Amigo pessoal do cineasta John Huston, Peter Wiertel
acompanhou e documentou as filmagens de Uma aventura na África (The
African Queen, 1951). Escreveu inclusive a crônica dos bastidores. O
testemunho originou o livro White hunter, black heart, publicado
em 1953, e um roteiro que não despertou interesse algum ao longo de três
décadas. No final dos anos 80 a peça chegou ao conhecimento de Clint Eastwood,
com a carreira de diretor em ascensão desde O cavaleiro solitário (Pale
rider, 1985) e Bird (Bird, 1988). Vivamente
interessado nos originais de Wiertel, o intérprete de "o estranho sem
nome" convocou os roteiristas e também cineastas James Bridges e Burt
Kennedy para atualizar o guião ao andamento narrativo do cinema dos anos 80. O
resultado final, exposto nas telas, dividiu a crítica. Aos que souberam
apreciá-lo, Coração de caçador (White hunter, black heart, 1991) é apaixonante,
vigoroso, surpreendente e personalíssimo, um dos melhores da filmografia de
Eastwood. Ele interpreta o cineasta John Wilson, uma imagem duplicada e um
tanto desfocada de John Huston no provável contexto que o envolveu quando da
realização de Uma aventura na África. O personagem que salta das telas é a
imagem da obsessão, um tipo franco e arrojado, predisposto a tudo, inclusive a
viver no limite máximo da existência. O John Wilson/Huston de Eastwood é um
homem poliédrico, avesso a qualquer regra, que soube, como poucos, viver a
aventura à moda dos grandes exploradores e individualistas. A apreciação a
seguir, de 1991, sofreu revisão e ampliação sete anos depois.
Coração de caçador
White
hunter, black heart
Direção:
Clint
Eastwood
Produção:
Clint
Eastwood
Malpaso,
Rastar, Warner Brothers
EUA — 1990
Elenco:
Clint
Eastwood, Jeff Fahey, George Dzundza, Marisa Berenson, Richard Vanstone, Jamie
Koss, Alex Norton, Alun Armstrong, Timothy Spall, Mel Martin, Charlotte
Cornwell, Norman Lumsden, Richard Warwick, Edward Tudor Pole, Roddy
Maude-Rokby, John Rapley, Catherine Neilson, Anne Dunkley, David Danns, Myles
Freeman, Geoffrey Hutckings, Christopher Fairbank, Clive Mantle, Martin Jacobs,
Norman Malunga, Eleanor David, Boy Mathias Chuma, Andrew Whalley, Conrad
Asquith, George Orrison, Bill Weston, David Mabukane.
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Clint Eastwood durante as filmagens de seu Coração de caçador |
Coração de
caçador é surpreendente. Dividiu radicalmente a crítica ancorada
no eixo Rio-São Paulo. Os atuais cronistas cariocas — incipientes, habituados
a confundir sinopses com exercícios de apreciação, mal ocultando a ignorância
que nutrem em relação ao cinema e sua história — em geral odiaram
a décima-quarta incursão de Clint Eastwood na direção. Melhor formados, os
paulistas foram à adoração. Há que se concordar com estes. É um filme
vigorosíssimo, escorado em roteiro e diálogos magníficos — modelarmente
plásticos. Ajustam-se com facilidade às exigências de cada situação, revelando-se
poéticos em alguns momentos, vulgares ou ferinos em outros. John Wilson
(Eastwood) — o cineasta e caçador do título — é personalidade rara e fascinante.
Integra uma estirpe de homens varrida da arena histórica pela vitória da
racionalidade dominante, fincada no imediatismo e na crescente ordenação da
vida às exigências do consumo. Guiado por uma determinação pioneira, sempre
dribla a normalidade tão próxima do medíocre. Não titubeia em considerar a vida
como convite à aventura, à constante superação de desafios.
Coração de
caçador é a definitiva confirmação de um realizador talentoso.
