O cachorro antropomorfizado Goofy
— Pateta, no Brasil — surgiu em 1932 como figurante em desenhos animados
protagonizados por Mickey Mouse. Nas primeiras aparições teve o nome de Dippy
Dawg. A denominação foi alterada em 1934. Começou lenta escalada rumo ao
estrelato em 1935 ao se firmar como um dos vértices do triângulo completado por
Mickey e o Pato Donald. Daí até aproximadamente 1940, passou pelas mãos dos
diretores Ben Sharpsteen, Burt Gillett, David Hand, Dick Huemer e Clyde
Geronimi numa série de animações ágeis, marcadas por situações criativas e
carregadas de surrealismo. Em 1939 ganhou o privilégio de atuar em uma exclusiva
aventura curta: Goofy and Wilbur (1939), de Dick Huemer. Nos anos seguintes,
sob a responsabilidade do diretor Jack Kinney, conheceu o auge ao protagonizar
uma série de shorts nos quais se viu
envolvido em atividades esportivas, profissionais e educativas. Como
jogar baseball (How to play baseball), de 1942, é
uma das muitas paródias atléticas que protagonizou. São cerca de oito minutos
de narrativa dinâmica dividida entre a descrição elucidativa do jogo tão caro
aos estadunidenses e os momentos finais de uma tensa partida de encerramento
da temporada. Segue apreciação escrita de 1995.
Como jogar baseball
How to play baseball
Direção:
Jack Kinney
Produção:
Walt Disney (não creditado)
Walt Disney Productions
EUA — 1942
Elenco:
Vozes de
George Johnson, Fred Shields.
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Nos Estúdios Disney: Pinto Colvig - a principal voz de Goofy - e o diretor Jack Kinney |
Estrelado por
Pateta — Goofy segundo a denominação original —, Como jogar baseball é
desenho animado curto com aproximadamente oito minutos. Foi realizado especificamente
para complementar as sessões de Ídolo, amante e herói (The
pride of the Yankees, 1942), dirigido por Sam Wood e protagonizado por
Gary Cooper no papel do lendário astro de baseball Lou Gehrig, falecido em
1941. O produto da Disney assinala a trigésima oitava aparição nas telas cinematográficas
do magro, alto, atrapalhado, desengonçado, generoso, simpático e estúpido
cachorro antropomorfizado da vasta galeria de personagens concebidos pela Walt
Disney Productions.
Até o momento da
elaboração desta apreciação, Pateta marcava presença em 88 realizações das mais
diversas metragens originalmente concebidas para o cinema e, em menor parte,
para a televisão. Surgiu em 1932 com o nome de Dippy Dawg. Nesse ano estreou como
figurante no desenho curto Mickey's Revue, de Wilfred Jackson.
Nessa condição apareceu em The whoopee party (1932), Touchdown
Mickey (1932), The Klondike Kid (1932), Mickey's
mellerdrammer (1933) e Os tempos antigos (Ye
olden days, 1933), dirigidos por Jackson. Em 1934 tem o status relativamente
elevado e o nome alterado para Goofy no curto Em benefício dos órfãos (The
orphan's benefit), de Burt Gillet, no qual o protagonismo é dividido
entre Mickey e o Pato Donald.
O estrelato de
Pateta começa para valer em 1935 com o curto A oficina mecânica de Mickey
(Mickey's
service station), de Ben Sharpsteen. É o marco inicial da célebre
formação Mickey-Donald-Pateta que permitiu primorosas e ousadas animações
tingidas de surrealismo com destaques para A brigada do Mickey (Mickey's
fire brigade, 1935), de Ben Sharpsteen; O dia de mudança (Moving
day, 1936), de Ben Sharpsteen; Mickey e o mágico (Magician
Mickey, 1937), de David Hand; Caçadores de alces (Moose
hunters, 1937), de Ben Sharpsteen; Relojoeiros das alturas (Clock
cleaners, 1937), de Ben Sharpsteen; Os fantasmas solitários (Lonesome
ghosts, 1937), de Burt Gillett; O barco do Mickey (Boat
builders, 1938), de Ben Sharpsteen; O trailer do Mickey (Mickey's
trailer, 1938); Ben Sharpsteen; Caça à baleia (The whalers, 1938), de
David Hand e Dick Huemer; e O rebocador do Mickey (Tugboat
Mickey, 1940), de Clyde Geronimi.
Ano
particularmente significativo para o personagem é 1939: ganha a oportunidade de
estrelar um desenho concebido exclusivamente para ele: Goofy and Wilbur (1939),
de Dick Humer. Novas oportunidades de atuações solo surgem com O
planador do Pateta (Goofy's glider, 1940) e Ladrão
de bagagem (Baggage buster, 1941), concebidos por Jack Kinney.
