sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DO BLOG

John Ford, meu cineasta preferido
O comentário de algum filme dele será sorteado para integrar o segundo ano do blog?


Eugenio em Filmes (www.cineugenio.blogspot.com) comemora seu primeiro aniversário. Não sei se o espaço terá vida longa, mas conseguiu ir além do previsto quando lançado em 13 de dezembro de 2012. Aproveito o momento para agradecer à querida amiga Yamê de Oliveira Peixoto, responsável pela leveza e simplicidade de seu design. Ela entendeu perfeitamente o meu desejo ao conceber um ambiente de acesso fácil, desprovido de firulas, que não exigisse muito em termos de conexão e esforço visual. Só pedi um fundo claro, para o assentamento dos textos, emoldurado por cortinas verdes. Estas possuem significados profundos às minhas memórias afetivas: lembram o finado Cine Odeon da mineira cidade de Viçosa/MG. Neste local não apenas construí boa parte de minha cinefilia em meus dias de garoto, como também atuei na operação dos projetores, de 1974 a 1981, ao lado do inesquecível Francisco Cunha Amorim, o Chico Borró.


A rotina do blog é feita à base de uma nova postagem a cada semana, sempre aos domingos em sua hora zero. Os textos publicados resultam de sorteios os mais aleatórios dos comentários que, desde 1974, escrevo sobre os mais diversos filmes que assisti e venho assistindo. Com base nesse método governado pelo acaso, podem entrar apreciações de títulos os mais variados, tanto de obscuras bombas cinematográficas até das mais renomadas obras mestras. Também é uma forma encontrada para privilegiar minha cinefilia como um todo, não deixando minhas simpatias e antipatias governarem as publicações.


Assisti, até o momento, a quase 6200 filmes, desde que fui iniciado no gosto pelo cinema ao ver Marcelino pão e vinho (Marcelino pan y vino, 1955), de Ladislao Vajda, em 1958, quando contava apenas dois anos. Todos esses títulos estão cuidadosamente anotados com suas respectivas fichas técnicas. Desse montante, há comentários escritos para cerca de 4000, dos quais são sorteados os que se integrarão ao blog. Por ora, não pretendo alterar essa rotina, até para não ficar totalmente absorvido por ela. A dureza da aleatoriedade, ao menos para mim, decorre do sacrifício e da tensão que o sistema implica. Por exemplo: até o momento não se apresentaram comentários de filmes de John Ford, meu cineasta preferido. Ou de outros que me são notadamente importantes e falam alto às minhas afetividades como Howard Hawks, Jules Dassin, Anthony Mann, Stanley Kubrick, Orson Welles, King Vidor, Woody Allen, Frank Capra, Vincente Minnelli, Billy Wilder, Ernst Lubitsch, Humberto Mauro, Luchino Visconti, Roberto Rossellini, Jean-Luc Godard, Charles Chaplin, Raoul Walsh, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, David Lean, David Wark Griffith, Jacques Feyder, Jacques Tati, Yasujiro Ozu, Akira Kurosawa, Sergio Leone, Jean Renoir, Sergei Eisenstein, Ingmar Bergman, Satyajit Ray e outros tantos. Quem sabe, apreciações alusivas aos títulos desses mestres não serão sorteadas no segundo ano do blog, prestes a se iniciar? Espero que sim.


Martin Pawley (Jeffrey Hunter) e Ethan Edwards (John Wayne) procuram Debbie (Natalie Wood)
Rastros de ódio (The searchers, 1956), de John Ford

  
Até o momento, 53 apreciações foram publicadas. Igual número é aguardado no segundo ano. Para um espaço como este, que não conta com amplos recursos de divulgação — só os decorrentes de meus limitados esforços além da ajuda de amigos, conhecidos e apreciadores de boa vontade (aos quais sinceramente agradeço) —, até que o público vem se mostrando compensador. Se forem confiáveis os métodos de aferição do blog, os leitores e curiosos não são apenas brasileiros. Também há estadunidenses, malaios, chineses, portugueses, russos, alemães, japoneses, romenos, angolanos, franceses, holandeses, suíços, argentinos, italianos, ucranianos, canadenses e ingleses.



Marcelino pão e vinho (Marcelino pan y vino, 1955), de Ladislao Vajda
O começo de minha cinefilia, em 1958, quando estava com dois anos de idade


Bom, é isto! Que venha o segundo ano do blog. O espaço e as publicações estão abertos ao recebimento de críticas positivas e negativas, sugestões, correções etc.


A todos, muito obrigado!


