domingo, 3 de agosto de 2014

NO SERTÃO VERDEJANTE E FLORIDO NASCEU O MANDACARU VERMELHO

Em condições normais não existiria Mandacaru vermelho (1961) na carreira de Nelson Pereira dos Santos. A obra decorre de solução improvisada, tomada no calor da hora, em instante de desespero. É o terceiro título do cineasta, pelo qual praticamente não nutre apreço. As variáveis intervenientes, sem possibilidades de controle, que lhe dão origem, merecem filme próprio diante da força do seu impacto. A realização conta história de amor, perseguição e vingança passada no sertão nordestino. Percebem-se influências do melodrama mexicano, western e literatura de cordel. Apesar do status de filho mal querido, Mandacaru vermelho é pioneiro no tratamento da temática nordestina pelo moderno cinema brasileiro. Glauber Rocha o tem, numa avaliação um tanto exagerada e injusta, como o primeiro nordestern. A apreciação a seguir foi escrita em 1977. Passou por revisão e ampliação em 1989.






Mandacaru vermelho

Direção:
Nelson Pereira dos Santos
Produção:
Danilo Trelles, Nelson Pereira dos Santos
PRIAL, Nelson Pereira dos Santos Produções Cinematográficas, Regina Filmes Ltda.
Brasil — 1961
Elenco:
Miguel Torres, Jurema Penna, Nelson Pereira dos Santos, Mozart Cintra, Ivan de Souza, Luiz Paulino Dos Santos, João Duarte, Enéas Muniz, Sônia Pereira, José Teles de Magalhães, Mira, Carlos Augusto, Luís Silva.



Nelson Pereira dos Santos nas locações de Mandacaru vermelho


Duas das melhores realizações de Nelson Pereira dos Santos pertencem à seara do escritor Graciliano Ramos: Vidas secas (1963) e Memórias do cárcere (1984). Porém, a visão retrospectiva revela: não foram fáceis as relações do cineasta com o universo do romancista. De início, por culpa da ingenuidade e posicionamento romântico do próprio Nelson. Por fim, devido à incidência de variáveis intervenientes, impossíveis de controlar, que puseram em risco a realização de Vidas secas e resultaram em Mandacaru vermelho. Este é um acidente de percurso, uma solução emergencial imposta pelo desespero. Resiste como corpo estranho na filmografia do realizador, provocando-lhe desconforto sempre que vem à baila.


O interesse cinematográfico de Nelson Pereira dos Santos por Graciliano Ramos começou cedo, em 1951. O futuro realizador, aos 23 anos, era assistente de direção de O saci, de Rodolfo Nanni. Nessa ocasião, conforme Helena Salem em Nelson Pereira dos Santos: o sonho possível do cinema brasileiro[1], ele tinha pretensões de adaptar São Bernardo. Mas um porém resultou em lição espinhosa. Nelson se apaixonou por Madalena — esposa e vítima fatal do violento despotismo do protagonista Paulo Honório[2]. Apoiado nesse sentimento, alimentou a intenção de poupá-la do trágico destino caso transpusesse a obra para o cinema. Solicitou ao escritor, por intermédio de Ruy Santos — amigo de ambos —, permissão para deixá-la viva. A resposta de Graciliano foi fulminante e didática: que Nelson produzisse sua própria história e não viesse com planos de alterar escritos alheios; modificações não seriam admitidas. A seguir, o escritor acertou em cheio, franca e doloridamente, o ingênuo romantismo do futuro diretor ao esclarecer que Madalena representava não uma mulher singularizada, mas um conjunto de outras como ela, vítimas tanto de seus maridos como de circunstâncias históricas que condicionaram as relações sociais no Nordeste brasileiro. As que escaparam do triste destino seriam exceções que confirmam a regra. A realidade nua e crua da região não deixava espaço à falsidade das soluções benévolas e românticas[3].


Nelson não filmou São Bernardo[4]. Mas absorveu e compreendeu intensamente as palavras de Graciliano sobre o Nordeste e o condicionamento histórico-social. Em 1958 já havia realizado dois marcantes filmes de temática urbana, considerados pedras fundamentais ao Cinema Novo: Rio 40 graus (1955) e Rio Zona Norte (1957). Formariam, a princípio, a trilogia "Rio" com Rio Zona Sul. Mas dado o processo de amadurecimento do cineasta, o terceiro título não saiu do papel. Nelson decidiu não realizá-lo após considerar criticamente o argumento que escreveu. Alegou que a história em nada refletia seus valores e posicionamento como homem e cineasta[5]. Na verdade, já estava com os olhos postos em Vidas secas, cujo roteiro concebeu durante a realização de Rio Zona Norte.


