O quinto longa metragem dirigido por Carlos Diegues
resulta de uma coprodução franco-brasileira protagonizada por Jeanne Moreau: Joanna
Francesa, de 1973. A atriz aprovou o roteiro, de autoria do próprio
diretor, escrito na França em 1970. Já era fã do praticamente menosprezado e
ambicioso Os herdeiros, terceiro longa do cineasta, realizado nesse ano. Moreau
interpreta Jeanne, cafetina transplantada de São Paulo pelo amante, o Coronel
Aureliano (Carlos Kroeber), para a decadente fazenda de Santa Rita, uma grande
propriedade especializada na monocultura de cana-de-açúcar encravada em pleno
sertão alagoano. A narrativa de Joanna Francesa é contemporânea dos
impactos provocados pela Revolução de 30. Os efeitos políticos do processo
foram legitimados pela força de um pacto nacional gerador de uma modernização conservadora
que em nada alterou a estrutura agrária herdada da dominação colonial
portuguesa. Não obstante, o arcaico empreendimento da monocultura canavieira
amarga arrastado processo de insolvência. Os engenhos, sob regime de fogo morto, são sobrepujados pelas
usinas. Tão logo chega a Santa Rita, Jeanne é apelidada pelo povo da localidade
de "Joanna Francesa, a cadela que o coronel Aureliano trouxe da São
Paulo". O roteiro recebe influências da tragédia grega, do realismo
fantástico, do cinema surrealista de Luis Buñuel e da literatura regionalista
de José Lins do Rêgo e José Américo de Almeida. A protagonista é praticamente
investida, de forma algo inconsciente e sobrenatural, no papel de anjo
exterminador da anômica família de Aureliano e de um modo de vida estruturado
pela dominação da grande propriedade rural. Jeanne, porém, não resistira
incólume ao processo. Ela mesma se torna prisioneira de um sistema insidioso e
fadado a resistir, como fantasmagoria, por força dos impávidos elementos que o
constituem. Segue apreciação escrita em 2012.
Joanna Francesa
Joanna Francesa/Jeanne, la française
Direção:
Carlos Diegues
Produção:
Pierre Cardin, Nei Sroulevich
Zoom Cinematográfica
Brasil, França — 1973
Elenco:
Jeanne Moreau, Carlos Kroeber, Helber Rangel, Eliezer
Gomes, Rodolfo Arena, Ney Sant'Anna, Tetê Maciel, Lelia Abramo, Leina Crespi,
Beto Leão, Ruy Polanah, Rogério Polli, Tonho, Antônio Pitanga, Ana Maria
Magalhães, Manfredo Colassanti, Angelito Mello, Pierre Cardin, Sylvie Pierre,
Mário Ventura, Maria Sílvia.
O cineasta brasileiro Carlos Diegues, também conhecido por Cacá Diegues |
Depois de A grande cidade (1966), Carlos Diegues teria realizado o obscuro Os filhos do medo (1967), coprodução
entre Brasil e França, direcionada à televisão, e da qual é praticamente
impossível encontrar maiores informações. A esta altura, a existência desse título
provoca dúvidas. É registrado ligeiramente pelo Internet Movie Database (IMDb)
com o dado adicional de que é colorido[1].
Porém, não o mencionam o Dicionário de cineastas de Rubens
Ewald Filho[2] e o
similar de Paul Tulard[3].
Da mesma forma não consta do mais específico Dicionário de cineastas
brasileiros, de Luiz F. A. Miranda[4].
Pelo mesmo caminho vão a pouco confiável Wilkipedia[5]
e o site oficial do cineasta[6].
Aparentemente, o IMDb também segue solitário
ao listar o documentário Oito universitários à filmografia de
Diegues. É outra praticamente desconhecida coprodução franco-brasileira de
1967, em preto e branco.
Quatro anos após A grande cidade, Carlos
Diegues lança o ambicioso e frustrado Os herdeiros (1970). A seguir,
irrompe outro mistério no rol de filmes que teria dirigido: o curta Receita
de futebol (1971), referenciado apenas pela Wilkipedia. De 1972 é o alegre e descompromissado Quando
o carnaval chegar.