Eastwood vinha de O cavaleiro solitário (Pale rider, 1985) e Bird
(Bird,
1988), claras materializações de um sólido potencial criativo evidenciado desde
a estreia com Perversa paixão (Play misty for me, 1971). O segundo
cartão de visita, O estranho sem nome (High plains drifter, 1972), também
prometia. O quinto, Josey Wales, o fora da lei (The outlaw Josey Wales,
1976), deixava o espectador em otimista estado de prontidão. Às vezes a coisa
desandava: em meio ao alento surgiam os pouco inspirados Interlúdio de amor (Breezy,
1973), Escalado para morrer (Eiger sanction, 1975), Bronco
Billy (Bronco Billy, 1980) e exemplos do que há de mais rançoso,
estúpido e gratuito na produção cinematográfica estadunidense: Firefox,
a raposa de fogo (Firefox, 1982), Impacto fulminante (Sudden
impact, 1983) e o deprimente O destemido senhor da guerra (Heartbreak
ridge, 1986). Agora é pra valer. Diante de Coração de caçador são
perdoados todos os deslizes cometidos por Clint Eastwood. Podem ser vistos com
mais abertura e generosidade, como trabalhos de formação frente aos quais todos
os erros são permitidos.
Ao final de Coração
de caçador, quando rolam os últimos créditos, um letreiro informa: é obra
de ficção. Entretanto, isso é apenas meia verdade. John Wilson e a aventura que
protagoniza possuem correspondentes estimulantes e reais. Nomes alterados e
liberdades tomadas não conseguem ocultar o óbvio: movimenta-se, por trás de
Wilson, o diretor John Huston às voltas com acontecimentos que tumultuaram os bastidores
e as filmagens de Uma aventura na África (The African Queen, 1952) — nono filme
do realizador, estrelado por Humphrey Bogart e Katharine Hepburn, rodado em
locações no Quênia e em Uganda.
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Clint Eastwood interpreta o cineasta, caçador e aventureiro John Wilson |
Originalmente, White
hunter, black heart batiza livro — de 1953 — e roteiro escritos por
Peter Wiertel, amigo pessoal de Huston, com quem dividiu a autoria do guião do
injustamente esquecido Resgate de sangue (We
were strangers), filmado pelo diretor em 1949. A pedido de Huston,
Wiertel acompanhou o desenvolvimento de Uma aventura na África desde a
pré-produção. Também forneceu colaboração — não creditada — ao roteiro elaborado
por James Agee em parceria com o realizador. Durante trinta e poucos anos
ninguém se interessou por White hunter, black heart. De mão em
mão e de estúdio em estúdio, chegou ao conhecimento de Clint Eastwood,
cativando-o de imediato. James Bridges e Burt Kennedy foram chamados para
adequá-lo às exigências narrativas do cinema de fins dos anos 80.
As primeiras
imagens de Coração de caçador mostram o misto de cineasta e aventureiro
John Wilson entregue à prática da equitação. A voz em off de Peter Wiertel — rebatizado para
Pete Verrill (Fahey) — recobre a cena e, em poucas palavras,
resume a personalidade do cavaleiro: "John Wilson, um homem violento
disposto à ação violenta, movido pela autodeterminação que o impele a viver de
modo selvagem. Generalizações sempre me pareceram imprecisas. Por isso quis
escrever sobre John, cineasta brilhante e impetuoso, que violou todas as
convenções do cinema. Possuía uma habilidade mágica, próxima do divino, que
invariavelmente levava-o a ser bem sucedido".