As pressões que partiam do próprio Nelson para filmar Vidas secas aumentaram em 1958. Era redator do Jornal do Brasil quando acompanhou o repórter de imagens Hélio Silva — diretor de fotografia de Rio 40 graus, Rio Zona Norte e O grande momento (1958), de Roberto Santos[6] — ao Nordeste, para documentar a seca. A viagem de trabalho funcionou como jornada de conhecimento e aprendizagem. O cineasta absorveu a realidade do lugar. Sentiu os problemas, as pessoas e a geografia. Por fim, ao término de 1959, parecia certo que o filme sairia do papel. Ao pouco dinheiro levantado foram acrescentados valores uruguaios cedidos por Danillo Trelles, "diretor do Festival de Montevidéu"[7]. Nélson embarcou para a Bahia. Instalou-se na região de Petrolina e Juazeiro, pronto para filmar. Estava na companhia de jovens ligados ao nascente cinema baiano, dentre os quais Luís Paulino dos Santos, Miguel Torres e Jurema Penna. Estes interpretariam, respectivamente, o Soldado Amarelo, Fabiano e Sinhá Vitória. Luís Paulino, com trânsito no governo baiano de Juracy Magalhães, aliviou as dificuldades da produção ao levantar facilidades de alimentação, transporte e hospedagem[8].


Augusto (Nelson Pereira dos Santos) e Clara (Sônia Pereira)
Os jovens enamorados de Mandacaru vermelho


As filmagens começariam no domingo de carnaval de 1960. Equipe e atores estavam a postos nas locações sertanejas. Sem mais nem menos as condições meteorológicas foram radicalmente alteradas. O tempo fechou e choveu torrencialmente ao longo de dias. O sertão seco se cobriu de lama, caminhos ficaram intransitáveis, rios transbordaram. Impossível filmar Vidas secas nessas condições. Hélio Silva documentou a situação calamitosa de Juazeiro e Petrolina para a TV de Salvador. Nelson, equipe e atores se integraram às operações de resgate e salvamento dos flagelados. Quando a chuva cessou, o tempo permaneceu encoberto, com baixa luminosidade para um filme que necessitava da luz intensa do Sol. Por fim, a dissipação das nuvens revelou outro sertão, verdejante e florido[9]. Os dias passaram e confirmaram a impossibilidade de realizar Vidas secas nas condições pretendidas. Porém, encerrar o empreendimento pura e simplesmente estava fora de cogitação, ainda mais com a fartura de negativos à disposição, com prazo definido de validade. Apresentou-se a solução emergencial, desesperadora, improvisada: fazer outro filme. Afinal, materiais, equipe e atores estavam arregimentados. Mas o que filmar? A solução ficou por conta de Nelson Pereira dos Santos. Ele escreveu a toque de caixa, em parceria com L. Andrade, uma história de amor, vingança e conflitos familiares passada no sertão. Consta que a inspiração veio de uma lenda regional. Mas há quem afirme que essa origem também é invenção de Nelson[10], com o objetivo de conferir mais credibilidade e potencial dramático à saída arranjada, cujo título é Mandacaru vermelho.



Dona Dusinha (Jurema Penna) e Primo (Ivan de Souza) na perseguição aos fugitivos


É uma história de mocinho e mocinha, ambos apaixonados, fugindo sertão afora da implacável perseguição da despótica Dona Dusinha, tia da jovem Clara (Pereira) e latifundiária que modela a existência de seus dependentes aos caprichos de uma vontade inquestionável. Os antecedentes mais antigos do drama residem no assassinato do irmão  da plenipotenciária — pai da fugitiva —  em célebre massacre do qual participou e ordenou. O local ensanguentado, amaldiçoado segundo a voz do povo, foi abandonado. Ali nasceu e tomou forma um gigantesco mandacaru encarnado. Agora, passados tantos anos, será palco de novo ajuste de contas.


Glauber Rocha passa rapidamente por Mandacaru vermelho em seu Revisão crítica do cinema brasileiro, talvez por se acumpliciar afetivamente com Nelson Pereira dos Santos, que sempre tratou o filme com estranhamento, como produto mal nascido e pouco querido. Entretanto, refere-se a ele como "O primeiro e mais autêntico 'Nordestern' brasileiro, frágil numa história superficial, mas semelhante aos clássicos de Humberto Mauro pela captação do meio ambiente, beleza visual, lirismo dos primitivos personagens sertanejos"[11].