Desde o lançamento de A
grande cidade, Diegues alternou a estadia entre Brasil e França. No
país europeu, em 1970, escreveu a história de Joanna Francesa —
alegórico, melancólico e trágico mergulho nas entranhas do Brasil profundo. Tem
por cenário uma decadente e grande propriedade rural monocultora localizada no
sertão alagoano, especializada no cultivo de cana-de-açúcar. A trama se
desenrola no contexto histórico da modernização conservadora decorrente da Revolução
de 30. Uma personagem estrangeira — a Joanna do título — é atirada no seio dessa
realidade e investida no papel de anjo exterminador de uma família e de um modo de
vida. Porém, não escapa incólume aos efeitos da própria ação saneadora. É
irremediavelmente aprisionada pelas fortes e impenetráveis forças estruturais
que plasmam o atraso brasileiro nos planos morais, sociais, econômicos e
políticos.
A cafetina Jeanne (Jeanne Moreau), apelidada de Joanna Francesa depois de transplantada para o sertão de Alagoas |
A história, roteirizada pelo próprio
Diegues, mereceu o vivo interesse de Jeanne Moreau. A atriz, um dos símbolos do
moderno cinema francês materializado na Nouvelle Vague — protagonista de Ascensor
para o cadafalso (Ascenseur pour l'échafaud, 1958), de
Louis Malle; Os amantes (Les amants, 1958), também de Malle; Jules
e Jim ― uma mulher para dois (Jules et Jim, 1962), de François
Truffaut; e, entre outros títulos, A noiva estava de preto (La
mariée était en noir, 1968), igualmente de Truffaut —, havia gostado de
Os
herdeiros. Aceitou de pronto interpretar a protagonista de Joanna
Francesa e assim facilitou um regime de coprodução com a França. De
quebra, Moreau chegou ao Brasil com um acompanhante de luxo: o figurinista pessoal
Pierre Cardin, também produtor do filme. A ele foi reservado o papel de amigo e
interesse amoroso da personagem: o cônsul Pierre. Joanna é persuasiva e forte.
É capaz de se impor — inclusive pela mimetização — às circunstâncias mais
adversas. Não para menos Moreau a classificou como equivalente a Viena, vivida
por Joan Crawford em Johnny
Guitar (Johnny Guitar, 1954), de Nicholas
Ray[7].
Filmado em Anhumas/SP e nas cidades alagoanas
de Maceió e União dos Palmares, Joanna Francesa mereceu os prêmios
Coruja de Ouro do Instituto Nacional de Cinema (1973) e da Associação Paulista
de Críticos de Arte (1974) para Melhor Música (Chico Buarque de Holanda e
Roberto Menescal). Também recebeu da Associação Paulista de Críticos de Arte a
premiação por Melhor Roteiro Original para Carlos Diegues, empatado com Walter
Hugo Khouri por O último êxtase (1973).
A realização pertence à fase mais
alegórica, de comunicação por mensagens cifradas, do Cinema Novo. A ditadura
instalada pelo golpe militar de 1964 estava em pleno vigor graças ao draconiano
Ato Institucional Número 5 (AI-5) e recrudescimento da censura às letras e artes
em geral. Não
obstante, é visível o esforço de Diegues para se desvencilhar das dificuldades
que impediam maior interação com o público. A narrativa — dominada pelas
tonalidades pessimistas da decadência em seus aspectos mais sórdidos, obscuros
e sombrios — tenta não perder de vista as aberturas à espontaneidade e
valorização de uma linguagem mais direta — pelo menos no campo visual —, perpassada
por emoções à flor da pele. Tais características marcariam nitidamente os
filmes seguintes do diretor.
Em termos de afinidade literária, percebem-se
influências de autores do romanceiro regional que registraram com realística
crueza a decadência da monocultura canavieira e dos engenhos: José Lins do Rêgo
via Usina
(1936), Banguê (1934), Fogo morto (1943), Menino
de engenho (1932), Doidinho (1932), Moleque
Ricardo (1935); e José Américo de Almeida de A bagaceira (1928), para
ficar apenas com estes exemplos. Porém, em termos narrativos Joanna
Francesa se alimenta vivamente de elementos da tragédia grega, do surrealismo
característico de Luis Buñuel e do realismo fantástico segundo a concepção do colombiano
Gabriel García Márquez em Cem anos de solidão (1967).