José Eugenio Guimarães

13 de dezembro de 2013


domingo, 8 de dezembro de 2013

DAS CINZAS DE "O VAMPIRO DA NOITE" DRÁCULA RENASCE COMO "O PRÍNCIPE DAS TREVAS"

Marcou época no cinema de terror a "Coleção Maldita de Terence Fisher". O diretor inglês, amparado pela britânica Hammer Film, é responsável pela sobrevida cinematográfica de diversos personagens do mal como monstros, múmias, almas do outro mundo, assassinos dementes, vampiros e criaturas de Frankenstein, principalmente depois que a estadunidense Universal foi abandonando a primazia que ocupava no campo do cinema fantástico. Terence Fisher lançou à fama os atores Peter Cushing e Christopher Lee e, de certo modo, reabilitou as assustadoras peripécias fílmicas do Conde Drácula desde que realizou O vampiro da noite (Dracula, 1958)  internacionalmente conhecido como Horror of Dracula graças à distribuição estadunidense , do qual Drácula, o príncipe das trevas (Dracula, prince of darkness, 1965) é espécie de continuação melhorada. Ver este filme no cinema, no início dos anos 70, era experiência de fato apavorante, ainda mais para garotos facilmente impressionáveis. A sequência do renascimento do vampiro, momentos após o início da história, dificultava a chegada do sono para qualquer incauto. Hoje, certamente, diante da ascensão do horror à base da exposição explícita de sangue e tripas, perdeu totalmente o efeito. A apreciação é de 1976.





Drácula, o príncipe das trevas
Dracula: prince of darkness

Direção:
Terence Fisher
Produção:
Anthony Nelson Keys
Seven Arts, Hammer Film, Associeted British Production Limited
Inglaterra — 1965
Elenco:
Christopher Lee, Barbara Shelley, Andrew Keir, Suzanne Farmer, Francis Matthews, Charles "Bud" Tingwell, Thorley Walters, Philip Latham, Walter Brown, George Wooderidge, Jack Lambert, Philip Ray, Joyce Henson, John Maxim.



O diretor Terence Fisher


Dois casais tipicamente britânicos excursionam pela Transilvânia, região da Romênia encravada nos Cárpatos: Charles (Mattews) e Diana (Farmer), Alan (Tingwell) e Helen (Shelley). Os homens, como convém ao bom inglês, destilam autoconfiança das mais arrogantes. Acreditam única e exclusivamente no que pode ser empiricamente comprovado. As mulheres, apesar de mais reticentes, seguem os maridos em tudo. A Transilvânia é uma terra assolada pelo vampirismo. O Conde Drácula reinou absoluto no lugar até cerca de 10 anos, quando foi encurralado e exterminado. Mesmo assim, depois de tanto tempo vivendo sob o manto do medo, todos que ali habitam revelam constante intranquilidade. Recolhem-se cedo, tão logo o sol se põe. Protegem-se com réstias de alho, crucifixos, água benta e estacas de madeira. Temem acima de tudo o sinistro castelo onde residiu o vampiro, instalado no alto dos montes da localidade de Carlsbad.


Dois casais tipicamente britânicos se aventuram por paragens do maligno
Charles, Diana, Alan e Helen, respectivamente interpretados por Francis Matthews, Suzanne Farmer, Charles Tingwell e Barbara Shelley


Encontramos os ingleses numa taverna repleta de moradores assustados. Logo chega o Padre Sandor (Keir). Acaba de impedir o empalamento do cadáver de uma jovem suspeita de contaminação por vampiro. O clérigo, apesar de acreditar no fim de Drácula, recomenda aos turistas que evitem o castelo de Carlsbad quando retomarem a viagem. Para eles soa muito estranho tanto temor e precaução. Fazem ouvidos moucos aos conselhos recebidos. Como reza o ditado, serão atraídos, quais moscas curiosas, à armadilha preparada pela solícita aranha.
  

Não demora para Charles cair nas garras do sinistro e ser ofertado no altar do sacrifício. Seu sangue servirá para reconstituir a horrenda figura de Drácula, cujas cinzas foram cuidadosamente preservadas pelo fiel criado Klove (Latham). O Conde renasce, com anel no dedo e tudo o mais nos devidos lugares. Helen, a próxima vítima, se tornará uma morta-viva. No dia seguinte o mundo de inabaláveis certezas de Alan se desmorona da pior forma possível. Ele e Diana, perseguidos pelos vampiros Helen e Drácula, conseguem fugir mas se acidentam na mata. São salvos pelo Padre Sandor e abrigados no mosteiro. Mas mesmo nesse local santificado Drácula tem um aliado. Trata-se de Ludwig (Walters), encadernador em estado semicatatônico cujo prazer é se alimentar de insetos. Foi encontrado pelos religiosos quando perambulava sem rumo, anos atrás, pelas proximidades do castelo. Ele facilita o rapto de Diana pelo Conde. Sandor e Alan partem para libertá-la, auxiliados pela luz do sol. Chegam ao destino com o cair da tarde. Quando parecia que não teriam tempo para mais nada, conseguem dar cabo do vampiro fazendo-o cair na fatal água corrente.


