quinta-feira, 17 de junho de 2021

O OCASO DOS MITOS, O FIM DO COWBOY E DE UM TEMPO

 

Momento belíssimo e melancólico de O homem que matou o facínora (The man who shot Liberty Valance, 1962), de John Ford.

 

Ransom Stoddard (James Stewart) lança o último olhar ao rústico caixão que abriga o corpo de Tom Doniphon (John Wayne), o cowboy que o catapultou para a lenda e morreu esquecido ― aqui representado pela rústica, selvagem e fugaz flor de cactus que lhe guarda a memória, ao menos por breve tempo. A imagem dura poucos segundos, o suficiente para ser captada em primeiro plano e permanecer na afetividade do espectador sensibilizado pela história. É um dos momentos mais sublimes e emocionantes do cinema.

 

Gosto de brincar afirmando que O homem que matou o facínora é o meu filme preferido, ao menos dos dias pares. Pois nos ímpares fico com Rastros de ódio (The searchers, 1956), também de John Ford.






Tom Doniphon (John Wayne) e Ransom Stoddard (James Stewart)


Pompey (Woody Strode) e Tom Doniphon (John Wayne)


Reese (Lee Van Cleef), Liberty Valance (Lee Marvin) e Floyd (Strother Martin)


Tom Doniphon (John Wayne) prestes a cumprir o seu trágico destino





Hallie Stoddard (Vera Miles) e Link Appleyard (Andy Devine) diante da casa em ruínas de Tom Doniphon, o misto de escombros e jardim onde os cactus estão floridos


Imagem de bastidores: James Stewart, John Ford e John Wayne 


(José Eugenio Guimarães, 2014)




segunda-feira, 14 de junho de 2021

"JOHN FORD TINHA O MELHOR OLHAR", AFIRMOU JOHN MILIUS

Ninguém enquadrava melhor do que John Ford. Não bastava apenas posicionar os indivíduos no plano. Também havia considerações precisas sobre os contextos espaciais nos quais se situavam ou se movimentavam. Assim, os homens são o que são não somente em decorrência do que fazem ou pensam, como advoga a interpretação liberal em sua mais pobre abstração. São, acima de tudo, aquilo que emana da terra na vastidão de suas distâncias, às vezes tão vazias mas sempre preenchidas de humanidade no cinema de Ford. A paisagem, nos filmes do cineasta, comenta a alma dos personagens. Ethan Edwards (John Wayne), de Rastros de ódio (The searchers, 1956) é o que é também em decorrência do deserto no qual se exilou. Nunca é somente a paisagem. Não é apenas o indivíduo. É a terra humanizada e o personagem preenchido por ela. Um jornalista cometeu a ousadia de perguntar a John Ford o que ele iria fazer no deserto. Imagino como foi dada a resposta! Provavelmente o diretor mediu o interlocutor de baixo para cima, com estranhamento. Depois, lacônico do jeito que era, dando pouca importância ao que fazia, disse: "Vou filmar um rosto humano!".


John Martin Feeney ou Sean Aloysius O'Fearna: John Ford


Ethan Edwards (John Wayne), Martin Pawley (Jeffrey Hunter) e Brad Jorgensen (Harry Carey Jr.) em busca de Lucy (Pipa Scott) e Debbie (Natalie Wood) em Rastros de ódio (The searchers, 1956)


Miriam Marsh (Madge Bellamy) e Dave Brandon (George O'Brien) em O cavalo de ferro (The iron horse, 1924)


Mike Costigan (J. Farrell MacDonald), 'Bull' Stanley (Tom Santschi), Spade' Allen (Frank Campeau) em Três homens maus (3 bad men, 1926)


Abraham Lincoln (Henry Fonda) em A mocidade de Lincoln (Young Mr. Lincoln, 1939)


A diligência mais famosa do cinema em Monument Valley: No tempo das diligências (Stagecoach, 1939)


Jim Casy (John Carradine) em As vinhas da ira (The grapes of wrath, 1940


Capitão Kirby York (John Wayne) e Tenente-Coronel Owen Thursday (Henry Fonda) em Sangue de heróis (Fort Apache, 1948)


Sargento Quincannon (Victor McLaglen), Capitão Nathan Cutting Brittles (John Wayne)  e Sargento Tyree (Ben Johnson) em Legião invencível (She wore a yellow ribbon, 1949)


Sandy (Harry Carey Jr.) e Travis Blue (Ben Johnson) em Caravana de bravos (Wagon master, 1950)


Mary Kate Danaher (Maureen O'Hara) em Depois do vendaval (The quiet man, 1952)



Ethan Edwards (John Wayne) em Rastros de ódio (The searchers, 1956)



Link Appleyard (Andy Devine) e Hallie Stoddard (Vera Miles) em O homem que matou o facínora (The man who shot Liberty Valance, 1962)



(José Eugenio Guimarães, 2014)