A tela expõe a história de Jeanne, a
francesa do título, cafetina de requintado bordel em São Paulo. Ao lugar convergem políticos,
diplomatas e fazendeiros de todo o país. A personagem está no Brasil há muitos
anos. Apesar disso, não perdeu vínculos com as origens e alimenta a vontade de retornar
para a França. No entanto, essa mulher personalíssima e muito ciosa de si será
praticamente transplantada por força da própria insistência para a decadente
fazenda de Santa Rita — empreendimento canavieiro encravado no sertão de Alagoas.
O amante Aureliano (Kroeber), proprietário da plantation, pretendia mesmo levá-la para lá — mas somente após a
morte da esposa Das Dores (Crespi), gravemente adoentada e nas últimas.
Acompanhada do amante, Coronel Aureliano (Carlos Kroeber), Jeanne (Jeanne Moreau) chega à Fazenda de Santa Rita |
Jeanne chega à propriedade como espírito
livre, a tempo de sentir os dramáticos efeitos do falecimento da enferma. Logo
percebe que irrompeu no seio de um núcleo familiar em total anomia. As normas
de tratamento e convívio vão da indiferença de uns pelos outros, passando pela
completa permissividade nas relações fraternais até chegar ao puro ódio. Ao
espectador desavisado, a personagem — por força da própria personalidade e pelo
fato de ser um corpo estranho, vindo de longe — poderia se passar por agente de
regeneração, alguém com poderes para implantar um mínimo de ordem e equilíbrio
no seio da família de Aureliano e nas relações do núcleo com a sociedade
envolvente. Mas isto seria solução por demais simplificadora e irreal.
Diegues trata da realidade bruta,
moldada por uma história de longo curso, praticamente naturalizada e
impermeável às vontades de indivíduos e agentes transformadores. O mundo fortemente
estruturado no qual Jeanne se assentou goza do íntimo conhecimento do também alagoano
cineasta. O ambiente local não funciona apenas como pano de fundo. Age como silente
e insidioso ser vivo, um agente anulador e repressor de vontades. As individualidades
estão afundadas na apatia, conformadas ao fluxo dos eventos que as envolvem por
completo. Assemelham-se a títeres moldados e manipulados pela mão forte da mais
atávica e incontida determinação natural. Aureliano apenas ensaia uma reação.
Quer recuperar economicamente a propriedade. Assombra-o o destino reservado ao
outrora poderoso Tio Júlio (Angelito Mello), prisioneiro cego de um latifúndio
falido e abandonado pelos herdeiros transformados em comerciantes na capital
alagoana. Porém, o amante de Jeanne consegue apenas formular planos impossíveis
de concretização. As bases políticas nas quais ancora o raciocínio não mais se
sustentam. A Revolução de 30 redefiniu as forças em jogo. Aureliano
não percebeu as mudanças e foi engolfado pelas circunstâncias. Antigos aliados
mudaram de lado. Nada poderá retirar Santa Rita da condição de fogo morto. A comercialização e
beneficiamento da produção estão na dependência da moderna usina de "apetite
insaciável" do vizinho e rival Coronel Lima (Polanah), para o qual perdeu
a força de trabalho. A Santa Rita, outrora gloriosa, está na iminente situação
de se converter em servil e humilhada fornecedora.