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John Wilson (Clint Eastwood): roteirista, cineasta, caçador e aventureiro |
Arrogante,
machista, imprevisível, temperamental, irresponsável, indiscreto, grosso,
desbocado, fascinante: Wilson é uma força da natureza, um diamante bruto resistente
a qualquer tentativa de lapidação. Apenas aceita o que pensa e prescreve. Não
valoriza admoestações e opiniões alheias. Desrespeita as mais elementares
convenções, regras, normas, padrões e etiquetas. Visceral ao extremo, abomina
as linhas da racionalidade. Desafia os limites da capacidade física: deixam de
contar diante de oportunidades e sensações sempre prontas a ser aproveitadas e
vivenciadas, não importam riscos e custos. "Tudo vale a pena, até a queda
do avião": esta opinião de Hodkins (Spall) — piloto da
aeronave que transporta Wilson ao campo de caça — é inteiramente
corroborada pelo cineasta. O que conta é viver no limite e extravasar emoções. Por
isso, Wilson não comete um arroubo quando diz ao centrado e assustado Verrill:
"Se um leão me matar, meus últimos minutos serão felizes". Ou no
avião, pedindo para ser acordado se o aparelho "bater", pois
"não gostaria de perder isso por nada". Depois, em meio às corredeiras
e perigosamente próximo das cachoeiras, experimenta pessoalmente a resistência
do barco a ser usado nas filmagens, para desespero do gerente de produção,
Ralph Lockhart (Armstrong), e de Verrill, convidados ao teste. Chega a hora em
que esse não suporta mais a crescente necessidade de exposição de Wilson: admoesta-o,
chama-o de "louco ou (...) o mais egocêntrico e irresponsável filho da
puta que conheci". O cineasta, por sua vez, não entende os motivos alheios
ou se passa por desentendido. Apesar de ostentar excessivas arrogância e autossuficiência,
quando quer sabe ser surpreendentemente encantador como na recepção aos atores
e equipe de filmagem recém-chegados às locações no Quênia.
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Nas paragens africanas, Jeff Fahey, Conrad Asquit e Clint Eastwood nos respectivos papéis de Pete Verrill, Ogilvy e John Wilson |
Sem papas na
língua, Wilson diz o que pensa apoiado numa franqueza desconcertante e sem ligar
para susceptibilidades por ventura feridas. Na África, diante do arraigado
antissemitismo de Mrs. Margareth McGregor (Martin), inglesa que o acompanha à
mesa, não hesita em destratá-la de modo contundente: relembra a resposta que
deu em Londres, a uma senhora que nutria preconceito semelhante: "Já
jantei com as putas mais feias do meu tempo; já jantei com as putas mais
horrorosas do mundo, mas você querida, é a puta mais horrível de todas, você é
a puta mais horrível com quem jantei". Também parte para a briga a socos
com Harry (Mantle), o gerente do hotel, após chamá-lo de "filho da puta,
covarde e sádico" por destratar e agredir gratuitamente um empregado
negro. Wilson pretendia, nesse momento, quebrar a monotonia, fornecer um pouco
de diversão aos africanos. Leva a pior na contenda, mas nem por isso se mostra
insatisfeito.
Para Wilson,
viver significa valorizar emoções básicas: "Coragem, medo, impotência e
morte". Em tudo, são elas que contam, assevera, praticamente em concordância
com Ernest Hemingway, Gustave Flaubert e William Faulkner, autores "que
não complicavam" e reduziam a existência a uma abstração feita de
"exigências simples". A "verdadeira arte", acredita, deve
ser encarada da mesma forma. Diante desse argumento Verrill pensa que Wilson
está ditando regras à atividade artística. Nada mais falso. Regras são produtos
de racionalizações e delas o personagem de Eastwood escapa ao aderir incondicionalmente
ao sensorial. Tanto que sequer lê roteiros, para não perder a "espontaneidade
artística". Chega a enviá-los, literalmente, à apreciação dos macacos.
Wilson não contém
a impaciência. Respeita e defende Hollywood, afinal, é onde ganha o pão. Mas
sabe que o lugar é fake, feito de faz
de conta, repleto de fastio e da mais pura e desavergonhada burrice. Hollywood
se deixa ver por inteiro em
Irene Saunders (Neilson), starlet
e caso de Wilson, que manifesta vontade de escrever roteiro para um drama
canino protagonizado por um cachorro chamado Horace; ou na grotesca encenação à moda de King Kong em um bar, ilustrada por motivos africanos segundo a ótica do exótico
e pitoresco que a Meca do cinema vende ao mundo. Não para menos o espectador se
despede desse ambiente de impostura com a câmera fechando em primeiro plano o
duro semblante de Wilson. Corta para o avião aterrissando em solo africano, o
mundo da verdade — poderia dizer aliviado o cineasta. Na África filmará uma
aventura mista de comédia e drama, produzida por Paul Landers (Dzundza) para a
Sunrise Pictures e protagonizada por Phill Duncan (Vanstone) e Kay Gibson
(Berenson). São nomes que encobrem, respectivamente, as identidades reais de
Sam Spiegel, Horizon Pictures, Humphrey Bogart e Katharine Hepburn. Duncan chega
às locações com a jovem esposa, simplesmente identificada como Mrs. Duncan
(Koss), codinome para Lauren Bacall.
