo de descoberta da música. No Monte Sinai, os originais Quinze Mandamentos são abreviados para Dez pelo descuido de Moisés com a queda e rompimento da terceira tábua. O Império Romano é reduzido a um período de permissividade sexual. Convidado para pintar a Santa Ceia, Leonardo da Vinci conta com os próprios Jesus e apóstolos como modelos. Os porões da Inquisição Espanhola servem à encenação de um musical abrilhantado pelo talento de Torquemada no canto e na dança. Nas vésperas da Revolução Francesa a miséria do povo francês faz contraponto ao luxo e desperdício da nobreza e corte de Luís XVI. O diretor assume vários personagens: o libertador dos hebreus, Comicus — filósofo romano desempregado —, o cruel guardião do Santo Ofício espanhol, o plebeu revolucionário Jacques e o décimo sexto monarca da dinastia dos Capeto.


Mel Brooks: um estranho na Santa Ceia de Leonardo Da Vinci (Art Metrano)

Ronny Graham e Jackie Mason, judeus nas mãos do Santo Ofício na Espanha


Em geral, Mel Brooks é excessivamente incensado por parcela da crítica e amplas fatias do público. É tido como um dos grandes renovadores da comédia estadunidense. Não é o que me parece. À exceção de Primavera para Hitler (The producers, 1967), O jovem Frankenstein — seguramente o seu melhor filme — e S.O.S.: tem um louco solto no espaço (Spaceballs, 1987) — recebido com ressalvas pela maioria dos apreciadores —, seu trabalho resvala para o humor exageradamente grosseiro e apelativo. Tem mão pesada, falta-lhe senso de medida para calcular adequadamente a extensão de uma piada — algo fatal para qualquer humorista. Ainda desconheço A última loucura de Mel Brooks.


História do mundo — parte I é um veículo empacado. Nada consegue tirá-lo do lugar. É excessivamente maçante. O conjunto não possui graça. Há alguns momentos geniais: o episódio de Moisés, o desmascaramento do falso eunuco Josephus (Hines), a Santa Ceia e as miseráveis ruas de Paris. Infelizmente, são situações curtas, próprias ao humor compartimentalizado — que se esgota nele mesmo. Os episódios mais pesados são logo os mais longos: o Império Romano e a Revolução Francesa.


O Conde de Monet (Harvey Korman) e o Rei Luís XVI (Mel Brooks)


Diante da frieza com a recepção de História do mundo — parte I, Brooks desistiu da continuação então em andamento.


Moisés (Mel Brooks) e as Tábuas da Lei

Madeline Kahn faz a Imperatriz Nympho e Gregory Hines como o pouco confiável eunuco Josephus


Orson Welles, com a peculiaridade do seu vozeirão, narra os episódios e tenta passar uma ideia de continuidade.