O Coronel Lima (Ruy Polanah) |
Padre Seixas (Rodolfo Arena) e Dona Olímpia (Lelia Abramo) |
Apesar da narrativa centrada quase
que exclusivamente nas particularidades internas do permissivo núcleo familiar
de Aureliano, Joanna Francesa trata, acima de tudo, da irrefreável situação
de decadência e dissolução dos grandes latifúndios gerados pela estrutura
colonial e que, à força dos séculos, moldaram os hábitos e mentalidades de um
país inteiro. Simbolicamente, a personagem chega para testemunhar e, de certo
modo, supervisionar com indiferente frieza um processo que se arrasta para a
fase terminal. Ela própria não terá forças para resistir aos ares viciados da estrutura
que a acolheu. Receberá a irrecusável maldição de lançar a definitiva pá de cal
sobre tudo e todos, enquanto é acompanhada pelos emblemáticos acordes da canção-tema
de mesmo nome do filme, composta por Chico Buarque de Holanda. Vez ou outra a
própria Jeanne interpreta a melodia. É quando os versos ganham características
de um prefixo em forma de tristes augúrios, como se fossem emitidos por uma ave
encarregada de espalhar os definitivos tormentos sobre a terra amaldiçoada —
uma grande extensão dominada pela homogeneidade da plantação. É a característica
que a francesa logo estranhará: "Mas, Aureliano, é tudo igual" —
afirma admirada. Ainda assim, o amante tenta oferecer inútil contraponto ao
informá-la sobre as muitas variedades de cana cultivadas em Santa Rita.
Jeanne não conheceu Das Dores com
vida. A personagem defendida por Leina Crespi faleceu logo após a chegada da
intrusa. Estava entregue aos delírios, para constrangimento dos acompanhantes. Alardeava
que era a "Égua de Aureliano" e sentia desejos de gozar mais uma vez
antes de partir. No entanto, a francesa é logo apresentada aos filhos do amante,
primeiramente ao bastardo Ricardo (Leão), estudante de medicina no Recife. Será
expulso de casa pelo pai, por tomar liberdades com a recém-chegada, e se
perderá em problemas com a polícia. Lianinho (Rangel) é o primogênito dos herdeiros
legítimos, esperança passageira de dias melhores para Santa Rita. Os mais novos
e gêmeos Dorinha (Maciel) e Honório (Sant'Anna) crescem juntos e apartados de
todas as regras e tabus. Alimentam às claras um relacionamento incestuoso. Olímpia
(Abramo), genitora de Aureliano, praticamente desistiu de exercer qualquer
controle sobre a família, ainda mais após o nascimento de um filho gerado pela relação
incestuosa de Lianinho com a incontrolável mãe Das Dores. Aurelino acredita que
é pai do menino sem nome, limítrofe física e mentalmente. O infeliz, tratado
como animal, passa os dias trancafiado em miserável casebre erguido nas proximidades
da casa grande. Não fala e geme constantemente. Além do filho e mãe incestuosos,
apenas Olímpia sabe do terrível segredo, mal do qual se encarregou de eliminar
e não conseguiu por falta de oportunidade ou coragem. Abençoando o núcleo
familiar e posto na sua dependência está o servil padre Seixas (Arena), sempre
pronto a relevar e perdoar as escabrosidades às quais serve como muda
testemunha. Também passa por dedicado agente de manipulação ideológica do povo
de Santa Rita, embora sua inutilidade neste papel se torne cada vez mais
evidente nos tempos incertos que emergem. Por fim há Gismundo (Gomes), serviçal
negro de confiança da família, viva herança da escravidão submetida à mais
canina das fidelidades. É encarregado de resolver questões de ordem geral e
dele Jeanne logo aprenderá a tirar partido.
Jeanne (Jeanne Moreau), já envelhecida, e Gismundo (Eliezer Gomes) |
Jeanne (Jeanne Moreau) castiga os incestuosos Dorinha (Tetê Maciel) e Honório (Ney Sant'Anna) |
Até a chegada da estrangeira — chamada
de "Joanna Francesa, a cadela que o coronel Aureliano trouxe de São
Paulo" pelo povo da localidade —, Olímpia era o centro forte de Santa Rita,
apesar de admitir o fracasso na tentativa de controlar as aberrações da família.
Não nutre simpatia alguma pela intrusa. Porém, tece ardilosamente as teias do
destino, como agente do sobrenatural. Lançará sobre Jeanne algo como uma
maldição materializada com força de missão irrecusável. Num ato extremo,
decorrente da própria vontade, a personagem interpretada por Lelia Abramo se
retira para morrer. Antes de ter a alma encomendada em vida pelo padre Seixas,
em cerimônia restrita apenas aos familiares, nomeia Jeanne como espécie de
sucessora, encarregada, portanto, de exterminar todos os males que pairam sobre
Santa Rita. A esta tarefa, recebida como imposição do imponderável, a francesa
se entregara com denodo, apesar de agir como força inconsciente.