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A starlet Irene Saunders (Catherine Neilson) e John Wilson (Clint Eastwood) |
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Katharine Hepburn, Humphrey Bogart e Lauren Bacall, aliás, Marisa Berenson, Richard Vanstone e Jamie Koss, intérpretes respectivos de Kay Gibson, Phil Duncan e Mrs. Duncan |
Não é a produção
em si que atrai e mobiliza as energias de Wilson. É a África mesmo, a mística
do continente, o território ainda relativamente virgem, intocado, que o convoca
à aventura: o desafio da caça ao elefante de presas mais longas que puder ser
encontrado. É a esta missão que Wilson se entrega com incontroláveis destemor e
paixão. Enquanto não atende ao chamado selvagem — não é um
capricho, mas necessidade vital e inadiável — não terá
condições de filmar. Enquanto isso, atores e equipe aguardam e se estressam. Ora,
"que esperem!". Os cronogramas podem ser dilatados; os orçamentos estourados, os produtores enlouquecidos. Quanto a estes, basta observar a crueldade e o sarcasmo
no tratamento conferido por Wilson a Paul Landers, ou ao associá-lo à mais
irrelevante puerilidade no mundo do cinema quando o empurra para a companhia de
Irene Saunders.
Wiertel conta:
Huston agiu como Wilson. Não é de estranhar. Basta consultar a biografia do
diretor para conferir o quanto vivia ardentemente a aventura. Era homem para
todos os desafios, à moda de Raoul Walsh — o único em Hollywood que lhe serve
de paralelo. Huston, como Walsh, amava a natureza, a vida selvagem, a ação, o
perigo. Wilson, à sua maneira, também. Caçar o elefante, para ele, não é
simples obsessão, mas uma profanação necessária. Sabe disso melhor que ninguém.
Por isso, antepõe um conceito mais forte ao de "crime", usado por
Verrill para repreendê-lo pelo desejo de matar "uma das espécies mais
majestosas sobre a face da Terra": "Matar um elefante não é crime,
Pete; é pecado", contesta!
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O caçador John Wilson (Clint Eastwood) |
Bigger than life (maior que a vida): é a melhor
síntese de John Huston, um dos raros homens de quem se pode dizer: conseguiu
fazer, à sua maneira, tudo o que queria. Clint Eastwood lhe oferece um duplo,
menor, é verdade, mas nesse quesito o cinema tem suas limitações. A rica
existência de John Huston não cabe num filme, sequer um pequeno extrato como a
saga em torno das filmagens de Uma aventura na África. Mas Eastwood,
também ao seu modo, contorna bem a limitação. Os créditos lembram: Coração
de caçador é peça de ficção. Mas se o modelo é real, com dificuldades a
ter na tela um retrato fiel e convincente diante da complexidade de sua
grandeza, a ficção é uma boa desculpa para justificar a recriação e a
pessoalidade do enfoque. John Wilson, guardadas as devidas proporções, é o
Huston de Eastwood. Foi concebido da melhor forma a caber na tela do cinema.
Numa narrativa seca e direta renasce um personagem de lenda, mas real de tão
próximo do humano. Contribui para isso o ar de dureza brejeira, tingida de
cinismo e gaiatice, que salta do perfil de Wilson. Mas tudo é feito, sempre, à
moda de Eastwood, como convém. John Wilson se assemelha ao lacônico
"estranho sem nome" dos westerns que o diretor estrelou para Sergio
Leone — Por um punhado de dólares (Per
um pugno de dollari, 1964), Por uns dólares mais (Per
qualche dollaro in più, 1965), Três homens em conflito (Il
buono, il brutto, il cattivo, 1966) — ou dos que ele
próprio realizou, devidamente expurgados da aura mística: O estranho sem nome e O
cavaleiro solitário. Entretanto, há uma diferença fundamental: em Coração
de caçador temos um personagem extremamente falante, que maneja bem a
capacidade verbal a ponto de usá-la como navalha, sempre no ataque, nunca na
defesa. Que o digam os produtores e roteiristas!