O problema em Glauber reside na palavra "autêntico", tão carregada de valor. Até porque Mandacaru vermelho não é o primeiro exemplar do nordestern. Em 1953 Lima Barreto filmou O cangaceiro, no qual o Capitão Galdino Ferreira (Milton Ribeiro) e seus homens montavam garbosos cavalos. Historicamente, sabe-se, cangaceiros avançavam a pé. Assim, ao menos nesse quesito, os namorados fugitivos de Mandacaru vermelho — que mal dispunham de montaria; jumentos quando muito — estavam, aos olhos de Glauber, mais antenados à realidade. Por outro lado, do ponto de vista formal, o visual de O cangaceiro em tudo destoava da autenticidade pretendida pelo nascente Cinema Novo.



Primo (Ivan de Souza) em missão de vingança


O principal problema na realização de Mandacaru vermelho foi a escolha dos intérpretes dos amantes fugitivos. O baiano Geraldo Del Rey chegou a ser cogitado. Mas os minguados recursos da produção não cobririam o valor cobrado. O jeito mais em conta foi improvisar um ator na figura do diretor. Assim, Nelson Pereira dos Santos ficou com o papel de Augusto[12]. A namorada de Luís Paulino dos Santos, Sônia Pereira, representou Clara, após dura operação de convencimento de Dona Julieta, mãe da garota, que tinha o cinema na conta de atividade pouco digna às pessoas direitas, de família. Ela acabou acompanhando a filha às filmagens, complicando um pouco as tomadas das poucas e tímidas cenas carregadas de maior calor afetivo. Nesses momentos, apelava-se ao recurso pouco limpo de ofuscar a visão de Dona Julieta com a luz dos rebatedores[13].


A figura forte de Mandacaru vermelho é Dona Dusinha (Penna). É a personagem que de fato comanda a ação em seus mais dramáticos momentos. Como um coronel de saias, é impiedosa e implacável na guarda à honra e inviolabilidade do sangue de sua parentela. Por isso eliminou o irmão Nosinho (Muniz) e cunhada no impactante e dinâmico massacre inicial. A cena da personagem de Jurema Penna no alto de um rochedo, revólver em punho na consumação da matança, é vigorosa e marcante. Mesmo assim, assumiu a criação da sobrinha órfã, Clara.


Dusinha (Jurema Penna) no impactante começo de Mandacaru vermelho


Passaram-se quase 20 anos. Dusinha nunca se recuperou do trauma da matança. No entanto, sua ira se voltará contra a sobrinha. Durante um pesadelo, revela para a moça o destino dado aos seus pais. É o momento em que Nelson Pereira dos Santos insere um bem orquestrado flashback à narrativa.


Diante da verdade, Clara desiste do casamento arranjado com o fazendeiro Mendonça (Cintra), cúmplice no massacre. Foge com o vaqueiro Augusto, empregado da tia e com o qual vivia oculto e proibido idílio. Os jovens, muito inocentes, pretendem oficializar o matrimônio o quanto antes. Durante a fuga — auxiliada pelo bruto Pedro (Miguel Torres), irmão do pretendente — buscam um padre para consagrar a união. Em paralelo, Dusinha arregimenta irmão (José Telles de Magalhães) e filhos (Ivan de Souza e Luís Paulino dos Santos) para a perseguição e vingança. O grupo é auxiliado de forma independente pelo traído Mendonça. Em seu caminho não poupam crianças e animais de criação. Clara e Augusto, atraídos a uma armadilha que culmina em brutal e ousada tentativa de estupro em plena caatinga, são salvos pela pronta intervenção de Pedro. Mendonça é morto. Os fugitivos tomam a trilha rumo ao sítio do mandacaru vermelho. A maior parte do percurso se faz a pé, com os perseguidores em seus calcanhares.



O bruto Pedro (Miguel Torres), irmão de Augusto (Nelson Pereira dos Santos)

A desavença entre Pedro (Miguel Torres) e Augusto (Nelson Pereira dos Santos) após a tentativa de estupro de Clara (Sônia Pereira) por Mendonça (Mozart Cintra)


Augusto e Clara se separam de Pedro após uma desavença. Mas este os alcança nas cercanias do sítio amaldiçoado, a tempo de protegê-los do ataque de Dusinha. Um beato louco e solitário (Muniz) encontrado no local celebra a união dos jovens debaixo de intenso tiroteio — uma das cenas mais estranhas do cinema brasileiro. É, provavelmente, sobrevivente do massacre que gerou o drama. Aparenta ser Nosinho, em vista da fúria com que se lança contra Dusinha, matando-a. Pedro morre protegendo Augusto e Clara. O clímax, razoavelmente encenado, é uma luta a facão sobre rochedos pontiagudos entre Augusto e o personagem vivido por Luís Paulino dos Santos. Os apaixonados são os únicos sobreviventes. Ao final, chegam ao povoado e se integram a uma cerimônia coletiva de casamento.