Logo os irmãos incestuosos são
exemplarmente punidos por ordem de Jeanne, à moda medieval, até que conseguem
escapar para se perderem, desatinados e nus, pela imensidão sempre igual dos
canaviais. Lianinho, após entrar em conflito com os Lima, morre baleado ao ser
impelido a um combate desigual pela madrasta. Aureliano, cada vez mais apático
e aprisionado em inúteis sonhos de grandeza, deixa-se levar pelas vagas
incontroláveis do destino e perece afogado. Padre Seixas é largado à própria
sorte depois de contribuir para a desgraça de Lianinho. Quando a missão saneadora
está próxima de ser concluída, Jeanne recebe a visita de Pierre — que tenta
retirá-la de Santa Rita. Ela consente, mas uma vontade externa a controla e
impede uma tomada de posição consciente. Tornou-se prisioneira da propriedade.
Está condenada a aí permanecer, até o fim dos dias. Ordena a realização de uma
festa, em cujo decorrer abate a tiros o menino amaldiçoado pela relação
incestuosa. Pierre parte sozinho. Jeanne permanece na companhia de Gismundo, a
quem ordenou a venda de todos os bens móveis. O valor arrecadado será dividido
entre os empregados, demitidos a seguir. O tempo passa. Jeanne, grisalha, cada
vez mais parecida com Dona Olímpia — segundo apreciação de Gismundo —,
permanece na fantasmagórica guarda das abandonadas terras de Santa Rita, das
quais nunca conseguirá sair. É como se fosse alguma personagem de O anjo
exterminador (El ángel exterminador, 1962), de
Luis Buñuel, impedida misteriosamente de deixar o recinto de uma festa. Falece
na mesma cadeira de balanço tantas vezes ocupada por Dona Olímpia.
Jeanne (Jeanne Moreau) ampara Lianinho (Helber Rangel) |
No papel do Cônsul Pierre, o estilista Pierre Cardin, também produtor e figurinista de Joanna Francesa |
Apreciado quase 40 anos após a realização,
Joanna
Francesa dá a impressão de se beneficiar com a passagem do tempo. É uma
das melhores alegorias do cinema brasileiro. Aventura-se com propriedade e
senso criativo pelas estranhas do Brasil profundo, universo impenetrável,
constantemente alijado de nossas vistas pelos defensores acríticos de uma
modernização que recusa terminantemente qualquer prestação de contas com o passado
estruturador de vícios e fracassos das nossas sempre problemáticas relações
políticas e sociais. Santa Rita é uma espécie de porão da brasilidade. Este
ambiente, considerado de forma geral, aguarda ansioso e em incômodo silêncio
por novas oportunidades de desbravamento da parte dos nossos cineastas. A esta
missão se entregou com afinco apenas a geração do Cinema Novo — ao que parece.
Dib Lutfi, diretor de fotografia
experimentando nas descrições da brasilidade revelada por nosso cinema, capta
as imagens de Joanna Francesa em tonalidades despojadas, de forma a mais
natural. É uma bem realizada tentativa de expor uma paisagem naquilo que ela
parece ter de próprio, em suas exclusivas colorações de ambiente singular,
conformado aos termos e compassos da decadência. Os personagens estão em
sintonia com o meio. Os atores conduzem as interpretações também de forma
naturalizada, em consonância com as emanações do espaço físico que os envolve.
Jeanne Moreau — dublada por Fernanda Montenegro — compreendeu as intenções de
Carlos Diegues e soube incorporar a lenta respiração da região — um Brasil
agônico, nauseante, envolvente, decadente e resistente ao completo
desaparecimento.