Pamela Stephenson como Mademoiseille Rimbaud e Mel Brooks no papel de Luís XVI

  
Roteiro: Mel Brooks. Direção de fotografia (Panavision, Color DeLuxe): Woody Omens. Desenho de produção: Harold Michelson. Efeitos visuais especiais: Alber J. Whitlock. Montagem: John C. Howard. Música: John Morris. Figurinos: Patricia Norris. Coreografia: Alan Johnson. Sequência da Revolução Francesa: John Trehy (auditoria da produção), Loretta Ordewer (coordenação da produção), Chris Warren (operador de vídeo/não creditado), Brian Ellis (foco/não creditado), Maurice Gillett (eletricista-chefe), Penny Daniels (continuidade), Bill Hobbs (coordenação de dublês), David Murphy (supervisão de guarda-roupa), Stuart Graig (desenho de produção); Paul Wilson (direção de fotografia); Alexander De Grunwald (Gerente de produção); Brian Cooke, Michael Stevenson (assistentes de direção); Terry Needham (gerente de locações); Maggie Cartier (casting); Bob Cartwright (direção de arte); Harry Cordwell (decoração); Bert Hearn (contrarregra); John Morgan, Ginger Gemmell (operadores de câmera); Mike Sale (mixagem de som); Reg Richards (gerente de construções); Eric Allwright, Jill Carpenter (maquiagem); Paula Gillespie (penteados). Canções: Jews in space (Mel Brooks); The Inquistion (Mel Brooks, Ronny Graham); Funkytown (Steve Greenberg). Gerente de produção: Ralph Singleton. Assistentes de direção: Jerry Ziesmer, Mitchell Bock. Ken Tuohy (não creditado). Produtor da mixagem de som: Gens S. Cantamessa. Casting: Mike Fenton, Jane Feinberg. Operador de câmera: Chuy Elizondo. Mixagem da regravação de som: Arthur Plantadosi, Les Fresholtz, Tex Rudloff. Edição de som: Scott A. Hecker. Supervisão da edição de som: Robert R. Rutledge. Decoração: Antony Mondello. Contrarregra: Jack Marino. Construção do set: Christina Productions. Títulos: Intralink Film Graphic Design. Orquestração: Jack Hayes. Edição musical: John R. Harris. Assistente de coreografia: Charlene Painter. Assistentes de montagem: Carol Ann DiGiuseppe, George A. Martin, Stephen Jovejoy, Danford B. Greene. Orquestação da sequência da inquisição espanhola: Ralph Burns. Efeitos especiais: Phil Cory, Richard L. Hill (não creditado). Fotografia de cena: Elliot Marks. Supervisão de script: Betsy Norton. Coordenador de produção: Judy Rosner. Pesquisa histórica: Lillian Michelson. Guarda-roupa feminino: Nancy Martinelli. Guarda-roupa masculino: Jered Edd Green. Maquiagem: Robert Norin, Gustaf Norin (não creditado). Penteados: Vivian McAteer. Narração: Orson Welles. Produtores associados: Stuart Cornfeld, Alan Johnson. Coprodução: Joel Chernoff (não creditado). Direção de arte: Norman Newberry. Consultoria artística: Harold Michelson. Planejamento do pôster: John Alvin (não creditado). Mestre de pintura: Adrian Start (não creditado). Propmaker gangboss: Robert Van Dyke (não creditado). Planejamento do som: Sandy Berman (não credidado). Operador de boom: Raul A. Bruce (não creditado). Som: Steve Cantamessa (não creditado). Edição de efeitos sonoros: Samuel C. Crutcher (não creditado). Equipe de efeitos visuais (não creditada): Charles Chiodo, Edward Chiodo, Stephen Chiodo. Sequência dos Judeus no espaço: Robert Costa (efeitos ópticos/não creditado), John Curtis (construção de modelos/não creditado), Anthony Doublin (miniaturas fotográficas/não creditado), Bob Greenberg (Efeitos em laser/não creditado), Bill Hedge (efeitos visuais/não creditado). Assistente de pintura matte: Syd Dutton (não creditado). Operadores de câmera/matte (não creditado): Dennis Glouner, Mike Moramarco. Miniaturas: William Guest (não creditado). Pintura matte: Henry Schoessler (não creditado). Fotografia matte: Bill Taylor (não creditado). Pirotecnia: Susan Turner (não creditado). Assistente de câmera/matte: Mark Whitlock (não creditado). Coordenação de dublês: Gary Combs. Dublê performer: Philip Romano (não creditado). Dublês (não creditados): Desiree Ayres, Gilbert B. Combs, Dick Durock, James M. Halty. Eletricista-chefe: Gibby Germaine. Assistentes de câmera: Gerald King, John Szajner, Alan Barry (não creditado), Dennis Young (não creditado). Eletricista: Gary Cross (não creditado). Gerentes de locações: John Spencer-Churchill, Bill Borden (não creditado). Mixagem da trilha musical: Dan Wallin (não creditado). Assistentes para o produtor: Randy Auerbach, Leah Zappy. Contabilidade: Lenna Katich, Jim Turner. Publicidade: Irene Walzer. Companhia de efeitos fotográficos especiais: The Magic Lantern. Laboratório de cor: DeLuxe Laboratories. Equipamentos de câmera e iluminação: Lee Lighting. Produção de efeitos ópticos: Pacific Title. Companhia de transportes: Transcord. Sistema de mixagem de som: Stereo. Tempo de exibição: 92 minutos.


(José Eugenio Guimarães, 1995)