O final, cruel,
fornece a explicação ao título original. Wilson estava com tudo preparado na
aldeia que empresta locações. Bastava iniciar as filmagens. Para surpresa geral,
paralisa as atividades e, resoluto, embarca no Jeep tão logo recebe informes sobre a presença de elefantes nas
proximidades. O ambiente da caça, repleto de fêmeas e filhotes, é arriscado. Quanto
a isso, Wilson é devidamente prevenido. Mas Kivu (Chuma), o guia nativo — tão disposto e
destemido a ponto de servir de espelho a Wilson —, discorda do
perigo. A situação é propícia, garante. De repente, em sequência digna de antologia,
uma fêmea de presas enormes carrega sobre o grupo e estanca em posição ameaçadora
diante de Wilson pronto para disparar o tiro. A plateia prende a respiração. No
entanto, sobra tempo para perguntar sobre quem terá a primazia do ataque: o
caçador impulsivo ou o animal instintivo? Alternam-se os primeiros planos
nervosos de Wilson e seu duplo enfurecido. São duas forças da natureza que
parecem se reconhecer e se respeitar. O animal baixa a guarda e recua. O
caçador age da mesma maneira. Mas o filhote corre em direção à cena. A mãe
pressente o perigo e recarrega sobre o caçador. Para protegê-lo, Kivu se lança
diante da fera, tentando desviá-la. Morre ao ser alçado e lançado pela tromba.
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Kivu (Boy Mathias Chuma), John Wilson (Clint Eastwood) e a caça |
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John Wilson (Clint Eastwood) |
John Wilson não
caçou o elefante. Pior, perdeu o guia na tentativa. No fundo, será pior para
quem? A notícia da morte de Kivu é espalhada pelos tambores. Os primeiros sons são
traduzidos como white hunter, black heart
(nas legendas, caçador branco, coração
mau). Ainda ecoam os repiques quando Wilson assume a cadeira de diretor e
ordena, entre o luto e a consternação, o início das filmagens. Nesse momento, o
semblante lívido do personagem resume um misto de muitas emoções. Sentiu a
morte do guia, mas ele mesmo, no fundo, como se sente? Aliviado e realizado —
arrisca-se a dizer o espectador depois de passar todo o filme sendo apresentado
à personalidade de John Wilson — "um homem violento disposto à ação
violenta, movido pela autodeterminação que o impele a viver de modo
selvagem". Afinal, existe ação mais violenta que a morte de alguém, ainda
mais da forma como aconteceu a Kivu? Que sensações Wilson experimentou, quantas
emoções não extravasou ao presenciá-la? Agora, está pronto para a aventura do
faz de conta. Pode deixar o mundo real e adentrar na ficção do cinema. Quando
Kay Gibson se posiciona diante das câmeras, refaz em sentido contrário a trajetória
iniciada pelo pastiche de King Kong visto próximo do começo, quando os
principais personagens da história ainda gozavam da paz, da vulgaridade e do fake da ambientação hollywoodiana.
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John Wilson (Clint Eastwood) |
Coração de
caçador foi filmado em locações no Zimbabwe e nos Estúdios
Pinewood, Inglaterra. Um dos trunfos da produção é a fotografia de tonalidades
claras de Jack N. Green, que tão bem aproveita o brilho africano. Green
habitualmente colabora com Eastwood, como o músico Lennie Niehaus, o produtor
executivo David Valdes e o montador Joel Cox. O diretor, à maneira de John
Ford, também vai formando uma equipe estável de realização.
Roteiro: Peter Wiertel, James Bridges, Burt Kennedy, com
base na novela White hunter, black heart, de Peter Viertel. Direção de fotografia (Technicolor): Jack N.