Acompanhada de Gismundo (Eliezer Gomes), Jeanne (Jeanne Moreau) incendeia o casebre que abrigava o filho da relação incestuosa de Lianinho (Helber Rangel) com Das Dores (Leina Crespi) |
Um dos melhores momentos de Joanna
Francesa pertence a Rodolfo Arena. É um achado a curta sequência de
padre Seixas sobre um pequeno jumento, alardeando aos quatros ventos para o
povo da indiferente localidade de Santa Rita: "Estarei sempre ao lado do
Coronel Aureliano, lutando para que a anarquia do progresso não tome conta de
tudo".
Direção de produção: Carlos Alberto Prates Correia. Produção executiva: Ney Sroulevich. Assistência de produção: Sílvio
Henrique, Carlos Luiz Miranda, Nelson Filho. Argumento e roteiro: Carlos Diegues. Assistentes de direção: Carlos Del Pino, Sérgio Luz. Continuidade: Marco Altberg. Direção de fotografia (Eastmancolor) e
operador de câmera: Dib Lutfi. Assistente
de câmera: Mário Murakami. Efeitos
especiais de fotografia: Mendes Filho. Fotografia
de cena: Rui Faquini. Eletricista:
Rui Medeiros, Jorge Rodrigues. Maquinista:
José Pinheiro de Carvalho. Mixagem de
som: José Tavares. Direção de
dublagem: Vitor Rapozeiro, Roberto Melo Leite. Ruídos de sala: Geraldo José. Som
guia: Nelson Pereira dos Santos Filho. Montagem:
Eduardo Escorel. Assistente de
montagem: Amauri Alves. Cenografia:
Anísio Medeiros. Figurinos: Pierre
Cardin, Teresa Nicolao. Decoração:
Ernani Leioleiro, Companhia Nacional de Tecidos Nova America, Calandrino
Antiguidades, Casa David. Maquiagem:
Ronaldo Abreu. Música e direção musical:
Chico Buarque de Holanda, Roberto Menescal. Intérpretes das canções: Nara Leão, Jeanne Moreau, Raimundo Fagner.
Dubladora de Jeanne Moreau: Fernanda
Montenegro. Créditos: Aluísio
Magalhães. Tempo de exibição: 110
minutos.
(José Eugenio
Guimarães, 2012)
[2]
EWALD FILHO, Rubens. Dicionário de cineastas. São Paulo:
Global, 1977 e EWALD FILHO, Rubens. Dicionário de cineastas. São Paulo:
Nacional, 2002.
[3]
TULARD, Paul. Dicionário de cinema: os diretores. Porto Alegre: L&PM,
1996.
[4]
MIRANDA, Luiz F. A. Dicionário de cineastas brasileiros. São Paulo, Art: 1990.
[7]
DIEGUES fala de Moreau e "Joana". Filme Cultura, Rio de
Janeiro, INC/MEC, n. 23, p. 19, jan.-fev./1973.
Hola Eugenio, vaya película más exótica nos tres hoy, una producción franco brasileña y además sino estoy equivocado tiene algo que ver con tu profesión, aunque con la traducción de Google al español pierdo algunos matices en tu análisis de la película. A veces casi se me hace más sencillo leerlo en portugués que aplicar el traductor de Google que ciertamente no es muy bueno. Lo que desde luego me llama poderosamente la atención son las influencias del cineasta ya sean de Buñuel, de las tragedias griegas o incluso del maestro García Marquez.
ResponderExcluirUn abrazo y gracias por tan estupenda crítica.
Hola, Miguel!
ExcluirSí, de hecho, la temática abordada por esta película tiene muchas relaciones con mi profesión de sociólogo y estudiosos de la formación social brasileña. Lo Brasil, de cierto modo, fue gestado por la cultura que germinou en el seno de la dominação senhorial, de los grandes propietarios de tierras producidos por la colonización portuguesa. Esto también se manifiesta por el restante de América Latina de colonización española. Ahí en España y en América de lengua española los grandes propietarios son llamados de terratenentes. No son propietarios sólo de tierras, pero también de personas que viven bajo su estricta dependencia económica y existencial. Sobre el traductor del Google, nunca funcionó derecho conmigo. Tanto que prefiero leer los textos en la lengua original, aunque ocurran mucha pérdidas por falta de comprensión.
Saludos y abrazos.