Acima e abaixo, Nelson Pereira dos Santos como Augusto e Sônia Pereira como Clara
Atores improvisados pelas condições de realização de Mandacaru vermelho

Dusinha (Jurema Penna) nas mãos do beato enlouquecido, provavelmente Nosinho (Enéas Muniz), vinte anos após a tragédia que deu origem a Mandacaru vermelho

  
Dadas as condições em que foi idealizado e concebido, Mandacaru vermelho saiu melhor que a encomenda, apesar da insatisfação de Nelson Pereira dos Santos com seu acerto de última hora. Ele poderia ser mais condescendente. Mesmo sabendo que jamais faria esse filme em condições normais, o que se vê é uma narrativa que transcorre no clima do melhor cinema de aventuras, com doses de arrojo e dinamismo. Também não deixa de ser verdadeira a avaliação de Glauber Rocha acerca da autenticidade da obra. A violência dos plenipotenciários senhores de terras e gentes  tão bem analisada por Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda  está presente no retrato de Dusinha. O caráter rude, taciturno, pouco racional dos vaqueiros — avessos ao romantismo, sobreviventes em uma realidade dominada pelo imediatismo — está estampado em Pedro. Os aspectos da religiosidade popular, tão instrumental, também se mostram. A violência como recurso preferencial para resolução dos conflitos — tão cara à cordialidade do brasileiro, conforme registrado em Raízes do Brasil[14] — é bem evidenciada. Destaca-se também o desolador retrato dos povoados e cidades sertanejas, em seus cotidianos desprovidos de pulsação humana. Provavelmente, o que mais pesou no desagrado de Nelson Pereira dos Santos foi seu trabalho como ator. Mesmo isso pode ser relativizado. Não é tão ruim. O desempenho não compromete, muito menos o da improvisada Sônia Pereira. Inclusive pelo fato de serem enquadrados com relativo cuidado durante a maior parte do tempo, como se fossem coadjuvantes.


Formalmente, Mandacaru vermelho se beneficia da excelente fotografia de Hélio Silva, que extrai o belo em meio à rudeza do sertão. Céus, rochas e cursos d'água são valorizados e fornecem adequadas atmosfera e pano de fundo a uma história de vingança e também de amor, ainda que os momentos idílicos sejam breves. Também há os acordes sempre presentes de Remo Usai — um dos melhores compositores do cinema brasileiro —, alimentados por motivos regionais que bem mais tarde seriam recuperados e prolongados por grupos musicais que conseguiram ultrapassar as barreiras do preconceito e do mercado, fazendo-se ouvir nos círculos elitizados, como Banda de Pau e Corda e Quinteto Violado. Mas não apenas nisso o filme improvisado de Nelson Pereira dos Santos é premonitório. Também antecipa o namoro do cinema brasileiro com temáticas nordestinas. A seguir vieram Deus e o diabo na terra do sol (1964), de Glauber Rocha; Os fuzis (1965), de Rui Guerra; Cabra marcado para morrer (iniciado em 1964, finalizado em 1984), de Eduardo Coutinho; O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1969), de Glauber Rocha etc. Mandacaru vermelho abriu o Nordeste para o cinema. O filme parece antecipar até mesmo o desenho dos personagens cruéis do western europeu. Dusinha e os seus são extremamente perversos, em nível como nunca se viu. A um filme realizado no alvorecer da década de 60 causa certo espanto o grito que ela endereça ao irmão moribundo, gravemente ferido por um tiro: "Para de gemer!". Até então, pelo que sei, os mais pérfidos personagens do cinema jamais se dirigiram de modo tão desabrido a um agonizante.


"Para de gemer"
Dusinha (Jurema Penna) entre os filhos vividos por Luis Paulino dos Santos e Ivan de Souza
Abaixo, o moribundo irmão da déspota, interpretado por José Telles de Magalhães

  
Muito se falou da influência do western, principalmente de John Ford, na realização. Mas pouco foi dito sobre outras referências, vindas do cinema mexicano[15], particularmente de Emilio Fernández, das quais me vêm à memória os filmes Enamorada (Enamorada, 1946) e Flor silvestre (Flor silvestre, 1943) — acima de tudo este —, ambos fotografados pelo mestre Gabriel Figueroa, que pode ter inspirado alguns enquadramentos poéticos de Hélio Silva. Mas os momentos iniciais e finais de Mandacaru vermelho parecem respirar pelos pulmões do melodramático western Duelo ao Sol (Duel in the Sun, 1946), creditado a King Vidor[16]. Elementos da literatura de cordel também se fazem notar, sobretudo nas canções.


