Meu pai odiou! Afirmou que se tratava de um dos filmes
mais idiotas e dispensáveis de todos os tempos. Minha mãe, mais condescendente,
considerou-o "bobinho e bonitinho". Era 1964. De minha parte, só o
assisti passados mais de 30 anos. Porém, cresci ouvindo muitas loas a respeito e
sempre lhe destacavam as inegáveis qualidades românticas. As emissoras de rádio
transmitiam à exaustão as composições da trilha musical de Max Steiner e a
canção-tema Al di là, de Mogol e Carlos Donida, alcançou o topo das paradas
de sucesso. Quando soube que o diretor do tão falado Candelabro italiano (Rome
adventure, 1962) atendia pelo nome de Delmer Daves — responsável por
westerns fundamentais dos anos 50, abrilhantados por uma concepção visual que
impregnava o espaço com original potencialidade dramática —, fui tomado pela
frustração. Precisava conhecer esse filme, acima de tudo por Delmer Daves — ora!
Em 1996 surgiu a oportunidade. No entanto, para quê? Agora, o motivo da insatisfação
era outro e passei a compreender melhor o descontentamento do meu pai. Triste
perceber que o tempo de glória do realizador havia passado, praticamente sem
deixar vestígios de uma fase na qual foi tocado pela excelência. Candelabro
italiano é, sim, segundo o juízo de minha mãe, "bobinho e
bonitinho"; acima de tudo, moralista e insosso. Também não deixa de ser
sintomático saber que, inspirado pelos primeiros ventos da liberação dos
costumes que marcaram os anos 60, tenha uma protagonista chamada Prudence (Suzanne
Pleshette). Em todo caso, há quem queira/há quem goste desse candelabro. A
estes peço perdão, principalmente por causa da apreciação ligeira a seguir, tão
afinada com meu desapontamento.
Candelabro italiano
Rome adventure
Direção:
Delmer
Daves
Produção:
Delmer
Daves (não creditado)
Warner
Brothers/First National Pictures, Delmer Daves Production
EUA — 1962
Elenco:
Troy
Donahue, Suzanne Pleshette, Angie Dickinson, Rossano Brazzi, Constance Ford, Al
Hirt, Hampton Fancher, Iphigenie Castiglioni, Chad Everett, Gertrude Flynn,
Pamela Austin, Lili Valenty, Mary Patton, Maurice Wells e os não creditados Phillip
Angeloff, Larry Arnold, Brandon Beach, Mary Benoit, Gail Bonney, Nina Borget,
Fred Brookfield, Joe Brooks, Annette Claudier, Lillian Culver, Jack Delaney,
Arthur Dulac, Bill Erwin, Paul Ferrara, Sol Gorss, Kenner G. Kemp, Carolyn
Lasater, John Macchia, Fred Marlow, Grazia Narciso, George N. Neise), Don Orlando,
Emma Palmese, Yvonne Peattie, Emilio Pericoli, Benito Prezia, Jack Santoro,
Bill Shannon, Pee Wee Spitelera, Hope Summers, Robert Totten, Arthur Tovey,
Jean Vachon, Norma Varden, Nina Varela, Martin Wilkins.
Bastidores de Galante e sanguinário (3:10 to Yuma, 1957) O ator Glenn Ford, caracterizado como Ben Wade, e o diretor Delmer Daves |
Falta pouco para
o término do século XX[1].
A esta altura, qual é o interesse de um filme como Candelabro italiano? Nenhum,
em absoluto — para uma resposta rigorosamente enfática. De fato, nada mais
desprovido de sentido e atrativos para os dias de agora que a história da jovem
e falsa liberal bibliotecária estadunidense Prudence Bell (Pleshette).
Funcionária de ultraconservador colégio para moças, pede demissão após sofrer
reprimenda do conselho pedagógico. O motivo: ousou emprestar a uma aluna
adolescente livro sobre o proibido tema “segredos do amor”.
Suzanne Pleshette no papel de Prudence Bell |
Prudence também
está na idade das “grandes descobertas”. Pretende experimentá-las em terras de
mentalidade mais arejada. Deixa os puritanos e travados Estados Unidos e embarca
para a Itália. Viaja acompanhada de Albert Stillwell (Fancher) — jovem e enfadonho
estudante da cultura etrusca — e Roberto Orlandi (Brazzi) — simpático italiano bon vivant que tenta inutilmente conquistá-la
— inclusive ao brincar com o sobrenome da personagem em uma exposição prática
de teoria sobre a relação entre beijos e sons de sinos ou campainhas.
Acima e abaixo: Prudence Bell (Suzanne Pleshette) e Roberto Orlandi (Rossano Brazzi) |
Porém, é por Don
Porter (Donahue) — jovem estadunidense pós graduando em arquitetura e amigo de
Orlandi — que Prudence se apaixonará. Quando descobrem a afinidade, resolvem
conhecer a Itália em profundidade e, por extensão, o amor. Porém, nem tudo são
rosas e não é a todo instante que se escuta Al di là. Linda Kent
(Dickinson), pintora e herdeira entediada, ressurge na vida do rapaz e despeja
água fria no romance antes de tudo terminar na volta aos Estados Unidos.