Charles ( Francis Matthews) é submetido à exsanguinação por Klove (Philip Latham)

O Conde Drácula ressurge de suas próprias cinzas

A vampirizada Helen (Barbara Shelley)

A vampirizada Helen (Barbara Shelley) prestes a deixar o mundo dos mortos-vivos


Drácula, o príncipe das trevas é, de certa forma, uma continuação de O vampiro da noite (Dracula, 1958) do mesmo Terence Fisher. Começa com um prólogo formado pelas cenas finais deste filme, nas quais o Conde é reduzido a cinzas por exposição à cruz e aos raios de sol depois de acuado em seu próprio castelo pelo Dr. Van Helsing (Peter Cushing). Uma narração fornece as explicações necessárias aos desavisados. Também aproveita elementos do original de Bram Stoker que não foram incluídos no filme de 1958.


Conta uma história delirante, assustadora e bem humorada. É horror gótico carregado de erotismo barato e recheado de um decor kitsh exageradamente berrante no colorido. Dessa vez Terence Fisher tomou a sábia decisão de deixar de lado a contenção excessivamente britânica que tanto prejudicou O vampiro da noite. Drácula, o príncipe da trevas lhe é superior em tudo.


Helen (Suzanne Farmer) devidamente protegida contra o mal


Mas, no fundo, é uma gostosa bobagem bem ao gosto da Hammer — produtora inglesa que reinventou o terror cinematográfico desde meados dos anos 40, ocupando o campo que a americana Universal deixara vago. Fisher, o principal artífice da companhia, soube como ninguém reciclar o tema do sinistro, recuperando e renovando as roupagens de variadas criaturas do mal como monstros, múmias, almas do outro mundo, assassinos dementes, vampiros e criaturas de Frankenstein.



Acima e abaixo: Drácula (Christopher Lee) exibe suas armas

  
Christopher Lee volta à pele do personagem que interpretou em O vampiro da noite. Ao todo, foram dez as vezes em que viveu o sanguessuga[1] criado por Bram Stoker. Canastrão dos bons, fornece momentos impagáveis com sua atuação, principalmente quando exibe os caninos (vampirinos não seria melhor?) pontiagudos. Ou gritando do alto da sacada para a vampirizada Helen se afastar de Diana e também demonstrando pavor diante da cruz que lhe ergue Alan.





Roteiro: John Sansom, a partir de uma idéia de Anthony "John Elder" Hinds e com base no personagem de Bram Stoker. Música: James Bernard. Supervisão musical: Philip Martell. Operador de câmera: Cecil R. Cooney. Fotografia (Techniscope, Technicolor): Michael Reed. Desenho de produção: Bernard Robinson. Supervisão de montagem: James Needs. Montagem: Chris Barnes. Maquiagem: Rosy Ashton. Edição de som: Roy Ward Baker. Assistente de direção: Bert Batt. Guarda-roupa: Rosemary Burrows. Gerente de produção: Ross MacKenzie. Direção de arte: Don Mingaye. Gravação de som: Ken Rawkins. Continuidade: Lorna Selwyn. Penteados: Frieda Steiger. Tempo de exibição: 100 minutos.


(José Eugenio Guimarães, 1976)



[1] Além de O vampiro da noite e Drácula, o príncipe das trevas, Lee deu vida à criatura de Bram Stoker em Drácula, o vampiro do sexo (La frusta e il corpo, 1963), de Mario Bava; Drácula, o perfil do Diabo (Dracula has risen from the grave, 1968), de Freddie Francis; Conde Drácula (Nachts, wenn Dracula erwacht, 1970), de Jesús Franco; O sangue de Drácula (Taste the blood of Dracula, 1970), de Peter Sasdy; O Conde Drácula (Scars of Dracula, 1970), de Roy Ward Baker; Drácula do mundo da minissaia (Dracula A. D. 1972, 1972), de Alan Gibson; Os ritos satânicos de Drácula (The satanic rites of Dracula, 1973); de Alan Gibson; e Dracula Père et fils (1976), de Edouard Molinaro.