Green. Desenho de produção: John
Graysmark. Montagem: Joel Cox. Figurinos: John Mollo. Trilha musical: Lennie Niehaus; com Satin
doll, de Duke Ellington, Johnny Mercer, Billy Strayhorn. Produção
executiva: David Valdes. Co-produção: Stanley Rubin. Produção de elenco: Mary Selway. Gerente de produção: Roy Button. Primeiro assistente de direção: Patrick
Clayton. Gerentes de locações no
Zimbabwe: Pat Harrison, Murray Russell. Gerente de locações na Inglaterra: Nick Daubeny. Coordenação de produção: Carol Regan. Coordenação de locações no Zimbabwe:
Marianne Jacobs. Pesquisa de locações:
Julie Gianfield. Assistente para Clint
Eastwood: Tom Rooker. Contador na
Inglaterra: Arthur Tarry. Contador
nos EUA: Michael Maurer. Segundos
assistentes de direção: Chris Brock, Tim Lewis. Terceiro assistente de direção: Isaac Mabhikwa. Operadores de câmera: Jack N. Green,
Peter Robinson. Foco: Anthony
Rivetti, Martin Kenzie. Claquete:
Graham Hall, Olive Mackey. Produção da
mixagem de som: Peter Handford. Microfones:
Martin Trevis. Continuidade: Nikki
Clap. Supervisão de edição de som:
Alan Robert Murray, Robert Henderson. Edição
musical: Donald Harris. Assistente
de montagem nos EUA: Michael Capriano. Assistentes
de montagem na Inglaterra: Russel Woolnough, Mark Gill. Edição de som: Bob Asman, Virginia
Cook-McGowan, David M. Horton, Joseph A. Ippolito, Jayme Parker, Marshall Winn.
Assistentes de edição de som: Brooke
Henderson Ward, Karen Minahan, Michelle Pleis. Edição de ADR: James Simock, Hank Salerno. Mixagem da regravação: Les Fresholtz, Vern Poore, Michael Jiron. Supervisão de guarda-roupa: Ron Peck. Guarda-roupa feminino: Janet Terrooke. Assistentes de guarda-roupa: Hector
Guarata, Beaulah Guarata. Chefe de
maquiagem: Paul Engelen. Maquiagem:
Linda Armstrong. Chefe de penteados:
Colin Jamison. Penteados: Janet
Jamison. Eletricista-chefe: Alan
Martin. Boy: Vincent Clarke. Técnico-chefe: Colin Manning. Técnico: Kevin Fraser. Decoração: Peter Howitt. Direção de arte: Tony Reading. Assistente de direção de arte: Martin Hitchcock,
Patricia Johnson. Contra-regra: Tony
Feiger. Unidade de seqüências de
caçadas: Simon Trevor (direção de segunda unidade e câmera); Jamie Harcourt
(operador de câmera); John Feltcher (foco); (David Chiganze (técnico). Unidade de seqüências aéreas: Peter
Allwork (operador de câmera); Matthew Allwork (foco). Unidade de seqüências fluviais: Peter Jones (engenheiro); Lan
Cochrane (piloto de helicóptero). Supervisão
de efeitos especiais: John Evans. Técnicos
de efeitos especiais: Kevin Drayoott, Barry Whitrod, Gift Nyamandi, Steve
Sango. Supervisão de efeitos visuais:
Roy Field. Assistente de efeitos
visuais: Peter Field. Publicidade na
Inglaterra: Marco Baria. Publicidade
nos EUA: Sarah Keene. Fotografia
fixa: Murray Close. Produção de
elenco nos EUA: Phyllis Hoffman. Assistente
de produção de elenco na Inglaterra: Caitlin Rhodes. Produção de elenco no Zimbabwe: Andrew Whalley. Coreografia: Arlene Phillips. Percussão: Emil Richards, Efrain Toro. Gerente de construções: Tony Graysmark.
Chefe de carpintaria: Peter
Williams. Gerente de transportes:
Arthur Dunne. Assistente de gerente de
transportes: Coaster Nziramasanga. Coordenação
da unidade de motoristas: Brian Eastabrook. Gerente de campo: Titus Chitokodd. Títulos e efeitos ópticos: Pacific Title. Tempo de projeção: 112 minutos.
(José Eugenio Guimarães ‑ 1991; revisto e ampliado
em 1998)
Muito bom!
ResponderExcluirMuito obrigado, Lina!