As filmagens de Mandacaru vermelho ocuparam 60 dias dos seis meses em que Nelson Pereira dos Santos permaneceu na Bahia[17]. Na volta ao Rio, processou-se a montagem e logo após o lançamento, em 1961, inclusive no Uruguai. Praticamente não houve divulgação. A artista gráfica ligada ao Neoconcretismo, Lygia Pape, elaborou os créditos de abertura seguindo orientações do diretor[18]. O filme cumpriu carreira rápida nos cinemas de ambos os países, de forma quase imperceptível[19]. O realizador chegou falido ao término da experiência, tendo que reassumir suas funções no jornalismo[20]. Segundo Helena Salem, a crítica não deu atenção ao filme e menciona como exceção Cláudio Mello e Souza, do Jornal do Brasil, para quem Mandacaru vermelho se apresentou, apesar da precariedade da realização, como tentativa válida e pioneira de devassar o Brasil naquilo que o país apresenta de mais autêntico, trágico e grotesco, sem a necessidade de cair na armadilha do exotismo fácil[21].


Apesar de tudo, principalmente do descaso, Mandacaru vermelho conquistou, em 1961, o Prêmio da Associação Brasileira de Cronistas Cinematográficos, seção Rio de Janeiro, para Melhor Composição Musical (Remo Usai); e os troféus do Diário Carioca de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro, Melhor Fotografia e Melhor Composição Musical.



Nelson Pereira dos Santos nas filmagens de Mandacaru vermelho


Roteiro: Nelson Pereira dos Santos, a partir de argumento original de L. Andrade e Nelson Pereira dos Santos. Música: Remo Usai, Clodoaldo Brito, Carlos Lacerda. Canções: O sol c'a mão, letra de Mozart Cintra; Mandacaru, música de Remo Usai e letra de Pedro Bloch; Eu vou lá, letra de Pedro Bloch. Direção de fotografia (preto-e-branco): Hélio Silva. Assistente de fotografia: Luiz Paulino dos Santos. Assistentes de câmera: Leonardo Bartucci, Luiz Paulino dos Santos. Montagem: Nello Melli. Decoração: João Duarte. Letreiros e créditos de abertura: Lygia Pape. Assistentes de direção: Luis Telles, Ivan de Souza, Luís Paulino dos Santos. Som: Geraldo José, Enéas Muniz, Nelo Melli. Assistentes de produção: Mozart Cintra, Ivan De Souza, José Teles de Magalhães, Pedro Dantas. Continuidade: Olney São Paulo. Direção de produção: Frank Justo Acker. Tempo de exibição: 78 minutos.


(José Eugenio Guimarães, 1977; revisto e ampliado em 1989)




[1] SALEM, Helena. Nelson Pereira dos Santos: o sonho possível do cinema brasileiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987.
[2] Cf. Ibidem. p. 145.
[3] Cf. Ibidem. p. 145-146.
[4] Em 1972, com este título, São Bernardo foi levado às telas por Leon Hirszman. É uma das mais sólidas e maduras realizações do cinema brasileiro.
[5] Cf. SALEM, Helena. Op. cit. p. 146.
[6] O grande momento tem produção de Nelson Pereira dos Santos.
[7] SALEM, Helena. Op. cit. p. 146-147.
[8] Cf. Ibidem. p. 147.
[9] Cf. Ibidem.
[10] Ibidem. p. 148.
[11] ROCHA, Glauber. Revisão crítica do cinema brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. p. 87.
[12] SALEM, Helena. Op. Cit. p. 149.
[13] Ibidem.
[14] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1936.
[15] Nessa época, filmes do México eram fartamente exibidos entre nós. Havia no Brasil representações da PelMex — Películas Mexicanas.
[16] Duelo ao Sol contou na realização com os não creditados Josef von Sternberg, Sidney Franklin, William Dieterle, William Cameron Menzies e Otto Brower além do próprio produtor, também um dos roteiristas, David O. Selznick.
[17] Cf. SALEM, Helena. Op. cit. p. 150.
[18] Cf. Ibidem. p. 150-151.
[19] Cf. Ibidem. p. 151.
[20] Cf. Ibidem.
[21] Cf. Ibidem.