Acima e abaixo: Prudence Bell (Suzanne Pleshette) e Don Porter (Troy Donahue) |
Em rápidas
linhas, essa é a história de Candelabro italiano. Então, por que
assisti-lo? Há dois fatores: 1) foi assinado por Delmer Daves — realizador
prestigiado durante os anos 50, responsável pelos brilhantes westerns Flechas
de fogo (Broken arrow, 1950), Ao despertar da paixão (Jubal,
1956), A última carroça (The last wagon, 1956), Galante
e sanguinário (3:10 to Yuma, 1957), Como
nasce um bravo (Cowboy, 1958) e A árvore dos enforcados (The
hanging tree, 1959) —, titular de uma filmografia digna de atenção, apesar
da rápida decadência experimentada na primeira metade dos anos 60; 2) por outro
lado, Candelabro italiano despertou a atenção e conquistou o carinho
do público quando do lançamento. Verificar as razões e a vitalidade desse apelo
é mais que justificável.
Ao fim,
confirma-se a decadência de Delmer Daves e a bobagem que é o filme. A narrativa,
bem comportada e sem sabor, está totalmente perdida no tempo. Se tal já era historicamente
válido para a ocasião do lançamento, o que dizer agora? Sobra, no máximo,
curioso e involuntário exercício de anacronismo. Causa espanto saber que foi
realizado nos libertários e “mal comportados” anos 60.
Prudence Bell (Suzanne Pleshette) e Don Porter (Troy Donahue) |
A história de autoconhecimento, descoberta de limitações e revelação do
amor — extraída da novela de Irving Fineman — serve mais como pano de fundo para
o olhar turístico da câmera sobre relíquias e paisagens italianas. O roteiro oferece
um passeio completo garantido por agência de viagens de qualidade mediana, enfeitado
por imagens dignas de cartões postais.
Se na tela o amor
enlaça Don e Prudence, na vida real aconteceu o mesmo com Troy Donahue e a
estreante Suzanne Pleshette. Apaixonaram-se durante a produção e estavam de
casamento marcado quando as filmagens terminaram.
Prudence Bell (Suzanne Pleshette) e Don Porter (Troy Donahue) com o símbolo de sua integridade |
Em 1959, no papel
de Feathers, Angie Dickinson balançou a cabeça do duro e íntegro xerife John T.
Chance (John Wayne) em Onde começa o inferno (Rio
Bravo), de Howard Hawks. Agora, oferece uma personagem sem sal e
desprovida de convicção.
Linda Kent (Angie Dickinson) |
Quanto ao suporte
de velas do título brasileiro, o que significa? Don o adquiriu de um vendedor
ambulante quando começava a se apaixonar por Prudence. Converteu a peça em
símbolo da própria integridade. É! O amor, não raro, é um convite ao exercício
das mais tolas associações.
Direção de fotografia (Technicolor): Charles Lawton. Direção de arte: Leo K. Kuter. Montagem:
William Ziegler. Som: M. A. Merrick.
Decoração: John P. Austin. Figurinos: Howard Shoup. Orquestração: Murray Cutter. Supervisão de maquiagem: Gordon Bau. Supervisão de penteados: Jean Burt
Relly. Supervisão de diálogos: Bert
Steinberger. Coordenador de produção:
International Film Service. Gerente de
produção: Orazio Tassara. Assistentes
de direção: Russel Llewellyn, Ottavio Oppo, Luciano Sacripanti (não
creditado). Música: Max Steiner. Canção: Al di là, música de
Mogol, letra de Carlos Donida, nas interpretações de Al Hirt, Emilio Pericoli,
Frankie Fanelli. Roteiro: Delmer
Daves, baseado em novela de Irving Fineman. Assistente de gerente de produção: Mauro Sacripanti (não
creditado). Dublê: Marvin Willens
(não creditado). Sistema de mixagem de
som: RCA Sound Recording. Tempo de
exibição: 119 minutos.
(José Eugenio Guimarães, 1996)
Hola Eugenio, ya veo que esta crítica es de toda la familia, con apreciaciones de tu padre, de tu madre y las tuyas propias que desde luego no dejan en buen lugar a la filmación. Al menos las actrices son guapas: Suzanne Pleshette y Angie Dickinson pueden hacer mejor el trance de estos 119 minutos insustanciales. Un abrazo.
ResponderExcluirProbablemente nuestra amiga Xus Climent pudiera hacer una excelente apreciación de esta película, hoy tan anacrónica, pero por el aspecto del viaje de los protagonistas, Miguel Pina. Sin embargo, ni el paisaje italiano fue bien aprovechado como telón de fondo.
ExcluirAbrazos y saludos.
Filme da moda na época ,mas só para assistir uma vez e esquecer.
ResponderExcluirAinda assim, o filme foi um tremendo sucesso em seu tempo, Marina. Pelo que sei, ainda hoje arranca muitos suspiros em determinados círculos.
ExcluirBeijos e abraços.