ExcluirErgenio,
ResponderExcluirO Clint trouxe, de sua experiência com o o Leone, aqueles tipos que experimentou com ele no inicio real de sua carreira como astro e procurou manter aquele personagem cinico, durão, irresponsável e violento por toda sua carreira no cinema.
Não se vê um filme do Eastwood que seu tipo interpretativo não esteja dentro dos padrões em que o Sergio o apresentou ao mundo e onde se deu muito bem.
Sobre o ótimo Coração de Caçador, é como se eu estivesse vendo ele, o Clint, opinando no roteiro e administrando o andamento de seu personagem para ser feito dentro daqueles padrões que interpreta tão perfeitamente no filme baseado nos bastidores de Huston em Uma aventura na África.
O resultado foi positivo, pois o Clint ali já tinha uma carreira assentada e feitos papéis de diversas qualidades boas, médias e até ruins, ou mais duras de engolir, como intragável O Destemido Senhor da Guerra/86, A Raposa de Fogo/82 e mais alguns que nosso editor enumera.
Quando citas que o personagem que o Clint assumiu para interpretar o bom Coração de Caçador tem todos aqueles defeitos e até algumas virtudes, como;arrogante, machista, violento, imprevisivel e etc, e quando colocas que ele era como um diamante bruto totalmente indisposto a ser lapidado, essa é a verdade pura do personagem que ele selecionou para fazer, e era exatamente o que o caráter do John Wilson era.
Não acredito que o Huston tenha feito nem menos da metade do que foi o personagem de Clint, mas algumas coisas dali ocorreram verdadeiramente, e isso já é de conhecimento há anos e anos.
A respeito ainda do Clint, dificilmente ele cria algo que não se encontre no seu trabalho alguma coisa boa ou aproveitável. Desde 1971 com o seu sofrível Perversa Paixão, já se nota um Clint muito disposto a enfrentar Hollywood. Só que ao seu modo e forma interpretativa sempre dentro de seus padrões.
Vi Coração de Caçador tão logo ele saiu em VHF e o adorei de imediato. Ele soube construir um filme que, acredito, a muitos poucos desagradou, porque ele manejou sua película encaixando no mesmo o seu modo e tipo, proporcionando ao espectador a assistir o que se gostava de assistir.
E eis que seu filme foi vitorioso neste patamar, principalmente por ser um filme bem fotografado, bem dirigido e maravilhosamente bem interpretado.
O Burt Kennedy o que mais sabe construir são roteiros. E se este teve sua mão não seria de se esperar nada pequeno. Não sabe dirigir aceitavelmente e deveria nunca o ter feito, mas roteirizar é com ele.
Mesmo ele, o Clint, trazendo muito do Leone, ainda acho que o Donald Siegel lhe emprestou muito do que foi o restante de sua carreira, onde explodiu em Hollywood com ótimas interpretações que culminou com o imperdível Os Imperdoáveis/92. Uma fita feito ao seu modo e dentro, exatamente, de seus padrões, dos quais raramente foge.
Siegel e Leone forjaram um bem aceito tipo para o Clint que, com sua cabeça perfeita e seu modo modesto demais de dirigir, construiu boas fitas e é um diretor que os atores brigam para trabalhar com ele, simplesmente por sua maneira de "não perder tempo" nas filmagens.
O Clint tornou-se um herói mundialmente bem aceito, não apenas atuando como dirigindo. E Coração de Caçador é um dos pontos altos de sua carreira.
jurandir_lima@bol.com.br
De pleno acordo, Jurandir!
ExcluirUm grande filme e um dos grandes Clint Eastwood como é, especialmente o que eu observo nesta publicação é o seu trabalho, de modo preciso e detalhado, obrigado por compartilhar.
ResponderExcluirVocê comanda um grande abraço e beijos...!!!
Creio que você deixou de completar a última frase, Maria del Socorro. Mesmo assim, deu para compreender. Considero este filme como um dos melhores do Clint. Estranhamente, pelo que lembro, foi muito mal recebido quando estreou no Brasil. Nesta época, ainda, os críticos tinham má vontade na apreciação de quase toda a obras do "Estranho sem nome".
ExcluirGracias por comentar.
Abraços, beijos e saludos.