Durante as décadas
de 40 e 50, Pateta encontra a verdadeira vocação: instrutor prático, voluntário
ou acidental. Protagoniza uma série de paródias esportivas que englobam
diversos jogos e atividades atléticas. Também ministra lições acerca de
afazeres profissionais variados e é porta-voz de assuntos educacionais relacionados
ao trânsito e à preservação da saúde. Destacam-se A arte de esquiar (The
art of skiing, 1941), Pateta vai à luta (The
art of self defense, 1941), Como jogar baseball, Pateta
nas Olimpíadas (The olympic champ, 1942), Como
nadar (How to swim, 1942), Como pescar (How to fish, 1942), How
to be a sailor (1944), Como jogar golfe (How
to play golf, 1944), How to play football (1944), African
diary (1945), Raquetadas muito loucas (Tennis
racquet, 1949), Ginástica patética (Goofy
gymnastics, 1949), Motormonia (Motor mania, 1950), How
made home (1951), Tomorrow we diet (1951), No
smoking (1951), Como ser um detetive (How
to be a detective; 1952), How to dance (1953), How
to sleep (1953), Aquamania (1961), Fobia
de estrada (Freewayphobia or the art of driving the super highway, 1965) e Goofy's
freeway trouble (1965). Wolfgang Reitherman dirigiu Aquamania.
Ficaram por conta de Les Clark Fobia de estrada e Goofy's
Freeway Trouble. Os demais títulos são de Jack Kinney. Em algumas
dessas realizações o personagem sem sempre é identificado como Goofy. Pode ser
Mac, Max, Mr. X e George.
Como geralmente
acontecia, Pateta contracena com vários duplos em Como jogar baseball. É
arremessador, juiz, rebatedor, defensor e, claro, o público. Além dele há a
figura oculta do narrador/apresentador esportivo. Este descreve a quadra, táticas
e equipamentos. Tudo é levado em consideração, inclusive o aspecto um tanto
confuso do jogo, principalmente para os não iniciados estadunidenses. Ao longo
de todo o tempo não se perdem oportunidades para boas e rápidas piadas,
principalmente as visuais. Como jogar baseball corre por oito minutos
de narrativa francamente dinâmica. Começa calmamente, com a apresentação e
descrição dos equipamentos — bola, taco, luva, calçados, trajes —, construção e
concepção do estádio além da visão aérea do esquema básico de uma partida — que
tenta explicar para o grande público os movimentos e táticas. As posições, os
equipamentos, preparação dos jogadores, formas de arremesso com respectivos
efeitos aplicados às bolas não são esquecidos. Tudo lembra um balé picaresco
garantido pelas evoluções estrambóticas do personagem. Nisto, Jack Kinney e a
equipe de animadores que lidera são craques.
São cerca de quatro
minutos dedicados aos aspectos mais didáticos do jogo. Corta-se, a seguir, para
a partida de baseball propriamente dita. Os espectadores são introduzidos no
tempo final da suada e disputada peleja clássica entre os Gray Sox e os Blue
Sox. Estes lideram pela folgada margem de 3x0. O adversário fará de tudo para
mostrar serviço e reação. O rebatedor Gray consegue acertar com força, para o alto
e longe, bola aparentemente indefensável. Logo acelera rumo às bases. Enquanto isso,
o aparvalhado arremessador Blue tenta agarrar a pelota fragmentada em fiapos pelo
violento impacto da tacada. Tudo é ordenado com muita cadência e dinamismo,
inclusive a narração originalmente por conta de Fred Shields. Pateta não tem
muito a dizer. Neste filme, deu folga ao dublador oficial — o icônico e
hilariante Pinto Colvig. Em seu lugar foi escalado George Johnson. O aporte
sonoro — incluindo o acompanhamento musical e as onomatopeias para impactos,
freadas, fricções, corridas e saltos — se revelam decisivos à graça do produto.
Para uma animação que valoriza acima de tudo o movimento e os equívocos, a
fluência se apresenta como fator permanente e garante a atenção do começo ao
fim. Tudo se revela muito divertido, apesar de haver poucas novidades nos
aspectos formais.
História: Dick Kinney, Sylvia Moberly-Holland. Música: Paul J. Smith. Assistente de direção: Lou Debney. Efeitos de animação: Edwin Aardal, Andy
Engman. Animadores: Les Clark, Marc
Davis, Hugh Fraser, Ward Kimball, Milt Neil, John Sibley, Bill Tytla. Animador de Goofy: Ollie Johnston. Desenhos de fundo: Maurice Greenberg. Layout: Al Zinnen. Fotografia em
Technicolor. Processo
de mixagem de som: RCA Sound System. Tempo
de exibição: 8 minutos.
(José
Eugenio Guimarães, 1995)
Excelente fotos /publicação
ResponderExcluirEu gosto do Pateta justamente por ele ser pateta
De pleno acordo, Marina. Além do mais, tem um carisma e uma autenticidade das mais especiais.
ExcluirAbraços.
Tô há um tempão tentando achar esse episódio do baseball completo :/
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